30 setembro 2024

Porto Alegre/RS: 'Os braços do Sul21 e os braços ocultos de Melo'

Mais uma vez, quando questionado sobre problemas de sua gestão, Melo não assume suas responsabilidades e tenta transferi-las para alguém


Por Marco Weissheimer*

Em um debate entre candidatos e candidatas à prefeitura de Porto Alegre, o atual prefeito Sebastião Melo, ao ser questionado sobre a relação de sua gestão com a Pousada Garoa, acusou o Sul21 de ser um “braço do PT”. A irritação de Melo se deve à cobertura que o Sul21 vem dando ao episódio do incêndio da Pousada Garoa, em abril, que resultou na morte de 11 pessoas. Essa semana, dentro do projeto checazap Sul21, publicamos um novo conteúdo sobre esse tema (Sebastião Melo mente em debate ao dizer que rompeu contrato com Pousada Garoa). Agradecemos a leitura do Sul21 pelo prefeito Melo, mas lamentamos que, mais uma vez, quando questionado sobre problemas de sua gestão, ele não assume suas responsabilidades e tenta transferi-la para alguém, no caso em questão o Sul21.

Os dados que irritaram o prefeito não foram inventados pelo Sul21 nem são do PT nem de qualquer outro partido de oposição à atual administração municipal, mas sim do Portal de Transparência da própria Prefeitura e do Tribunal de Contas do Estado (TCE-RS). Recapitulando resumidamente o caso. Em um debate promovido pela rádio Gaúcha, dia 25 de setembro, Sebastião Melo disse que, após o incêndio e as mortes em uma unidade da rede de pousadas Garoa, o contrato teria sido rompido. Neste debate, o atual prefeito disse que “interditamos várias pousadas e rompemos o contrato”. No entanto, é inverídica a afirmação de que o contrato com a rede de pousadas foi rompido. O vínculo entre a rede e a Prefeitura de Porto Alegre está firmado, pelo menos, até o fim de 2024.

Ainda segundo as mesmas fontes, mesmo após a tragédia, foram autorizados novos repasses no valor de R$ 340 mil à rede de pousadas. No dia 3 de julho, após concluir vistorias nas demais unidades da rede, a Prefeitura anunciou que não renovaria o contrato, que vence em dezembro deste ano. O contrato entre a Fasc e a Pousada Garoa foi renovado por 12 meses pela última vez em 2023, com o termo aditivo assinado  em 12 de dezembro de 2023, onde ficou estabelecido o valor mensal de R$ 225.448,33, totalizando R$ 2.705.379,96 ao longo do período de contrato. Foram essas informações, cujas fontes são o Portal de Transparência da Prefeitura e o TCE-RS, que levaram Melo a tentar desqualificar o Sul21 chamando-o de “braço do PT”. O Portal de Transparência e o Tribunal de Contas do Estado seriam eles também um “braço do PT”?

Diante dessa tentativa rasteira e manjada de desqualificação, viemos aqui hoje explicitar a quem os braços do Sul21 servem. Hoje esses braços estão estendidos à população da periferia de Porto Alegre, duramente atingida pela catástrofe climática que se abateu sobre a capital e outras cidades do Estado em maio, e que segue sofrendo a cada novo episódio de chuva mais intensa, como vimos esta semana. Estão estendidos também aos povos indígenas, às lutas das mulheres e da comunidade LGBTI+, aos trabalhadores da saúde e da educação pública, aos ambientalistas e aos pesquisadores das nossas universidades que também estão comprometidos com essas lutas, apenas para citar alguns setores.

E o prefeito Sebastião Melo é braço de quem mesmo? Para que setores da sociedade os braços de Melo estão estendidos? Há quem diga que a gestão Melo é um braço de grandes empresas do setor imobiliário. O atual prefeito adotou um chapéu de palha como símbolo de sua gestão, uma espécie de coroa popular que mostraria seu suposto vínculo com a população mais pobre. Nesta mesma direção, Melo registrou pela primeira vez, em 2024, sua candidatura como sendo de cor/raça “parda”. Nas nove outras eleições que disputou de 2004 a 2020, ele se declarou “branco”.

O esforço de Melo em criar símbolos de um suposto caráter popular parece ser, porém, inversamente proporcional às políticas que ele implementa e apóia em Porto Alegre e no Estado. Essas políticas de Estado mínimo, de privatização e extinção de empresas públicas, mostraram na tragédia que acabamos de viver em maio todo seu potencial de dano à população. Melo nunca assumiu responsabilidade sobre isso. Aposta, talvez, na falta de memória na sociedade, ou na inexistência de veículos de jornalismo independentes que se deem ao trabalho de ir procurar em fontes públicas de informação, como é o Portal da Transparência, informações que, paradoxalmente, em geral não chegam ao grande público. Foi esse o trabalho que Sul21 fez e seguirá fazendo. Ao invés de procurar desqualificar esse trabalho, Melo poderia ser mais transparente sobre os seus próprios braços e responsabilidades pelo que vem acontecendo em Porto Alegre.

(*) Repórter e Editor – Sul21 - Foto: Joana Berwanger

**Via Sul21

29 setembro 2024

"O PT precisa de renovação ideológica – e não propriamente etária" (Breno Altman)

Jornalista aborda os desafios da nova geração do Partido dos Trabalhadores e questiona sua capacidade de manter a densidade ideológica do partido

(Foto: ABR | Brasil247)

247* – Em entrevista ao Bom Dia 247, o jornalista e analista político Breno Altman, editor do Opera Mundi, trouxe à tona um dos temas centrais para o futuro do Partido dos Trabalhadores (PT): a necessidade de renovação. Porém, Altman destacou que essa renovação não deve ser meramente etária, mas, acima de tudo, ideológica. A análise foi baseada em reflexões feitas pelo ex-ministro José Dirceu em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo, onde ele abordou as principais questões internas do partido, como a sucessão de suas lideranças históricas.

“Renovação no PT não é apenas uma questão de idade. É, sobretudo, política e ideológica”, afirmou Altman, destacando a preocupação de Dirceu com a capacidade da nova geração do partido de manter a densidade ideológica que marcou os fundadores do PT, como Lula, José Genoino e Rui Falcão. Para Altman, a principal questão é se os novos quadros serão capazes de sustentar o projeto político que deu origem ao partido, mantendo a conexão com as classes populares e com uma visão crítica do capitalismo.

A geração histórica do PT, formada por líderes que se destacaram na resistência à ditadura militar e nas grandes lutas sindicais, foi responsável por dar ao partido uma forte base ideológica. No entanto, Altman enfatizou que a renovação que se avizinha traz dúvidas. “A nova geração que irá emergir no PT nos próximos anos possui tanto a força social e eleitoral quanto a densidade política e ideológica da geração anterior? Dirceu expressou algum receio a esse respeito, e com razão”, comentou o jornalista.

Essa preocupação se reflete em um momento delicado para o partido, em que sua liderança mais expressiva, o presidente Lula, ainda ocupa um espaço central na política nacional. Dirceu, segundo Altman, deixou claro que, enquanto Lula tiver saúde e disposição, ele será o candidato do partido, apontando para a dificuldade de criar novas lideranças com o mesmo peso histórico. “O PT enfrenta um grande desafio: reposicionar-se no novo cenário nacional e internacional sem perder sua identidade de esquerda”, afirmo Aultman.

A renovação dentro do PT, para Altman, não pode se resumir à substituição de figuras mais antigas por nomes jovens. Ele destacou que a densidade política do partido sempre foi uma de suas características marcantes, e essa herança precisa ser preservada. "A renovação do PT precisa ser capaz de reposicionar o partido no atual cenário, sem abrir mão de sua base ideológica, que é o que lhe confere legitimidade", explicou.

A análise de Altman também destacou que o futuro do PT está intimamente ligado à sua capacidade de se manter relevante em um cenário político marcado pela ascensão da direita e extrema-direita. Para ele, uma renovação bem-sucedida deve garantir que o partido continue sendo uma força política de oposição ao neoliberalismo e ao imperialismo, mantendo sua identidade de esquerda clara e forte.

