Uma plenária nacional do Diálogo e Ação Petista realizada neste sábado (13) reuniu quase cem militantes de 15 estados do país. Foi a primeira plenária nacional virtual, desde o inicio da pandemia. Além dos membros do DAP nos estados a plenária contou com a presença de uma delegação jovem da Juventude Revolução do PT, de Luísa Hanune, Secretária Geral do PT da Argélia e coordenadores do Acordo Internacional dos Trabalhadores e dos Povos, e da presidente do PT, Gleisi Hoffman.
Misa Boito, que coordenou a plenária, explicou as razões do encontro: “O comitê nacional decidiu essa plenária diante da necessidade dos grupos de base de nos manter agrupados. Essa plenária vem no bojo das atividades dos grupos de base, e no bojo dos atos pelo país contra Bolsonaro e contra o racismo”.
A companheira Gleisi, que esteve presente na abertura, explicou a posição que o PT adotou na última segunda-feira de apoiar as manifestações pela democracia e contra o racismo, fazendo uma boa análise da conjuntura nacional. Disse a companheira Gleisi: “vocês do DAP têm bem claro a conjuntura. Precisamos é ter clareza da posição do PT, qual o papel do PT nessa conjuntura. Desde o início da crise (da covid-19), defendemos o emprego, a vida e a democracia. Isso ficou claro em todas as manifestações em que fizemos. A bancada do PT foi a que mais apresentou projetos em defesa das questões emergenciais, para ajudar o povo e governadores a enfrentar a crise”.
“É preciso o fim do governo”
Gleisi ainda falou sobre o governo Bolsonaro: “Bolsonaro para os trabalhadores veio com a MP 936 (que permite redução jornada e de salários e suspensão de contrato de trabalhos – Nota da redação) e nada fez para pequenas e médias empresas. O Brasil se tornou pária (**) internacional: em segundo lugar quantidade de casos, perdendo apenas pros Estados Unidos. Para o desdobrar dessa crise, entendemos que é preciso o fim do governo. Bolsonaro é a crise em si. Ele aposta em instabilidade, aposta no caos social, até pra dar guarida na escalada autoritária dele.”
Crise institucional
Gleisi ainda citou a preocupação sobre a posição das Forças Armadas: “Entendem como governo deles, basta ver que estão em todos os postos estratégicos. Acho que nem na ditadura militar tiveram tantos postos estratégicos”
Sobre saída política, Gleisi afirmou que “a luta que nós temos é pela saída do governo Bolsonaro, não é só de Bolsonaro. Apresentamos a proposta de impeachment, e também queremos a PEC para que em 90 dias tenhamos eleições (…). Nunca tivemos ilusão de sermos ‘oposição propositiva’. A democracia tem que ser qualificada. Democracia, para nós do PT, tem que ter a ver com os direitos do povo: comer 3 vezes por dia, acesso a emprego, renda, e direitos”.
Manifestações
Gleisi ainda citou os próximos passos do PT, em termos de discussão com outras forças políticas: “Estamos preparando um manifesto popular e democrático. Obviamente podemos fazer alianças democráticas neste processo, sem nunca abrir mão de nos posicionar. Saudamos as manifestações de rua, amanhã (domingo) vou estar na manifestação em São Paulo. Estamos orientando a nossa militância. A maioria das pessoas que está indo pra rua é de quem já está confrontado a COVID-19. É quem escolheu lutar para viver”.
Gleisi ainda relembrou pra termos cuidado, relembrando as manifestações de 2013, que, segundo ela, com a despolitização de 2013 resultou na eleição de Bolsonaro.
Frente com quem não quer direitos e fora Bolsonaro?
Sobre a discussão sobre frente ampla versus frente de esquerda, Gleisi afirmou: “Não estamos nesse movimento de frente ampla, não achamos que essa frente ampla possa ser uma saída pro Brasil. Essa frente caminha pra exclusão do povo.”
