Da Redação do jornal O Trabalho*
Há três meses, milhares de iraquianos protestam às sextas-feiras na
praça Tahir, em Bagdá, contra o desemprego, a degradação dos serviços
públicos e a corrupção, neste país rico em petróleo. A brutal repressão
com mortos no dia 5, ao invés de um recuo, provocou a primeira onda
nacional de manifestações e greves em grandes cidades, desde a queda de
Saddam Hussein (2003) seguida da guerra contra o “estado islâmico” – os
trabalhadores retomam a iniciativa numa situação extrema.
No Equador, tido como caso de um governo “progressista” que aderiu à
onda conservadora na América Latina – o titular, Lenin Moreno, ex-vice
de Rafael Correa que o indicou candidato há dois anos – o pais foi
paralisado por “transportistas” esta semana, cuja repressão detonou um
levante popular contra o pacote do FMI baixado pelo governo, o qual
aumentou os combustíveis, “reformou” a lei trabalhista e aumentou as
taxas da Previdência. Moreno fugiu de Quito, a capital, para Guayaquil
e, no momento, não se sabe o que vai acontecer.
O que tem isso a ver com o Brasil?
A evidência de que em países nos vários continentes – como na
Argélia, no Haiti, na França, em Porto Rico, Hong Kong etc. – em ritmos
diferentes, avança a resistência dos trabalhadores e dos povos, muitas
vezes de forma explosiva, várias vezes à margem de desgastadas
organizações representativas. Isso, apesar da situação defensiva criada
pelo imperialismo em crise que, para sobreviver, não dá margem, ataca
todas as conquistas e a democracia.
Acontece que aqui, há mais de um ano, há muita gente – sobretudo
entre lideranças sindicais e políticas que não querem se debruçar sobre
os erros cometidos nos 13 anos de governo do PT – que, para justificar,
repetem que o “mundo vai à direita”. Na verdade, macaqueiam a mídia
Internacional que minimiza ou tenta esconder as lutas de resistência, e
privilegia certos resultados eleitorais de partidos nacionalistas,
socialistas ou comunistas, muitas vezes esgotados.
Mas, como se vê, não é tão simples.
Na América Latina, em particular, na Venezuela, apesar da situação
complexa, há a resistência do governo Maduro, e na Argentina está
anunciada a derrota do candidato preferido do imperialismo, o atual
presidente de direita Macri, e a volta do peronismo ao governo.
Mas atenção, a história não vai se repetir no continente.
A crise capitalista hoje, não permite a margem de negociação de há 20
anos para a classe dominante, produto do boom dos preços das
exportações (commodities) da região. A mesma crise fez o imperialismo
dominante dos EUA, com Obama e ainda mais Trump, passar para uma
política de golpes para retomar a hegemonia plena, com a submissão da
burguesia associada.
A conciliação com a classe dominante não resolveu antes, como se viu,
deram o golpe quando puderam. E não há espaço mais de conciliação, é
cada vez mais a revolução ou a contrarrevolução.
É preciso ter serenidade, mas também lucidez para dialogar com o
povo. O PT deve ter clareza de se apresentar, como fez antes, contra
“tudo que está aí”, o verdadeiro antissistema, simbolizado por Lula
preso em Curitiba.
É o caminho mais curto e menos sofrido para o fim do governo
Bolsonaro. Resistência e Lula Livre. Em outros termos, é o que se
discute no Congresso da CUT. É o que o Diálogo e Ação Petista propõe ao
7º Congresso do PT.
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