28 junho 2023

Lula indica advogada negra para ministra substituta do TSE

O presidente nomeou a advogada Edilene Lobo para o cargo no TSE; ela é a primeira mulher negra a integrar o Tribunal


O nome de Edilene estava na lista enviada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) ao presidente Lula | Foto: Arquivo Pessoal

Da Agência Brasil*

O presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Alexandre de Moraes, confirmou nesta terça-feira (27) que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva nomeou a advogada negra Edilene Lobo para o cargo de ministra substituta da Corte. O anúncio foi feito na abertura na sessão desta noite. O nome de Edilene estava na lista enviada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) ao presidente Lula para indicação ao cargo. Ela tem ligação com o PT de Minas Gerais. Com a indicação, caberá ao TSE marcar a data da posse.

A lista também era formada pelas advogadas Daniela Borges, presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) da Bahia, e Marilda Silveira, que atua na área eleitoral em Brasília.

De acordo com a Constituição, cabe ao presidente da República nomear os advogados que compõem o tribunal. O TSE é composto por sete ministros, sendo três do Supremo Tribunal Federal (STF), dois do Superior Tribunal de Justiça (STJ) e dois advogados com notório saber jurídico, além dos respectivos substitutos.

Primeira mulher negra no Tribunal

Edilene Lobo é a primeira mulher negra a integrar o Tribunal. Ela é mineira, doutora em Direito Processual pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas) e mestre em Direito pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). A nova ministra substituta também é professora do curso de Direito da Universidade de Itaúna (MG). Além disso, Edilene também atua como docente convidada da pós-graduação em Direito Eleitoral da PUC Minas Virtual e é autora de livros e artigos jurídicos.

*Via Viomundo

27 junho 2023

Lula assume lugar na cena mundial

Sem empregar malabarismos retóricos, o discurso de Lula em Paris mostrou a força única de um estadista capaz de conversar com a História presente

Paris, França, 22.06.2023 – Presidente Lula discursa no evento “Power Our Planet”, em Paris (Foto: Ricardo Stuckert/PR)

Por Paulo Moreira Leite*

Sem empregar malabarismos retóricos, o discurso de Lula na manhã desta sexta-feira, 23 de junho, em Paris, mostrou a força única de um estadista capaz de conversar com a História presente.

O Valor Econômico informa que naquele dia o presidente brasileiro fez o discurso mais aplaudido de um encontro de nome pomposo e finalidade nebulosa ("Cúpula para um Novo Pacto Financeiro Global)", que reuniu uma centena de chefes de governo do planeta.

Palmas sempre querem dizer alguma coisa mas não dizem tudo.

Sem deixar-se intimidar pelas personalidades que falam pelos maiores PIBs (e maiores exércitos) do planeta, Lula consumiu 20 minutos num discurso sobre o ponto realmente fundamental.

Ao se referir a acordos economicos e compromissos morais que pareciam tão promissores no final da  Segunda Guerra Mundial, quando se venceu os horrores do nazismo que hoje ameaça retornar em várias partes do planeta, com a cumplicidade de várias parcelas do poder mundial,  o presidente brasileiro mostrou uma postura insubstituível.

Abriu um debate único e indispensável para uma conversa sem hipocrisia, capaz de discutir os impasses e perplexidades de um planeta em fase nitidamente regressiva, pois já debateu "investimento em países pobres e hoje debate o protecionismo dos países ricos". 

Evitando o papel conveniente de enfeite ecológico que costuma ser a fantasia mais agradável de representantes de um país que abriga a Amazonia, cobrou responsabilidades de todos e cada um quando fez o esclarecimento fundamental.

“Eu não vim aqui para falar somente da Amazônia," disse. "Eu vim aqui para falar que, junto com a questão climática, nós temos que colocar a questão da desigualdade mundial. Não é possível que, numa reunião entre presidentes de países importantes, a palavra desigualdade não apareça. A desigualdade salarial, a desigualdade de raça, a desigualdade de gênero, a desigualdade na educação, a desigualdade na saúde ".  

“Ou seja, nós somos um mundo cada vez mais desigual, e cada vez mais a riqueza está concentrada na mão de menos gente, e a pobreza concentrada na mão de mais gente," disse.

Deixando claro que, sem abrir caminho para um debate honesto sobre as condições materiais de existência da humanidade, em todas as latitudes do planeta, Lula mostrou-se capaz de cumprir um papel insubstituível.

Sem medo de falar claro sobre assuntos graves, Lula repetiu, em escala universal, aquele comportamento que marca uma história iniciada há meio século sob uma ditadura militar que torturava no andar debaixo e afinava a voz para as camadas de cima.

Com uma estatura política que raros estadistas do planeta podem exibir, esculpida pelo conhecimento infinito que a vida lhe trouxe -- na pobreza de Garanhuns, nas lutas metalúrgicas do ABC, no  Planalto e na cela de Curitiba --, ele retorna ao país depois de lembrar ao planeta que não haverá saída sem a emancipação dos mais pobres e a libertação dos oprimidos.

Foi essa a lição que Lula deixou em Paris, num discurso histórico e sem enrolação, de quem fala o que é preciso dizer sem perder a simpatia,  como se estivesse entre velhos e bons amigos numa mesa de bar em qualquer botequim do planeta.

Alguma dúvida?    

*Fonte: Brasil247 

26 junho 2023

'JOGA CONTRA' - Após Lula subir o tom, Lindbergh pede ao CMN afastamento de Campos Neto

Crescem pedidos para que o Senado cobre que presidente do Banco Central cumpra funções estabelecidas para o cargo



Um dia após o Banco Central insistir em manter a taxa básicas de juros do país em um patamar elevado, a administração Lula (PT) subiu o tom contra o presidente da instituição, Roberto Campos Neto.

