29 agosto 2012

Vito Letizia



* O vídeo acima registra  a fala do militante e professor Vito Letizia no lançamento do sítio  Interludium.com.br  na sede da APROPUC (SP),  em  23/0911.  O sítio  pretende ser um espaço "de militantes que se dispõe a atuar nos movimentos sociais que resistem ou se mobilizam contra o capital e o estado burguês, que destroem a natureza e degradam as condições de vida do homem".

Vito Letízia, na ocasião,  afirmou que o sítio é mais um instrumento na  luta pela liberdade. "Nós queremos ter a liberdade para exercer nossa atividade vital, e o capital vem lesando essa possibilidade a todo o momento. O trabalho reduz o ser humano a uma máquina". 

O Interludium registrou pesarosamente que Vito Letizia faleceu no último dia 08/07, em Porto Alegre/RS (cidade de seu nascimento), vítima de câncer no pâncreas, enfermidade que o afligia nos últimos dois anos e meio. Tinha 74 anos. Destaca que Vito "procurou incessantemente, ao longo da sua vida, a compreensão das contradições que movem a história da humanidade com o intuito de contribuir com o movimento anticapitalista e assim poder pensar em uma sociedade justa e solidária. Sempre foi um grande observador e um excelente ouvinte, que não queria ditar regras, mas sim aprender a se movimentar com os anseios e necessidades dos trabalhadores.

Vito iniciou a sua militância no PCB em 1961, depois militou no Partido Operário Revolucionário (J. Posadas), a partir de 1968 na Fração Bolchevique Trotskista do POR, e depois participando da fundação, em 1976, da Organização Socialista Internacionalista (OSI)*, tendo abandonado a militância organizada posteriormente, só retomando recentemente e por um curto período a atividade militante no PSOL.

A sua vontade férrea (superando até mesmo os desafios de uma doença perversa nos últimos dois anos e meio), seu compromisso com os movimentos sociais e toda a sua vasta cultura e talento revolucionários, que sempre estiveram postos a serviço dos pobres e oprimidos em sua luta contra o capitalismo estão contidos nos inúmeros textos e artigos que ele produziu.

Vito dedicou sua vida aos oprimidos pelo capitalismo e deles é seu legado, que Interludium tem como objetivo divulgar amplamente, pois foi o seu principal mentor e responsável por agregar e direcionar para uma militância. Vito Letizia nos deixa, viva Vito Letizia!"

Segundo José Arbex Jr. (camarada de Vitor e dirigente  da OSI por muitos anos), em artigo escrito para a Caros Amigos,  "Vito Letízia era um sujeito perigoso. Extremamente perigoso. Contra ele, os fascistas de hoje poderiam, com toda justiça, aplicar a célebre sentença proferida em 1926 pelo porta-voz de Benito Mussolini no “julgamento” de Antonio Gramsci: “Devemos inutilizar esse cérebro pelos próximos vinte anos”.

A ditadura soube reconhecê-lo como tal: entre a data de sua prisão, em maio de 1970, quando era um jovem militante da Fração Bolchevique Trotskista (FBT), e a sua libertação, quase três anos depois, permaneceu dezoito meses numa cela solitária de onze passos de largura por onze de comprimento, num quartel do exército localizado em São Leopoldo (perto de Porto Alegre), sem luz e com permissão de leitura estritamente controlada. Vários relatos de seus contemporâneos de prisão, incluindo os de grupos adversários, dão conta de sua extraordinária capacidade de liderança moral e política, razão pela qual foi isolado e submetido a um tratamento especialmente cruel.

Letízia era perigoso por ser implacavelmente fiel aos seus princípios. E, no seu caso, o princípio era a revolução. Mas nada na sua maneira de ser aparentava o perigo. Ao contrário. Era tímido, muito magro, discreto, silencioso, entrava e saía dos ambientes quase sem ser notado. Exceto ao assumir a palavra. Esgrimia os conceitos, as categorias e as análises políticas com a precisão e a elegância mortífera de um samurai.

Erudito, era capaz de discorrer com profundidade e detalhes inacreditáveis sobre os mais variados temas: dos apontamentos de viagem feitos pelo sábio berbere islâmico Ibn Batutta (1304 – 1377) às diferenças de método de criação de porcos por camponeses na Europa e no Brasil; da vida cotidiana nas cidades gregas à época de Platão ao estado da arte das tecnologias de ponta contemporâneas." (...)
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*A Organização Socialista Internacionalista - OSI - da qual Vito Letízia (camarada Gilberto) foi fundador e um dos principais dirigentes - integrou o Partido dos Trabalhadores desde o seus primórdios (1980), constituindo-se depois na Corrente 'O Trabalho' do PT.  No movimento estudantil, intervinha através da tendência 'Liberdade e Luta' - a Libelu, vanguarda das lutas estudantis, destacando-se nos movimentos (grandes passeatas, greves estudantis e apoiando a luta dos trabalhadores)  contra a  ditadura militar, sobretudo   no final da década de 70 e início de 80. A OSI (após a realização de um acirrado congresso em 1985) resolveu se  dissolver  dentro do PT,  tendo então a maioria dos seus quadros optado por integrar a antiga corrente Articulação (ligada então à Lula e José Dirceu, dentre  outras lideranças). Um setor minoritário manteve, no entanto, a militância organizada  no partido mantendo-se  agrupado na corrente 'O Trabalho'  (também o nome do antigo jornal da organização). 

A triste notícia  do falecimento do cda Vito Letizia  chegou-me esta semana, através  do meu prezado companheiro e amigo Omar Rösler, meu camarada de militância na OSI naqueles  ásperos - mas também gloriosos - tempos.  (Júlio Garcia) 

** Leia mais sobre a vida - e a luta - do cda  Vito Letizia Clicando AquiAqui  e Aqui

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