Por Florestan Fernandes Jr., jornalista*
Nesta terça-feira, o general
Eduardo Villas Boas, ex-comandante do Exército e integrante do governo de Jair
Bolsonaro, foi ao Twitter se solidarizar com Sergio Moro e deixou escapar nas
entrelinhas uma "intimidação". Disse Villas Boas: "Momento
preocupante o que estamos vivendo, porque dá margem a que a insensatez e o oportunismo
tentem esvaziar a operação Lava Jato, que é a esperança para que a dinâmica das
relações institucionais em nosso país venha a transcorrer no ambiente marcado
pela ética e pelo respeito ao interesse público."
Em outras palavras: ou aceitamos
como normal a relação promíscua do ex-juiz Sergio Moro com o promotor
Dallagnol, preservando a Lava Jato, ou corremos o risco de um retrocesso
político. Imagino o sentimento de juízes sérios que dedicam a vida à causa da
Justiça preservando a dignidade e a ética do cargo ao ouvir tamanho disparate.
Moro e Dallagnol são servidores
públicos e, por isso mesmo, devem explicações para seus "patrões": os
cidadãos para quem trabalham. Em hipótese nenhuma eles podem ou devem se
beneficiar do cargo ficando acima da lei. Se cometeram erros, que respondam por
eles. Como diz o dito popular, quem não deve, não teme.
Preocupante, general, é ver
oficiais como o senhor, que fez uma brilhante carreira nas Forças Armadas,
sendo ofendido de maneira torpe e grosseira pelo guru intelectual do presidente
da República. Mais preocupante ainda é ver, nas manchetes dos jornais,
denúncias robustas de corrupção contra um dos filhos do capitão em chefe.
Preocupa também, general, a
relação de intimidade da família Bolsonaro com pessoas pra lá de suspeitas de
pertencerem às milícias do Rio de Janeiro. Preocupante é ter no comando da
Nação um homem que governa ao lado dos filhos fazendo galhofa pelo Twitter e
pelo Whatsapp. Um governo sem compostura, sem rumo, sem propostas, sem equipe e
que não consegue dar respostas mínimas às necessidades da população.
Preocupante é o desemprego, que
jogou milhões de chefes de famílias na informalidade. Preocupante é a falta de
médicos, remédios e unidades de saúde para atender a população carente das periferias
e das cidades distantes. Preocupante é o corte de verbas da educação e da
pesquisa, da falta de incentivos para a indústria e o comércio. De não termos
um projeto sequer para sairmos da recessão e retomarmos o crescimento
econômico.
Preocupante, general, é o balanço
de seis meses de uma administração que tem para nos oferecer a liberação do
porte de armas, o incentivo à indústria de cigarros, a liberação de agrotóxicos
na nossa lavoura e o fim dos radares nas estradas. E, para finalizar, preocupante
é um oficial de alta patente pressionar a corte maior do país a tomar decisões
que não estejam de acordo com a nossa Constituição.
*Fonte: Brasil247as pela Democracia
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