Por Júlio Garcia**
*A Coluna hoje reproduz, pela relevância, magistral artigo do consagrado jornalista Janio de Freitas (foto), publicado originalmente no jornal Folha de S. Paulo.
Discorre, com o brilhantismo de sempre, sobre as atitudes, ações (ou
falta delas ... condutas e postagens alucinadas) do ex-capitão Bolsonaro
e sua troupe - que foi galgado a condição de presidente da República
com o apoio inconteste da “classe média e rica” deste país, principalmente, à quem Janio chama a atenção: “Não se façam de escandalizados!” O artigo tem por título “A escolha ideal”.
*Leiam a seguir:
“O
autor da cafajestada tuiteira que escandaliza as classes média e rica
tem todo o direito de estar, ele sim, com o mais sincero e legítimo
espanto. Tudo o que levou a fazê-lo presidente veio de iniciativas
dessas classes. Não por acaso, as mais informadas sobre o tenentinho
desordeiro, depois sobre o político estadual defensor da ditadura e das
milícias, e logo o deputado federal que enriqueceu as características
precedentes com duas demonstrações: a ignorância sem brechas e uma
variedade insuperável de atos qualificáveis, desde sempre, como
molecagens, cafajestices, falta de decoro e de educação, e daí para
pior. Não cabe falar em deselegância, em falta de sensibilidade.
Foram
três décadas de exibição, bem exposta ao país pela comunicação em
geral, até que esse personagem anômalo se revelasse o ideal, político e
de governante, das classes média e rica para o Brasil. O direitismo de
Geraldo Alckmin e Henrique Meirelles foi desprezado como insignificância
diante do “mito”.
O
Jair Bolsonaro com título de presidente é o Jair Bolsonaro que todos,
mesmo se dotados só de informações mínimas da política, puderam saber
quem era, como era e do que se mostrava capaz. E quem, em 30 anos, não
teve sequer esse resíduo de informação, na campanha recebeu do candidato
uma síntese bastante fiel da sua sedução pela violência, pela morte
alheia, pelas palavras e atos moldados no primarismo feroz.
Não
há eleitor ingênuo nesse drama brasileiro, se não for tragédia. Não há,
portanto, eleitor inocente nos que produziram a vitória nas urnas. Nem
mesmo o grande contingente dos evangélicos. Do qual não se sabe se mais
usou ou foi usado pela classe rica, na busca de um poder que só
compartilham na aparência, enquanto afiam as lâminas.
Nas
responsabilidades da classe média estão as dos militares, em particular
a da oficialidade do Exército, ativa e reformada. É imaginável que seu
pudor profissional, já com muitos hematomas, esteja agora envolto em
sentimentos misturados que a perplexidade silencia. Aos olhos da
paisanada, a formação do militar do Exército está sob muitas
interrogações. Não só pela figura central, mas também pelo endosso que
lhe foi dado e pela associação que, noticiou o “Estado de S. Paulo”, já
conta com mais de uma centena de militares em postos do governo.
Aos
militares do núcleo de poder há que reconhecer o respeito demonstrado
por suas funções, na relação com os cidadãos. Nada de arroubos, nem de
exibicionismo. Apesar de daí decorrer, também, o desconhecimento geral
do que pensam esses militares, mesmo que
só como definições de políticas públicas. E isso inquieta, porque é
quase unânime a percepção do péssimo estado do país. E do que alguns
ministros já começaram para piorá-lo.
Má
conduta tuiteira tem a ver com o Ministério da Justiça, embora também
com a área da comunicação. O cargo de ministro pode ser um prêmio, ou
retribuição, mas isso não dispensa de deveres. O ex-juiz hoje é tão
ministro quanto fugitivo: sempre fugindo de indagações a que não
responde porque não disse, nem fez, o que as dispensaria, e era do seu
dever.
Na
casa de Sergio Moro, a vitória de Jair Bolsonaro teve comemoração,
levada por sua mulher às redes sociais. Prova de identificação que
elimina as hipóteses de encontro com o inesperado, por parte de quem
renegou a toga para estar ao lado de quem hoje escandaliza. Moro leva a
muitas afirmações de surpresa, entre seus admiradores, mas não pode se
surpreender com “o mito”.
Jair Bolsonaro encerrou sua mensagem suja com este pedido: “Comentem e tirem suas conslusões” (sic). No que me cabe, pedido atendido.”
...
**Júlio César Schmitt Garcia é
Advogado, Pós-Graduado em Direito do Estado, Poeta e Midioativista. Foi
um dos fundadores do PT e da CUT. - Publicado originalmente no Jornal A Folha (do qual é Colunista) em 15/03/2019.
***Via Portal O Boqueirão Online
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