Na tarde desta quinta-feira (22), o deputado federal Lindbergh Farias (PT-RJ) apresentou denuncia ao Conselho Monetário Nacional (CMN) contra Campos Neto, dizendo que ele vem descumprindo os objetivos do BC. Farias pediu para que o CMN avalie pedir ao Senado a exoneração do presidente do banco. 

"A decisão do Conselho de Política Monetária (Copom) de manter a taxa Selic em 13,75% é inaceitável. Fica parecendo, cada vez mais, que Roberto Campos Neto e o Banco Central não estão agindo de forma técnica ao manter, pela sétima vez consecutiva, os juros em patamar tão elevado, mas, sim, agindo politicamente para travar a economia brasileira e sabotar o governo do presidente Lula", afirmou Lindbergh.

"A decisão do Banco Central veio acompanhada de um comunicado que é um acinte com a sociedade brasileira, ao falar que a conjuntura demanda 'paciência e serenidade na condução da política monetária'."

"O Banco Central exige paciência, mas o Brasil não pode esperar. As empresas que estão quebrando não podem esperar, as famílias endividadas não podem esperar, diversos setores da economia em retração não podem esperar", finalizou o parlamentar. (...)

-Continue lendo a postagem da Redação do site Brasil de Fato clicando AQUI.

25 junho 2023

FM CULTURA 107.7



*Músicas (e outras atrações) de qualidade: FM Cultura - Porto Alegre/RS

CLIQUE AQUI para escutar.

24 junho 2023

Llanto Por Ignacio Sánchez Mejías

         

               

*Federico Garcia Lorca


                         A las cinco de la tarde.

                  Eran las cinco en punto de la tarde.

Un niño trajo la blanca sábana
a las cinco de la tarde.
Una espuerta de cal ya prevenida
a las cinco de la tarde.
Lo demás era muerte y sólo muerte
a las cinco de la tarde.

El viento se llevó los algodones
a las cinco de la tarde.
Y el óxido sembró cristal y níquel
a las cinco de la tarde.
Ya luchan la paloma y el leopardo
a las cinco de la tarde.
Y un muslo con un asta desolada
a las cinco de la tarde.
Comenzaron los sones del bordón
a las cinco de la tarde.
Las campanas de arsénico y el humo
a las cinco de la tarde.
En las esquinas grupos de silencio
a las cinco de la tarde.
¡Y el toro solo corazón arriba!
a las cinco de la tarde.
Cuando el sudor de nieve fue llegando
a las cinco de la tarde.
cuando la plaza se cubrió de yodo
a las cinco de la tarde.
la muerte puso huevos en la herida
a las cinco de la tarde.
A las cinco de la tarde.
A las cinco en punto de la tarde.

Un ataúd con ruedas es la cama
a las cinco de la tarde.
Huesos y flautas suenan en su oído
a las cinco de la tarde.
El toro ya mugía por su frente
a las cinco de la tarde.
El cuarto se irisaba de agonía
a las cinco de la tarde.
A lo lejos ya viene la gangrena
a las cinco de la tarde.
Trompa de lirio por las verdes ingles
a las cinco de la tarde.
Las heridas quemaban como soles
a las cinco de la tarde.
y el gentío rompía las ventanas
a las cinco de la tarde.
A las cinco de la tarde.
¡Ay, qué terribles cinco de la tarde!
¡Eran las cinco en todos los relojes!
¡Eran las cinco en sombra de la tarde!

II
LA SANGRE DERRAMADA

¡Que no quiero verla!

Dile a la luna que venga,
que no quiero ver la sangre
de Ignacio sobre la arena.

¡Que no quiero verla!

La luna de par en par.
caballo de nubes quietas,
y la plaza gris del sueño
con sauces en las barreras.

¡Que no quiero verla!
Que mi recuerdo se quema.
¡Avisad a los jazmines
con su blancura pequeña!

¡Que no quiero verla!

La vaca del viejo mundo
pasaba su triste lengua
sobre un hocico de sangres
derramadas en la arena,
y los toros de Guisando,
casi muerte y casi piedra,
mugieron como dos siglos
hartos de pisar la tierra.
No.
¡Que no quiero verla!

Por las gradas sube Ignacio
con toda su muerte a cuestas.
Buscaba el amanecer,
y el amanecer no era.
Busca su perfil seguro,
y el sueño lo desorienta.
Buscaba su hermoso cuerpo
y encontró su sangre abierta.
¡No me digáis que la vea!
No quiero sentir el chorro
cada vez con menos fuerza;
ese chorro que ilumina
los tendidos y se vuelca
sobre la pana y el cuero
de muchedumbre sedienta.
¡Quién me grita que me asome!
¡No me digáis que la vea!

No se cerraron sus ojos
cuando vio los cuernos cerca,
pero las madres terribles
levantaron la cabeza.
Y a través de las ganaderías,
hubo un aire de voces secretas
que gritaban a toros celestes,
mayorales de pálida niebla.
No hubo príncipe en Sevilla
que comparársele pueda,
ni espada como su espada,
ni corazón tan de veras.
Como un río de leones
su maravillosa fuerza,
y como un torso de mármol
su dibujada prudencia.
Aire de Roma andaluza
le doraba la cabeza
donde su risa era un nardo
de sal y de inteligencia.
¡Qué gran torero en la plaza!
¡Qué buen serrano en la sierra!
¡Qué blando con las espigas!
¡Qué duro con las espuelas!
¡Qué tierno con el rocío!
¡Qué deslumbrante en la feria!
¡Qué tremendo con las últimas
banderillas de tiniebla!

