Por Paulo Nogueira*
Ia
usar a palavra perplexidade para descrever o sentimento que toma conta do
leitor ao ver, na Folha de hoje, a entrevista que o juiz do STF Luiz Fux
concedeu à jornalista Mônica Bergamo.
Mas
recuei ao me lembrar de que grandes filósofos como Sêneca e Montaigne
defenderam a tese de que a perplexidade é atributo dos tolos, tanto as coisas que repetem ao longo dos tempos.
Então
ficamos assim: é uma entrevista altamente reveladora sobre o próprio Fux, o STF
e as ligações imorais entre a justiça e a política no Brasil.
No
último ano do governo Lula, Fux, em busca da nomeação para o STF, correu
sofregamente atrás do apoio de quem ele achava que podia ajudá-lo.
Está
no texto de Bergamo: “Fux “grudou” em Delfim Netto. Pediu carta de apoio a João
Pedro Stedile, do MST. Contou com a ajuda de Antônio Palocci. Pediu uma força
ao governador do Rio, Sergio Cabral. Buscou empresários. E se reuniu com José
Dirceu, o mais célebre réu do mensalão. “Eu fui a várias pessoas de SP, à Fiesp.
Numa dessas idas, alguém me levou ao Zé Dirceu porque ele era influente no
governo Lula.”
Paulo
Maluf, réu em três processos no STF, também intercedeu por Fux, segundo o
deputado petista Cândido Vacarezza, ouvido na reportagem de Mônica. Vacarezza
era líder do governo Lula.
Palavras
de Vacarezza, na Folha: “Quem primeiro me procurou foi o deputado Paulo Maluf.
Eu era líder do governo Lula. O Maluf estava defendendo a indicação e me chamou
no gabinete dele para apresentar o Luiz Fux. Tivemos uma conversa bastante
positiva. Eu tinha inclinação por outro candidato [ao STF]. Mas eu ouvi com
atenção e achei as teses dele interessantes.”
Fux
afirmou ao jornal que jamais viu Maluf. Faço aqui uma breve pausa para notar
que seu juízo sobre Fux não depõe muito, aparentemente, sobre o poder de
discernimento de Vacarezza.
O
contato mais explosivo, naturalmente, foi o com Dirceu. Na época, as acusações
contra Dirceu já eram de conhecimento amplo, geral e irrestrito. E Dirceu seria
julgado, não muito depois, pelo STF para o qual Fux tentava desesperadamente
ser admitido.
Tudo
bem? Pode? É assim mesmo que funcionam as coisas?
Fux
afirma que quando procurou Dirceu não se lembrou de que ele era réu do
Mensalão. Mesmo com o beneficio da dúvida, é uma daquelas situações em que se
aplica a grande frase de Wellington; “Quem acredita nisso acredita em tudo”.
A
entrevista mostra um Fux sem o menor sentido de equilíbrio pessoal, dono de uma mente frágil e turbulenta.
Considere a narração dele próprio do encontro que teve com o ministro da
Justiça, José Eduardo Cardozo, no qual acabaria recebendo a notícia de que atingira
o objetivo: estava no STF.
“Aí
eu passei meia hora rezando tudo o que eu sei de reza possível e imaginável.
Quando ele [Cardozo] abriu a porta, falou: “Você não vai me dar um abraço? Você
é o próximo ministro do Supremo Tribunal Federal”. Foi aí que eu chorei.
Extravasei.”
Fux,
no julgamento, chancelou basicamente tudo que Joaquim Barbosa defendeu, para
frustração e raiva das pessoas que ele procurara para conseguir a nomeação, a
começar por Dirceu.
Se
foi justo ou injusto, é uma questão complexa e que desperta mais paixão que
luz. Talvez a posteridade encontre uma resposta mais objetiva.
O
certo é que Fux é, em si, uma prova torrencial de quanto o STF está longe de
ser o reduto de Catões que muitos brasileiros, ingenuamente, pensam ser. Por
trás das togas de Batman, dos semblantes solenes e do palavreado pernóstico
pode haver histórias bem pouco inspiradoras.
*Jornalista, editor do blog 'Diário do Centro do Mundo'
http://www.diariodocentrodomundo.com.br
O artigo é do Paulo Nogueira, do DCM.
ResponderExcluirAbração.
NilvaSader
Valeu, Nilva!
ResponderExcluirO Editor se passou nessa... mas já está corrigido.
Grande abraço e obrigado!