18 junho 2009

Crônica














Tipo assim

*Por Gabriel Perissé

Tipo assim, as pessoas fazem tipo, entendeu? Não é artificial não, vem de dentro, ou vem de fora, vem da sociedade, dos astros, mas também tem essa coisa inconsciente, entendeu? Ou vem da genética, sei lá.

Há vários tipos, tipezas, tipões, tipinhos e tipaços.

Deixa eu te falar — tem gente que faz tipo intelectual e lê o texto meio que com nojo, catando piolho, catando regência verbal incorreta, crase errada, vírgula indevida.

Tem gente, ao contrário, que faz mais o meu tipo que eu estou fazendo agora, tipo oralidade sem muito compromisso, tipo deixa rolar, é claro que eu prefiro ser tipo assim.

Agora, tem gente que faz mais tipo conservador atualizado, tipo gente séria que está sempre flagrando falta de ética dos outros, e está sempre denunciando as perversões alheias, e está todo dia de olho na TV e na internet para ver o que a TV e a internet estão mostrando de pervertido. Tipo assim.

E tem o tipo vale-tudo, o cara ou a cara que não tem repressão, e come de tudo e de todos, ou pelo menos faz tipo assim um discurso do tipo "eu faço tudo e daí?", tipo "eu já vi de tudo" e não topa o tipo outro que fica no pé dele com o topete de quem tudo sabe, de tudo entende, entendeu?

Tem também o tipo duplo, tipo faz e cala, pensa mas não diz nada, tipo assim, tipo sonso, tipo taca tudo debaixo do tapete, tipo tapa a boca mas depois é fake no orkut, tipo não tem porém tem, tudo bem.

Por outra parte, o tipo abertura total, alma escancarada, diz o que pensa e o que não pensa, tipo franco, tipo dá a cara para bater, e grita no ponto, e parte para o tapa.

Tem o tipo que quer chegar ao topo, custe o que custar, mate quem matar, se mata, se mete em tudo, pisa, posa, paga, vende, topa tudo por quase nada...

Tem o tipo que apronta e pinta o sete.

Tem o tipo que curte a sorte, aposta em todos os dados.

Tem o tipo que quer viver no mato, comendo tomate e abacate.

Tem o tipo poeta, alheio ao burocrata, que é tipo assim poeta do carimbo.

Cada tipo no seu trilho, entendeu?

Tipos de todos os topes — tu e eu.


*Gabriel Perissé é doutor em Educação pela USP e escritor.

Fonte: Correio da Cidadania

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