Gleisi finalizou dizendo que tem muito em comum no PT na situação atual com as idéias do DAP: “Muita força, muita firmeza. O que vem pela frente não vai ser fácil”
Luísa Hanune: “A frase ‘socialismo ou barbárie’ nunca teve tanta atualidade”
Luísa fez uma análise da situação política mundial que, segundo vários participantes, considerou uma “injeção de ânimo” para a plenária. Disse Luísa:
“As imagens que vemos sobre a situação dos povos na pandemia parecem imagens que vimos em livros, da 1ª Guerra Mundial e da 2ª Guerra mundial. Jamais como hoje em dia os povos estiveram tão simultaneamente unidos diante das consequências como nessa pandemia. O que provocou a impotência de enfrentar o vírus foi um processo de sucateamento dos serviços públicos de saúde. Esse sucateamento da proteção social provoca a impotência dos governos. Mesmo as pesquisas científicas que marcaram progressos da humanidade, foram travadas e desviadas para atender os requisitos de lucro do capital. Essa constatação pode ser feita em qualquer país. (…) O governo (da Argélia – NDT) usou o confinamento para atacar os direitos do povo. Em outros países houve supressão de liberdades democráticas, como a de reunião e a de manifestação. A classe trabalhadora está diante de uma unidade total na ofensiva capitalista na pandemia.
Crise nos Estados Unidos
O sistema já estava dilacerado por suas contradições. O assassinato do negro George Floyd abriu uma situação nova, não apenas porque as mobilizações nos EUA não tem precedentes – maiores do que na época do assassinato de Martin Luther King -, mas pela onda de solidariedade em vários outros países como na Europa. Isso porque o movimento nos EUA expressa não só o combate ao racismo, que é estrutural no capitalismo, mas conjura com a raiva que existe dos povos em geral diante de sua condição de vida. Nos EUA, brancos e negros, lado a lado, dizem isso. O que está em questão é o sistema diretamente.”
“A COVID-19 apenas acelerou a crise.“
O companheiro Júlio Turra, do comitê nacional do DAP, completou a discussão internacional com a situação do continente americano. Turra comentou da importância da tecnologia para manter a ligação internacional que o CILI tem realizado, como a “live” que o DAP promoveu dia 09. Ele disse que a pandemia veio apenas pra acentuar a crise já antes existente: “Os órgãos internacionais como Banco Mundial, FMI, e governos, já estavam anunciando a crise do capitalismo antes do vírus: a COVID-19 apenas acelerou a crise. Se o vírus foi produto do acaso, as suas consequências não: foram produto da ação dos governos nos últimos 20 anos. Na América Latina os sistemas de saúde foram sucateados. O SUS no Brasil desde o governo Temer vem sendo sucateado”.
40 milhões de desempregados nos Estados Unidos
Júlio ainda abordou a crise atual nos Estados Unidos, México, e Chile:
“Nos EUA tem 40 milhões de desempregados. Tá no pano de fundo do assassinato do George Floyd. Assassinato de negro ocorre todo dia e toda hora. Nos EUA 15% da população é negra. Nesse momento em que estamos falando, algum policial no Brasil está matando um negro. O que explica a explosão social nos Estados Unidos não é o ato racista em si.
No Brasil, Bolsonaro milita contra o isolamento. Porém mesmo em países que tiveram isolamento, há crise: no Chile teve ‘lockdown’. Setores da periferia saem nas ruas gritando “eu não tenho o que comer”. Os países que tiveram maior sucesso no combate à pandemia – não atacando os trabalhadores de maneira brutal – logram conter a pandemia, e em outros países a situação é dramática. O México, que tem um governo progressista, foi um dos últimos a adotar medidas de proteção. Para quem ainda acha que o Daniel Ortega é progressista, ele diz que não tem COVID-19 na Nicarágua até hoje. As conseqüências para os trabalhadores e povos em todo lugar. Estamos diante de uma situação que é inédita. A crise de 2008 nos EUA depois iam pros outros países. Agora é simultâneo”.