Pero ya duerme sin fin.
Ya los musgos y la hierba
abren con dedos seguros
la flor de su calavera.
Y su sangre ya viene cantando,
cantando por marismas y praderas,
resbalando por cuernos ateridos,
vacilando sin alma por la niebla,
tropezando por miles de pezuñas
como una larga, oscura, triste lengua,
para formar un charco de agonía
junto al Guadalquivir de las estrellas.
¡Oh blanco muro de España!
¡Oh negro toro de pena!
¡Oh sangre dura de Ignacio!
¡Oh ruiseñor de sus venas!
No.
¡Que no quiero verla!
Que no hay cáliz que la contenga,
que no hay golondrinas que se la beban,
no hay escarcha de luz que la enfríe,
no hay canto ni diluvio de azucenas,
no hay cristal que la cubra de plata.
No.
¡Yo no quiero verla!

III
CUERPO PRESENTE

La piedra es un frente donde los sueños gimen
sin tener agua curva ni cipreses helados.
La piedra es una espalda para llevar al tiempo
con árboles de lágrimas y cintas y planetas.

Yo he visto lluvias grises correr hacia las olas
levantando sus tiernos brazos acribillados,
para no ser cazadas por la piedra tendida
que desata sus miembros sin empapar la sangre.

Porque la piedra coge simientes y nublados,
esqueletos de alondras y lobos de penumbra;
pero no da sonidos, ni cristales, ni fuego,
sino plazas y plazas y otras plazas sin muros.

Ya está sobre la piedra Ignacio el bien nacido.
Ya se acabó; ¿qué pasa? Contemplad su figura:
la muerte le ha cubierto de pálidos azufres
y le ha puesto cabeza de oscuro minotauro.

Ya se acabó. La lluvia penetra por su boca.
el aire como loco deja su pecho hundido,
y el Amor, empapado con lágrimas de nieve,
se calienta en la cumbre de las ganaderías.

¿Qué dicen? Un silencio con hedores reposa.
Estamos con un cuerpo presente que se esfuma,
con una forma clara que tuvo ruiseñores
y la vemos llenarse de agujeros sin fondo.

¿Quién arruga el sudario? ¡No es verdad lo que dice!
Aquí no canta nadie, ni llora en el rincón,
ni pica las espuelas, ni espanta la serpiente:
aquí no quiero más que los ojos redondos
para ver ese cuerpo sin posible descanso.

Yo quiero ver aquí los hombres de voz dura.
Los que doman caballos y dominan los ríos:
los hombres que les suena el esqueleto y cantan
con una boca llena de sol y pedernales.

Aquí yo quiero verlos. Delante de la piedra.
Delante de este cuerpo con las riendas quebradas.
Yo quiero que me enseñen dónde está la salida
para este capitán atado por la muerte.

Yo quiero que me enseñen un llanto como un río,
que tenga dulces nieblas y profundas orillas,
para llevar el cuerpo de Ignacio y que se pierda
sin escuchar el doble resuello de los toros.

Que se pierda en la plaza redonda de la luna
que finge cuando niña doliente res inmóvil;
que se pierda en al noche sin canto de los peces
y en la maleza blanca del humo congelado.

No quiero que le tapen la cara con pañuelos
para que se acostumbre con la muerte que lleva.
Vete, Ignacio: No sientas el caliente bramido.
Duerme, vuela, reposa: ¡También se muere el mar!

IV
ALMA AUSENTE

No te conoce el toro ni la higuera,
ni caballos ni hormigas de tu casa.
No te conoce el niño ni la tarde
porque te has muerto para siempre.

No te conoce el lomo de la piedra,
ni el raso negro donde te destrozas.
No te conoce tu recuerdo mudo
porque te has muerto para siempre.

El otoño vendrá con caracolas,
uva de niebla y montes agrupados,
pero nadie querrá mirar tus ojos
porque te has muerto para siempre.

Porque te has muerto para siempre,
como todos los muertos de la tierra,
como todos los muertos que se olvidan
en un montón de perros apagados.

No te conoce nadie. No. Pero yo te canto.
Yo canto para luego tu perfil y tu gracia.
La madurez insigne de tu conocimiento.
Tu apetencia de muerte y el gusto de su boca.
La tristeza que tuvo tu valiente alegría.

Tardará mucho tiempo en nacer, si es que nace,
un andaluz tan claro, tan rico de aventura.
Yo canto su elegancia con palabras que gimen
y recuerdo una brisa triste por los olivos.

...

**Via 'Poemas'

INELEGÍVEL - Bolsonaro será condenado: provas são fartas e a burguesia não precisa mais dele

Reunião com embaixadores para por em dúvida o sistema eleitoral é parte de uma ação contínua de ataques às instituições



Bolsonaro está sendo julgado por abuso de poder político e uso indevido dos meios de comunicação para atacar o sistema eleitoral (...)
CLIQUE AQUI para ler a íntegra da postagem realizada pela Redação do Brasil de Fato.

Convocação do João Pedro Stedile para CPI é mais uma etapa da criminalização contra o MST



NOTA DO MST

Parlamentares ligados aos ruralistas e ao bolsonarismo deliberaram nesta terça-feira, 20 de julho, convocar o integrante da Coordenação Nacional do MST, João Pedro Stedile [foto], para prestar depoimento na CPI.

As ações coletivas que reivindicam política pública de reforma agrária, são fruto das necessidades concretas das famílias Sem Terra e resultado de uma acintosa e secular concentração da propriedade da terra.

Economista, João Pedro é reconhecido mundialmente como uma referência e grande autoridade no tema da questão agrária no Brasil e do combate às injustiças sociais.

A CPI do MST, cada vez mais, tem se revelado uma cortina de fumaça para tentar apagar os crimes e o triste legado de destruição ambiental, assassinatos no campo e ódio de classe do bolsonarismo.

Ainda não há data para o depoimento do João Pedro Stedile e os requerimentos aprovados foram apresentados por parlamentares do União Brasil, PL e PP, partidos que estão na base de apoio do agronegócio e do bolsonarismo.

