11 outubro 2016

Eleições em Porto Alegre/RS, 2º turno: "É nulo, sim, por respeito ao valor do meu voto"



Por André Pereira, no Sul21*
Fomos barrados no baile do estado de exceção.
Não nos convidaram para a festa pobre da ruptura institucional.
De que vale relativizar o rutilante fracasso das alianças pragmáticas, pela governabilidade, por mais tempo de TV ou somente por cargos?
A esquerda se reinventa com seu ideais e reencontra seus valores, sem tergiversar conchavos ou vai para o brejo definitivamente.
Não adianta nada fazer de conta, como a mídia, que está tudo normal e democrático.
Na minha trajetória eleitoral transcorrida depois da redemocratização pós golpe de 64, nunca imaginei que chegaria a pregar a nulidade do voto, embora sempre tenha respeitado quem fez a opção democrática que rejeita candidatos e propostas nos quais não se confia totalmente.
Desta vez, entretanto, não há atalho alternativo no segundo turno em Porto Alegre a não ser o caminho reto da anulação.
O principal motivo é pessoal e singelo: meu voto é demasiado importante e extremamente valioso para ser declarado a um destes dois concorrentes que sobraram do pleito.
Já me surrupiaram o voto em Dilma, com o golpe. Agora, de novo, não.
Eu repudio todos os golpistas – e não pelo adjetivo do tipo do trejeito “coxinha”.
Mas pela continuidade do golpe que vem galopando contra a sociedade, a nossa soberania e contra a senzala.
Jamais votaria em um filhote arrogante e boquirroto como é o tucano mas, sobretudo, porque ele carrega, entranhado na genética pessoal, a defesa indefensável da ditadura. O que um tipo destes, que se vangloria de ser ‘pavio curto’ pode fazer, em um arroubo psicótico, quando empoderado à frente de uma prefeitura? E que programa social, solidário e igualitário, poderá apresentar, se usa uma viseira neoliberal vertebrada pela lógica de mercado?
Do mesmo modo, nunca votaria em sujeito que passa a impressão de pusilânime marionete manipulada por mais de dezena de siglas com os tantos divergentes interesses privados que impedirão uma gestão transparente e comprometida com a população que mais necessita de políticas públicas.
É um pregador de promessas que nunca se concretizam, uma administrador de maquetes marqueteiras que são desmentidas pela real cidade muito suja, esburacada, desigual, sem qualidade de vida e aterrorizada que é a capital  que nos envergonha tanto.
Além do mais, ambos são golpistas, da corja de Temer, Cunha, Aécio, Serra e toda a horda que se acumpliciou com setores do judiciário, do empresariado e da mídia para manter protegidas as elites intocadas na casa grande, em cujo rodapé da sacada penduram-se sabujos da velha mídia, recolhendo as migalhas.
O candidato do Cunha e do Sartori ainda acusa o pretendente do Aécio de também ser integrante e parceiro do governo municipal da capital.
Ou seja, pachorrento, divide com ele os erros da prefeitura que tanto penalizam e desrespeitam os moradores de Porto Alegre.
Outra razão para votar nulo é não correr o risco de eleger uma vice-prefeita de um partido de senadores golpistas, um dos quais teve o desplante de viralizar a confissão de que não havia crime de responsabilidade autorizando o impeachment de Dilma. Mesmo assim votou e apoiou a manipulação, como Lasier, com os  ideais de Temer, Cunha, Bolsonaro, Ana Amélia, Janaína…
E o  PDT tomou alguma medida contra a infidelidade explícita deles?
É o mesmo PDT dos secretários estaduais da também responsáveis pelas obras paradas e pela educação gaúcha precarizada pelo governo incompetente e paralisado de Sartori.
Um deles, aliás, saltitou do barcos do governo Olívio e do governo Tarso, sem falar no pai da deputada que virou capa de Veja acusando o PT.
Esta deputada, cujo mandato não reluz, e que foi escolhida candidata a vice-prefeita às pressas por insondáveis razões, nunca defendeu o governo Dilma, publicamente.
