30 novembro 2024

A tortura, o torturador ‘bonzinho’ e o extemporâneo pedido de perdão ao torturado*

 

O presidente do STF, ministro Luiz Roberto Barroso, durante a solenidade comemorativa ao Dia do Soldado, no Quartel-General do Exército, em Brasília. Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil


Por Morvan Bliasby*

Em 27 de novembro, Carta Capital publicou matéria sobre uma fala do ministro Luiz Roberto Barroso, presidente do STF, em recente evento no Conselho Nacional de Justiça (CNJ).

Na ocasião, Roberto Barroso afirmou:

“O problema em relação à Comissão Nacional da Verdade é que não houve um pedido de desculpas. Historicamente, o não pedido de desculpas deixa uma ferida em aberto”.

Mais adiante, Barroso relatou:

“Eu tive a oportunidade de falar isso em uma reunião privada com o então comandante do Exército no governo Dilma: ‘Por que não pedem desculpas? Diz que era um momento conflagrado na história do mundo, havia socialismo e capitalismo disputando espaço no mundo, manipulando os povos. Houve um surto autoritário, uma guerrilha, uma reação à guerrilha, abusos, exageros. Nós de fato torturamos e pedimos desculpas às pessoas que foram vítimas’”.

Isso teria, segundo o ministro, auxiliado na pacificação do País:

“Teria derrotado preconceitos e sentimentos que ainda não foram superados e acho que teria feito bem a todo mundo.”

Barroso diz mais sobre o modus operandi da elite deste país, togada, de quepe, à paisana, do que é possível captar num simples “pecadilho” de um farsa jatista de carteirinha, a qual nunca excedeu, por um milímetro, o Brasil de “Os Bruzundangas” (Lima Barreto), quer seja “Direito de classe”.

Barroso aduz, nas entrelinhas, que a Comissão Nacional da Verdade seria algo ruim, mas totalmente evitável, via pedido de desculpas, por parte do torturador, claro, aquela criatura dócil, sempre aberta ao diálogo e sequiosa de congraçamento e concórdia, como são conhecidos todos os torturadores, claro… caso pedisse desculpas pelos “pecadilhos” dos assassinatos, furtos, roubos, estupros, etc., não haveria necessidade mesmo dessa tal “Comissão Nacional da Verdade”.

E, o pior, mostra as conversas com os algozes (‘eu sugeri…’).

Ora, ministro de Estado, de Corte, de qualquer poder, não tem de ficar dando conselhos a torturador. Tem de cumprir as leis.

E, malgrado a “boa vontade” do magistrado, o número de torturadores pedindo perdão ao torturado é ínfimo. Talvez até porque o torturado precise sobreviver, para receber o tão alentador — e inusitado, digamos, pedido de perdão.

E, por fim, mas não menos importante, quem pacifica o país é punição exemplar. O resto são sonhos de uma noite que não verão.

Não terem sido punidos, desde Canudos, é o motor da recidiva que criou a mais eficaz máquina de matar seu próprio povo, golpista e torturadora por excelência.

Quem pacifica o país é punição, diria ao ‘ministr´otário’. Faltou punir os verdugos, a cada golpe, no Brasil!

Acredite-se que na Argentina ou no Chile, ou onde mais tenha havido luta contra o comunismo (sic!), haja pouco torturador expedindo perdões aos borbotões; não mesmo. Nesses citados, houve punição.

Quem quis se livrar do seu encontro com a implacável Lei do Retorno, encontrou-se com a velha da foice.

Aqui, no Brasil, ao contrário, estamos à espera de Gonot, Janot, Gonet, etc., ou alguém que nos traga os mais sinceros encômios, sem olvidar, claro, aqui, terra dos perdões pós tortura, o velho pedido de perdão.

Eu prefiro, dada a lição histórica, o método chileno ou platino, caro sr. ministro.

*Fonte: Viomundo

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