06 junho 2020

Nova ordem na Saúde: os mortos são um mito



Por Fernando Brito*
Sabe aquelas centenas de covas cavadas, à espera de corpos? Ou os caixões sendo amontoados em valas abertas com escavadeiras? As pessoas chorando seus parentes mortos? As câmaras frigoríficas? As UTI lotadas de pessoas respirando por ventilação mecânica?
É tudo mentira, diz o governo.
Carlos Wizard, o bilionário dono de cursinhos de inglês e de redes das fast food que assumiu o cargo de homem da ciência no Ministério da Saúde, em meio à explosão de novos casos e mortes, anuncia a sua prioridade: a “recontagem” dos mortos, porque, segundo ele, “o número que temos hoje está fantasioso ou manipulado”. É o que conta Bela Megale, em O Globo:
—Tinha muita gente morrendo por outras causas e os gestores públicos, puramente por interesse de ter um orçamento maior nos seus municípios, nos seus estados, colocavam todo mundo como covid. Estamos revendo esses óbitos.
A origem da suspeita? “A pasta tem convicção que o número de mortos no Brasil seria menor que o divulgado até agora”, apesar, segundo os melhores, não ter provas. Convicção independe de provas, já “ensinava” a Lava Jato.
Disse ontem aqui que, pior do que a manipulação de números – tão inócua quanto a tentada por Marcello Crivella no Rio, “sumindo” com os mortos que não tinham Covid-19 escrita no atestado de óbito, de resto algo impossível pois as pessoas morriam antes de terem resultados para os testes, que só ficavam prontos dias depois – era a destruição dos sistemas de estatísticas de Saúde, que constituem um dos principais elementos para a definição de políticas sanitárias.
É isso o que está em curso, para além da monstruosidade desta gente que acha que o sofrimento de centenas de milhares de família é uma fraude, armada por gente que teria a cabeça doente que eles têm.
Terra plana, complô biológico comunista, mortos falsos, caixões vazios, nada disso é diferente das “mamadeira de piroca” e das criancinhas sendo “treinadas para serem gays” com que esta gente -, com a cumplicidade de uma mídia odiosa, usou para chegar ao poder e, lá, implantar seu obscurantismo medieval.
Para eles, a realidade é como um cadáver: enterra-se e pronto, logo será esquecida.
Esta gente, é preciso que se diga, é criminosa. Como estamos numa guerra para sobreviver, são criminosos de guerra, pois.
Um dia este país voltará a ter gente que lhes aponte com o dedo o caminho dos tribunais e as faça pagar pelo fato de serem os coveiros de dezena de milhares de brasileiros.
Existiram, viveram, foram pais, mães, irmãos, avós, filhos, cuja memória não pode ser enterrada e se dissolver, como seus corpos. Quem esconde a realidade é cúmplice de suas mortes e, como tal, deve pagar pelo que fez.
*Via Tijolaço

Nenhum comentário:

Postar um comentário