Por fim, Altman concluiu sua análise ressaltando que o caminho da renovação no PT passa por um compromisso com a profundidade ideológica que sempre caracterizou o partido. "O grande desafio do PT não é apenas político, mas também ideológico. A nova geração que surgir deve ser capaz de preservar e ampliar esse legado", finalizou. Assista::


*Via Brasil247

27 setembro 2024

PROJETO 'PÁTRIA GRANDE DO SUL'*


*Importante acordo entre o MST e o governo da Venezuela para produzir alimentos (assista acima). -Com o Blog O Boqueirão Online, Via TVTNews

26 setembro 2024

O exemplo de Nathalia Urban: jornalista tem que contar o que os poderosos querem esconder

Ela me indicou fonte para reportagem investigativa e mandou mensagem de apoio e estímulo. Tinha 1m57 e, moralmente, era uma gigante

Nathalia Urban cobrindo manifestação pela causa palestina (Foto: Rede social)

Por Joaquim de Carvalho, no 247*

Nathalia Urban tinha 36 anos, três a menos que o meu primogênito. Mas eu não a via como filha, a via como uma jornalista íntegra, sempre ao lado dos oprimidos, como convém àqueles que se dedicam verdadeiramente a esta profissão tão difícil, em que somos atacados por contar o que os poderosos querem esconder.

Minha admiração por ela cresceu quando vi sua entrevista a Leonardo Attuch, na série Grandes Jornalistas. “Ótimo ser chamada de grande jornalista. Assim como Breno Altman falou da altura dele, eu tenho 1 metro e 57… Então, eu nunca fui acusada de ser grande em nada”, disse, espirituosa.

Depois, sua estatura moral aumentou ainda mais quando eu a vi emocionada falar sobre o youtuber PC Siqueira, com quem ela teve um relacionamento e que morreu depois que foi vítima de um ataque sórdido da Polícia Civil de São Paulo, que o acusou de pedofilia, sem nenhuma prova.

Acusação amplificada pela mídia, inclusive por aqueles que ele imaginava serem seus amigos. Nathalia contou que se ofereceu para entrevistá-lo, mas ele preferiu que ela não se envolvesse, já que era muito atacada por suas posições corajosas e seria ainda mais atacada se lhe desse voz.

“Ele falava que o que mais doía era o fato de pessoas que ele considerava amigos na vida pessoal dele terem abraçado essa campanha de ódio, para não perder o deles”, afirmou.

Entrevistei Nathalia uma vez, juntamente com Brian Mier, que seria uma espécie de irmão mais velho, responsável por indicá-la ao 247, pelo brilhantismo que a jornalista sempre demonstrou. 

Tive oportunidade de interagir com ela quando apresentei o Bom Dia 247, durante o plantão de fim de ano. E é sempre um privilégio dividir o mesmo espaço com uma pessoa inteligente como ela, muito próxima do tipo ideal no jornalismo. Íntegra, corajosa e com grande repertório cultural e informativo.

A coragem foi o resultado das circunstâncias que a vida lhe impôs. Era filha de mãe solo, que a teve com 18 anos de idade e lhe deu nome Nathalia porque o parto foi em 25 de dezembro, como ela mesma contou. Passou a infância com duas mulheres fortes. Além da mãe, a avó. 

“Isso foi uma coisa que me ajudou muito a me entender como feminista desde muito cedo, porque eu via o preconceito que a sociedade tinha com a minha mãe por ela ser mãe solo”, afirmou. 

“Passei muito tempo morando com mulheres mais velhas, mulheres independentes, mulheres fortes, que sempre disseram para mim que eu teria que trilhar um caminho meu, não esperar nada de homem, não esperar nada dos outros, fazer por mim”, acrescentou.

Nathalia tinha de quatro para cinco anos de idade quando a mãe se casou, e foram morar em João Pessoa, na Paraíba. Sua relação com o padrasto não era boa e, por isso, quando a mãe morreu, aos 38 anos de idade, de câncer nos ossos, Nathalia foi morar sozinha em São Paulo, onde estudou na PUC, transferida da Universidade Federal da Paraíba.

“Eu tive uma relação muito complicada com o meu padrasto. Tanto é que, quando minha mãe faleceu, eu saí de João Pessoa meio por causa disso, e segui minha vida, e sigo hoje sem assim ter um contato tão próximo com família. Eu considero família os meus amigos, as pessoas que eu tenho dentro do meu coração, aquela coisa de parente mesmo eu não tenho tão próximo”, disse, com uma sinceramente incomum.

O interesse pelas causas sociais surgiu quando ainda estava no ensino médio, através de um professor de História, Mário Romero, que lhe deu aulas sobre as revoltas populares. “Minha primeira paixão foi Canudos”, contou. Ela se preparava para uma vida acadêmica quando descobriu que, em suas veias, corria o sangue da jornalista, não da professora e pesquisadora universitária.

O jornalista Brian Mier a conheceu e a indicou para ser analista de assuntos internacionais do 247. Nesta quarta-feira, o publisher do veículo, Leonardo Attuch, o agradeceu pela indicação.

“Nathalia deixa um vazio gigantesco e um exemplo para o jornalismo brasileiro. Tomara que ela possa inspirar novas gerações de jornalistas. Ela realmente é uma pessoa única, e o Brian é que pôde fazer essa aproximação. Brian, muito obrigado”, disse Attuch.

Na convivência profissional que tive com Nathalia Urban, um oceano nos separava, literalmente, mas havia um elo, a busca pela verdade factual. Recebi algumas mensagens dela, em que me indicava fontes para investigação jornalística.

A última foi há alguns meses: “O meu querido amigo/camarada (omito o nome) tem me contado várias coisas preocupantes em relação a um oficial da Aeronáutica, possivelmente golpista, e que mora no exterior e também trabalha como jornalista. Eu pedi para ele vir falar com você, eu acredito que isso é algo que tem que ser investigado. E sei que ninguém é melhor nisso do que você.”

A dica era quente, pois indica infiltração em meios acadêmicos, como alguns pesquisadores me contaram, com indícios de conexão com a Abin paralela. 

Muito obrigado, Nathalia. Você se foi muito cedo, mas eu gostaria de lhe dizer que temos um compromisso: continuaremos a honrar a nossa profissão, a “melhor profissão do mundo”, como dizia Gabriel García Marquez. Com integridade, coragem e sempre denunciando o opressor.

24 setembro 2024

Até quando o mundo vai tolerar os crimes do Estado terrorista de Israel?

"É uma vergonha que possa haver um Estado marginal que não se curva a deliberações, pressões e apelos da comunidade internacional", diz Bepe Damasco

Primeiro ministro de Israel, Benjamin Netanyahu (Foto: REUTERS/Kevin Mohatt)

Por Bepe Damaceno*

A régua e o compasso usados pela mídia ocidental para definir quem deve ser tachado de terrorista chegam a ser um escárnio. 

Tanto faz se a notícia for veiculada por rádio ou TV, jornais, revistas ou sites jornalísticos, a abordagem em relação ao Hamas é implacável: "Segundo fontes do grupo terrorista Hamas...", ou "Israel atacou bases do grupo terrorista Hamas", ou "Não avançaram as negociações de paz entre Israel e o grupo terrorista Hamas", e por aí vai.

No entanto, um observador dos conflitos do Oriente Médio com mais de dois neurônios e que não esteja contaminado pela propaganda sionista há de pensar: por que só o Hamas é terrorista, enquanto Israel que já matou mais de 40 mil civis palestinos, em Gaza (dois terços são mulheres e crianças), despejando bombas até sobre escolas e hospitais, não merece o mesmo tratamento?

Na discussão sobre terrorismo, a mídia esconde também as dezenas de milhares de palestinos mortos por Israel ao longo dos últimos 70 anos, bem como o apartheid que o governo sionista impõe à população palestina de Gaza, cerceando seu direito ao trabalho e de ir e vir.

