Por Fernando Brito*
Fui ler um artigo de Josias de Souza, no UOL, no qual ele se espantava com o fato de que, atualmente, a brutalidade de execuções às dezenas em presídios tornou-se não só banal como, também, virou alimento para os instintos homincidas que se desenvolveram na opinião pública.
Diz ele:
Há uma mutação ética nas cadeias e no Brasil. Dentro dos presídios, o sangue jorra sem culpa. Fora, o incômodo com a matança é condenado por chatice. Dentro, ouve-se o barulho dos membros das facções matando-se uns aos outros. Fora, escuta-se o silêncio da sociedade, grata à bandidagem pelo autoextermínio.
E discorre como fomos involuindo para quase festejar o espetáculo de mais de meia centena de corpos humanos degolados, perfurados, asfixiados…
Mesmo abstraindo-se o horror destas cenas, salta aos olhos a estupidez aritmética desta “solução”: uma bomba atômica como a de Nagasaki não “resolveria” 10% da massa prisional do país. Nem o fato de que cada corpo morto pressupõe um assassino vivo, com grandes possibilidades de voltar a matar, na cadeia ou fora dela, enquanto não for morto também.
O artigo, porém, se completa com o que Josias não escreveu, mas previu. A área de comentários de seu blog virou uma galeria de presídio, onde se ouvem os gritos e ameaças da “facção do bem” querendo mais sangue, mais mortes, mais execuções.
“55 em dois dias é pouco”, diz um deles.
Bem, como são 700 mil presos e outro tanto esperando para entrar, temos aí a ideia de que nos “salvaremos” com um genocídio de um milhão de pessoas, pouco mais ou menos.
Nos tempos do Carandiru, massacre era um escândalo. Ano retrasado, com Temer, era um “incidente”.
Agora, na era Bolsonaro, é uma “conquista”.
*Jornalista, Editor do Blog Tijolaço
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