20 setembro 2018

O presente do PSDB ao Brasil chama-se Bolsonaro

Foto: Arquivo/Agência Brasil/Fabio Rodrigues Pozzebom)
Por Céli Pinto (*)
A últimas pesquisas de intenção de votos para presidência da república (CNT/MDA 17 de setembro) são muito reveladoras do momento político brasileiro, efeito da ruptura do pacto democrático liderado pelo MDB e o PSDB.
O crescimento de Haddad, somado aos votos de Ciro, mostra um campo de centro esquerda bem mapeado que gira em torno de 30% do eleitorado, considerando um quadro pessimista de não crescimento de nenhum dos dois candidatos. Os constantes ataques ao PT e à esquerda, promovidos pela grande mídia e por decisões judiciais de legalidade questionável, parecem não ter surtido o efeito esperado pelos protagonistas do golpe que depôs Dilma Rousseff.
O PSDB, desde o momento em que seu candidato derrotado colocou em xeque a lisura das eleições de 2014, passando pelo patético “relatório técnico” do senador tucano Antonio Anastasia (cria de Aécio), que condenou Dilma, teve um projeto claro: tirar a legitimidade ou até excluir legalmente o PT das eleições presidenciais de 2018 e, desta forma, construir condições para voltar à presidência da república.
O PSDB errou feio nos cálculos, porque não se deu conta de que, com o golpe, quem tomaria o governo seria os que já estavam no governo, a parte mais podre das alianças petistas. O Golpe foi, antes de um conchavo em quarteis ou de forças políticas na oposição, uma traição do então PMDB, capitaneado por Eduardo Cunha e Michel Temer que viam, na nova aliança com o PSDB, a solução para estancar os processos da Lava Jato. A famosa frase de Homero Jucá foi a síntese desse processo.
O PSDB também errou porque achou que as forças do mercado, seja lá isto o que for, reagiriam bem ao golpe, a economia voltaria a crescer e os escândalos ficariam em segundo plano.
Nada disto aconteceu. O delfim Aécio foi pego pedindo dinheiro e prometendo matar o pombo correio, Eduardo Cunha foi para prisão e Temer usou sua posição de presidente para não fazer nada além de tentar salvar a própria pele.
Disso resultou que o PSDB e o MDB caíram em um grande vácuo discursivo. Não salvaram para si nem ao banqueiro Meirelles, que faz uma campanha pífia para a presidência, usando de forma muito pouco republicana os governos de Lula pra se promover.
O PSDB não tem nada a entregar nesta campanha. Os 6,1% de intenção de votos em Alckmin não são consequência da falta de charme do candidato, mas sim da perda de espaço na arena política do discurso tucano. O partido abriu mão do pacto democrático quando entrou na aventura golpista, mas não teve know-how necessário para construir um discurso autoritário de feições neofascista. Sobrou para ele o discurso neoliberal morno, já praticado com péssimos resultados por Temer, apoiado no próprio PSDB.
Em suma, o partido de FHC, de Covas, de Serra, de Alckmin criou condições ótimas para o surgimento de um discurso fascista, perigoso, primário, que encontra um eleitorado desamparado pelos neoliberais chiques de outrora. Quando pesquisas apontam que o eleitor preferencial de Bolsonaro é homem com mais de 40 anos e nível superior, estamos frente a ex-eleitores de FHC, Serra, Alckmin e Aécio. Bolsonaro é o presente do PSDB para o Brasil.
(*) Professora Titular do Departamento de História da UFRGS.
**Via Sul21

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