27 setembro 2008

Porca Miséria!











SONETO DOS DESCUIDOS CHULOS [1496]

Palavras são palavras...
Se Chicago é nome de cidade,
sem falar de Boston, Praga, Mérida,
não cago se chamo um nome sério de vulgar...
Se Bulhões de Carvalho eu batizar
a rua dum puteiro,
nada vago será o sentido dado.
Esse lugar do Rio sempre teve o pato pago...
Quem manda haver num nome som sacana?
Um cara do Timor chama Xanana, não chama?
E o mafioso era Buscetta!
Depois querem que eu seja cuidadoso!
Ou não me chamarei Glauco Mattoso,
ou gafes nada impede que eu cometa!


A polêmica envolvendo as listas de nomes sujos me faz pensar na coisa em si. Há nomes que se sujam, outros que já parecem sujos por natureza, como o da mulher chamada Maria Auxiliadora dos Prazeres Fortes ou do homem chamado Jacinto Pinto Aquino Rego. Quando morei no Rio, fiz questão de ir conferir cada placa da rua Bulhões de Carvalho, em Copacabana, só pra ver se algum punk tinha pichado Culhões de Caralho na parede. Na verdade, o punk estaria mais é sendo gentil ao aceitar o convite feito pelo próprio nome. Muito mais obsceno é o sentido desvirtuado que acabam tendo certas frases e expressões das mais inocentes, quando passam pelas mãos governamentais. No tempo da ditadura militar, os próprios generais que bolaram a Lei de Segurança Nacional adotaram o slogan “Ninguém segura este país”. Primeiro, reclamavam que “o Brasil está à beira do abismo” e depois apostavam que “este é um país que vai pra frente”. A sigla do Instituto Nacional de Alimentação e Nutrição era INAN, que lembra “inanição”. A da Fundação Estadual para o Bem-Estar do Menor era FEBEM, embora o mal-estar das autoridades com a fama desse reformatório não ficasse atrás do desconforto dos trombadinhas ali recolhidos. Até parece de propósito, tal como na ironia da frase “Arbeit macht Frei” (o trabalho liberta) que os nazistas inscreviam nos portões dos campos de concentração. Já que o “duplipensar” dos governantes é capaz de sujar o que é limpo, por que o anarquismo não iria avacalhar o que já está dando a deixa?

Glauco Mattoso é poeta, letrista e ensaísta.
http://sites.uol.com.br/glaucomattoso
* Do sítio http://carosamigos.terra.com.br/

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