08 maio 2009

'Saia às Ruas' II














A mudança começou

*Por Eduardo Guimarães


Quando vi essa foto (acima) da manifestação em Brasília contra Gilmar Mendes na Praça dos Três Poderes ontem à noite, experimentei uma sensação que a alguns poderá parecer inusitada, mas que a mim pareceu bastante natural e prazerosa, pois o que senti foi uma espécie de alívio.

Há menos de dois anos, num certo dia decidi tomar uma atitude contra o que me indignava. Foi ao fim de agosto de 2007, e o que me provocou aquela atitude foi o mesmo Poder Judiciário sobre o qual, na noite de ontem, centenas de manifestantes jogaram luz, ainda que luz de velas.

A analogia dos organizadores daquele Ato público foi perfeita: luz de velas para começar a debelar a escuridão em que mergulhou um dos Poderes da República por ação daquele que deveria guardar a imagem do Judiciário em vez de denegri-la como vem fazendo.

Mas o alívio ao qual me referi no início deste texto deveu-se a eu ter sentido, ontem à noite, que aquele ato que muitos viram como sendo de um “louco” em 2007 – o ato de ir com um megafone para diante do maior jornal do país protestar contra a “faca no pescoço” que o ministro do STF Ricardo Lewandowski disse que a mídia pôs naquela instituição – foi o começo de alguma coisa que só faria crescer nos anos seguintes.

De lá para cá, muita gente foi às ruas. O próprio Movimento dos Sem Mídia, nascido naquele 15 de setembro de 2007, bem como vários outros movimentos, levaram cidadãos comuns às ruas. Não foi por outra razão que este novo movimento que levou centenas à Praça dos Três Poderes intitulou-se “Saia às Ruas”, porque é isso o que começou a acontecer no Brasil naquela manhã de sábado, menos de dois anos atrás.

Por isso senti alívio, porque este país não está aceitando mais que oligarcas dos altos estratos sociais do Sudeste brasileiro façam o que quiserem sem que a sociedade se levante e proteste publicamente, em voz alta, de cabeça erguida, exercendo um direito, pondo de lado o medo irracional oriundo dos anos de chumbo que vinha bloqueando tomadas de atitude pelas pessoas.

Ontem à noite, a Cidadania deu um passo enorme em direção a um novo país, a uma nação de cada vez mais cidadãos que cada vez mais sabem que a responsabilidade de barrar aqueles que tentam dividi-los por critérios raciais e econômicos, é de todos. Que qualquer um pode fazer diferença.

Isso tudo não tem volta. São processos históricos que, de uma vez que começam, não podem mais ser detidos. A mudança começou.

*Eduardo Guimarães é editor do blog Cidadania.com http://edu.guim.blog.uol.com.br/

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