17 março 2019

Um país avacalhado



Por Fernando Brito*

Talvez não se precisasse mais do que sermos um país onde Lula está preso numa solitária e Jair Bolsonaro está no Palácio do Planalto para justificar o título acima.

Mas, como há gente tola o suficiente para acreditar que um homem que tinha autoridade sobre o uso de centenas de bilhões em investimentos públicos e favores fiscais possa ter conspurcado sua autoridade em troca de uma reforma de segunda num pombal no Guarujá e que outro, que jamais propôs alguma coisa além de atirar, matar, castrar e estuprar possa ser o caminho para a paz social, gasto algumas linhas para provar o que afirmo.

A Justiça, depois de desmoralizar-se numa perseguição inquisitorial, por anos a fio, está em frangalhos. Um procurador da província faz um acordo para ficar com R$ 2,5 bilhões à sua disposição. A Procuradora Geral da República pede a anulação da monstruosidade e a categoria, até onde se sabe, revolta-se contra ela. O Supremo Tribunal Federal, depois de apanhar na cara por longa temporada – até mesmo oferecendo a face para isso – converte-se em delegado de polícia para, depois de arrombadíssimas todas as suas portas, “descobrir” quem o está enlameando e difamando, quando isso está mais do que claro para qualquer um que ligue o computador e acesse as redes sociais.

A economia, há três anos, não tem projeto algum senão vender o que puder, cortar onde não deve e dizer que todos os insucessos que coleciona são “culpa dos governos anteriores”. Que, tendo ganho o bilhete premiado da descoberta de uma imensa jazida de petróleo coloca na presidência da empresa estatal que o encontrou um homem que sonha em privatizá-la.  Um ministro da Economia que apresenta como proposta “genial” deixar que se esvazie o Estado, eliminando metade de seus servidores (sem efeitos econômicos de curto ou médio prazo, pois aposentar-se-ão os funcionários eliminados) e que eliminem as vinculações do Orçamento que obrigam a gastos em saúde e em educação.

Educação, aliás, que está entregue às intrigas diárias entre incompetentes, fascistoides e um charlatão que despeja ofensas e obscenidades diariamente no Facebook, chamando de drogados e homossexuais os jornalistas que – timidamente, até – ousam criticar essa situação de barbárie. A ordem para formarem as crianças para ouvirem o slogan presidencial é até pouco diante do quadro que lá se instalou.

Ordem nas escolas, exceto por um massacre ou outro, desordem nos quartéis, com as Forças Armadas sendo desmoralizadas pela barganha pública de suas aposentadorias enquanto generais reformados vão ocupando a máquina pública e circulando, desenvoltos, com atores pornô e louvadores de milicianos.

A imagem do Brasil no exterior, antes tão cara a eles, transformada em objeto de chacota, com o fundamentalismo dominando o Itamarati e poderia seguir adiante, em quase todas as áreas do Governo, ou pseudogoverno, talvez nome mais apropriado ao que temos.

O fato objetivo é que não há saída da crise para um país que degrada sua vida institucional.

Como não há legitimidade em quem ascendeu ao poder, embora pelo voto, através de um processo ilegítimo. A vontade nacional, quando se expressa, como aconteceu, no sentido destrutivo, só destruição traz, se não se move por esperanças.

A falta de sonhos é o portão do pesadelo.

*Jornalista (RJ), Editor do Blog Tijolaço

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