Ao contrário. Na tribuna da sessão plenária do Parlamento gaúcho, no dia 17 de maio de 2016, disse ela em alto e bom som:
— O governo do PT não rompeu as amarras que hoje sacrificam o nosso povo, e, agora, querem usar o nome de Brizola. Peço aos companheiros que deixem Brizola onde está. (…) Venho fazer um apelo para que o nome de Leonel Brizola não seja mais usado nesta tribuna para dividir os próprios companheiros do nosso partido”.
Exercitando a imaginação posso vislumbrar o avô passando carraspana ética na neta açodada que nunca levantou a voz contra os ataques ao Estado Democrático de Direito:
— Pois, guria, venho de longe, contrariando entéresses dos poderosos e levando lambada sobre lambada da mídia. Não se apropria do nome, guria, para avalizar quem golpeou a nossa sagrada Constituição, cuja Legalidade tanto defendi em 1961, deixando minha herança democrática, não para a família, mas para a história do Rio Grande e do país.
Este atual PDT é do atual prefeito e militante licenciado (?!) que deu continuidade ao desmonte de Fogaça.
É agremiação com quem celebramos aliança pragmática repetidamente fracassada, pois.
Como ser conivente com esta gente, ingressar no sagrado espaço da urna e  – sem contrair o coração e trair princípios – digitar apoio a um deles, se vão fazer mal a maioria da população e sucatear cidade ?
Na realidade, talvez quem votar neles mereça a destruição social que vem por aí.  E é destes apaniguados que vamos cobrar depois pelo sucateamento urbanístico com que nos penalizarão. Da mídia conivente com o arremedo de democracia direitista, é claro.
E do que for ungido, principalmente, porque vai amealhar os recursos dos tributos que pagamos.
Porto Alegre, na hora do pega, mostrou a despolitização média costumeira dos seus moradores.
Aliás, já era vassala do governo central em 1835 quando recebeu do Império, por trair os farrapos, o título de muy leal e valerosa, que leva incrustado nos seus símbolos.
Só resta anular e bem anulado o voto no dia 30.
Eu vou votar 13, como sempre.  Pois não tenho porque envergonhar de toda minha jornada de apoiador petista.
E não vejo partido melhor.
Agora, como esquerda,  e não só como partido, temos que refletir, com muita honestidade mesmo, sobre nossos erros estratégicos e tentações patrimoniais – por mais dolorosos que sejam  – para tentar recuperar um projeto de vida justa e igualitária, em alguma geração vindoura.
Mas isto, para mim, passa pela imposição moral de rejeitar os golpistas de hoje, de ontem e de sempre.
É o legado ético possível para os que nos sucederão.
Para resumir com número cabalístico, eis 13 motivos para anular meu voto:
1. Não elejo nunca o menos pior; só voto no que acho melhor;
2. Não dou legitimidade para nenhum tipo de golpista;
3. Não elejo propostas inviáveis, promessas falsas, obras em maquetes;
4. Não surrupiarão meu voto de novo como já fizeram os golpistas;
5. Não vou correr o risco de ressuscitar Yeda Crusius para se somar aos golpistas;
6. Não viveria em paz com minha consciência escolhendo um ou outro direitista;
7. Não conteria a vontade de vomitar escolhendo o 15 do Temer, do Cunha, do Renan, do Sartori…;
8. Não me livraria da intoxicação moral digitando 45;
9. Não apequeno o imenso valor do voto, do direito de votar só em quem eu confio e acredito mesmo;
10. Não vou deixar de digitar 13 até invalidar o voto;
11. Não vou validar a ideia que prefeito terá alguma maioria funcional pois votos brancos e nulos serão maioria histórica;
12. Não vou deixar que logo a mídia comercial me diga que anular é “ voto – ressentido”, quando eles não abrem seu voto;
13. Não achei meu título eleitoral no lixo para o emporcalhar agora, sexagenário na vida.
.oOo.
*André Pereira é jornalista. Via Sul21

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