21 de junho de 2023, São Paulo – SP

Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra – MST

*Via Viomundo

16 junho 2023

Os ruralistas e o futuro do Brasil


Por Juca Ferreira*

A ficha aos poucos vai caindo e as contradições do ruralismo com o futuro do país vão ficando perceptíveis e expostas e as ilusões vão se dissolvendo…

Os ruralistas, o chamado agronegócio, foi uma das principais bases políticas do golpe que afastou a Dilma da presidência e emprestaram todo apoio a Temer e Bolsonaro.

Historicamente são uma força conservadora e reacionária e conspiram sistematicamente contra o futuro e a grandeza do país.

Fizeram parte desses governos oriundos da ruptura com nossa democracia e usaram sua força nesses governos para ampliar e liberar criminosamente o uso de venenos, os chamados agrotóxicos; para aprovar leis que legalizam e ampliam o armamento no campo e praticam sistematicamente a violência contra líderes dos pequenos agricultores e povos indígenas, inclusive com assassinatos de muitos desses líderes; estimularam e alimentaram as iniciativas golpistas e foram os principais estimuladores e financiadores dos acampamentos nas portas dos quartéis e da patética tentativa de golpe do dia 8 de janeiro.

Agora, estão usando o parlamento para inviabilizar o governo do presidente Lula através de táticas para fazer do Congresso uma barreira oposicionista e golpista.

Estão abrindo uma CPI contra o MST e buscam criar o clima de instabilidade e polarização no país.

Nunca tiveram interesse na consolidação de uma democracia no Brasil.

Não manifestam compromisso com nossa soberania e preferem o Brasil à imagem e semelhança de uma das suas fazendas, sem direitos sociais, sem cidadania, onde impera a lei do mais forte.

Ainda vivem a nostalgia da abolição da escravidão e são o principal setor social que possibilita a resiliência das práticas escravistas.

São inimigos da sustentabilidade e são um dos principais predadores da natureza, desmatando, botando fogo nas florestas, contaminando os rios e os peixes, usando de forma predatória os recursos hídricos, reduzindo irresponsavelmente a biodiversidade e praticando o uso abusivo do solo.

Estão sempre conspirando contra as leis que protegem o meio ambiente e destroem as florestas para substituí-las por fazendas de gado e soja e estão destruindo o Cerrado brasileiro, bioma fundamental para o equilíbrio hídrico do país e se dedicam a concluir a obra criminosa de acabar de devastar a mata Atlântica.

São, junto com o garimpo e os madeireiros, os principais algozes das florestas, dos rios e dos povos indígenas em todo o território nacional.

Como setor social são impermeáveis à nação e não demonstram nenhuma tendência de vir a tomar tenência e afinar a viola com o Brasil.

Tem sido um caso de desafinação e dissonância crônica.

*Juca Ferreira (foto) é sociólogo e ambientalista. Desde março de 2023, cuida da área de economia criativa do BNDES. Foi ministro da Cultura nos governos Lula e Dilma.

-Fonte: https://www.viomundo.com.br (enviado por Ana Costa)

14 junho 2023

O espectro das Jornadas de Junho

As manifestações de junho de 2013 ainda pairam como um espectro verde-amarelo sobre a sociedade brasileira


   Foto: Ramiro Furquim/Sul21

Por Luiz Marques (*)

Junho de 2013 paira como um espectro verde-amarelo sobre a sociedade brasileira. Muito já se discutiu acerca do fenômeno político-social que, com o estopim do Movimento Passe Livre (MPL), explodiu para além da redução das passagens do transporte urbano e, num piscar de olhos, tomou conta das principais cidades. O movimento, de viés estudantil, apesar da suspensão da elevação da tarifa em vários estados, prosseguiu com apoio maciço da classe média em procissões de civismo, intolerância e ressentimento. A pauta incorporou reivindicações. “Não era só pelos vinte centavos”.

Para o jornalista César Felício: “Um ponto de inflexão na crise de junho aconteceu no dia 13, quando a Polícia Militar reprimiu com violência a manifestação em São Paulo” (Valor Econômico, 02/06/2023). Em dias anteriores, os black blocs depredaram prédios. Daí em diante, a popularidade da presidenta Dilma Rousseff despencou e a instabilidade se instalou. A agenda “não” à majoração dos bilhetes de ônibus, metrôs e trens, na sequência, mirou as incontornáveis carências dos serviços públicos e os altos gastos com as obras para a Copa do Mundo (2014) e as Olimpíadas (2016). 

O mal-estar foi canalizado pela Rede Globo para o tema da corrupção. As bandeiras originais foram sequestradas. O alvo migrou dos prefeitos e governadores para o Palácio do Planalto, o PT e a esquerda in totum. Propagou-se o vírus antipetista e antiesquerdista, fechando o doloroso ciclo do “mensalão” inaugurado em outro junho (2005), pelo deslocamento de decisões cruciais para fora de instâncias legítimas. O vírus autoritário infectou a população. A lacração dos políticos contaminou o metabolismo sistêmico, independente do teor ideológico – vitória do mercado contra a política.

As bizarrices com ares de “casa grande” passeando na “senzala”, tipo o casal indo para o local de uma protestação com o carrinho de bebê, a babá preta uniformizada e cães da raça Spitz, acharam em um boçal o porta-voz adequado dos rebeldes a favor das desigualdades sociais e culturais. 

Aquele cínico voto de impeachment dedicado a um covarde torturador (coronel Ustra) pavimentou a ascensão do messias da Barra da Tijuca e guinchou as esperanças coletivas para um passadismo encarnado na ditadura militar, em vez de para uma utopia política com base no igualitarismo e na solidariedade. Levantou-se a tampa do esgoto para monstruosidades assumirem lides ministeriais.

