Por Marcos Coimbra*
Em uma de suas mais
polêmicas declarações dos últimos anos, o ex-presidente Lula afirmou que o
“mensalão” era “uma farsa”.
A frase foi dita quando
ainda ocupava a Presidência e ele a arrematou com a promessa de que dedicaria
boa parte de seu tempo após deixar o Planalto a demonstrá-lo. Vivíamos os dias
de comemoração da vitória de Dilma e ela soou a muitos como um arroubo,
compreensível no calor do momento, mas de pequena consequência prática.
Mesmo para quem é famoso por
emitir opiniões desconcertantes, essa foi extraordinária. Até alguns de seus
companheiros mais próximos acharam que Lula havia se excedido.
Passaram-se quase dois anos
e os fatos mostram que estava certo. Quanto mais avança o “julgamento do
mensalão” no Supremo Tribunal Federal, mais fica claro que o fulcro da denúncia
é vazio. Que a acusação fundamental que pesa contra os réus é destituída de
sentido.
Mas Lula não conseguiu
alcançar seu intuito. Do final de 2010 para cá, seu esforço de provar a farsa a
todos não foi bem sucedido.
É claro que fracassaria
tentando convencer os adversários do lulopetismo. Entre eles, alguns são tão
irracionais que nenhum argumento, por mais bem explicado, seria aceito.
Eles são uma pequena minoria
da sociedade brasileira, de tamanho conhecido: os 5 a 6% que achavam “péssimo”
e “ruim” o governo Lula e que continuam a detestar tudo que Dilma faz.
Mas estão
super-representados nos veículos da grande indústria de comunicação. Por isso,
embora sejam poucos, falam alto. Tanto que parecem ser as únicas vozes que
existem.
A batalha à frente do
ex-presidente, de fazer com que o conjunto da opinião pública percebesse que o
“mensalão” era uma farsa, seria difícil de qualquer maneira. Mesmo para quem
tem seu prestígio.
A vasta maioria da população
se interessa nada ou quase nada por questões políticas e administrativas. Por
essa razão, não acompanha o noticiário e tende a permanecer substancialmente
desinformada - mesmo quando supõe ter alguma informação.
Essa mistura de desinteresse
e desconhecimento explica a importância que têm os estereótipos e os
preconceitos na concepção do cidadão comum a respeito da política e dos
políticos. Sabendo pouco e pouco querendo saber a mais, tende a simplificar e
generalizar.
Dá menos trabalho que procurar entender cada caso concreto.
Nada disso é um
característica exclusiva da sociedade brasileira. Ao contrário, com a exceção
de alguns poucos países de cultura política intensamente participativa (como
alguns de nossos vizinhos), não somos diferentes da média.
O que é peculiar ao Brasil é
haver um só discurso nos principais meios de comunicação de massa.
Não é estranho que os
empresários que os controlam desgostem de um partido e prefiram outros. Nem que
contratem profissionais para defender seus pontos vista. É assim no mundo
inteiro, onde donos de jornal e jornalistas têm lado e costumam explicitá-lo.
O que complica o quadro
brasileiro é que apenas um lado tem expressão na mídia hegemônica, exatamente
aquela que, por oferecer produtos de entretenimento, é consumida pela maioria -
majoritariamente desinteressada, pouco informada e com visão
estereotipada.
Isso não é decisivo nas
circunstâncias que cobram das pessoas maior envolvimento e participação, como
na hora de votar. Em situações como essa, elas não refugam e apenas a minoria
permanece à margem, deixando-se conduzir pelos “formadores de opinião”.
Mas quando estão em pauta as
“coisas dos políticos” o comportamento é diferente. Como elas não as motivam,
suas reações são apenas automáticas. Convocam o estereótipo: “todo político é
culpado”. E não é preciso prová-lo.
Uma denúncia - qualquer
denúncia - é, em princípio, verdadeira. Independentemente de contra quem seja e
do nível de comprovação.
De acordo com a força com
que o bumbo é batido pela mídia, algumas ficam grandes e se tornam “o maior
escândalo da história brasileira”. Outras têm pequena repercussão e são logo
esquecidas.
No sentido que está na
denúncia do Procurador-Geral, de que foi “um esquema de compra de parlamentares
no Congresso para apoiar o governo” o “mensalão” é uma farsa.
Especialmente se
aduzirmos que envolvia pagamentos mensais (ou regulares), como o nome sugere.
Nada sustenta a tese. Se
alguns deputados da base do governo - e outros da oposição - foram flagrados
recebendo algum recurso, em nenhum caso ficou nem remotamente indicado que era
para pagar sua lealdade - argumento de resto absurdo no caso dos petistas, que
a davam de graça.
E quando tivemos denúncias
de compra de votos no sentido literal? Quando parlamentares apareceram
discutindo valores e explicando porque os mereciam?
Isso aconteceu em 1997,
quando o Congresso estava na iminência de votar a reeleição de Fernando
Henrique.
E daí? Nada.
E ainda há quem ache que a
mídia é movida por nobres intenções.
*Via
http://www.advivo.com.br/luisnassif
Caro companheiro Júlio Garcia, quem está julgando é o STF, não é a opinião pública. Outra questão, os envolvidos não consegue explicar os fatos, por exemplo: O deputado e candidato a prefeito, fala o que sobre o saque que sua esposa realizou no banco? Sinceramente, eu não consigo acreditar na inocência desse pessoal. Está é minha opinião.
ResponderExcluirPrezado companheiro Rubens, a Defesa provou - aliás, não só a defesa - que ocorreu no incensado - pela mídia e oposição - 'escândalo', no máximo, foi caixa 2 p/pagamento de dívidas de campanha -que também é irregular - e não o alegado 'mensalão' (o próprio R. Jeferson, do PTB, recuou dessa afirmação que criou quando se sentiu acuado quando pego com a boca na botija, a questão dos correios, lembras?). Essa é a farsa que o Lula denuncia e os autos do processo comprovam. Não existe uma prova nos autos de que ocorreu 'mensalão'. A maioria dos ministros do STF, acuada, está agindo ao arrepio da CF/88 e do Estado Democrático de Direito, fazendo o jogo da mídia conservadora e golpista.
ResponderExcluirÉ o que o sociólogo M. Coimbra mostra nesse artigo. O que está ocorrendo nesse julgamento é uma grande farsa.