30 novembro 2021

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27 novembro 2021

Ângela Carrato alerta: 2022 já começou. Fake news por todo lado, de diferentes formatos e Lula, o alvo principal



NOVAS E VELHAS FAKES E UM MESMO ALVO

Por Ângela Carrato, especial para o Viomundo*

Quando o principal articulador da extrema-direita mundial, Steve Bannon, mentor da família Bolsonaro, declarou, há poucos meses, que a eleição presidencial brasileira será a mais importante do mundo em 2022, pouca gente se deu conta do que realmente está em jogo.

O sucesso da recente viagem do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva à Europa (Alemanha, Bélgica, França e Espanha) onde apareceu perante o mundo como o estadista que é, encontrou com líderes de diversos partidos, foi recebido por chefe de Estado, discursou no Parlamento Europeu, ganhou aplausos, aclamação e premio por onde passou, serviu para deixar mais claro a que Bannon se referia.

Para a extrema-direita brasileira e mundial, derrotar Lula é uma espécie de ponto de honra.

Ela vê no ex-presidente um dos raros, se não o único nome, capaz de enfrentar a onda de neofascismo que se desenha no mundo e contribuir para o tão necessário diálogo.

E diálogo é algo que anda longe dos interesses desses extremistas, que apostam na reedição de uma nova Guerra Fria, cada dia mais visível nas ações dos Estados Unidos e de seus aliados europeus contra a China e a Rússia.

Propor o diálogo entre a América Latina e a Europa para superar desafios comuns a toda a humanidade como o do meio ambiente foi exatamente o tom dos discursos de Lula na Europa.

Se Bannon estava preocupado, agora possivelmente nem durma.

Fato que explica a razão da campanha eleitoral no Brasil, que tradicionalmente tem início em abril ou maio, ter começado agora, antes mesmo das festas de natal e final de ano.

Em outras palavras, o sucesso de Lula está obrigando seus adversários a se lançarem em cena mais cedo do que pretendiam e de forma mais agressiva do que imaginavam.

Resultado: a disputa já está nas redes e nas ruas e, se depender dos adversários de Lula, será marcada por todo tipo de baixaria.

Basta observar as recentes declarações de Jair Bolsonaro, Sérgio Moro, Ciro Gomes e de seus aliados e apoiadores. Nenhuma passaria por um elementar detector de mentiras.

Lula ainda estava na Europa e aqui as manipulações e as fake news já corriam soltas.

Da TV Globo ao SBT, passando pela Folha de S. Paulo e pelo Estado de S. Paulo, praticamente todos os veículos da mídia corporativa, depois de tentarem ignorar a viagem, cobrindo-a com o maior silêncio de que se tem notícia, passaram a descontextualizar declarações e entrevistas do ex-presidente.


Só não contavam que mais de 360 veículos europeus, entre jornais, revistas, emissoras de rádio e de televisão, iriam dedicar amplos espaços e manchetes ao périplo de Lula, o que somado às contundentes denúncias das redes sociais, obrigou os “barões da mídia” a manter um mínimo de compostura.

Engana-se, no entanto, quem acredita que depois dessa reprimenda esses senhores tenham se dado por vencidos.

Rapidamente trataram de reposicionar suas artilharias contra Lula e o PT.

É importante observar que aqui as fake news sempre existiram e nunca foram exclusividade das redes sociais.

No Brasil, o controle da mídia – a radiodifusão nas mãos de apenas sete famílias e a ausência de regulação democrática no setor – possibilitou o desenvolvimento de um tipo de mentira anterior às próprias fakes, popularmente conhecida como factoide.

FAKES E FACTOIDES

Quem se lembra do projétil que atingiu a cabeça do então candidato presidencial tucano José Serra em 20 de outubro de 2010, durante uma caminhada?

Imediatamente atribuído a uma agressão de petistas, o assunto virou manchete nos principais veículos nacionais, antes mesmo de qualquer apuração.

O factoide foi obviamente prejudicial ao PT.

O tal projétil nunca passou de uma bolinha de papel, mas não faltou veículo manchetando que “Serra leva pancada na cabeça em confusão com militantes do PT no Rio”.

Outro exemplo de factoide, mais recente e mais letal, foi o produzido pela revista Veja às vésperas do segundo turno das eleições presidenciais de 2014.