Escrevo enquanto assisto pela TV ao noticiário sobre os bombardeios de Israel ao Líbano, alarmando o mundo com a expansão do conflito. Agora, sob o pretexto de atacar o grupo xiita libanês Hezbollah, Israel bombardeia a capital Beirute, o Sul e outras regiões do Líbano.

Já são 558 pessoas mortas, além de 1.835 feridos. Tudo leva a crer que o carniceiro primeiro-ministro Netanyahu, alvo de protestos maciços em Israel e cada vez mais isolado no mundo, pretende ampliar o genocídio perpetrado em Gaza.

Antes, na semana passada, Israel, em mais uma ação terrorista, assassinou 37 pessoas e feriu dezenas através de uma sequência de explosões de pegers e de walkie-talkies, nos subúrbios de Beirute, em flagrante crime de guerra. 

Como se sabe, convenções e tratados internacionais vedam ataques indiscriminados a alvos civis. Vale lembrar que os aparelhos explodiram em vários lugares públicos, como supermercados, feiras livres e pontos de ônibus.

Na cabeça doentia de Netanyahu, quanto mais guerra melhor, para desviar a atenção dos israelenses e manter aceso o clima interno de comoção contra inimigos externos que garanta sua permanência no poder, não importa à custa de quantos cadáveres e mutilados.

Fortemente apoiado e financiado pelos Estados Unidos, e contando com a leniência dos países europeus, Israel se sente livre para matar.

A ONU delibera por um cessar-fogo, mas Israel ignora.

As diplomacias do Brasil e da China defendem a paz, mas Israel despreza solenemente.

Reino Unido, França e Alemanha pedem o fim da guerra, mas Israel segue em sua matança. 

É uma vergonha que possa haver, em pleno século XXI, um Estado marginal que não se curva a deliberações, pressões e apelos da comunidade internacional.

Passou da hora de se frear a sanha criminosa de Israel, que afronta até mesmo a Declaração Universal dos Direitos do Homem. 

Como não há mal que sempre dure, a tentativa de Israel de alastrar a guerra, atraindo o Irã, tradicional aliado do grupo xiita Hezbollah, pode ser um tiro no próprio pé, pois mais uma guerra não interessa a ninguém, a não ser a Netanyahu em sua luta desesperada para se manter no cargo e evitar ser julgado em tribunais internacionais por crimes contra a humanidade. 

*Jornalista, Editor o Blog do Bepe - Fonte: Brasil247

23 setembro 2024

VÍDEO: ONU corta microfone de Lula no momento em que presidente criticava a instituição

Mandatário brasileiro havia acabado de disparar contra a Assembleia Geral e o Conselho de Segurança da ONU quando o áudio de seu microfone foi desligado (mas seguiu falando).



O presidente Luiz Inácio Lula da Silva teve o microfone cortado ao final de seu discurso na abertura da Cúpula do Futuro em Nova York, nos Estados Unidos. Trata-se de um evento que antecede o debate geral da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), a ser realizado na próxima terça-feira (24). 

A Cúpula do Futuro foi convocada pelo secretário-geral da ONU, António Guterres, e visa debater o futuro da humanidade, abordando temas como mudanças climáticas e combate à pobreza. O evento reúne, além de chefes de Estado do mundo todo, cerca de 7 mil representantes de organizações não governamentais (ONGs), acadêmicos e setor privado.

Em seu discurso, Lula fez críticas à ineficiência da Implementação da Agenda 2030, destacando que, no ritmo atual, apenas 17% das metas serão atingidas, colocando em risco o maior empreendimento diplomático dos últimos anos. O mandatário brasileiro também destacou o compromisso do Brasil, enquanto presidente do G20, com a Aliança Global contra a Fome e a Pobreza. 

Em um dos pontos mais fortes de seu discurso, Lula fez uma crítica enfática às instituições de governança global, incluindo a própria ONU. O presidente brasileiro havia acabado de disparar contra a Assembleia Geral e o Conselho de Segurança da ONU quando teve seu microfone cortado(...)

*CLIQUE AQUI para continuar lendo a postagem de Ivan Longo na Revista Fórum

21 setembro 2024

MARIA DO ROSÁRIO (PT/RS): "TEM AQUELA TURMA DO CELULAR SOBRE A CABEÇA E REZA PRA PNEU..."


*Maria do Rosário é candidata a prefeita de Porto Alegre. É deputada federal pelo PT gaúcho. Foi ministra dos Direitos Humanos entre 2011 e 2014 (governo Dilma) - Via Cortes 247

"Israel inaugurou uma nova fronteira do terrorismo" (Mário Vitor Santos)

Colunista questiona se celulares agora terão que ser vendidos com garantias anti-explosivos

   (Foto: Reuters | Brasil247)

247* – Em uma análise crítica durante o programa Bom Dia 247, o colunista Mario Vitor Santos levantou questões alarmantes sobre as implicações das explosões que ocorreram no Líbano nesta semana, sugerindo que Israel, por meio de seu serviço secreto Mossad, teria iniciado uma nova fase no terrorismo global. "Israel inaugurou uma nova fronteira do terrorismo", afirmou Santos, referindo-se às explosões de pagers que resultaram em onze mortes e deixaram milhares de feridos no país. Entre as vítimas, estavam membros do grupo Hezbollah e civis, como uma menina de oito anos.

A declaração de Santos veio à luz após as explosões simultâneas de pagers, uma tecnologia aparentemente ultrapassada, mas ainda utilizada pelo Hezbollah para comunicações seguras. O colunista ressaltou que, com esse tipo de ataque, uma nova realidade se impõe ao mundo. "Se fazem isso com pagers, por que não farão com celulares?" Santos questiona se essa forma de sabotagem tecnológica poderia ser ampliada para outros dispositivos, como celulares, que são usados diariamente por bilhões de pessoas em todo o mundo.

O ataque no Líbano, que o Hezbollah atribuiu ao Mossad, levantou preocupações sobre a segurança de dispositivos eletrônicos que, até então, eram considerados inofensivos. Segundo especialistas, os pagers foram manipulados para explodir remotamente, o que indica um nível de sofisticação tecnológica e planejamento meticuloso. Santos alerta que, se esse tipo de sabotagem se expandir para outros aparelhos, as consequências podem ser catastróficas: "Será permitido viajar com pagers e celulares em aviões?"

A fala de Mario Vitor Santos reflete a crescente inquietação sobre a vulnerabilidade dos dispositivos eletrônicos comuns. Ele questiona se as fabricantes terão que garantir que seus produtos sejam seguros contra esse tipo de manipulação: "Os celulares virão com garantias anti-explosivos ou anti-bombas?" Esse tipo de preocupação levanta um debate urgente sobre como a segurança tecnológica precisará evoluir diante dessa nova ameaça.

O ataque no Líbano é considerado um ponto de virada nas táticas de guerra assimétrica. Segundo Ralph Baydoun, analista consultado pela Al Jazeera, a operação foi cuidadosamente planejada para atingir alvos específicos, como os combatentes do Hezbollah, em um contexto de crescente tensão com Israel. A possibilidade de hackeamento do sistema de rádio dos pagers, como sugerem os especialistas, demonstra que essa tática pode ser expandida para outros dispositivos, colocando em risco a vida de civis e alvos militares.

Com essa nova fronteira aberta, Mario Vitor Santos afirma que o mundo se encontra diante de uma ameaça inédita. A crescente sofisticação das operações de sabotagem tecnológica coloca a segurança de dispositivos cotidianos sob escrutínio. Se os pagers já foram usados como armas, não há garantias de que o mesmo não ocorra com celulares e outros dispositivos que dependem de baterias e sistemas de comunicação. O colunista conclui com uma reflexão: "Toda a humanidade está em risco se não reagirmos a tempo a essa nova forma de terrorismo tecnológico."