“O establishment preferiu mentir, inclusive para si, que estava apoiando um candidato da direita normal. Todos fingiram não ver quem era Jair Bolsonaro”, acusa o sociólogo Celso Rocha de Barros, em PT: uma história. Às favas os escrúpulos, cantou o passarinho ao endossar o AI-5. 

Benito Mussolini é paradigmático. A Fasci Italliani di Combattimento, fundada em 1919, tinha um feixe de hastes de madeira com um machado ao centro, símbolo do poder político da Roma antiga e, por extensão, do poder político da Roma moderna com Il Duce. O líder forjou de modo arbitrário os rituais, os gestos e os valores do Império Romano para enaltecer a “especificidade” do mito da romanidade, reatualizado pelo fascismo. Qualquer semelhança com o teatro de quinta categoria e atores medíocres na Terra brasilis, não é coincidência. A tragédia se repetiu como uma farsa. 

Choveu no paraíso

A maioria dos analistas julga que junho de 2013 revelou duas crises: a do sistema de representação e a da impostura da meritocracia, que fabricou losers despeitados e winners arrogantes de poucas luzes. A revista Focus Brasil (08/06/2023) dedicou um número aos “Dez anos das Jornadas”.

A Lava Jato, nascida em março de 2014, não criou ex nihilo o ódio; aproveitou-se do caudal de estigmatização da atividade política e responsabilizou os detentores de cargos eletivos, funcionários públicos e empresários pelos malfeitos comprometedores do país do futuro, adiado. A exemplo dos veículos corporativos de comunicação, converteu a corrupção no problema fundamental de um país continental, com uma determinação tão estúpida que provocou quatro milhões de desempregados. 

O primeiro mártir do lavajatismo foi o princípio da justiça hodierna, a presunção de inocência. O segundo, o respeito ao processo legal e àcompetência jurisdicional. O terceiro, a verdade, por condenações à revelia de provas materiais, baseadas apenas nas delações premiadas. O quarto, o julgamento imparcial, maculado no conluio do juízo, a promotoria e a mídia na prática do lawfare

O quinto foi a indústria de engenharia, desmantelada para o regozijo das competidoras estrangeiras. O sexto, a dignidade da pátria, lesada pela articulação espúria às suas costas com o Departamento de Estado norte-americano, que culminou na prisão arbitrária de quem ponteava todas as projeções eleitorais. Outrora marco da abdicação de Dom Pedro I em favor do filho, para alguns a magna data da Independência do Brasil, o 7 de abril se transmutaria no triste dia da ignomínia do judiciário.

Então choveu no paraíso, parafraseando o filósofo esloveno Slavoj Zizek. Éramos felizes e não sabíamos. Comprovou-se a tese de que a sublevação das massas se dá em conjunturas econômicas ascendentes, onde uma interrupção brusca impede novas conquistas das camadas oprimidas. 

Entre o impeachment, a posse do vice golpista e o fim do governo neofascista, la porte de l’enfer rodiniana se abriu à lei patronal das terceirizações e à autonomia (em relação à soberania popular) do Banco Central, com a entrega da política monetária aos prepostos do rentismo financeiro. 

Privatizou-se empresas estatais, devastou-se florestas, sucateou-se a educação, legalizou-se a aquisição de armas pelo narcotráfico e as milícias, abandonou-se a política de proteção às mulheres e se turbinou o feminicídio. Mais: se assistiu a incúria no enfrentamento da pandemia com estímulo à imunidade de rebanho, em detrimento da vacinação. O resultado cravou o genocídio de 700 mil vítimas. Em cada escaninho da administração central, o desmonte dos órgãos de controle do Estado e o assalto ao erário guiaram o leme do desgoverno, na pior aventura em 500 anos de extrativismo.

Entre 2003 e 2010, graças a iniciativas governamentais surgiram 15 milhões de vagas formais, mais do que o total de postos de trabalho nos mandatos de Sarney, Collor, Itamar e FHC juntos. Entre 2018 e 2022, em contrapartida, 62,5 milhões de pessoas ficaram abaixo da linha da pobreza e 17,9 milhões viviam na extrema pobreza (dados do IBGE). Arruinou-se a autoestima que a população demonstrava pela simples condição de ser brasileiro. Praças de metrópoles se tornaram campos de refugiados famintos, em barracas improvisadas por invisíveis. Eis uma pequena amostra do quanto são antagônicos os programas de gestão que contrapõem o progressismo ao hiperindividualismo. 

As ondas do mar

Como as ondas do mar de Nazaré, em Portugal, o vagalhão do extremismo de direita produziu-se sob a superfície de correntes impulsionadas numa fenda submersa, capaz de formar um volume e condensar uma força extraordinária antes de quebrar na praia. Na política, aquela placa tectônica correspondeu à questão da moral e dos costumes com a qual o neoconservadorismo, em associação com o neofascismo, se apresentou à sociedade ao sustentar o colonialismo (racismo) e o patriarcado (sexismo), que servem de alicerces para a segregação e a manutenção da dominação capitalista.

O obscurantismo não é aliado do processo civilizacional, mas de exercícios de feitores cruéis. O desembargador do Tribunal de Justiça/SC, suspeito de manter em situação análoga a de escrava a trabalhadora (surda, muda, iletrada), sem salário ou convívio social, por duas décadas, trouxe à tona um passado que ainda governa o presente, a se confirmar a denúncia. Acabar com a escravatura foi fácil, difícil é arrancá-la do habitus das “elites” com sua crua dialética de mando e de obediência. 

Os abolicionistas avisaram: “A escravidão permanecerá por muito tempo como a característica nacional”. Com o que a luta antineoliberalismo confunde-se, hoje, com a luta antirracismo (étnico, social, capacitista). Por isso, para o antropólogo Darcy Ribeiro, a transformação à brasileira será um socialismo moreno, ou não será socialismo. É hora de acertar as contas com 350 anos de martírio.

