27 setembro 2013

CARTA A RAUL PONT



Caro companheiro Raul Pont:

Há alguns dias, você tornou publica sua posição de não disputar novamente uma cadeira no parlamento. Na entrevista, revela tua inconformidade com o crescente peso do poder econômico no processo eleitoral e seus reflexos dentro do PT. Você afirma que o gesto é uma “espécie de denúncia de que esse sistema está podre e dominado pelo poder econômico e o será cada vez mais”.
Como te disse pessoalmente, sou solidário ao conteúdo de tuas considerações. Inclusive, com a crítica à bancada e à direção do partido, quando da votação do chamado “orçamento impositivo”, desdobramento do indigno, corruptor e coronelista mecanismo das emendas parlamentares.
Você tem razão quando afirma que as jornadas de junho deste ano, além de levantarem reivindicações justas, desnudaram a trava que é para a Nação, a permanência das atuais instituições carcomidas, o que inclui o parlamento atual, mas não somente.
Mas, caro companheiro Raul, como você mesmo diz, não descobrimos agora que esse sistema eleitoral é antidemocrático. Um sistema, assim como muitos outros mecanismos institucionais do Estado brasileiro, em larga medida herdado da ditadura militar e incorporado pela mal chamada “constituinte cidadã” de 1986-88.
Você diz que sai do parlamento, mas não da política; justo, e conclui dizendo que "ou nós conseguimos convencer um grande numero de militantes que esse tipo de pratica é um câncer dentro do partido, ou o partido vai morrer canceroso, e nós vamos ter que construir outro e começar tudo de novo" (Carta Maior, 31.08.2013).
Qual seria a saída, “começar de novo”? Não acho correto deixar no ar a insinuação de que a saída pode estar na porta da rua. Haveria quem aplaudisse, dentro e fora do PT, entre nossos adversários e inimigos. Mas isso seria abandonar os esforços (e a memória) daqueles que construíram o PT, a primeira experiência de organização política independente de massas da história dos trabalhadores brasileiros.
Qual será, então, a saída? Talvez ninguém tenha a resposta pronta, completa, mas certamente não pode ser apenas ajustar certas regras do PED.

Caro companheiro Raul,
Gostaria de dialogar sobre o que podemos fazer para tirar as consequências do que você diz.
Você não acha necessário abrir um combate para que o PT enfrente esse "sistema podre e dominado pelo poder econômico", como você diz, através da luta por uma Constituinte Soberana? Dando a palavra ao povo, uma Constituinte assim, democrática, unicameral e proporcional, poderia passar o país a limpo e abrir caminho para as mais profundas aspirações de justiça social e soberania nacional, realizar afinal, a reforma agrária, reestatizar as empresas privatizadas, destinar os recursos para os serviços públicos (carreados para o mercado financeiro) e terminar com todo tipo de discriminação e opressão. 
Afinal, sem outras instituições, a podridão continuará igual! E por que não uma Constituinte? Não pode ser porque o PMDB é contra? Aliás, já passou da hora de acabar com a “aliança nacional com o PMDB”, fiador dessas instituições carcomidas, que sabotou a proposta de plebiscito para uma Constituinte, apresentada pela presidente Dilma.
E no próprio PT, para combater o câncer, será possível "convencer" a maioria dos militantes para reverter a doença? Mas convencer como, se no PED praticamente não tem discussão com a esmagadora maioria de filiados e é basicamente arregimentação de votos?
Não seria preciso lutar para acabar com esse PED, para voltar aos Encontros de delegados de base, onde o filiado participa decidindo plataforma, discutindo tarefas e elegendo as direções?
Companheiro Raul, com o respeito que devemos ter às nossas diferentes trajetórias, proponho avançar no debate, sem nenhuma pré-condição.

Porto Alegre, 17 de setembro de 2013.

Laércio Barbosa
Membro da Direção Estadual do PT/RS e Candidato a Presidente do PT/RS
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*Nota do Blog: Laércio Barbosa integra a corrente 'O Trabalho' do PT.
**Foto: Deputado Estadual Raul Pont, Presidente do PT/RS.
(Edição final e grifos deste Blog).

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