01 novembro 2010

Vencemos!














'Inexoravelmente, como uma onda que ninguém trava, vencemos'

Não basta que seja pura a nossa causa.
É necessário que a pureza e a justiça existam dentro de nós.

Dos que vieram e conosco se aliaram muitos traziam sombras
no olhar e intenções estranhas.
Para alguns deles a razão da luta era só ódio: um ódio antigo
centrado e surdo como uma lança.
Para alguns outros era uma bolsa vazia (queriam enchê-la)
queriam enchê-la com coisas sujas, inconfessáveis.

Outros viemos.

Lutar para nós é ver aquilo que o povo quer realizado.
É ter a terra onde nascemos.
É sermos livres para trabalhar.
É ter para nós o que criamos.

Lutar para nós é um destino.
É uma ponte entre a descrença e a certeza de um mundo novo.

Na mesma barca nos encontramos. Todos concordam, vamos lutar.
Lutar para quê? Para dar vazão ao ódio antigo?
Ou para ganharmos a liberdade e ter para nós o que criamos?

Na mesma barca nos encontramos, quem há de ser o timoneiro?

Ah! As tramas que eles tecem. Ah! As lutas que aí travamos!
Mantivemo-nos firmes: no povo buscamos a força e a razão.

Inexoravelmente, como um onda que ninguém
trava, vencemos: o povo tomou a direção da barca.

Mas a lição foi aprendida:

Não basta que seja pura e justa a nossa causa.
É necessário que a pureza e a justiça existam dentro de nós.

Agostinho Neto, in 'Poemas de Angola'

Nenhum comentário:

Postar um comentário