O governo de Israel, como de costume, permaneceu em silêncio diante das acusações, enquanto o Hezbollah promete uma retaliação pelo ataque, elevando ainda mais as tensões na região. Com o aumento da sofisticação nas operações clandestinas e de sabotagem, a comunidade internacional observa apreensiva os próximos desdobramentos dessa nova fase dos conflitos no Oriente Médio.

*Via https://www.brasil247.com/

19 setembro 2024

Extrema direita é uma máquina de fazer dinheiro com ódio e mentira

 

O candidato à Prefeitura de SP Pablo Marçal [PRTB] – Foto: Reprodução

Por Moisés Mendes*

O capitalismo, já diziam antes mesmo da sua invenção, não sobreviveria sem guerras, colonização, exploração, fome, doenças, desgraças e pilantragens. O fascismo brasileiro, com suas feições bolsonaristas, não teria vida longa se não fosse um vasto negócio em várias áreas.

Tudo que eles fazem é negócio, desde muitos antes dos PIXs que transferiram mais de R$ 20 milhões, em valores atualizados, para as contas de Bolsonaro, como forma de socorro ao sujeito que perdeu uma eleição e fracassou como golpista e como vendedor de joias.

Pablo Marçal, o estelionatário explorador de velhinhas, é apenas a versão mais recente do extremismo dinheirista. Ele, coachs, influencers e celebridades que aderem ao bolsonarismo negociam quase tudo o que fazem no mundo dos famosos, quase famosos ou a caminho da fama.

O fascismo do ódio, da mentira e da difamação movimenta as redes e assegura as maiores receitas às big techs. O X vive da audiência do fascismo e por isso afronta quem se atreve a tentar controlá-lo.

A transição do mundo analógico para o mundo virtual é financiada, no espaço das falações e das gritarias, pela lacração do empreendedorismo fascista, no varejo e no atacado. A ideologia é eventualmente apenas um pretexto para a expansão das bandidagens.

Tanto que um levantamento divulgado essa semana mostrou que um grande influenciador é investigado por semana pela polícia no Brasil. Pelos mais diversos golpes.

Não qualquer um, mas um influencer grandão, com milhões de seguidores. Geralmente associado à pregação bolsonarista ou com vínculos com suas estruturas e dedicado a todo tipo de crime, quase sempre envolvendo lavagem de dinheiro.

E ficamos sabendo agora que Pablo Marçal, o melhor exemplar do extremista milionário, tentou aplicar golpe até em Bolsonaro. Em 2022, o ex-coach queria cuidar do impulsionamento pago da campanha nas redes de Bolsonaro. E se ofereceu para fazer o serviço.

O objetivo era chamar os eleitores para que se cadastrassem em um banco de dados. O banco seria administrado por ele. A partir desse cadastro, venderia seus cursos e pilantragens e criaria mais um lastro de nomes para seu projeto político.

Não deu certo, porque o entorno de Bolsonaro o alertou. Era uma armadilha do farsante. E além disso os textos oferecidos por Marçal eram considerados precários.

Imaginem a precariedade das mensagens marçalianas, para que os conteúdos fossem rejeitados pela turma de Bolsonaro. Marçal, conta a Folha, fracassou ao tentar enganar o pai e os filhos e provocou a ira de Carluxo.

Foi apenas uma falcatrua que não deu certo, enquanto outras prosperam. O bolsonarismo está na índole dos que exploram a jogatina das bets na internet. E dá suporte à retórica do empreendedorismo, que até pouco tempo era coisa do mais romântico liberalismo.

Não é mais. O empreendedorismo se neopentecostalizou e virou produto da extrema direita associado à religiosidade absolutista. Desde que um Deus com sua ética particular esteja acima de tudo.

E assim a religiosidade, como bom negócio, vai vivendo da credulidade, dos dízimos e do moralismo que ataca gays, trans e todos os diferentes. O preconceito, um negócio antigo, foi reciclado pelo fascismo brasileiro. Todos ganham dinheiro odiando, porque esse é o principal produto do bolsonarismo.

Marçal é apenas um mercador fora de controle, por ter desafiado hierarquias e facções mais antigas, na tentativa de ampliar seus rebanhos e acumular mais dinheiro. E assim vai misturando religião, motivacionismo e curandorismo e levando adiante suas ambições políticas.

Parece que não, mas ele faz parte da mesma turma de Bolsonaro, Trump, Elon Musk, Milei. A cultura da prosperidade a qualquer custo é a marca dos grandes e pequenos gurus pilantras do século 21. O fascismo é um negócio em rede.

*Jornalista - via DCM

18 setembro 2024

Congresso reclama de Dino porque perdeu chance de extorquir o Governo

O que está incomodando setores do Congresso não é a excepcionalidade fiscal. É a perda de oportunidade para achacar o governo

Flávio Dino (Foto: Gustavo Moreno/SCO/STF)

Por Tereza Cruvinel*

Há um coro de reclamações no ar contra a decisão do ministro Flávio Dino, do STF, excluindo da regra fiscal os gastos do governo no combate aos incêndios na Amazônia e no Pantanal. Críticas contundentes foram feitas pelo deputado Cláudio Cajado, que foi o relator do Arcabouço Fiscal na Câmara, mas ele não é o único reclamante. A bronca com Dino tem uma razão elementar: poupando o governo de ter que pedir a excepcionalidade ao Congresso, o ministro tirou dos congressistas uma chance de cobrar pedágio pela aprovação.

Ontem, o presidente Lula editou uma MP destinando R$ 512 milhões às ações cobradas pelo próprio Dino, que não contarão para o cálculo do déficit fiscal. Se tivesse que negociar a regra especial com o Congresso, talvez o governo gastasse mais do que isso em liberação de emendas e outros favores. O ministro Fernando Haddad, obviamente, elogiou a decisão de Dino.

Em nota distribuída ontem, Cajado afirmou que "a competência para definir a exclusão da base dos gastos públicos de qualquer despesa, seja ela prevista ou não no orçamento, é exclusiva dos Poderes Executivo e Legislativo, não cabendo ao Judiciário fazê-lo". Disse ainda que “se não há previsão do governo nas despesas com fatores exógenos e excepcionais na previsão orçamentária, fica claro que houve erro, falha ou falta de previsibilidade da peça orçamentária enviada ao Congresso Nacional pelo governo federal."

De fato, o governo não reservou recursos suficientes para o enfrentamento do fogaréu que tem varrido o país, mas também é preciso considerar fatores imponderáveis, como a ocorrência de incêndios criminosos e o agravamento das condições climáticas, como o prolongamento da estiagem e o aumento das temperaturas, que funcionaram a favor das chamas. Mas o que está incomodando setores do Congresso não é a excepcionalidade fiscal. É a perda de oportunidade para achacar o governo.

Vale explicar que Dino não vem atuando por voluntarismo na questão dos incêndios. É como relator de ADPFs (Ações por Descumprimento de Preceito Fundamental) de 2021, apresentadas por PT, PSOL e Rede, que ele vem cobrando medidas do governo contra os incêndios e tomando decisões, como a que isentou os gastos de impacto fiscal. Ontem houve reunião dos três poderes para o acerto de ponteiros em relação ao assunto.

Aquelas ações foram apresentadas no contexto de incêndios que ocorriam na época, atingindo apenas os dois biomas, Amazônia e Pantanal. Ontem, a Procuradoria-Geral da República pediu a extensão das medidas ao bioma Cerrado, que vem sofrendo agressões por fogo no Centro-Oeste e mesmo no Distrito Federal, onde vem ardendo a Floresta Nacional de Brasília.

Dois eventos extremos, duas reações

As críticas ao gasto livre no combate aos incêndios na Amazônia e no Pantanal, que vêm também de setores do mercado, carregam outra incoerência, que fala sobre o apreço das elites pelas diferentes regiões do país.

Para começar, a tragédia dos incêndios não vem causando a mesma comoção e empatia despertadas pelas enchentes que castigaram o Rio Grande do Sul.

