01 fevereiro 2010
'Santuário Campeiro'
CENAS DE CAMPANHA
Ruy Gessinger escreve:
Aproveito o feriadão de Navegantes para andar na contramão. Deixo que hordas ensandecidas tomem conta do Litoral e recolho-me ao santuário campeiro. Volto a Capital dia 2.
Quer acompanhar-me por um passeio ao fim do mundo, ou melhor, a um mundo puro e intocado?
Imagine, primeiro, um quadrado de 9 km por 8km. Para se chegar ali só indo ali. Não é lugar de passagem. Dentro desse quadrado existem ilhas de floresta nativa: não há uma só árvore exótica. Quinze anos de preservação, fizeram reaparecer animais silvestres das mais diversas espécies. Como esse campo é nativo e de formação basáltica, não se presta para a agricultura de grãos. É preciso, pois, tino e juízo para não sobrecarregar de vacuns e ovinos para não deteriorar o Bioma Pampa.
Esse derrame basáltico, ocorrido há milhões de anos, abriu leitos que hoje são as sangas. Florestas ciliares garantem sua perenidade.
Também não é rota de aviões, de sorte que, estando-se dentro desse quadrado não se ouve nada de barulho artificial.
Andando silente a cavalo noto que , dada a abençoada chuva, os pastos nativos estão em abundância há anos não vista. Emas (avestruzes) passeiam com seus filhotes e já nem se assustam mais com os homens. Os maricás já estão florindo, deixando um perfume incrível no ar. Pássaros, tatus, seriemas presentes. Os açudes são um viveiro de tudo quanto é bicho.
Pena, muita pena, que não ouvi um só ronco de bugio. Não mais os há em toda a área da fazenda. Morreram de febre amarela. Os vizinhos relatam a mesma situação. Será que não seria de caso de repovoamento?
De notar apenas que não flagro sinais de possível estiagem para um futuro próximo.
As formigas estão quietas e as cigarras sossegadas. Sem embargo, algumas árvores de folhas caducas já começam a amarelar levemente, assim como algumas áreas de campo nativo. Não será cedo demais para essa maturação precoce?
Ontem, banhando-me numa enorme piscina natural encravada no basalto, cercada de árvores, de difícil acesso, pensei: que bom que o destino me emprestou essa área, pois não deixo fazer nada impróprio ecologicamente. Até já pensei em destinar, “post mortem”, para uma entidade pública. Mas logo me lembrei que a burocracia para manter esses órgãos é autofágica e logo terminariam com esse paraíso.
Deixêmo ansim.
Fonte: Blog do Ruy Gessinger - http://blog.gessinger.com.br/
Que dádiva !
ResponderExcluirAbrs