Vale salientar a denúncia do ex-agente do Ministério Público Federal (MPF) e ex-deputado pelo Paraná, Deltan Dallagnol, ao criticar o projeto de lei de combate às fake news com a alegação de que censuraria versículos bíblicos. O ex-procurador reportava-se a um anacronismo machista. 

“Esposa obedeça ao seu marido, como você obedece ao Senhor. Pois o marido tem autoridade sobre a esposa, assim como Cristo tem autoridade sobre a Igreja. E o próprio Cristo é o Salvador da Igreja que é o Seu corpo. Portanto, assim como a Igreja é obediente a Cristo, assim também a esposa deve obedecer em tudo ao seu marido” (Efésios 5:21-6). Donde se depreende, diferentemente da interpretação patriarcalista do PowerPoint, que a luta contra o neoconservadorismo confunde-se com a luta contra o sexismo, e deverá ter as mulheres à frente. Por que temer os ideais igualitários?

Consuelo Dieguez, em O ovo da serpente, lembra que uma manifestação evangélica reuniu 40 mil pessoas no gramado da Esplanada, em Brasília, no 5 de junho do fatídico ano, véspera dos atos pelo passe livre, que romperam a tranquilidade da capital paulista. O ato teve por mote um repúdio às medidas de criminalização da homofobia, aprovadas na Câmara e remetidas para exame do Senado.

Na época, avaliava-se em 30% o exército “pela liberdade religiosa e pela família tradicional”. Mobilizado por igrejas que agem com ambição indisfarçável pelo poder político, os soldados da fé atacavam os inimigos de sempre: aborto, feminismo, casamento gay, ideologia de gênero. É um risco à democracia que os teocratas disponham de emissoras de rádio e televisão para a pregação de preconceitos, cooptação de fiéis e captura de votos simpáticos a bispos que mercantilizam deus.

Hasta la victoria

Exageros de linguagem sugerem um vínculo automático entre o “Ano da Serpente” e a assunção bolsonarista, critica Marcos Nobre no artigo “Como junho de 2013 levou a culpa pelos desastres do país” (Folha de São Paulo, 04/06/2023), mas não livram a cara dos que possuíam relevo no regime. No calor das mobilizações, a precipitação da mandatária-mor com a proposta de uma Constituinte exclusiva e de dirigentes com a acomodação ao emedebismo sinalizam um fracasso das lideranças, em uma sociedade erguida sobre pactos classistas pelo alto e subtraída por uma nobreza vira-lata.

Não obstante, se “até 2015, nenhuma força política foi capaz de oferecer direção e sentido hegemônicos à energia de junho”, é que se impôs uma falência mais potente: a da representação política clássica (com a objetividade do real subestimada) comparada à crise das direções (com a subjetividade do sujeito superestimada). A tentativa de reinventar a democracia com uma cidadania ativa, por intermédio do Plano PluriAnual Participativo (PPA Participativo), busca corrigir uma correlação adversa de forças a partir de uma “análise concreta da realidade concreta”, às antigas. 

A antipolítica abalou as instituições do Estado de direito democrático, o que ficou sintetizado no desabafo que funcionou como um compêndio de ciência política: “Não me representam”. Quem captou a insatisfação com a “democracia realmente existente” foi a extrema direita, que aprendeu rápido o potencial das redes sociais e da internet. A tempestade seria perfeita se o vandalismo nas sedes dos três poderes, no último 8 de janeiro, tivesse configurado a distopia regressiva armada. 

De acordo com o diretor do Instituto Fernando Henrique Cardoso, o intelecto-tucano Sérgio Fausto: “2013 não produziu mudança institucional positiva que melhorasse a qualidade do Estado brasileiro e da democracia”. Pena o cientista político não reconhecer a responsabilidade do PSDB na trama. O comportamento do mimado, mas derrotado, neto de Tancredo Neves foi a maçã no Jardim do Éden. 

Na Espanha, as circunstâncias foram mais generosas. A ação dos “indignados” (2011) originou uma agremiação de esquerda (Podemos) que, em aliança com os herdeiros do PCE (Unidas), disputou a hegemonia com o PSOE, de centro-esquerda, num idílio de curta duração. Nos Estados Unidos, o Occupy Wall Street (2011) emulou o Black Lives Matter (2013) e as campanhas (2016, 2020) pela candidatura de Bernie Sanders à presidência, subindo a régua da consciência e da luta de classes.

No Brasil, as mobilizações do polissêmico junho na quadra dos progressistas desembocaram: (a) nas ocupações de escolas secundaristas (2015, 2016), com a juventude posicionada ao lado das bandeiras emancipadoras e; (b) no reforço alcançado pelo movimento feminista com a demanda “Ele não” (2018), que impulsionou um protagonismo de vanguarda na eleição seguinte (2022).

O desafio do presidente Lula da Silva é reconstruir a nação e fornecer as condições para que, no plano econômico e político, a participação social desperte a confiança em uma democracia de longa duração, aberta às experimentações. A práxis por inovações supera as iniquidades e sepulta no esquecimento os desvarios de ontem. “Esse é o destino do mar”, no verso de Cecília Meireles.

(*) Docente de Ciência Política na UFRGS, ex-Secretário de Estado da Cultura no Rio Grande do Sul

Fonte: Sul21

12 junho 2023

Por que show de Roger Waters no Brasil virou debate sobre nazismo?

 

Por Jeferson Miola (@jefmiola), em perfil de rede social*

Por um lado, a reação inusitada à performance anti-nazista de Roger Waters, inclusive de setores da esquerda, é fruto de ignorância.

Mas, por outro lado, essa reação também é resultado da eficácia da sórdida e capciosa campanha sionista.