Uma hora explode
Julio Turra ainda abordou a situação dos trabalhadores no Brasil e no Chile:
“As lideranças sindicais aqui no Brasil estão em quarentena, mas o povão tá trabalhando. Tem dirigente sindical em quarentena e a base dele trabalhando. Com a irresponsabildiade do Bolsonaro, já somos o segundo país do mundo em casos de covid-19. Se continuarmos confinados, e esperarmos um milagre do céu, não vamos conseguir ajudar nosso povo. No Chile o governo deu bilhões pros patrões e nada pros trabalhadores. No Brasil Bolsonaro deu trilhões pros bancos, e pros trabalhadores redução de salário e de empregos. Isso vai acumulando uma revolta na sociedade que uma hora explode. Não podemos virar os ideólogos do ‘fique em casa’ enquanto a nossa classe tá trabalhando”.
DAP é motor de Arranque do PT
Depois das falas iniciais e de um rico debate ficou a cargo do companheiro Luiz Eduardo Greenhalgh, membro da coordenação do DAP, fazer uma síntese da discussão. Para Greenhalgh o DAP é uma espécia de motor de arranque e consciência crítica do PT. Confira sua fala na íntegra:
“Não haverá saída para o Brasil sem a saída do governo Bolsonaro. O país vive uma sequência de ameaças e provocações diárias, e essas ameaças materializam uma tentativa de escalada fascista no Brasil. O PT não vai trair o povo brasileiro, o PT vai continuar a fazer oposição sistemática e contundente, e vamos levar a luta até o fim, pelo fim do governo genocida de Jair Bolsonaro.
Nós queremos democracia, mas a democracia que queremos é aquela que protege os direitos do povo trabalhador do Brasil. Nós, os petistas, não vamos nos omitir, não vamos desistir, nós somos socialistas e não queremos que a barbárie atual continue, fora Bolsonaro, viva o PT, viva o DAP do PT, nenhum passo sem o povo.
Nós estamos verificando a sacanagem que é esse governo utilizando da pandemia contra as conquistas que a duras penas tivemos, em relação ao trabalhadores, com a retirada de direitos, direitos dos trabalhadores, dos estudantes, das universidades, agredindo a ecologia, incendiando a Amazônia, as áreas de proteção ambiental, substituindo o ensino presencial pela educação a distância. Enfim a gente vê que o governo Bolsonaro está se aproveitando da pandemia pra tentar passar a boiada do ultra neoliberalismo em nosso país, em uma escala como nunca a gente viu.
E é verdade também que a resistência agora é uma resistência dos povos quase que simultânea, e essa situação de simultaneidade nos ajuda, se a gente tiver a possibilidade de intercâmbios permanentes, sobre o que se está fazendo na África, o que se está fazendo na Argélia, o que se está fazendo nos EUA, no Chile, no México. Daí, o sucesso que foi a experiência positiva dessa “live” internacional que a gente fez, a experiência positiva da “live” nacional que foi feita antes.
O DAP tá se adaptando muito rapidamente a essa situação de conjuntura, essa situação excepcional da nossa conjuntura. A única coisa que o DAP oferece é a certeza de que tem que lutar, que nós temos que resistir, que há uma escalada militarista, e que nós temos que nos adequar a essa situação resistindo, lutando, nós não temos outra alternativa senão lutar.
Esse ano é um ano de eleição, nós vamos apoiar a Benedita no Rio, vamos apoiar o Lino Peres em Florianópolis – aliás, belíssima intervenção do nosso companheiro -, vamos apoiar outros companheiros, vamos apoiar com que jeito? Vamos apoiar com base em um programa, um programa mínimo com as origens do PT, com as bandeiras históricas do PT, um programa que vise sempre a defesa e a recuperação dos direitos que nos municípios também estão sendo tirados de nós, vamos apoiar vereadores, vamos para as ruas.
O DAP tem que apoiar também e participar, não só apoiar, o DAP tem que participar das manifestações, é verdade que tem que ter cautela, é verdade que tem que ter distância, é verdade que tem que ter máscaras, é verdade que tem que obedecer o protocolo, mas temos que ir pra rua sem medo pra enfrentar essa situação. As ruas são nosso lugar preferido, é lá que a gente nasceu no PT, é lá que o DAP hoje, uma certa consciência crítica do PT, busca fazer com que o PT saia de um certo comodismo, saia dos espaços exclusivamente institucionais e venha de novo se encontrar com o povo nas ruas.