Sem quaisquer provas, a revista usou na capa sombrias fotos da então presidenta Dilma Rousseff e do ex-presidente Lula para acusá-los de conivência com a corrupção.

O assunto foi imediatamente repercutido pelos demais veículos da mídia corporativa, numa operação minuciosamente pensada para impactar no resultado eleitoral.

Sem tempo hábil para exigir direito de resposta, o factoide acabou por reduzir a diferença dos votos entre a petista Dilma e o candidato tucano derrotado, Aécio Neves. Mesmo mentirosa, a tal capa acabou fornecendo munição para que Aécio alegasse fraude, após as urnas apuradas.

Tinha início o inferno em que o Brasil encontra-se mergulhado.

Atitudes como essa se mostraram desastrosas também para a própria mídia. Mas, pelo visto, não é essa a preocupação central de seus proprietários. Basta lembrar que a revista Veja, antes o semanário de maior tiragem nacional, acabou relegada à insignificância.

Depois de quase falir, foi vendida para banqueiros que a usam segundo suas conveniências.

A capa da edição da semana passada, por exemplo, incluindo Lula entre os pré-candidatos à eleição presidencial com maior rejeição é exemplo disso. A manchete correta deveria ser: Lula é o menos rejeitado (39%), ao passo que Ciro tem rejeição de 53%, Dória de 58%, Moro de 61% e Bolsonaro de 67%.

Mas a manchete preferiu igualar todos sob o manto da “eleição do mau humor”.

Como não há legislação que coíba esse tipo de prática, segue o baile.

O NOVO “CORPO A CORPO”

Talvez em função da baixa credibilidade da mídia corporativa brasileira para insistir no tipo “clássico” de distorção/manipulação, começam a entrar em cena novas modalidades visando influenciar as pessoas.

Uma dessas modalidades está sendo batizada de “corpo a corpo” e envolve ação tanto nas redes sociais quanto no presencial, na chamada vida real.

Nas redes sociais, a coisa funciona assim. Possivelmente a partir de centrais, os algoritmos (inteligência artificial) identificam pessoas que, por suas postagens, podem ser consideradas sem opinião formada sobre assuntos políticos e afins.

Uma postagem qualquer pode ser a porta de entrada para a abordagem. Educadamente, o/a internauta é interpelado por um perfil que pergunta, por exemplo, o que achou das falas do ex-presidente Lula. O exemplo é real e me foi relatado por várias pessoas nos últimos dias.

Se a pessoa diz que não sabe do que se trata, o perfil disponibiliza material supostamente informativo, pede que seja lido e volta a solicitar a opinião do interlocutor.

Tudo certo se o material postado “a título de informação” não passasse de grossa mentira, do tipo “Lula defende ditadura, é favorável a mandado de 16 anos e apoia prisão de seus opositores”.

O criminoso nesse processo é que Lula nunca defendeu ditadores, jamais apoiou a prisão de opositores e foi ele quem, injustamente, esteve preso por ordem dos que temiam enfrentá-lo nas eleições de 2018.

Em outras palavras, todas as ações ilegais e truculentas de seus adversários, como o ex-juiz parcial, Sérgio Moro, desautorizado pelo STF, e as de Jair Bolsonaro são imputadas a Lula!

O objetivo desse tipo de abordagem é claro: criar confusão, implantar dúvida e abrir espaço para um “diálogo” dos adversários de Lula com parcela de setores da chamada classe média que pode votar no petista. No momento, é junto a esses setores que tais atuações estão mais presentes.

Os integrantes dos perfis que fazem essas interpelações utilizam marcadores relevantes numa sociedade desigual como a brasileira: são jovens brancos, atuando em empresas nacionais de porte ou no sistema financeiro, com frequentes postagens identitárias (combate à violência contra as mulheres).

Todos exibem traços de que são felizes e possuem amigos. Invariavelmente receberam uma infinidade de mensagens de parabéns pelo aniversário.

Se esses jovens que dão nome a esses perfis realmente existem, não se sabe. Possivelmente funcionem como espécies de avatares. Mas são pessoas de carne e osso que efetivamente entram em cena nas abordagens. Tanto que é possível “dialogar” com eles, coisa impossível em se tratando de um robô.

A abordagem é considerada vitoriosa, possivelmente quando o perfil consegue a concordância do interlocutor. É considerada boa, quando é capaz de implantar a dúvida. Vale dizer: portas abertas para novas e mais eficientes investidas.

