Por Fernando Brito*
Durante meses, a Procuradoria Geral da República negociou a delação de Antonio Palocci.
Alto dirigente do PT, ministro de Lula e de Dilma, pelas posições ocupadas nos governos petistas, ele seria, é claro, o “canhão” de maior calibre para atingir os alvos que, todos sabem, eram as “jóias da coroa” para a lava Jato.
Durante um ano, preso, Palocci negociou com os procuradores do Paraná, louco para sair da prisão – estava detido desde setembro de 2016 – mas não conseguiu apresentar quaisquer provas do que dizia.
Numa cena inédita, a dizer num depoimento diante de Sérgio Moro, a anunciar que falaria tudo o que o mestre mandasse.
É insuspeita a declaração do procurador Carlos Fernando dos Santos Lima, o cérebro por trás de Deltan Dallagnol, à Folha:
Demoramos meses negociando. Não tinha provas suficientes. Não tinha bons caminhos investigativos. Qual era a expectativa? De algo, como diz a mídia, do fim do mundo. [A delação de Palocci] Está mais para o acordo do fim da picada.”
Tudo o que Palocci dizia o tornava uma espécie de “super-Delcídio do Amaral”: muito barulho, nenhuma substância.
A Polícia Federal, porém, foi buscar Delcídio no lixo e construiu uma delação para chamar de sua.
Foi, como já chamei aqui, a delação- xepa.
E produziu um depósito de acusações sem provas, ou com algumas absolutamente ridículas, como os supostos diálogos que mantinha com motoristas sobre dinheiro que estaria levando quando tinha encontros com Lula. A “prova” seria ter tido reuniões com Lula, o que só surpreenderia se não tivesse havido, dado o posto que ocupava.
Desde a véspera da eleição presidencial – então por obra de Sérgio Moro – a cloaca palociana vem respingando pelos jornais. Nenhum dos empresários que firmou delação premiada pôde dizer que destinou dinheiro a Lula, exceto Marcelo Odebrecht e, assim mesmo, dizendo que Palocci era o único agente destes pedidos, sucedido por Guido Mantega. Mantega, como todos sabem, é alguém que, posto a tomar conta de uma tartaruga, deixaria duas fugirem.
Agora, com a Lava Jato em baixa, a delação “fim da picada” tornou-se a tábua de salvação em que o lavajatismo se agarra, vazando vídeos e textos onde a melancólica figura se espalha em declarações que não são senão uma resenha de todas as acusações que, durante anos, foram feitas ao ex-presidente.
Com pouquíssima efetividade, aliás, porque Palocci tornou-se um monturo deprimente, quase um monumento à capacidade de alguém tornar-se sórdido para livrar a pele e o bolso, porque assegurou também conservar patrimônio que não tem como explicar.
Virou o Delcídio de Ribeirão Preto, ainda que piorado.
*Jornalista, Editor do Tijolaço (fonte desta postagem)
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