Para a reconstrução do estado sulista e para ajudar os gaúchos, o governo pediu também créditos extraordinários sem impacto fiscal. Já foram editadas 15 Medidas Provisórias que tratam, no todo ou em parte, de medidas para socorrer o Rio Grande do Sul, totalizando cerca de R$ 40 bilhões. Ou seja, oito vezes mais do que está sendo destinado a combater o fogo e a socorrer os que vivem no Pantanal e na Amazônia: indígenas, caboclos e quilombolas.

Não se viu, porém, o mercado ou o Congresso criar caso com o gasto, justo e necessário, já realizado para socorrer o povo gaúcho e sua economia.

E para completar, o governador dos gaúchos é mal-agradecido e o eleitorado de Porto Alegre, segundo as pesquisas, tem pouca memória: o prefeito que não fez seu dever de casa, que não manteve sequer as bombas de sucção em bom estado, teria quase o dobro de intenções de voto da segunda colocada, a candidata apoiada por Lula, deputada Maria do Rosário, do PT.

*Via Brasil247

16 setembro 2024

Queimadas - Brasil vive terrorismo climático, diz Marina Silva

Ministra afirma que pessoas usando as altas temperaturas e a baixa umidade para atear fogo ao país e destruir florestas

Ministra avalia que é provável que haja pessoas incentivando os crimes de incêndio - Fábio Rodrigues-Pozzebom

Por Flávia Albuquerque, da  Agência Brasil*

A ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, afirmou neste sábado (14), em São Carlos, no interior de São Paulo, que o Brasil vive um terrorismo climático, com pessoas usando as altas temperaturas e a baixa umidade para atear fogo ao país, prejudicando a saúde das pessoas, a biodiversidade e destruindo as florestas. “Há uma proibição em todo o território nacional do uso do fogo, mas existem aqueles que estão fazendo um verdadeiro terrorismo climático”, afirmou em entrevista a veículos de comunicação.

Ela ressaltou que é fundamental que todos os agentes públicos que já estão mobilizados continuem agindo, porque há uma intenção por trás dessas ações. Segundo a ministra, apenas dois estados não estão passando por seca. Ela defendeu pena mais rígida para quem comete esse tipo de crime. Atualmente a pena varia de um a quatro anos de prisão.

“Não é possível que diante de uma das maiores secas de toda a história do nosso continente e do país, e com a proibição existente, que as pessoas continuem colocando fogo. Isso causa grande mal à saúde pública, ao meio ambiente, aos nossos sistemas produtivos e só agrava o problema da mudança do clima. Quando você tem uma situação em que sabe que colocar fogo é como se estivesse acionando um barril ou um paiol de pólvora, isso é uma intenção criminosa”, disse.

Marina lembrou que 17 pessoas já foram presas e há 50 inquéritos abertos. Para a ministra, é provável que haja pessoas por trás incentivando os crimes, o que pode ser descoberto com investigações e trabalho de inteligência da Polícia Federal (PF). Ela comparou ainda os incêndios criminosos com a tentativa de golpe no dia 8 de janeiro de 2023.

“Por isso é tão importante o trabalho da PF. É preciso continuar investigando com trabalho de inteligência combinado, porque é aí que vamos poder descobrir de onde vem essa motivação. Eu estou praticamente comparando o que está acontecendo ao dia 8 de janeiro. São pessoas atuando deliberadamente para criar o caos no Brasil, tocando fogo nas florestas e nas atividades produtivas das pessoas”.

A ministra ressaltou que o prejuízo em São Paulo já é de R$ 2 bilhões para os agricultores, principalmente os plantadores de cana-de-açúcar. Segundo ela, já são 900 mil hectares de áreas de agricultura e pecuária queimadas, 1,4 milhão de hectares em área de campo de pastagem e 1 milhão de hectares em áreas florestais.

“Uma floresta úmida não pega fogo, porque o fogo começa e a própria floresta consegue fazer com que se apague. Como já estamos vivendo os efeitos de mudança climática, provavelmente a floresta está perdendo umidade, como dizem os cientistas, e cerca de 32% dos incêndios estão sendo feitos intencionalmente para degradar a própria floresta”, analisou.

*Via BdF

14 setembro 2024

Uma eleição inesquecível

Esta é uma eleição que tem a alma da mudança. Que pode marcar a reconquista da cidadania nas nossas cidades e prefeituras

Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil

Por Miguel Rossetto (*)

Para muita gente, a eleição marcante foi a primeira eleição presidencial depois da ditadura. Lula e Collor eletrizaram o país em uma disputa palmo a palmo, uma disputa de dois projetos opostos de país. Collor venceu, sofreu o primeiro impeachment do Brasil e o resto é história.

Inesquecível foi a eleição de Olívio Dutra governador, da qual participei como vice-governador, contra a rica e poderosa candidatura de Britto. Antônio Britto tinha privatizado empresas públicas, duplicado a dívida gaúcha e antecipava a onda neoliberal selvagem que se seguiria.

Também foi uma eleição cabeça a cabeça, só resolvida no segundo turno, com consequências expressivas para o estado. Fizemos um governo vibrante que inauguraria políticas públicas que seriam o embrião de inúmeros programas do governo Lula, como o seguro agrícola, o Bolsa Família, a expansão das universidades e muito mais.

Para uma geração mais jovem, a eleição inesquecível pode ter sido a última eleição presidencial, em que Lula encerra de forma dramática um período de obscurantismo, tristeza e ódio condensado na figura de Jair Bolsonaro.

Várias outras disputas capturaram o coração e a mente dos brasileiros e brasileiras. Todas têm em comum o fato te terem em disputa projetos claros e distintos para o país, estados ou cidades. Mas se pararmos para pensar, todas as eleições são igualmente decisivas. Porque nos definimos em cada uma delas. Em cada voto decidimos o país que queremos ter, os parlamentos que vão nos representar, as cidades que iremos viver.

Neste ano, vamos ter de novo eleições municipais e nelas vão estar presentes as opções que já disputamos nacionalmente: ganância ou solidariedade, egoísmo ou bem comum, negócios ou serviço público.

Nos últimos anos, o espírito negacionista, mesquinho e autoritário invadiu a gestão dos nossos municípios transformando cada espaço da nossa vida em comum em um local para o lucro e os negócios dos amigos de quem governa. É a especulação imobiliária que destrói os planos diretores, o meio ambiente e a organização das cidades abrindo espaço para tragédias como as enchentes deste ano, a venda sem critérios ou limites das empresas públicas, a privatização de serviços essenciais como saúde e educação gerando escândalos de gestão generalizados. Para estes governantes, tudo na cidade são negócios, nada é o bem público.

Esta é uma eleição que tem a alma da mudança. Que pode marcar a reconquista da cidadania nas nossas cidades e prefeituras. E é para isto que queremos te convidar. Quer mudar o mundo? Muda a tua cidade!

Cantemos de novo para nossa cidade o que já cantamos com alegria e entusiasmo; uma cidade parece pequena, se comparada a um país, mas é na minha, na sua cidade que se começa a ser feliz. Vamos transformar esta eleição num momento memorável. Daqueles que vamos olhar para trás e dizer: este foi um momento inesquecível. Aqui começamos a mudança.

(*) Miguel Rossetto foi vice-governador do RS e ministro nos governos Lula e Dilma e é líder da Bancada do PT na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul

Fonte: Sul21

**Nota: Este Editor também teve o privilégio - e a honra! - de integrar (primeiramente na Casa Civil, juntamente com o companheiro Flávio Koutzii e, após, na Secretaria Especial do Interior - SEI, com o companheiro Dirceu Lopes) o governo liderado pelo companheiro governador Olívio Dutra, que contou com o companheiro Miguel Rossetto como vice-governador (de1999-2002). Depois, tive também a honra de integrar o primeiro e o início do segundo governo liderados pelo Presidente Lula (2003/2008). Essas foram, literalmente, "eleições inesquecíveis". (Júlio C. S. Garcia).

