14 janeiro 2021

Crise no BB não é por emprego, é por eleição da Câmara

 

Por Fernando Brito*

Há muita hipocrisia nesta história de que Jair Bolsonaro tenha decidido demitir o presidente do Banco do Brasil pelo anúncio de que o banco lançaria um Programa de Demissão Voluntária para 5 mil de seus empregados e fecharia 112 agências, 7 escritórios e 242 Postos de Atendimento da instituição.

Bolsonaro não pensou o mesmo quando o BB fechou, só em 2019, 409 agências e reduziu seu quadro de funcionários em 3.699 trabalhadores.

É claro que a forma e o momento do anúncio das demissões em massa não podiam ser piores, justo num momento de alto desemprego e de agudização da crise na economia.

Os motivos de Jair Bolsonaro são outros, porém: segundo o Estadão, só no dia seguinte ao anúncio do “enxugamento”, ele teria recebido reclamações de oito deputados contra o fechamento de agências do BB em pequenas cidades.

É claro que a preocupação do presidente é a de perder votos para seu candidato à presidência da Câmara, Artur Lira, mas há razão para reclamarem, sim, porque embora os bancos estejam em intenso processo de digitalização e atendimento remoto, em muitas cidades o banco é a única agência de fomento econômico disponível e para o atendimento da população.

Além disso, internamente a decisão foi vista como um passo na preparação de uma possível privatização de parte do Banco, o que gera muita reação e contraria o próprio discurso presidencial de que o BB estaria de fora do processo de liquidação do patrimônio público.

Em 2019, uma portaria fixou em 105,7 mil o limite de funcionários do banco, em março passado reduziu-o para 102 mil e, em novembro, Paulo Guedes cortou o quantitativo para 100 mil. Só que, no final de 2019, o Banco tinha 93.140 e, com demissões (que foram incentivadas) e aposentadorias, é provável que esteja abaixo de 90 mil, agora. Bem menos que uma instituição de porte semelhante, o Itaú, tinha ao final de 2018: 100,3 mil.

É evidente que a automação dos serviços bancários é algo do qual não se pode fugir, mas a bancarização da população brasileira – o pagamento do auxílio emergencial mostrou o quanto, apesar dos avanços das últimas décadas, a exclusão ainda é imensa -permite que a expansão dos serviços bancários compense a utilização menos intensiva de pessoal.

Há 10 anos, o Banco seguia esta estratégia e inaugurou agências em áreas abandonadas pelos serviços bancários em comunidades como a Rocinha, Paraisópolis, no Complexo do Alemão e na Cidade de Deus.

De lá para cá, cortou mais de 20% das mais de 5 mil agências que chegou a ter.

A queda de 4.83% das ações do banco, ontem, na Bolsa, certamente deram muitíssimo mais prejuízo que qualquer realocação de pessoal.

*Jornalista, Editor do Blog Tijolaço

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