Não é difícil imaginar as toneladas de relatórios que estão sendo produzidos em entidades e think tanks nacionais e internacionais a partir desses dados e que podem levar a novas e mais eficientes abordagens ao longo da campanha eleitoral do próximo ano.

CAPITALISMO DE VIGILÂNCIA

Como registra em seu livro “A Era do capitalismo de vigilância. A luta por um futuro humano na fronteira do poder”, a pesquisadora estadunidense Shoshana Zuboff, é “alarmante como corremos o risco do capitalismo digital dominar a ordem social e tentar moldar o futuro, se assim o permitirmos”.

Riquíssimo em exemplos de como o cidadão virou cobaia para a extração de dados e a tentativa de se moldar o futuro de acordo com os interesses dos poderosos, não por acaso o livro de Shoshana, uma publicação acadêmica com quase 800 páginas, se tornou best seller em muitos países.

Claro que Shoshana não pretendeu apenas descrever esses novos processos. Ela tenta mostrar o perigo deles e alertar a todos para a necessidade de investir contra isso, mesmo sabendo que as novidades do controle digital são quase infinitas.

Tanto são infinitas, que esse jogo pesado pode envolver e ser combinado com abordagens presenciais, a partir de restaurantes, aeroportos e demais locais onde há intensa circulação de pessoas.

A situação que me foi relatada por uma passageira que desembarcou na semana passada no aeroporto de Confins (em Belo Horizonte), dá ideia de como a coisa funciona.

Além dos táxis e ubers, motoristas com seus próprios carros, discretamente também se oferecem para o serviço de translado entre o aeroporto e a capital mineira.

O que os torna atrativos é o preço mais em conta, a qualidade dos veículos e o aprumo com que se apresentam.

No aeroporto de Confins, por exemplo, chamou a atenção desta passageira o “carrão” preto (um Toyota), dirigido por um motorista alto, negro e igualmente trajando negro da cabeça aos pés.

Durante a viagem – 40 km separam o aeroporto de Belo Horizonte – o condutor buscou, de forma elegante, entabular uma conversa com a passageira.

O início do papo foi “o sol que finalmente tinha voltado a brilhar”, mas poderia ter sido qualquer outra amenidade. Lá pelas tantas, ao passar por locais onde há grande concentração de pessoas morando em barracas, o condutor saiu-se com constatações do tipo: “olha o que a pandemia fez com o nosso país!”

Se a passageira concordasse, a missão teria sido bem sucedida. Só que a passageira em questão não concordou.

Argumentou que a pandemia pode ter agravado a crise, mas que ela era anterior ao covid-19 e que os principais responsáveis por sua existência são Moro e a Operação Lava Jato, além da política ultraneoliberal adotada pela dupla Bolsonaro-Paulo Guedes.

Educadamente, relata a passageira, o motorista insistiu na argumentação, tentando mostrar que “o governo tem feito de tudo para minimizar os problemas”, a exemplo do novo programa social, o Auxílio Brasil, “que vai garantir mais recursos para quem realmente precisa”.

Diante dos argumentos da passageira de que o novo programa era pior do que o Bolsa Família, o motorista sugeriu que ela se informasse melhor. O resto da corrida transcorreu em silêncio.

Mesmo mal sucedida, essa abordagem pode ter servido para se tomar o pulso de como determinados setores sociais estão percebendo a situação brasileira. Pode ter servido, ainda, para avaliar os efeitos do discurso que a mídia corporativa tem tentado vender para a população. E, a julgar pelo que expõe Shoshana, certamente servirá para a confecção de novos e mais poderosos processos de convencimentos, inclusive em períodos eleitorais.

RECONFIGURAR A REALIDADE

Em outros relatos no gênero a que tive acesso, alguns passageiros fizeram questão de registrar que a crise econômica, na visão dos condutores, tem a ver apenas com fatores como “corrupção e dólar alto”, jamais com a destruição provocada pela Lava Jato e menos ainda com a política econômica ultraliberal.

Razão pela qual se deve ficar atento para os tipos de postagens que venham a acontecer, nas próximas semanas e meses, em redes sociais como Facebook, Whatsapp e assemelhados, onde a tentativa de reconfiguração da realidade tem sido uma constante.

