30 abril 2017

“Buscar os que faltam”: o sentido da greve geral na luta política no Brasil



Por Theófilo Rodrigues*
Sob qualquer ângulo que se examine a greve geral convocada pelas Frentes Brasil Popular (PT, PCdoB, UNE, MST, CUT e CTB) e Povo Sem Medo (PSOL, Intersindical e MTST), além de outros partidos como PDT, REDE, PSTU, PCB e PCO, foi um sucesso.
Não obstante a irracional violência policial que dessa vez desferiu balas de borracha até mesmo contra deputados e que em Goiás levou um jovem gravemente ferido ao hospital, o saldo final pode ser considerado positivo pelos organizadores na medida em que em praticamente todas as capitais do país cartazes foram levantados contra o governo de Michel Temer.
Relatório publicado ontem pela Diretoria de Análise de Políticas Públicas da FGV aponta que “o movimento de apoio à greve geral nas redes sociais foi a maior ação da oposição ao governo Temer em um ano”. Nas redes sociais a defesa do #28A, como ficou conhecida a greve geral na internet, superou “os maiores atos em favor do impeachment, ocorridos em março de 2015 e março de 2016”. (Veja a íntegra do relatório da FGV DAPP aqui).
Mas o movimento não ficou apenas nas redes sociais. Ocupou verdadeiramente as ruas e as praças das principais cidades do país. Esse sucesso é sintomático da baixa aprovação do governo de Michel Temer.
De acordo com a última pesquisa Barômetro Político, realizada pela consultoria Ipsos, a aprovação do governo Temer não passa hoje de 4%. Na semana passada, a pesquisa Vox Populi já havia indicado que esse índice não seria superior a 5%.
Ou seja, a maior parte da população não apenas desaprova o governo de Michel Temer como também está disposta a se mobilizar contra suas reformas trabalhistas e previdenciárias: em maior grau nas redes sociais, em menor escala, nas ruas.
Mas isso não quer dizer que essa enorme massa seja homogênea e que se organize a priori em um único campo político. Como fazer então para que essa enorme energia social seja canalizada em torno da luta política nas eleições de 2018?
A resposta é: “buscar os que faltam”. A expressão não é minha, mas de Íñigo Errejón, professor da Universidade Complutense de Madri e um dos mais destacados quadros da política espanhola.
“Buscar os que faltam” significa compreender que na espantosa heterogeneidade que conforma a oposição ao governo Temer estão presentes as mais variadas demandas e reivindicações sociais: operariado desempregado na indústria petrolífera e de construção, camadas medias moralistas indignadas com as denúncias de corrução, trabalhadores que observam seus direitos previdenciários escorrerem por entre os dedos, empresariado ávido por um projeto nacional de desenvolvimento, movimentos identitários incomodados com o gabinete ministerial de homens brancos etc…
“Buscar os que faltam” significa articular todas essas demandas e reivindicações em um denominador comum que seja transversal e que não seja exclusivo a nenhuma delas.
Em outras palavras, significa talvez abandonar velhos discursos e encontrar novas narrativas que agreguem essas demandas difusas em um projeto de “democracia radical”.
O ano de 2017 será o ano das lutas sociais. Tudo indica que o #28A foi apenas o começo de um longo ciclo de greves, manifestações e protestos contra as políticas implementadas pelo governo de Michel Temer.
Quem, ao longo do ano, tiver a virtude necessária para articular uma narrativa que traduza e conecte essa heterogeneidade, estará apto para o chamado de 2018.

*Theófilo Rodrigues é professor de Teoria Política Contemporânea no Departamento de Ciência Política da UFRJ. - via O Cafezinho

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