A vida familiar e a trajetória artística de Roger Waters são marcadas pelo combate inconcedível ao nazismo, ao fascismo e aos totalitarismos.

Ele não é um antissemita; mas sim um antissionista, antifascista e antinazista.

Roger Waters é defensor do povo e do Estado Palestino, é um crítico histórico do apartheid e do racismo de Israel em relação aos palestinos, e ativista de primeira linha do BDS – movimento e campanha mundial que defende o Bloqueio, Desinvestimentos e Sanções ao Estado de Israel pelo fim da ocupação e da colonização dos territórios palestinos.

Felizmente, a reação à infâmia contra Roger Waters não tardou: desde que a estúpida reação sionista contra ele começou ser orquestrada, aumentou a procura por ingressos dos shows dele no Brasil.

*Via Viomundo

10 junho 2023

Pimenta diz que Moro e Dallagnol comandaram organização criminosa e devem ser punidos por seus crimes

Ministro da Secom cobra punição dos responsáveis pela Lava Jato, que deixou um rastro de destruição econômica e institucional

O ministro Paulo Pimenta, da Secom, cobrou a punição do ex-juiz suspeito Sergio Moro, hoje senador, e do ex-procurador e ex-deputado Deltan Dallagnol, pelos crimes cometidos por ambos durante a Lava Jato. "Cada vez que mais conversas da Vaza Jato são divulgadas aumenta minha perplexidade e minha indignação de como o Brasil foi capturado por essa quadrilha de bandidos de togas. Moro e Deltan comandaram uma sofisticada organização criminosa com ramificações em vários setores do aparato do Estado brasileiro. Uma perigosa organização que nunca mediu limites e jamais teve escrúpulos para alcançar seu projeto de poder", postou Pimenta, em suas redes. (...)

CLIQUE AQUI para ler na íntegra (via 247)

09 junho 2023

LUTO - Wladimir Pomar presente, agora e sempre!

Militante histórico da esquerda faleceu na madrugada desta sexta (9); leia homenagem de um de seus filho, Valter Pomar


Por Valter Pomar*

9 de junho de 2023, 2h02 da manhã.

Wladimir Pomar completaria 87 anos no dia 14 de julho de 2023. 

Havia planos de festejar a ocasião, chamando amigos, camaradas e a "grande família": 4 bisnetos e 3 bisnetas, 7 netos e 4 netas, 3 filhos e sua esposa Rachel.

As complicações resultantes de uma displasia impediram isso e o fizeram ter um fim de vida terrivelmente sofrido, totalmente diferente do que ele as vezes disse querer ter e particularmente injusto para com um camarada tão gentil, para citar um termo de Espinosa, não o filósofo, mas aquele militante bem alto, tantas vezes visto ao lado de Lula, especialmente a partir da campanha presidencial de 1989, que Wladimir ajudou a coordenar.

Wladimir Ventura Torres Pomar nasceu em Belém do Pará, no ano de 1936, filho de Catarina Torres e Pedro Pomar, militante comunista então perseguido pela ditadura Vargas.

Em 1949, aos 13 anos, Wladimir também se tornou militante do Partido Comunista. Nos anos 1950, atuou no movimento estudantil e no movimento sindical metalúrgico. Em 1962, participou do grupo que "reorganizou" o Partido Comunista do Brasil.

Preso em 1964, por resistir ao golpe militar, Wladimir viveu na clandestinidade até 1976, sendo novamente preso no chamado Massacre da Lapa, quando perderam a vida Ângelo Arroyo, João Batista Franco Drummond e seu pai, Pedro Pomar.

Wladimir saiu da cadeia em 1979, pouco antes da Anistia. Algum tempo depois, ingressou no Partido dos Trabalhadores, integrando a partir de 1984 a sua executiva nacional, como secretário de formação política. Neste período, foi um dos coordenadores do Instituto Cajamar, participou da coordenação da campanha de Lula a deputado federal constituinte e, em 1989, foi coordenador-geral da campanha Lula presidente.

Em 1990, Wladimir encerrou seu mandato no Diretório Nacional do PT e, desde então, não voltou a ocupar nenhum cargo na estrutura partidária. Tampouco foi parlamentar, nem fez parte de nenhum governo petista, com exceção de uma meteórica passagem como assessor na prefeitura de Angra dos Reis (RJ).

Entretanto, mesmo sem cargos formais, Wladimir continuou colaborando de forma militante com o PT, por exemplo na Fundação Perseu Abramo e em atividades de formação, além de assumir algumas tarefas de inteligência na campanha presidencial de 1994.

Exceto pelo curto período em que foi profissionalizado pelo Partido, Wladimir ganhou a vida trabalhando nas mais diversas atividades, como por exemplo a agropecuária, o artesanato, a manutenção de máquinas pesadas e locomotivas, como linotipista, repórter, redator, diretor editorial, tradutor, consultor e professor. Noutras palavras, Wladimir era um "revolucionário profissional", não um político profissional.

Vale dizer, também, que Wladimir não teve formação acadêmica; muitas vezes disse que seu diploma universitário "fora obtido na cadeia". Brincadeiras à parte, é provável que a ausência de vida acadêmica tenha contribuído para manter grande parte de sua obra numa espécie de semiclandestinidade, isso apesar de ter sido – entre outras coisas – um dos primeiros brasileiros a decifrar corretamente o "enigma chinês".

Entre as obras de Wladimir, uma vertente abordou a dialética marxista (A dialética da história, em quatro volumes). Outra vertente abordou temas da história do Brasil e da esquerda brasileira. É o caso de Araguaia, o partido e a guerrilha e de Pedro Pomar: uma vida em vermelhoQuase lá, Lula e o susto das elitesUm mundo a ganharBrasil, crise internacional e projeto de sociedadeO Brasil em 1990 e Era Vargas: a modernização conservadoraCartas do Passado; é o caso, também, da autobiografia intitulada O nome da vida.

