28 novembro 2010

Poema



















Tragédia Carioca I

Agora foram dezessete
Os mortos da guerra carioca
(dezessete os mortos na noite
da cidade guardada pelos braços
do Redentor).

Meninos a maioria
mortos, estraçalhados,
corpos franzinos decompondo-se,
dilacerados, expostos aos 40 graus
e à insensibilidade geral,
sob o sol equatorial da antiga cidade maravilhosa.

Dezessete as vítimas fatais
da vingança policial desencadeada
nas cinco horas do massacre
(ou “tiroteio” – estava nos jornais).

- A favela Nova Brasília é o novo front
da guerra do Rio.

Dezessete mortos nesta noite
desovados no subúrbio ironicamente chamado

‘Bonsucesso’.

Dezessete vidas ceifadas
na guerra civil – que a tela global denomina
“a Guerra do Tráfico” – e lava as mãos sanguinolentas.

Meninos a maioria
As vítimas da guerra nas favelas.

O espelho das águas outrora cristalinas
das lagoas do Rio
Estão embaçados pelo sangue
dos meninos mortos na guerra dos morros
pelo sangue das vítimas da tragédia carioca

que continua...

...

(Poema extraído do livro ‘Cara & Coragem’ – Poemas – de Júlio Garcia – PoA/1995)

ET: 'Bonsucesso', favela carioca,  fica  situada no chamado 'Complexo do Alemão', onde está sendo realizada uma operação de guerra contra o  chamado 'narcotráfico', especialmente destinada a aniquilar o  Comando Vermelho e outros grupos similares que coabitam no entorno;  hoje, 28 de novembro de 2010, no RJ. Lamentável, mas, 15 anos depois,  o Poema continua atual...

*Gravura: 'Favela em Chamas', de Raymond Piper

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