13 setembro 2024

12 setembro 2024

Destruição - Queimadas: o agronegócio acende o fósforo

Expansão desenfreada da fronteira agropecuária desde a ditadura transformou os incêndios em rotina no Brasil

As consequências ambientais e sanitárias chegaram – e cobrem o país inteiro de fumaça - Foto: Evaristo Sa / AFP

Por Jean Marc von der Weid Outras Palavras*

Estamos assistindo há semanas (ou meses?) a mais espetacular estação de queimadas da história do país, ainda em curso e mais sinistra do que o Dia do Fogo de 2019 ou o mar de chamas de 2004. Já é um sinal preocupante para o meio ambiente do Brasil e, pela sua amplitude, do planeta, que tenhamos tal nome de batismo para o período de inverno. Mas a ocupação acelerada das fronteiras agrícolas pelo agronegócio, desde o tempo da ditadura militar, habituou-nos às imagens, cada vez mais gigantescas de florestas e outros ecossistemas sendo devorados pelas chamas ao longo de meses.

Nos anos setenta, foi um escândalo internacional a queimada de uma propriedade de cem mil hectares no Pará, pertencente à empresa alemã Volkswagen. No Brasil, este fato não chegou a ser notícia, a não ser quando denunciado no exterior ao ser detectado por fotografias de satélite.

De lá para cá, as queimadas viraram rotina e foram se expandindo, do arco de fogo subindo pelo mapa a partir do sul da Amazônia, do oeste do Mato Grosso ao leste do Pará, aos incêndios na intensa ocupação de Rondônia, Roraima e Acre e expandindo-se para o Cerrado e o Pantanal.

Nada disso é uma novidade na nossa história. Lembremos que o primeiro bioma a ser destruído foi a outrora pujante Mata Atlântica, derrubada a ferro e fogo desde os primórdios da colonização. A diferença é que a redução em mais de 90% da cobertura vegetal deste bioma, quase toda de floresta tropical de enorme biodiversidade, durou cinco séculos. O que estamos assistindo ocorre em menos de duas gerações.

Nestes dias, como foi o caso em 2019 e, menos intensamente, em outros anos, os ventos que trazem a umidade evaporada pela floresta amazônica para irrigar o Centro-Oeste e o Sudeste do Brasil, fenômeno hoje conhecido como “rios voadores”, passaram a empurrar uma densa fumaça negra produzida por milhões e milhões de hectares de vegetação, da floresta tropical amazônica às matas menos densas do Cerrado e os campos alagáveis do Pantanal, todos sequíssimos por sete meses de estiagem total. Além da fumaça gerada pela queima de áreas de pastagem, cuja cobertura vegetal original já foi devastada há mais tempo.

No mesmo momento em que ardem três biomas de nova fronteira agrícola, ardem também grandes áreas cultivadas com cana de açúcar no que foi o bioma Mata Atlântica, mais precisamente no centro-oeste paulista. Neste caso, a ocorrência é uma novidade, pelo menos desde 2007. A queima de canaviais em São Paulo só é fenomenal pelo fato de que o início da maior parte dos focos de incêndio foi simultâneo, como detectado pelas imagens de satélite.

Crimes? 

A gritaria na imprensa e nas redes sociais foi grande. O bolsonarismo acusou o MST nos incêndios em São Paulo, enquanto a esquerda acusava uma ação criminosa do agronegócio canavieiro neste estado e o pecuário na Amazônia, Cerrado e Pantanal visando desmoralizar a política de controle de desmatamento do governo Lula e manchar a imagem e a liderança do Brasil para a COP-30. Tudo seria orquestrado, a exemplo do domingo de fogo de 2019 e o agronegócio bolsonarista seria o criminoso a combater. Estas hipóteses têm que ser mais bem estudadas…

A meu ver, não há uma orquestração política criminosa nacional reunindo criminosos em todas as áreas de incêndio, quase que do Oiapoque ao Chuí. Muitos destes incêndios são, sem dúvida, atos criminosos cujos intuitos devemos analisar caso a caso. Mas outros são derivados de outro tipo de causa, natural ou não. E as condições naturais têm que ser levadas em conta para verificar o quanto da área queimada resulta de uma perda de controle de operações usando fogo e que são legais. E há situações que requerem investigação mais aprofundada de tipo policial.

Incêndios nos canaviais de São Paulo 

A suspeição de crime é estimulada pelas imagens de satélite, mostrando o surgimento de centenas de focos de fogo na região de Ribeirão Preto em um curtíssimo intervalo de tempo (horas). Além disso, circulou um vídeo de um caminhão de uma usina de açúcar e álcool, acompanhando trabalhadores uniformizados que incendiavam a palha seca sob os canaviais com o uso de maçaricos. A intenção criminosa parece comprovada, mas quem são os culpados? Os usineiros teriam algo a ganhar com a queima dos canaviais?

Os jornais têm apresentado estimativas das perdas dos usineiros que vão de 500 milhões a um bilhão de reais com os incêndios. Li mais de uma análise apontando para o fato de que a prática de queima dos canaviais era usual no passado e que os usineiros teriam voltado a utilizá-la. O argumento só se explica pela alta probabilidade de os autores serem leigos em matéria de economia e agronomia açucareira.

Até o final do século passado, havia uma polêmica entre os usineiros e entre os plantadores de cana, fornecedores de matéria prima para as usinas. Entre os usineiros havia uma crescente adesão às propostas técnicas da Embrapa que favoreciam a colheita mecanizada e o abandono da queima.

As vantagens eram múltiplas para o corte da cana crua (não queimada): mais restos de cultura (folhas e pontas) para incorporação nos solos, diminuindo a necessidade de adubação química, evitar as perdas em conteúdo de açúcar (chamado de brix) da ordem de 8% se as canas queimadas fossem processadas em menos de seis dias e muito mais se os prazos se alongassem, menores problemas com a rebrota das canas para a próxima safra, eliminação dos inimigos naturais da cigarrinha, praga maior dos canaviais.

As desvantagens estavam nos custos das operações de colheita. Se feitas com uso de mão de obra (boias frias), a quantidade de cana colhida por trabalhador por dia era três vezes menor do que com a cana queimada. Isto ocorre porque o trabalhador, em um canavial não queimado, tem que fazer três operações: cortar a cana, eliminar as folhas e pontas e amontoar. Isto cobrava contratar mais gente, já que é preciso aproveitar as canas no seu momento de maturação ideal para obter o máximo de açúcar (ou álcool). No balanço de perdas e ganhos, a economia de mão de obra, que estava escasseando no mundo rural paulista nos anos 70, acabava apontando para mais lucros com a queima.

A solução da mecanização foi adotada para eliminar este gargalo de mão de obra, mas as colheitadeiras disponíveis inicialmente tinham problemas de operação. A palhada da cana não queimada provocava o chamado embuchamento das máquinas, com frequente interrupção da colheita para limpar a vegetação acumulada nos dentes das colheitadeiras. Ou seja, a queima continuou por muito tempo na prática da colheita mecanizada, por facilitar o processo e torná-lo mais rápido. Entretanto, novas e mais avançadas máquinas vieram a superar este problema, mas o seu custo elevado fez com que muitas usinas e fornecedores de cana mantivessem a prática de queima e uso de mão de obra.

O câmbio tecnológico na cultura de cana em São Paulo foi acelerado com a desaparição dos fornecedores (que tinham mais restrições financeiras) e com a adoção da mecanização moderna pelas usinas, induzidas por uma legislação introduzida em 2006, proibindo a queima por razões de saúde pública devido à fumaça que se espalhava pelas zonas urbanas da região.

Os ganhos com o abandono da queima foram maiores do que os previstos inicialmente, entre outros o uso do bagaço das canas trituradas como combustível ou como matéria prima para polpa de papel, impossível com a cana queimada.

Vinte anos depois do abandono da queima em São Paulo parece totalmente improvável que os usineiros tenham decidido, em bloco, violar a lei enquanto perdem dinheiro com menor produtividade da cana queimada e outras perdas que seria longo detalhar.

