15 outubro 2016

'Porque não estranho a ditadura em que estamos entrando'



Por Fernando Brito*
Há tempos deixou de ser impossível e, nos últimos dias, saiu também do campo do improvável.
O motivo? Ora, o motivo…
Qualquer um que sirva ao que se deseja, a prisão do Lula e a sua inelegibilidade.
Aceitam-se ações contra o ex-presidente em outras varas, para maquiar o fato de que o açougue é em Curitiba.
Aceleram-se as decisões, nunca antes na história deste país tomadas neste país de prisão antes de esgotados os recursos judiciais.
Os juízes “liberais”, como o Dr. Luís Roberto Barroso, com justificativas repletas de vírgulas e borzeguins, vão ao leito da ferocidade da “justiça penal do inimigo”, talvez sem se dar conta  da ode à hipocrisia que isso representa na semana em que se arquiva, por dormir nas gavetas do STJ,  o caso do Marka/Fonte-Cindam que valeu bilhões a altas autoridades do Banco Central da era fernandista.
Além do vazamento, da delação, temos também a  “celeridade judicial seletiva”.
Os fatos, em escalada, contribuem para dar verossimilhança àquilo que, em tempos normais, seria uma sandice.
A conjuntura política,  com o Congresso transformado em máquina de obediência fanática e a esquerda ainda grogue do embate eleitoral canhestro, ajudam também a fazer pensar no impensável.
Até mesmo o momento internacional ajuda, com as atenções voltadas para a eleição americana que, com a possibilidade de vitória uma figura como Donald Trump, passa à conta da curiosidade e comoção que despertam catástrofes como terremotos e outros desastres.
A conspiração – não se movem tantos atores assim sem direção e roteiro, podem crer – tem agora seu timming ideal.
Não importa que sejam acusações vagas, de casos supostamente ocorridos há anos, nos quais os possíveis envolvidos encontram-se hoje sem condições de opor qualquer estratagema à investigações normais e sérias e, antes ao contrário, estão coagidos a entregarem até suas mães em troca de uma tornozeleira e dos muitos milhões que lhes restaram.
Nada mais importa à Justiça brasileira porque o que importa em qualquer Judiciário já lhe falta – muito e há tempos: independência e equilíbrio.
Não pode haver independência ou equilíbrio para juízes que têm seus atos ditados previamente: prender e condenar é o único prato de suas balanças.
Reagir a esta escalada? Exceto figuras honradas e pontuais, sem poder nas redações, não há ninguém na imprensa para fazê-lo.
Os blogs? A estes se cala com meia dúzia de sentenças de indenização, porque ter opinião contrária vai se tornando caríssimo no Brasil de hoje, diante de suas Excelências. O mais provável é que logo venham a ter de descobrir a diferença entre calle e rambla, escrevendo do Chile ou do Uruguai.
A única coisa hoje que protege Lula da prisão é, creiam, a própria prisão de Lula.
Como adverte o sábio Mauro Santayanna, hoje,  os “convictos” acusadores correm o risco de  verem “o tiro sair pela culatra, transformando Lula em uma espécie de símbolo, ou de herói, se for impedido de concorrer à presidência da República. Ou em um mártir – caso alguma coisa ocorra a ele, eventualmente, na prisão – para boa parte do planeta”.
Ainda assim, tal raciocínio parte de um pressuposto de capacidade de análise e ponderação que, mesmo golpista,  ainda lhes restasse.
Pode restar aos grandes.
À matilha, agora, é o instinto de sangue, o frenesi alimentar das feras o que lhes dita os atos. E  os faz tão fortes que as suas coleiras se tornam insignificantes.
*Jornalista, Editor do Tijolaço, fonte desta postagem.

Nenhum comentário: