01 setembro 2010

Editorial da Carta Maior





É HORA DO RASPUTIN

A candidatura Serra desidrata sob taxas alarmantes de perda de credibilidade. Um clima político seco envolve o representante do conservadorismo brasileiro. A menção ao nome 'Serra' registra níveis recordes de rejeição em todos os termômetros de intenção de voto. A pouco mais de 30 dias do escrutínio das urnas, o tucano não consegue obter uma única notícia positiva para mudar a sensibilidade predominantemente negativa da sociedade diante da hipótese de tê-lo como ocupante da Presidência da República.

À antipatia alia-se agora a convicção majoritária entre os brasileiros de que ele será derrotado em 3 de outubro. Mesmo os que o apóiam compartilham dessa convicção. Sondagem diária feita pela Vox Populi indicava nesta 4º feira que a candidata Dilma Rousseff já teria 51% das intenções de voto, contra 25% de Serra. Em uma palavra, Serra não aglutina no presente, nem motiva para o futuro. A isso se dá o nome de decadência.

A sua, a exemplo de toda decadência política, também inclui um Rasputin. Chama-se Ravi Singh, um autodenominado guru indiano que se anuncia especialista em milagres digitais para acudir aflitos na reta final de campanhas eleitorais. Mistura equivalente de santo milagreiro e charlatão, o Rasputin original, Grigori Rasputin, tornou-se eminência parda da autocracia russa entre 1905 e a queda do regime, em 1917.

Quando mais a monarquia russa era odiada pelo povo e perdia densidade política, mais Nicolau II e sua esposa, a imperatriz Alexandra Feodorovn, se cercavam de bruxos e charlatões. O mesmo se deu na decadência do peronismo na Argentina, nos anos 70. José López Rega, um ocultista e auto-proclamado vidente, passaria a exercer então influência terminal sobre a viúva de Perón, Isabel Martínez de Perón, que assumiu a presidência após a morte súbita do marido.

Lopez Rega, depois se soube, foi um dos organizadores da Triple A, organização para-militar envolvida no assassinato de dezenas de comunistas e militantes populares argentinos. Singh, o Rasputin de Serra, teria sido contratado por US$ 500 mil para promover 'a virada' no projeto de poder do tucano. O comando da campanha demotucana desaprovou as mudanças introduzidas pelo guru no site do candidato, que para isso ficou três dias fora do ar. Gonzales, o contestado marqueteiro de Serra, afirma desconhecer a origem da contratação.

O único fato novo trazido para a campanha de Serra no bojo da auto-proclamada 'virada' resume-se a uma obscura quebra de sigilo fiscal de que teria sido vítima sua filha, Verônica Serra. No leito da extrema-unção eleitoral, o fato nebuloso deu ao tucano o discurso de 'família agredida pela conspiração petista', enredo que inspira tanta confiabilidade quanto um envelope de Ki-suco sabor framboeza.

Verônica Serra, que foi sócia da irmã do banqueiro Daniel Dantas em empresa de internalização de capitais registrada em Miami, curiosamente, é apontada por tucanos como a responsável pela introdução do rasputin Ravi Singh na 'virada' prometida na campanha do pai. (Carta Maior; 02-09)

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