Eliminada a hipótese absurda de capitalistas do agronegócio mais avançado do país estarem, literalmente, queimando dinheiro, fica a pergunta valendo um bilhão de reais: quem queimou os canaviais em Ribeirão Preto? E por que o fez?

A hipótese bolsonarista de uma ação terrorista do MST também é absurda. Queimar os canaviais não facilita o assentamento de Sem Terras. E como explicar o vídeo com o caminhão de uma usina, acompanhando empregados empenhados na queima com maçaricos? Com a palavra, a Polícia de São Paulo ou a Federal. Não tenho resposta, e considero a hipótese de que os usineiros teriam feito isto para provocar uma alta nos preços do açúcar no mercado internacional uma bobagem. Houve, de fato, uma alta de 3% no mercado de commodities em Nova Iorque, mas os ganhos não vão para as áreas queimadas, mas para quem não queimou.

Que fique claro que não estou aqui defendendo o agronegócio canavieiro. Este setor tem um histórico de desprezo pelo meio ambiente e pelos direitos dos trabalhadores, além de se escorar com frequência em subsídios e isenções de impostos. Mas não acredito que, neste caso, eles tenham responsabilidade nas queimadas, que significam perdas importantes nos seus lucros.

Amazônia em chamas

O governo Lula, pela voz da ministra Marina Silva, proclamou uma redução de 46% no desmatamento da Amazônia no período entre agosto de 2023 e julho de 2024. Apesar deste resultado positivo, os índices de desmatamento no período Bolsonaro eram tão altos que, mesmo reduzida, a área atingida ainda era gigantesca.

O sucesso na redução do desmatamento foi atribuído pelo governo à retomada da fiscalização na região. É preciso, entretanto, analisar esta explicação com um grão de sal. Afinal de contas, o desmonte das instituições de defesa do meio ambiente, Ibama e ICMBio, no governo de Bolsonaro, foi enorme. Ambas as instituições estão com poucos funcionários e equipamentos e, além disso, passaram por um longo período de greve por salários e planos de carreira que paralisou as ações de fiscalização. Por outro lado, e veremos este ponto mais em detalhe mais adiante, o desmatamento em todos os outros biomas cresceu.

Porque o desmatamento caiu na Amazônia é algo que cobra uma análise mais aprofundada e eu não tenho elementos que respondam a esta pergunta. Tenho hipóteses, mas não fatos e dados. Teria havido uma concentração de esforços das agências de proteção ambiental neste bioma, com o consequente enfraquecimento nos outros? É improvável pois não se transfere pessoal de um lugar para outro tão facilmente. Terá havido um esgotamento da fome de terras da grilagem na Amazônia? Negativo. O histórico de desmatamento não indica que o processo esteja minimamente arrefecendo.

O único elemento novo a se considerar é a ameaça formulada pela União Europeia de impedir a importação de produtos agrícolas ou madeireiros oriundos de áreas desmatadas a partir de 2015, em todo o mundo. Esta decisão já foi tomada no Parlamento Europeu e já foi ratificada na grande maioria dos países membros do bloco e deve entrar em vigor em 2025. Esta decisão foi incluída nos debates do acordo UE/Mercosul no início do ano passado, gerando reações do agronegócio e do próprio governo Lula. Isto poderia explicar o recuo do agronegócio, mas seria surpreendente este gesto de antecipação de medidas antes mesmo que a decisão da UE esteja em vigor.

Para não confundir os leitores pouco afetos a estas práticas do agronegócio, esclareço que existem algumas etapas no que se chama, de forma geral, de desmatamento. O processo começa com a retirada da madeira de lei, seguido pelo chamado corte raso, feito com tratores de esteira arrastando grandes correntes deitando a vegetação, árvores de qualquer tamanho e arbustos no solo. A etapa seguinte, após um período de espera para a matéria vegetal secar, é a queima.

As queimadas na Amazônia ou em outros biomas não se reduzem às áreas em desmatamento. Queimam-se pastos para provocar a rebrota do capim e queimam-se áreas de matas nas bordas das florestas virgens. É menos comum a queima das próprias florestas virgens, tanto por eliminar os ganhos com madeira de lei como pelo fato de que florestas tropicais úmidas e densas são mais difíceis de queimar.

Se o desmatamento diminuiu significativamente, as queimadas na Amazônia cresceram muito. Para começar, a temporada de fogo começou mais cedo. Entre janeiro e julho de 2024 a área queimada aumentou 83% em relação ao mesmo período de 2023 e 38% a mais do que a média dos 10 anos anteriores.

A novidade, no período de janeiro a março de 2024, foi o descolamento entre as áreas de desmatamento recente (9% dos focos) e as áreas de floresta primária (34% dos focos). No primeiro trimestre de 2023, 5% das queimadas foram em áreas de floresta primária e 21% nas áreas de desmatamento recente. Não tenho os dados para o segundo trimestre, mas a tendência aponta para a continuidade da mudança no direcionamento dos focos de incêndio.

Isto pode ser explicado pelo fato de que as condições ambientais estarem favorecendo a queima nas florestas primárias, com um longo período de seca, altas temperaturas, baixa umidade do ar e ventos fortes. O resultado, intencional ou não, é que a redução do desmatamento, proclamada pelo Governo, foi comprometida pelo aumento da área de queima em florestas primárias. Pode não ter sido fogo ateado por grileiros e simplesmente o alastramento do fogo dos pastos para as áreas de borda das florestas primárias, encontrando condições para penetrar nestas últimas. Ou esta pode ser uma parte da explicação.

Em outra hipótese, a grilagem de terras que abre espaço para a expansão do agronegócio pecuário na Amazônia pode ter invertido as etapas do processo habitual, aproveitando as condições ambientais excepcionais para queimar primeiro e depois passar os tratores de esteira e correntes para retirar as árvores calcinadas restantes e semear pastagem. Isto vem ocorrendo de forma crescente nos últimos anos, a partir do aperfeiçoamento dos sistemas de controle por satélite do INPE, hoje capazes de captar e localizar em tempo real qualquer área de corte raso da floresta acima de 30 hectares. Este controle explicaria a troca do corte raso pela queimada direta, sobretudo em áreas onde foi retirada a madeira de lei, raleando a floresta e facilitando a queima.

Queimadas no Cerrado

Neste bioma, o processo de desmatamento é mais simples e brutal, com o uso de fogo diretamente sobre a vegetação primária. Isto se explica pelo fato de que a cobertura vegetal desta região não oferece madeira de lei em quantidade tentadora para a exploração e pela maior facilidade da queima em matas menos densas, do tipo savanas arbóreas e arbustivas. O objetivo do agronegócio é focado na formação ou renovação de pastos, sendo que esta região concentra o segundo maior rebanho do país. Em termos percentuais, este é o bioma com a maior taxa de conversão da vegetação primária em pastagens, embora a Amazônia ganhe o primeiro lugar em valores absolutos de área alterada.

Em 2022/2023, queimaram 665 mil hectares da vegetação nativa do Cerrado. Neste bioma, 50% da cobertura vegetal original já foi desmatada, ou 100 milhões de hectares. A contribuição da queima para a devastação do Cerrado, no ano indicado acima, parece pequena (0,66%), mas ela se concentrou em uma das últimas fronteiras de vegetação ainda intocada, área comum a quatro estados – Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia – o MATOPIBA, com 77% de todo o desmatamento no Cerrado. No período 2023/2024, o desmatamento (queimada) aumentou 16%, chegando a 771 mil hectares. Em anos do governo Bolsonaro, estes números foram mais espetaculares, mas lembremos que o período das queimadas está apenas começando.

As digitais do agronegócio criador de gado bovino estão nítidas em todo o processo de desmatamento na região mais ao norte do bioma, mas do centro ao sul é o agronegócio sojeiro que predomina.

O Pantanal no rumo acelerado de desaparição 

Os números para este bioma são assustadores. A área queimada aumentou 2362% em 2024, na comparação com o primeiro semestre de 2023 e 529% a mais em relação à média dos últimos cinco anos. E como a temporada do fogo apenas começou, eles podem piorar muito até o fim do ano. Espera-se que a área queimada chegue a 3 milhões de hectares. Estes dados estarrecedores indicam que o ano recorde de área queimada, 2020, já foi superado em 54%.