As ruas são o nosso lugar, sempre que possível a gente deve ir nas nossas manifestações, e sempre que possível meter os pirulitos do DAP. Aliás, eu queria dar aqui, isso não é resumo da reunião, mas é uma opinião minha, eu acho que os pirulitos são muito pequenos, acho que a gente já tem condições de dobrar o tamanho dos nossos pirulitos, tá certo? Em todas as manifestações nossas põe lá a estrela do PT, põe o vermelho do PT, põe a bandeira do PT, põe os pirulitos em dobro do DAP pra que a gente pirulite lá, “pirulitos de Itú”, tá certo? E sempre que possível com a identidade do DAP.
Nós temos que apoiar esses candidatos com compromisso de defesa dos cidadãos, dos trabalhadores.
O Gilson Lírio colocou, acho que é uma boa visão, o DAP é uma espécie de motor de arranque do PT. O DAP, companheiros, se vocês olham pra trás, no retrovisor, e vê como a gente nasceu, como foi crescendo, como chegamos aqui, além de ser o motor de arranque, é hoje uma certa consciência crítica, tá certo? Quando as pessoas vêm a gente do DAP, elas respeitam, elas sabem que estamos no trajeto correto, defendendo a bandeira do PT, e hoje tá mais fácil porque, sinceramente, a nossa presidente Gleisi tá de acordo conosco, o nosso presidente Lula, para decepção de muitos setores da CNB, tem feito intervenções no nosso sentido, do nosso lado com as mesmas preocupações.
Acho que é bom, também, aproveitar o espaço das eleições para lembrar o golpe contra a Dilma, a situação jurídica do Lula, a perseguição implacável ao PT, pra que a gente possa também juntar na análise, na aproximação, na busca do voto também, relembrar e recuperar a verdade sobre a narrativa do golpe.
Enfim, tem muita luta pra gente participar, tem muita luta pra gente lutar, e o nosso papel no PT, o nosso papel nos períodos eleitorais é isso, os espaços institucionais para um partido como o nosso são importantes, o erro é a gente só fazer política nesses espaços, se distanciando das bases, das nossas origens, da população. Então, a gente tem que ter um pé no parlamento mas os dois pés na periferia, na população, nos sindicatos, nos movimentos sociais.
Essa luta hoje com base nessas manifestações eclodidas nos EUA, aqui no Brasil a gente tem exemplos diários sobre isso, eu acho que essa história também vai pegar aqui no Brasil. Espaços institucionais são importantes, mas não podem ser exclusivizados, não podemos nos distanciar das bases populares, o poder popular é nas ruas.
E, por fim, eu quero falar: a gente não pode deixar, militante do DAP, em qualquer discussão que faça, de levantar como vai ficar a situação do nosso país. Depois do governo genocida de Jair Bolsonaro, as instituições vão estar em frangalhos, nós vamos ganhar deles, o povo vai passar por cima do Jair Bolsonaro, mas nosso país terá instituições em frangalhos, pra isso a gente precisa, pra recuperar essas instituições sob a perspectiva do nosso povo, nós precisamos começar a discutir, desde, já a Assembleia Nacional Constituinte Livre e Soberana.
E nós não podemos ter vergonha. As pessoas, às vezes, quando eu falo isso, falam assim: lá vem o pessoal do DAP dando trabalho, falar de Assembleia Constituinte, há 40 anos que eles falam isso. Mas faz 500 anos que essas instituições do Brasil estão apodrecendo, e se a gente quiser ter um poder popular verdadeiro nós vamos ter que ter uma Assembleia Nacional Constituinte Livre e Soberana. Como disse o Sokol, quem vai anular o que eles fizeram de mal? E o que estão fazendo de mal contra o nosso país? É uma Assembleia Nacional Constituinte.
Então, companheiros, eu acho que é um pouco isso, finalmente, agradecer às referências que me foram feitas, mas dizer pra vocês: o papel do DAP no PT hoje é estratégico, no sentido da sua importância.
Muito obrigado, um abraço.”