07 março 2012

A retórica de algumas vozes dissonantes...


Do que falam os peemedebistas?

Por José Dirceu*

Os jornais trazem, hoje, matérias que afirmam que o presidente em exercício, Michel Temer (PMDB), teria aderido ao manifesto dos que encenam insatisfação nas fileiras do PMDB e que protestam contra um suposto projeto do PT de usar uma "ampla estrutura governamental" para – alegam - ultrapassar os peemedebistas em número de prefeituras. O documento ontem, já contaria com as assinaturas de 53 dos 76 deputados da legenda.

Temer teria reconhecido o que chamou de “pressão do PT sobre o PMDB” e citado São Paulo: "O Gabriel Chalita (candidato do PMDB a prefeito da capital) vai até o fim".

O vice-presidente da República também teria afirmado ser defensor da “liberdade das coligações" nas disputas municipais. De acordo com os relatos divulgados, durante a reunião, o deputado Danilo Fortes (PMDB-CE), um dos líderes do movimento dos insatisfeitos, disparou: "A partir de hoje rompemos a opção cega que existia de ser PT 24 horas por dia".

"Sem ministérios operacionais"

Afirmam os analistas da mídia que "faltaria prestígio a Temer". Esta seria uma das principais reclamações da bancada de deputados. A tese é de que, indicado o vice-presidente na chapa de Dilma Rousseff, o PMDB esperava fazer um "up grade" em relação ao peso que dispunha no governo Lula. Mas a medida teria, como resultado, deixado o partido sem "ministérios operacionais", como seriam, por exemplo, o da Integração Nacional e o da Saúde. Hoje estas pastas estão com o PSB e o PT.

Essa e outras notícias sobre o mesmo tema não têm pé e nem cabeça. É tudo encenação. Facções dentro do PMDB querem mais espaço no governo e, como não podem e não querem enfrentá-lo, colocam sua insatisfação na conta do PT.

As matérias omitem, ainda, alguns dados importantes sobre o vice-presidente Michel Temer. Ele apoiou Serra-Kassab, em 2008, junto com Orestes Quércia. E o PMDB de São Paulo apoiou Geraldo Alckmin em 2010. O partido está nos dois governos: é base de apoio a Kassab e a vice-prefeita, Alda Marco Antônio é deles; e estão, também, com Alckmin na esfera estadual.

Do que falam os peemedebistas?

Ninguém está pressionando pela saída de Gabriel Chalita da disputa por São Paulo e, muito menos, pelo fim das candidaturas de Netinho de Paula (PCdoB) e Celso Russomano (PRB). Quem disse que interessa ao PT uma disputa mano a mano no primeiro turno?

Já, Danilo Fontes esquece-se que o PT foi decisivo na vitória do senador Eunício Oliveira, no Ceará. Isso, sem falar em sua própria eleição. Não se lembra, tampouco, que o ex-presidente Lula foi o grande eleitor do PMDB em 2010, como o foi em 2008, e que a presidenta Dilma Rousseff será a grande eleitora do PMDB, além de Temer, em 2012, mesmo que não participe diretamente da campanha. Vale o prestígio e a popularidade dela e a foto de Temer como vice. Vale, também, a imagem do PMDB como parceiro do governo federal.

Assim, toda essa retórica de algumas vozes mais dissonantes esconde disputas internas de facções no PMDB por espaço no governo federal, assim como na liderança da Câmara, na presidência do partido e no governo.

E não se trata, aqui, dos ministérios da Saúde ou da Integração, ou o das Comunicações que não foi citado.

Vão abrir mão da vice-presidência em 2014?

Ou será que os peemedebistas não consideram importante a vice-presidência do Brasil e vão abrir mão dela em 2014? Ou estão insatisfeitos com Michel Temer? É claro que não.

Insisto. A questão, aqui, é outra: estamos falando de rearranjo de poder dentro do PMDB, dentro das suas bancadas e do PMDB no governo federal.  A propósito, vale acrescentar que algumas lideranças, quando ocupavam cargos no governo, eram bem governistas e mais realistas que o rei.


*Via Blog do Zé Dirceu - http://www.zedirceu.com.br/

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