Nos primeiros meses de 2022, Lula poderá embarcar também em outra viagem, desta vez rumo aos Estados Unidos com possibilidade de ser recebido pelo presidente Joe Biden.

Longe de indicar apoio a sua candidatura, o gesto sinalizaria apenas delicadeza diplomática e, claro, um tapa de luvas nos adeptos do extremista de direita Donald Trump, que vem infernizando a vida de Biden desde o primeiro minuto de seu governo.

Bannon e Bolsonaro obviamente estão atentos a essa possibilidade e não será surpresa se, antes mesmo de qualquer sinalização a respeito, a máquina dos factoides e das fake news entrar em cena para tentar impedir ou criar constrangimentos ao encontro.

Por tudo isso, 2022 promete ser um ano difícil, dificílimo, além do mais longo e tenso das últimas décadas.

*Ângela Carrato é jornalista e professora do Departamento de Comunicação da UFMG.

Via https://www.viomundo.com.br

26 novembro 2021

Rádio CUT

 


"Aqui a classe trabalhadora tem voz!"

*CLIQUE AQUI para ouvir.


Bolsonarismo expressa um negacionismo maluco que supera 20% da população

 "Pode ser inacreditável para quem olha a situação do Brasil com realismo, mas existe uma parcela nada irrelevante da população que crê no capitão e não concorda que tenhamos problemas. Por isso, é tão pequeno o espaço para a tal terceira via"


Por Marcos Coimbra*

Que palavra você usaria para se referir às pessoas que não acreditam que a economia brasileira vai mal e a pobreza aumentou? Que acham que não passamos por uma pandemia?  Que não admitem que as mulheres são tratadas desigualmente no Brasil? Que não enxergam o crescimento do preconceito racial? 

Uma hipótese seria dizer que são lunáticas. Outra que são tão limitadas que não conseguem entender o óbvio. Ou que vagueiam em uma realidade paralela, longe da gente normal.  

Há outra resposta, que a mais recente pesquisa do instituto Vox Populi nos ajuda a perceber. Essas pessoas são tudo isso e, quase sempre, mais uma coisa: bolsonaristas. Muitas fazem parte de seu “núcleo duro”, admiradoras entusiasmadas do capitão, dispostas a defendê-lo com unhas e dentes. Em reciprocidade, são as principais interlocutoras do discurso e as que o governo trata com mais carinho.  

Bolsonaro sempre cuidou dessa turma. Calcula que, com ela, consolida uma base suficiente para voltar a ser o que foi na eleição de 2018: o mais forte candidato da direita, em quem todas as correntes terminaram por confluir, gostando dele ou o desprezando.

É o inverso do que fizeram, em seu tempo, os tucanos, que levaram a ultradireita a apoiá-los, mesmo que sem entusiasmo. Para os que hoje são o “núcleo duro” do bolsonarismo, deve ter sido difícil votar em Fernando Henrique, por exemplo. 

A pesquisa Vox mostra o que pensa o bolsonarista típico dos problemas nacionais e como suas opiniões se articulam com seu comportamento politico. O retrato que emerge não é bonito.     

Os entrevistados foram perguntados a respeito de dez “questões que têm sido discutidas no país e nos meios de comunicação”: se consideravam que as notícias sobre cada uma eram: a) “verdadeiras, acreditavam nelas”; b) “verdadeiras, mas exageradas” ou c) se eram “mentira, não acreditavam nelas”. 

A primeira tratava de “aumento do custo de vida e da inflação dos preços de alimentos, gasolina e energia” e 73% dos entrevistados respondeu que achava verdadeiras as notícias a respeito. O extraordinário foi que 18% preferiu a segunda opção, dizendo que eram “exageradas”, e 5% que eram “mentira”. Ou seja: no Brasil, para 23% da população, não é verdade que exista inflação nos preços desses produtos ou que “não é tão elevada quanto se diz”.   

Esse padrão de respostas se repetiu nos demais temas. Entre dois terços e três quartos dos entrevistados afirmou que achava verdadeiras as notícias a respeito de “o aumento do número de pessoas em situação de pobreza extrema e da fome”, “os números da pandemia, de doentes e mortos”, “o aumento da violência em geral”, “o aumento da violência e da discriminação contra as mulheres”, “a crise ambiental, a degradação do meio ambiente e da floresta amazônica”, “a crise hídrica e a falta d’água”, “o aumento do ódio e da intolerância entre as pessoas”, “o aumento do preconceito racial” e “a corrupção do governo Bolsonaro”. 