Os satélites apontam para um fato importante: 95% do fogo começa em propriedades privadas, prevalecendo as de criação de gado. O fogo já atingiu 57% do bioma pelo menos uma vez, sobretudo nos últimos 35 anos.

Segundo a Ministra Marina Silva, o que estamos assistindo é o processo de desaparição da maior planície alagada do mundo, que pode ocorrer antes do fim do século, numa visão otimista. A prolongada estiagem na região já é a mais extensa e intensa em 74 anos (40 anos na Amazônia). Com baixa expectativa de chuvas no próximo verão, as cotas de cheia dos rios e da planície alagável não vão ser alcançadas. Com isso, a rebrota da vegetação queimada não deve ocorrer e as condições para novas queimadas devastadoras vão se manter para os próximos anos. Ela queixou-se dos cortes orçamentários impostos pelo Congresso, deixando o Ibama e ICMBio sem condições de fiscalizar os focos de incêndio e sem o pessoal necessário para combatê-los.

Efeito fumaça? 

As temporadas de queimadas, aceitas como parte da realidade do agronegócio na Amazônia, Cerrado e Pantanal, há muito tempo tem sido um problema de saúde pública para as populações do Norte e Centro-Oeste, devido às grandes concentrações de fumaça. No resto do país, em anos “normais”, mal são notícia de jornais e televisões. Em anos de queimadas um pouco mais intensas, a fumaçada provoca a suspensão das operações de pouso e decolagem nos aeroportos destas regiões e as notícias no “sul maravilha” são mais frequentes. Mas, nos anos das grandes queimadas, que vem se tornando cada vez mais frequentes, é a fumaça nos narizes e pulmões de paulistas e fluminenses que faz a notícia ser manchete.

Embora a questão da saúde pública seja muito relevante, ela está longe de ser a mais grave para o país e para o planeta. A eliminação cada vez mais rápida das florestas tropicais e outras formações vegetais em escala gigante, abrange anualmente milhões de hectares, afeta o clima diretamente, tanto o local como o planetário.

A contribuição do Brasil para o aquecimento global provém, em 70%, do desmatamento e das queimadas e só é menor do que a dos Estados Unidos, China, União Europeia, Rússia e Índia, os maiores emissores de gases de efeito estufa a partir da queima de combustíveis fósseis (petróleo, gás e carvão).

O efeito do processo de desmatamento e queimada no Brasil é ainda mais rápido e intenso do que no resto do mundo. Nosso clima está mudando e estamos assistindo, nos últimos anos, uma sucessão de ondas de calor e secas mais intensas e extensas (em área atingida e em duração). O regime de chuvas, no Sul e no Sudeste, altamente dependente dos “rios voadores” (chuvas originadas na evaporação na região Amazônica e carregadas pelos ventos), tornou-se errático, com precipitações concentradas em algumas áreas (vide o caso mais recente do Rio Grande do Sul) e estiagens prolongadas no Sudeste. A agricultura do agronegócio já está fortemente afetada por este “novo normal” e as previsões são catastróficas para o futuro.

Outras perdas colossais são menos percebidas pelo público. A riquíssima biodiversidade vegetal e animal dos citados biomas vem sendo devastada por este processo, empobrecendo o futuro do país e do planeta.

Já foi citado acima o risco (próximo de uma triste certeza) da desaparição do Pantanal, mas pouca gente se dá conta do risco, anunciado pelos cientistas do INPE, da proximidade do chamado “ponto de não retorno” na capacidade de regeneração da floresta amazônica. Segundo esta avaliação, estamos a poucos anos do momento em que a maior floresta tropical do planeta vai colapsar, mesmo se o desmatamento e queimadas forem interrompidos bruscamente. Passado o ponto de inflexão, o bioma vai começar um processo irreversível de degeneração, involuindo para uma vegetação de savana arbórea e arbustiva, chegando até a um processo de desertificação. Para o resto do país o problema será uma crescente falta de chuvas, com o estancamento da formação dos rios voadores. Não é preciso dizer o que isto representa para a agricultura nas regiões mais produtivas do Brasil. A apregoada pujança do nosso agronegócio vai ser abalada, enterrando tanto exportações como o abastecimento alimentar da nossa população.

E quem é o responsável por esta catástrofe anunciada?

A resposta é sabida por todos os minimamente informados, mas não pelo público em geral, bombardeado pela propaganda do “agro é pop, agro é tech e agro é tudo”, louvando a pujança do agronegócio. O incrível neste quadro é a falta de reação dos setores do agronegócio do Sul e do Sudeste, que preferem apoiar toda e qualquer medida que facilite o processo de destruição em curso nos três biomas, que beneficia apenas a pecuária extensiva no Norte e no Centro-Oeste. Nos últimos 35 anos, 71 milhões de hectares de florestas foram transformadas em pasto só na Amazônia, hoje concentrando quase a metade do nosso imenso rebanho de mais de 216 milhões de cabeças de gado. Esta conversão vem crescendo em um contínuo, cada ano superando as médias dos anos anteriores.

As tentativas de controlar o desmatamento têm sido inúteis. Os Termos de Ajuste de Conduta e outros acordos com os frigoríficos (JBS, Minerva e Marfrig, e outros menores) estão em vigor há mais de 15 anos com efeito zero. Estes acordos impõem a compra de gado oriundo de áreas que não passaram por desmatamento desde 2010 e os frigoríficos garantem que estão cumprindo as regras, mostrando certificados de fornecedores de gado em pé que os abastecem. Entretanto, há um mecanismo para driblar o controle e os frigoríficos sabem muito bem explorá-los. O gado criado em pastos oriundos de desmatamento é vendido para outras fazendas para recria e engorda e estas estão, vamos dizer, “limpas”, fora da área de desmatamento. É puro cinismo.

A medida a ser adotada para um controle total é conhecida: colocar um chip de controle eletrônico em cada cabeça de gado, permitindo saber onde cada rês nasceu e por onde passou. Tecnicamente e economicamente isto é simples e relativamente barato, mas não é aplicado, simplesmente porque a maior parte do gado vem realmente de áreas desmatadas.

Quando a União Europeia decidiu que só vai comprar carne provinda de áreas não desmatadas foi exatamente esta medida de controle (rastreamento) que ela exigiu. A reação do agronegócio brasileiro como um todo, e de seus representantes na poderosa bancada ruralista no Congresso foi de ira, com protestos contra o que chamaram de “protecionismo” e “reserva de mercado”. E o governo Lula embarcou neste discurso, com o silêncio obsequioso da Ministra Marina Silva.

Se é espantoso que outros setores do agro não tenham apoiado esta medida (que já vem sendo discutida há tempos no Brasil), é ainda mais incompreensível que o governo Lula cerre fileiras para apoiar o agronegócio pecuário da Amazônia, do Cerrado e do Pantanal, entre outras razões (econômicas e ambientais) por ser foco do mais exacerbado bolsonarismo.

Ou talvez o governo esteja defendendo os grandes frigoríficos, com os quais já teve acordos importantes nos governos anteriores de Lula e Dilma. Alguém se lembra das imensas vantagens obtidas pela JBS para expandir seus negócios no exterior, na chamada política de “campeões nacionais” financiados pelo BNDES?

Atualmente, apoiar os frigoríficos é o mesmo que apoiar os pecuaristas que compraram terras baratas em áreas desmatadas por grileiros e que estão levando não só à destruição de três biomas, mas comprometendo o futuro de toda a nossa agricultura (sim, a familiar está sendo e será prejudicada também) e do país.

...

*Jean Marc von der Weid é  economista agrícola e ambientalista brasileiro. Foi presidente da UNE, entre 69/71. É fundador da organização não governamental Agricultura Familiar e Agroecologia (ASTA) e ex-membro do CONDRAF/MDA 2004/2016.  

**Via BdF