Por Mauro Donato*
Em pouco mais de dois meses o governo estimulador de franco atiradores já colhe sua primeira tragédia.
Ao melhor (ou pior) estilo americano, dois adolescentes entraram na
escola Professor Raul Brasil, em Suzano. O número total de mortes ainda
não está confirmado, mas elas passam de nove. A escola atende aos
ensinos fundamental e médio.
Os dois atiradores suicidaram-se em seguida.
Mais armas nas mãos da população não tem como dar em algo diferente.
Desde que a extrema direita, que hoje está no poder, já vinha falando em
rever o estatuto do desarmamento, escrevi (lá em 2015) neste DCM:
“Estão brincando com fogo e empurrando-nos para uma sociedade tão
doente quanto a do tio Sam. Facilitar o acesso às armas é criar um
oceano de tragédias. Um levantamento feito nos casos investigados pelo
Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) aponta que 83% dos
assassinatos esclarecidos foram cometidos por motivos fúteis como
brigas de trânsito, discussões de casal, rivalidades entre torcedores
fanáticos. Quando se tem uma arma à mão, este é o resultado”.
Esse tipo de evento está deixando de ser raro no país. E morbidamente motiva imitadores.
Há alguns anos, em Realengo (RJ), um ex-aluno que dizia
sofrer bullying entrou na escola e disparou mais de 100 tiros. Matou 12
crianças.
Tempos depois, em Goiás, um adolescente de 14 anos dirigiu-se até o Colégio Goyases, matou dois colegas e feriu outros tantos.
Ele disse ter se inspirado no atirador de Realengo (além de
Columbine, claro). O autor dos disparos usava uma pistola calibre 40 que
era da mãe, uma policial militar.
Em 2013, o menino Marcelo Pesseghini, de apenas 13 anos, pegou uma arma, foi até a escola e depois matou seus pais.
Um laudo psiquiátrico polêmico feito após a morte do garoto relatou
uma doença mental (encelopatia hipóxica) e também um suposto vício pelo game Assassin’s Creed como causas determinantes.
Seja como for, sem uma arma em mãos o garoto não teria feito o que fez.
Os casos de tiroteios em escolas obedecem a alguns padrões que
estudos comprovam. Meninos, menores de idade, busca pela fama,
frustração. E armas, obviamente.
O acesso a elas não traz nada de positivo a ninguém, em lugar nenhum.
Se Bolsonaro e seus seguidores não conseguem compreender isso, que esse massacre de hoje sirva para abrir-lhes os olhos.
*Jornalista
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