A terceira vertente dedicou-se ao debate sobre o socialismo. Wladimir Pomar escreveu diversos estudos e livros sobre a China, entre os quais O enigma chinês: capitalismo ou socialismoChina, o dragão do século XXIA revolução chinesa (Unesp); China: desfazendo mitos. Escreveu, ainda, uma trilogia sobre a teoria e a prática das tentativas de construção do socialismo, ao longo do século 20: Rasgando a cortinaMiragem do mercado e A ilusão dos inocentes.

Wladimir escreveu muito e parte segue inédita, a começar por uma carta escrita em 2005, na qual Wladimir fez alertas e críticas duras contra a conduta de certos dirigentes e filiados.

Ateu, marxista, comunista e petista, Wladimir Pomar foi recentemente convidado por seu amigo Beluce Bellucci a escrever uma apresentação à biografia de Apolônio de Carvalho, recém-publicada na França.

Entregue em março de 2023, este foi o último texto publicado de Wladimir. Lá está dito o seguinte:

"Eu tinha uns 10 anos de idade quando conheci Apolônio, logo depois do final da segunda guerra mundial nos anos 1940. Ele retornara da França e foi recepcionado pela direção e por muitos militantes do então Partido Comunista do Brasil, (PCB), do qual meus pais faziam parte. Na ocasião, mais do que a áurea de herói da guerra de resistência contra as tropas nazistas que ocupavam a França, me impressionou a delicadeza com que tratava a todos, incluindo as crianças que, como eu, haviam sido levadas para conhecê-lo."

"Posteriormente, enquanto o PCB teve vida legal, meu pai e Apolônio trabalharam em sua sede central, perto da Lapa, no Distrito Federal do Rio de Janeiro. E eu me tornei um visitante constante do local, a pretexto de ver meu pai, mas principalmente para ouvir os relatos de Apolônio sobre a guerra e a resistência guerrilheira contra as tropas nazistas. Prática que foi interrompida quando o Partido Comunista do Brasil teve sua vida legal proibida e seus membros tiveram que passar a realizar suas atividades da mesma forma clandestina que utilizaram durante a ditadura Vargas."

"Nessas condições, só retomei os contatos com Apolônio alguns anos depois. Na ocasião, eu já cursava o ginásio e havia ingressado na União da Juventude Comunista – UJC, também clandestina, e já envolta em divergências sobre as políticas que os comunistas deveriam adotar para modificar o sistema político e recuperar a vida democrática. Na ocasião, Apolônio era um dos dirigentes do PCB que davam 'assistência' à UJC e, em virtude daquelas divergências, achou necessário conversar comigo a respeito."

"Mantivemos contatos constantes durante cerca de um ano. Embora nossas divergências teóricas e práticas tenham se mostrado variadas e, em alguns casos, profundas, Apolônio jamais tentou se impor como 'dirigente superior'. Tratava as divergências como algo natural do trabalho político prático, e interessava-se principalmente pelos resultados das ações práticas adotadas para ampliar a influência política entre a juventude."

"Em vários casos, tivemos concordâncias que só se tornaram evidentes anos depois, quando o PCB se dissolveu em várias correntes políticas, após o golpe militar fascista de 1964. Nas novas condições criadas pela ditadura militar, só voltei a reencontrar Apolônio no final dos anos 1980, quando a ditadura se viu obrigada a realizar uma retirada estratégica e os comunistas puderam voltar à vida 'normal', embora disseminados, então, em vários partidos e organizações políticas. E em que muitos de nós, incluindo ele e eu, adotaram o PT como principal centro de atividade política."

"A partir de então, tive a oportunidade de vê-lo novamente em diferentes ocasiões. Guardo na lembrança sua presença solidária no traslado dos restos mortais de meu pai, assassinado por agentes da ditadura. E sempre me lembro de haver convivido com ele em inúmeras atividades petistas. Isso, embora concordássemos que, àquela alturada vida, nossas idades já não permitiam engajamentos como os vividos no passado. E que deveríamos, principalmente, encontrar caminhos que contribuíssem para que os novos combatentes compreendessem as lições do passado."

"Ainda mantivemos contatos esparsos, ele no Rio de Janeiro e eu em São Paulo. E o que mais me impressionava é que ele continuava mantendo o mesmo espírito de modéstia e de luta, espírito que é destacado na obra do francês Alain Viguier."

As palavras com que Wladimir Pomar resumiu Apolônio de Carvalho sintetizam, também, a atitude do próprio Wladimir e de tantos outros heróis mais ou menos anônimos do povo brasileiro: modéstia e luta.

Há mais de quarenta anos, no dia 11 de abril de 1980, por ocasião do translado dos restos mortais de seu pai, Wladimir disse o seguinte: "Há, finalmente, quem diga que Pomar deixou uma herança. É verdade. Ele nos deixou o exemplo de sua vida, um legado de modéstia, de retidão de caráter, de dedicação à classe operária, ao povo e a seu partido, de amor entranhado à verdade, de aversão à vaidade e de constante alerta e combate aos próprios erros. Há quem queira ser dono desse legado. Essa pretensão é uma afronta a meu pai, que sempre se bateu contra o exclusivismo e o espírito de seita. A herança de Pomar, uma herança digna dos melhores revolucionários, não é patrimônio da família ou de qualquer grupo. Ela pertence a todo o seu partido, pertence a todos os revolucionários, à classe operária e ao povo explorado e oprimido. Eu a entrego a vós."

Wladimir Pomar presente, agora e sempre!

* Valter Pomar é filho de Wladimir Pomar e militante do PT. Doutor em História Econômica, Universidade de São Paulo (USP) e professor de economia política internacional no Bacharelado de Relações Internacionais da Universidade Federal do ABC.

-Via Brasil de Fato