31 março 2021

Foi golpe, foi ditadura

"Houve intervenção no Congresso e no Judiciário, cassando grande quantidade de parlamentares e de juízes. Tudo o que era democrático foi vítima de ataque, de destruição, de prisão, de morte", escreve o sociólogo Emir Sader




Por Emir Sader*

O Brasil votaria pela quinta vez consecutiva para presidente da República em 1965. Os candidatos seriam JK, Lacerda e Brizola. (Não era seguro que Brizola pudesse ser candidato, por ser cunhado do Jango. Nós saíamos a pichar as paredes com “Cunhado não é parente. Brizola pra presidente”).   

O golpe de 1964 interrompeu a democracia e foi um marco que divide a história brasileira. Depois de 19 anos apenas de retomada da democracia, as FFAA tomaram o poder, destruindo a democracia brasileira e permanecendo no poder durante 21 anos.

Houve intervenção no Congresso e no Judiciário, cassando grande quantidade de parlamentares e de juízes. Tudo o que era democrático foi vítima de ataque, de destruição, de prisão, de morte. Houve, sobretudo, repressão generalizada sobre o movimento popular, sobre os partidos e movimentos sociais, sobre o sindicalismo, sobre a intelectualidade de esquerda, sobre as universidades, sobre a militância de esquerda em geral. 

Gregório Bezerra, negro, comunista, pernambucano, foi preso e arrastado pelas ruas de Recife amarrado com corda a um jipe. Era a forma de exibir o que o novo regime estava disposto a fazer com quem resistisse à ditadura. 

Milhares de brasileiros foram presos, torturados (a tortura passou a ser a forma sistemática de interrogatório), mortos, exilados. Milhares deles ficaram desaparecidos. 

O Estado brasileiro foi militarizado, com a sua ocupação pelas FFAA. A ideologia de segurança nacional, que caracterizava como subversiva e que deveria ser atacada e destruída, qualquer expressão de divergência. 

Os lideres do golpe foram os generais Humberto Castelo Branco e Golbery do Couto e Silva, que haviam fundado a Escola Superior de Guerra, em 1949, para protagonizar a “luta contra a subversão” durante a guerra fria. As FFAA passaram a decidir quem deveria ser o presidente do Brasil, escolha que era referendada pelo Congresso. Passaram a ser eles e não o povo brasileiro, quem escolhia a autoridade máxima do país, ditadores e não presidentes eleitos pelos brasileiros.

*Cientista Político, sociólogo, professor e escritor. 

**Via Brasil247

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