09 abril 2012

A estranha omissão dos partidos políticos na pesquisa ZH/Ibope


Incertezas e surpresas nas pesquisas (eleitorais) em Porto Alegre

Por Benedito Tadeu César*

Surpresa, é o mínimo que se pode expressar diante dos números apresentados pela pesquisa Ibope/Zero Hora publicada no domingo (08/04) e que tem por foco a corrida pela prefeitura de Porto Alegre. Realizada exatamente oito dias após a pesquisa Methodus/Correio do Povo e que foi publicada na terça-feira da semana anterior (27/04), a pesquisa atual inverte os resultados da anterior: coloca Manuela D´Ávila sempre a frente de José Fortunati e Paulo Borges sempre a frente de Adão Villaverde.
Em termos numéricos, ainda que as duas pesquisas apontem a ocorrência de empates técnicos entre os dois primeiros colocados, tanto nas respostas espontâneas quanto em todos os cenários testados, a pesquisa Ibope/Zero Hora mostra Manuela com no mínimo sete e no máximo nove pontos percentuais à frente de Fortunati, enquanto a pesquisa Methodus/Correio do Povo mostrava Fortunati com no mínimo 0,9 e no máximo 3,1 pontos percentuais a frente de Manuela. Segundo a pesquisa Ibope/Zero Hora, Paulo Borges se encontra entre três e sete pontos percentuais a diante de Adão Villaverde, enquanto segundo a pesquisa Methodus/Correio do Povo Villaverde se encontrava entre 6,7 e 6,8 pontos a frente de Borges.

Nem duas semanas separaram as coletas de dados de cada uma destas pesquisas, pois a pesquisa Methodus/Correio do Povo teve o seu campo realizado durante o período de 20 a 22 de março/2012 e a pesquisa Ibope/Zero Hora teve o seu campo executado durante o período de 29 de março a 1º de abril/2012. Por coincidência, a pesquisa Ibope/Zero Hora foi realizada durante a semana das comemorações do aniversário de Porto Alegre, ocorrido no dia 26, mas rememorado por eventos promovidos pela Prefeitura em diferentes pontos da cidade até o dia 31 de março.

Desta forma, se foi o prefeito de Porto Alegre, José Fortunati, quem esteve em evidência durante a semana da pesquisa Ibope/Zero Hora e se não ocorreu nenhum outro evento que tenha projetado ou ofuscado qualquer outro candidato, só podem causar surpresa as reviravoltas anunciadas pela pesquisa Ibope/Zero Hora. Surpresa que se aprofunda, aliás, quando se verifica que a pesquisa Ibope/Zero Hora mostra, de um lado, uma aprovação popular ainda maior do governo Fortunati do que a revelada pela pesquisa Methodus/Correio do Povo e, de outro, coloca Manuela não apenas liderando todos os cenários de segundo turno, mas também se colocando em uma vantagem no limite exato da margem de erro.

Para que fique claro: enquanto a pesquisa Methodus/Correio do Povo mostrava um cenário de segundo turno no qual Fortunati obtinha 44,8% das intenções de voto e Manuela detinha 44,5%, a pesquisa Ibope/Zero Hora mostra um cenário de segundo turno no qual Fortunati aparece com 38% e Manuela com 43%. Como a margem de erro admitida na pesquisa Ibope/Zero Hora é de 4 pontos percentuais para mais ou para menos, isto quer dizer que Fortunati pode ter entre 34% e 42% dos votos e Manuela pode ter entre 39% e 47% dos votos. Desta forma, segundo esta pesquisa, o empate entre Manuela e Fortunati só estaria ocorrendo caso Fortunati estivesse no seu limite máximo de votos prováveis e Manuela no seu limite mínimo; em todas as demais possibilidades de votos, Manuela estaria à frente de Fortunati.

Haverá explicação suficiente para aplacar a surpresa provocada por todos estes números, divergências e reviravoltas de resultados de pesquisas que, a se confirmarem, teriam acontecido em período de tempo tão curto e sem que tenha ocorrido qualquer fato que os possa justificar? Por incrível que possa parecer, ela existe e foi revelada pela própria analista do Jornal Zero Hora, que encomendou e publicou a pesquisa realizada pelo Ibope. Segundo o que escreveu Rosane de Oliveira, na Página 10 da ZH de domingo último, o Ibope apresenta os nomes dos candidatos em um cartão sem indicar o partido ao qual pertencem”.

Ao que tudo indica, portanto, os índices publicados e que provocaram surpresas, não foram obtidos por uma pesquisa que se possa classificar como sendo de cunho eminentemente eleitoral ou político. A pesquisa Ibope/Zero Hora, a se confirmar a revelação da Página 10 da própria Zero Hora, deve ser classificada como uma pesquisa de simpatia ou de “carisma” pessoal. O que parece ter sido registrado por esta pesquisa foi a combinação do grau de simpatia e do nível de conhecimento que os eleitores têm de cada candidato. Isto poderia explicar a liderança quase folgada de Manuela D’Ávila, do PCdoB, sobre José Fortunati, do PDT, e também a vantagem de Paulo Borges, do DEM e que foi durante anos o “homem do tempo” da RBS, sobre Adão Villaverde, do PT e que ainda não se tornou conhecido como o candidato deste partido.

Nestes termos, pode ser perfeitamente possível que a pesquisa Ibope/Zero Hora apresente resultados factíveis. Mas, para sinalizar possíveis resultados de eleição, é inadmissível que uma pesquisa político-eleitoral não apresente, ao lado do nome do candidato a um cargo majoritário, o nome do partido pelo qual ele concorre ou concorrerá. A boa técnica de pesquisa assim o recomenda. Mesmo que a maioria dos eleitores afirme que não orienta o seu voto pelo partido do candidato, pesquisas acadêmicas e eleitorais confirmam que os partidos políticos, mesmo desgastados, continuam servindo como referência para o voto dos eleitores, independente das simpatias e/ou antipatias partidárias que eles admitam ou não possuir.

Em Porto Alegre e no Rio Grande do Sul, onde os “lados” das disputas estão sempre muito marcados, a omissão do partido político dos eventuais candidatos testados em uma pesquisa eleitoral constitui grave distorção metodológica, passível de adulterar, mesmo que não intencionalmente, os resultados colhidos. Tão surpreendente quanto os resultados da pesquisa Ibope/Zero Hora é o fato de o Ibope realizar pesquisas adotando este procedimento e, portanto, provocando este tipo de viés. É pouco crível, aliás, que uma empresa do porte e da tradição do Ibope proceda desta maneira. Caso seja realmente correta a revelação da Página 10, seria aconselhável que o Ibope viesse a público explicar a metodologia que vem adotando. 

Enquanto isto não ocorrer e até que uma nova pesquisa seja publicada, o melhor é que os eleitores e candidatos de Porto Alegre mantenham suas “barbas de molho”. Em processos eleitorais, não há nada melhor do que uma pesquisa realizada por um instituto confiável e de acordo com critérios técnicos adequados para confirmar ou negar as que a precedem.

* Benedito Tadeu César é cientista político especializado em análise política, partidos políticos, pesquisas de opinião pública e comportamento eleitoral e é também diretor executivo do Sul21.

**Via  http://sul21.com.br   - Grifos deste blog

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