Um pouco menos de um terço dos entrevistados, no entanto, vive em outro país: acham exagerado ou mentiroso o noticiário que trata desses assuntos. Para eles, as coisas vão bem ou são mostradas como mais negativas do que deveriam sê-lo.

São proporções significativas, embora não formem maioria, o que é um alento para quem espera que tenhamos, a partir de 2023, um governo capaz de combater nossos problemas. A precondição para resolvê-los é reconhecer que existem.

Entre os eleitores de Lula, 82% estão conscientes da gravidade dessas questões e apenas 4% acham que são “mentira”. Eleito, não será, portanto, difícil convocar o país para enfrentá-las. O complicado são os bolsonaristas: quase 60% imagina que esses problemas ou não existem (24%) ou “não são tão graves” (33%). 

Essa gente é suficiente para inviabilizar outras candidaturas à direita. Se acreditam que o Brasil não tem problemas ou que, pode até tê-los, mas não são graves, por que razão arriscariam trocar o capitão por outros nomes, menos conhecidos ou em quem confiam menos? Ainda mais porque acham que ele “não faz mais por culpa do sistema que não deixa”, um mantra que qualquer bolsonarista tem na ponta da língua. 

Pode ser inacreditável para quem olha a situação do Brasil com realismo, mas existe uma parcela nada irrelevante da população que crê no capitão e não concorda que tenhamos problemas. Por isso, é tão pequeno o espaço para a tal terceira via.   

*Via Blog O Boqueirão Online (Postado originalmente no 247)

17 novembro 2021

Moro e Bolsonaro: criador e criatura

 

'Imperdível, pela concisa coragem, o artigo de Cristina Serra, na Folha. Sim, Cristina, o Brasil envenenado pelo ódio está ficando para trás.' (Fernando Brito, jornalista e blogueiro, no Tijolaço)

Moro, a fraude

Cristina Serra, na Folha de S.Paulo

Eis que Sérgio Moro reaparece, com o messianismo e o discurso justiceiro de sempre, transbordantes no seu retorno aos holofotes. Moro exercitou as cordas vocais e estudou pausas teatrais, tentando dar alguma credibilidade ao estilo “corvo” moralista, atualizado para o século 21, só que sem a capacidade retórica do modelo original, o udenista Carlos Lacerda.

O erro de Moro é achar que o Brasil ainda está em 2018 e que vai votar em 2022 movido pelo ódio, por ele estimulado quando conduziu a Lava Jato. No processo que levou à condenação do ex-presidente Lula, o então juiz rasgou o devido processo legal e a Constituição. Isso não é versão nem narrativa. É o entendimento consagrado pelo STF, que o considerou um juiz suspeito.

Este é o fato mais importante da biografia do agora candidato e não pode ser naturalizado como página virada. Isso revela a essência de Moro. Ele grampeou advogados de Lula (tendo acesso, portanto, às estratégias de defesa do réu); determinou condução coercitiva espetacularizada; divulgou áudio ilegal e seletivo envolvendo a presidente Dilma, vazou delações.

O vale-tudo processual deu caráter de justiçamento à Lava Jato, feriu o Judiciário, a democracia e o país. Tudo com a complacência da mídia, a mesma que agora parece ver no ex-juiz o nome que procura para a terceira via como quem busca o Santo Graal.

Moro nunca demonstrou o menor constrangimento em servir a um presidente adepto da tortura e com notórias conexões criminosas. Tentou dar a policiais esdrúxula licença para matar sob forte emoção. Como quem fareja carniça, quando deixou o governo, foi ganhar dinheiro no processo de recuperação de uma das empresas que ajudou a esfolar.

Agora, Moro se apresenta como democrata. É uma fraude. Ele e Bolsonaro se igualam na mesma inclinação totalitária. As semelhanças, aliás, foram ressaltadas por pessoa insuspeita. Foi a senhora Moro quem disse, quando este ainda era ministro, que via o marido e o presidente como “uma coisa só”.

16 novembro 2021

132 anos da República. Que República?

Construir uma República Democrática no Brasil será sempre uma tarefa das classes populares em oposição e em conflito com as elites


        Miguel Rossetto. Foto: Joana Berwanger/Sul21

Por Miguel Rossetto (*)

Neste 15 de novembro a República completa 132 anos no Brasil. Uma data silenciosa, ausente da memória popular e ocultada por uma elite reacionária, temerosa de tudo aquilo que possa invocar o público, o popular, o povo.

