22 dezembro 2009
Pacote desmanchado
Pressão de professores e brigadianos faz governo Yeda recuar
Porto Alegre/RS - Portal PTSul - Passava 15 minutos do meio-dia da chamada super-terça de votações quando o presidente da Associação dos Cabos e Soldados da Brigada Militar, Leonel Lucas, informou aos jornalistas na antesala do plenário da Assembleia Legislativa que o governo decidira derrotar o próprio projeto que estava em apreciação e apresentar requerimentos retirando a urgência de mais 15 projetos, entre eles os que haviam gerado a greve proclamada pelo Cpers. Naquele momento, o representante dos brigadianos saia de uma reunião com o líder do governo, deputado Pedro Westphalen (PP), que, em seguida, convocou as lideranças para comunicar o acordo que fizera com os servidores.
No plenário, as galerias lotadas de brigadianos e professores cantavam o hino gaúcho, ainda sem a informação, mas convictas de que naquele momento já não havia condições de o governo garantir os 28 votos necessários para aprovar o projeto que aumentava a alíquota de contribuição previdenciária dos soldados, cabos, sargentos e tenentes da Brigada e nem para garantir a aprovação dos outros projetos do "pacote de natal" do Executivo. A pressão das galerias, os discursos dos deputados da oposição e as divergências na base do governo haviam derrotado as pretensões da governadora.
Desde às 11h10, deputados de oposição se revezaram na tribuna para sustentar o equívoco do governo no encaminhamento dos projetos em regime de urgência. “O povo gaúcho quer um serviço de segurança de qualidade, com brigadianos valorizados e de cabeça erguida”, disse o deputado Ronaldo Zülke (PT), convidando os parlamentares a votarem contra o que chamou de "arrogância e prepotência da governadora”.
O deputado Fabiano Pereira (PT) chamou a atenção para o paradoxo de uma governadora que declara aos jornais estar "de bem com a vida", enquanto pretende acabar com o piso nacional dos professores, aumentar a contribuição dos soldados da Brigada e retirar a televisão pública do Rio Grande do Sul de suas dependências. “É difícil entender como uma pessoa pode estar tão bem fazendo tantas maldades”, concluiu.
Já o deputado e ativista do movimento dos sem-terra Dionilso Marcon (PT) disse que, mesmo tendo estado muitas vezes em trincheiras opostas a dos brigadianos, sabia reconhecer o lado dos que lutam por justiça. “Para os pequenos o governo oferece um pé no pescoço. Para os grandes, libera privilégios”, sintetizou. “Os brigadianos precisam de um bom salário e de reconhecimento”, defendeu o deputado Adão Villaverde (PT). “A solução para a previdência não pode ser alcançada às custas dos servidores”, arrematou.
Vitória dos que dormiram nos colchonetes
Ao meio dia e vinte e cinco minutos, quando a sessão foi retomada, a informação de que o governo recuara já era conhecida de todos os presentes. O líder do governo, deputado Pedro Westphalen, ocupou a tribuna para explicar a orientação do governo. “Libero a base para votar como quiser e oriento no sentido de votarmos contra o projeto”, disse, oficializando aos parlamentares o compromisso que assumira com as categorias.
Em seguida, o líder da bancada do PT, deputado Elvino Bohn Gass, também da tribuna, sustentou que a sessão extraordinária que se encerrava ficaria registrada na memória política do Rio Grande do Sul. Referindo-se ao pacote do Executivo, que havia sido chamado de "pacote de bondades", declarou: “Se estas são as bondades da governadora, fiquemos longe das suas bondades”. Para o parlamentar petista, o recuo do governo foi fruto de um movimento realizado pelas categorias e pelas bancadas da oposição que impôs o diálogo e o respeito como método. “Toda a vez que negociamos, falávamos com o governo, mas mirávamos nos olhos e nos sentimentos dessas categorias lutadoras. A vitória é daqueles que dormiram nos colchonetes na praça da Matriz”, disse, sob aplausos.
Era uma e meia da tarde quando a batalha de natal se encerrou com a derrota do governo estampada nos 51 votos contrários ao seu projeto e favoráveis aos requerimentos que retiraram a urgência dos 15 projetos polêmicos. A comemoração, que juntou parlamentares e lideranças sindicais, estendeu-se para a praça, onde centenas de funcionários públicos, de súbito, reencontraram-se com a força de sua própria mobilização. (Por João Ferrer)
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