Nossa República nunca foi uma res-publica e salvo em raríssimos momentos, nunca se aproximou do povo brasileiro. Construída pela força militar e distante da população preservou seu caráter elitista e violento por todos estes longos anos, mesmo quando compromissos com a democracia, a justiça, a igualdade e o bem de todos foram inscritos na sua Constituição como objetivos fundamentais. Os miseráveis de Canudos, os marinheiros das “rubras cascatas” provocadas pela chibata, os caboclos e pobres do Contestado conheceram a República pelo barulho dos canhões, pelas bombas dos primeiros aviões de artilharia e pela traição dos acordos não cumpridos.

Desde então, vivemos um longo período de luta política e social no país, onde profundas transformações da sociedade brasileira organizaram interesses, produziram conflitos e estabeleceram pactos políticos provisórios. Breves períodos democráticos, longos períodos autoritários e uma persistente e gigantesca desigualdade social e econômica, que reduzia a uma quase formalidade a condição de cidadania para a imensa maioria do nosso povo.

O golpe de 2016 interrompe o ciclo democrático e de conquistas sociais aberto com o fim da ditadura militar e a Constituição de 1988. Instituições políticas se corromperam e traíram seus compromissos com a República e o Estado Democrático de Direito. Os interesses da classe dominante mais uma vez operaram com força bruta e enorme violência, destruindo a legalidade existente. Chegamos em 2021, nos 132 anos de República com 600 mil mortos pela pandemia, 117 milhões de pessoas – 55% da população brasileira – vivendo em insegurança alimentar, 19 milhões passando fome, 20 milhões de desempregados e 34 milhões trabalhando sem nenhuma proteção social e nossos recursos naturais sob devastação enorme. A obra da escravidão continua presente e são os homens negros e as mulheres negras os mais excluídos e violentados em seus direitos. Na outra ponta da desigualdade, a obscenidade. Os bancos ganham, os ricos fazendeiros ganham, a elite estatal ganha, os novos bilionários se multiplicam e crescem as filas desta turma para a compra de iates, apartamentos “classe A” e Porsches. O Brasil se dissolve na velocidade e profundidade da desigualdade. O balanço é devastador.

O desafio do PT e da esquerda é enorme nestes tempos em que as elites econômicas e políticas atacam não só o Estado de Bem Estar Social como até mesmo a mais limitada democracia liberal. Esta mesma elite que nunca se interessou por cidadania e sim por privilégios. Que sempre, quando foi minimamente contrariada, destruiu a democracia. Para esta elite a República nunca foi senão uma palavra incômoda.

Construir uma República Democrática no Brasil será sempre uma tarefa das classes populares em oposição e em conflito com as elites locais.

Em meio às sombras do nosso tempo, mais do que nunca é preciso refletir sobre uma outra República e uma outra democracia. Quais instituições devemos construir para evitar o seqüestro permanente da res-publica pelo dinheiro ou pela força? Qual democracia devemos animar para que, finalmente, a República faça sentido para a imensa maioria do povo? Uma democracia que sem duvida não pode se limitar à representação política e deve ser animada pela permanente participação popular, pelas organizações setoriais de uma sociedade diversa e imensa e que tenha a capacidade de responder às demandas reais da população.

A democracia que não gere esperança e que tão somente legitime a pobreza, a exclusão, a violência e a desigualdade é uma democracia morta.

Ano que vem faremos escolhas decisivas para o nosso futuro. Mas aprendemos que conquistar a Presidência da República é apenas o início do caminho. Um passo importantíssimo, mas insuficiente para as transformações que o Brasil precisa. Precisaremos “democratizar nossa democracia”, e tornar pública a nossa República. Romper os mecanismos do poder para que o povo entre, enxergue e decida. Precisamos, enfim, fundar, de verdade, uma República no Brasil. E talvez, daqui há alguns anos o dia da República não seja apenas um feriado vazio, sem significado profundo no sentimento do nosso povo.

(*) Miguel Rossetto foi deputado federal pelo PT, vice-governador do Rio Grande do Sul e Ministro do Trabalho e Previdência Social

*Via Sul21

14 novembro 2021

Líder da esquerda alemã declara apoio a Lula e diz que Brasil merece presidente melhor do que o "incompetente Bolsonaro"

O parlamentar Gregor Gysi, porta-voz do Die Linke, também afirma que a destruição bolsonarista deixa os jovens brasileiros sem perspectivas

   (Foto: Lula e Gregor Gysi)

247* – Além do apoio de Olaf Scholz, que venceu as eleições alemãs e deve ser o novo chanceler do país, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva também recebeu a adesão do partido Die Linke, a principal agremiação da esquerda germânica. "Encontrei o ex-presidente brasileiro Lula da Silva em Berlim. Os brasileiros merecem um presidente melhor do que o incompetente e perigoso Jair Bolsonaro", postou Gregor Gysi, parlamentar e porta-voz da política externa do partido.

"Bolsonaro nega a periculosidade do coronavírus e também legalizou armas automáticas, ceifando muitas vidas na sociedade brasileira. Concordamos que é tarefa da esquerda dar novamente uma perspectiva aos jovens. A pobreza e a falta de perspectivas devem ser superadas por meio de uma boa formação e bons salários. Desejamos a Lula todo o sucesso nas eleições presidenciais e o apoiaremos com o melhor de nossa capacidade", escreveu. -Confira (Via Brasil247): 


11 novembro 2021

Pesquisa Vox confirma tendência de vitória de Lula no primeiro turno

Um levantamento feito pelo Vox Populi, divulgado nesta quinta-feira (11), apontou que, em um dos cenários, com João Doria, o ex-presidente Lula tem 44% contra 33% da soma de todos os adversários. O petista também vence todos os candidatos no segundo turno


    Ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (Foto: Ricardo Stuckert)

247* - Um levantamento feito pelo Vox Populi, divulgado nesta quinta-feira (11), apontou que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva lidera a disputa, com 44% dos votos, contra 21% de Jair Bolsonaro.

Em terceiro lugar ficou o ex-ministro Ciro Gomes (PDT), com 4%, seguido por Sérgio Moro (Podemos) e pelo apresentador José Luiz Datena , com 3% cada. 

Na sequência aparecem o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), e o ex-ministro Luiz Henrique Mandetta, com 1% cada. O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD) ficou com 0%. Brancos e nulos somaram 10%, e não souberam ou não responderam, 12%.

Em outro cenário, com o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), e não com Doria, Lula alcança 45%, seguido por Bolsonaro (21%) e Ciro (5%). 

Moro e Datena atingem 3%, Mandetta, 1%, e Pacheco, 0%. 

Brancos e nulos somaram 9%, e não souberam ou não responderam, 12%.

Segundo turno

Na simulação de segundo turno, Lula vence Bolsonaro por 52% a 24%. Também ganha de Ciro por 49% a 15%, e de João Doria por 53% a 10%.

A pesquisa foi feita de 30 de outubro a 4 de novembro de 2021, com pessoas 16 anos ou mais, residente em áreas urbanas e rurais, de todos os estados e do Distrito Federal, em capitais, regiões metropolitanas e no interior, de todos os estratos socioeconômicos. (*Via Brasil247)

vox

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08 novembro 2021

Lava Jato: Um Cupim Contra o Brasil

Em nome de uma falsa cruzada contra a corrupção, mesma pauta genérica usada para atacar Getúlio Vargas, Juscelino Kubitschek e João Goulart no passado, a Lava Jato atacou diretamente setores estratégicos da indústria nacional, como os de petróleo, gás e construção civil.

Além de entrevistas com especialistas no assunto, como o diretor do Dieese ou o ex-coordenador da Federação Única dos Petroleiros (FUP) José Maria Rangel, o documentário conversa diretamente com famílias que tiveram sua vida alterada economicamente nos últimos anos. Ao longo dos pouco mais de 10 minutos, são utilizados recursos interativos, como a animação em whiteboard, o que facilita a didática. (Via Canal Lula Livre)

-Assista:

06 novembro 2021

Amigo é Pra Essas Coisas

 

*De Aldir Blanc e Silvio da Silva Jr. - Cantam: Ruy Faria & Chico Buarque

-Via YouTube

04 novembro 2021

COPOM - Alta dos juros é ‘tiro no pé’ numa economia já combalida, diz economista

André Roncaglia (Unifesp) critica decisão do Copom que encarece investimentos e aumenta os custos de financiamento da dívida pública

   Alta da Selic é vantajosa apenas para os investidores do mercado financeiro

São Paulo – Para o economista André Roncaglia, professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e pesquisador associado do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap), a elevação de 1,50 ponto percentual na taxa básica de juros, conforme decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC), ontem (27), é “um tiro no pé” em uma economia já combalida.

Segundo ele, a maior taxa Selic desde 2017, fixada em 7,75% ao ano, não vai ser capaz de conter a inflação. Por outro lado, dificulta a retomada do emprego, já que encarece os investimentos. Além disso, os juros mais altos impõem um custo ainda maior para a rolagem da dívida pública.

Este movimento da política monetária, de acordo com o economista, serve principalmente para resgatar a rentabilidade dos ativos do mercado acionário, resguardando os interesses da “turma da bufunfa”.

“O resultado vai ser uma economia mais anêmica por mais tempo, com níveis de desemprego que não vão cair tão rápido. Do ponto de vista social e econômico, não tem como dar certo”, disse Roncaglia, em entrevista a Glauco Faria, para o Jornal Brasil Atual, nesta quinta-feira (28).

Remédio sem eficácia

O economista destaca que a elevação da Selic serve para conter a alta dos preços somente em caso de inflação de demanda – quando a procura por produtos é maior do que a capacidade de produção. Não é o que vem acontecendo atualmente. A escalada da inflação nesse momento tem a ver, essencialmente, com a elevação de preços administrados – como combustíveis e energia elétrica. Além da alta dos preços dos alimentos, relacionada com desequilíbrios no mercado internacional.

“Se você sobe o juro, num país como o nosso, está literalmente matando o investimento, que poderia melhorar o nível de emprego. Não vai fazer chover onde tem que chover, nem vai diminuir o preço das commodities no mercado internacional. E não vai trazer uma iluminação para que a Petrobras mude a política de preços para algo mais suave. E, fundamentalmente, não vai fazer com que alimentos brotem do chão. A taxa Selic não tem esse poder.”

Além disso, essa subida de 1,50 ponto percentual na Selic deve custar cerca de R$ 47 bilhões por ano aos cofres públicos. Isso porque a remuneração dos títulos da dívida pública é atrelada à taxa básica de juros. Contudo, esses gastos financeiros não estão submetidos ao teto de gastos, podendo ser ampliados livremente, de modo a atender os interesses do mercado financeiro.

Na opinião de Roncaglia, para conter a inflação, seria mais eficiente mudar a política de preços da Petrobras. Ou, ainda, retomar os estoques regulatórios de alimentos, atribuição da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), que foi esvaziada pelo atual governo.

Independente de quem?

Para destacar as relações privilegiadas com o mercado financeiro, Roncaglia citou o vazamento do áudio em que o dono do banco BTG Pactual, André Esteves, se vangloria de ter sido consultado pelo presidente do BC, Roberto Campos Neto, sobre os limites para a redução na taxa de juros. “A gente vê que o BC se tornou autônomo em relação à sociedade, mas não em relação ao sistema financeiro.”

Trata-se de um setor que, segundo o economista, responde por cerca de 10% da economia brasileira, e não pela sua totalidade. Num momento de crise, como o atual, caberia à autoridade monetária dialogar com os demais setores sociais a fim de definir a melhor política para garantir a preservação da moeda. “Quando viram os líderes do MST sentarem com o presidente do BC? Quando viram as centrais sindicais?”, provocou.

Assista à entrevista

Redação: Tiago Pereira

*Fonte: RBA

Greenpeace condena ‘sinal verde’ para mais uma década de destruição da Amazônia

A Amazônia já está à beira do colapso e não pode sobreviver a mais uma década de destruição, critica Greenpeace


Vista aérea de um desmatamento na Amazônia para expansão pecuária, em Lábrea, Amazonas. (Foto: Victor Moriyama / Amazônia em Chamas)

O Greenpeace Brasil divulgou nota criticando o acordo anunciado na COP26 para “proteção” das florestas, destacando principalmente o que ele significa para a continuidade da destruição na Amazônia. Entre os diversos acordos anunciados na COP26, está um, incluindo o Brasil, para conter o desmatamento até 2030. Esse acordo, na prática, assinala o Greenpeace, substitui a Declaração de Nova York sobre Florestas de 2014, que estabeleceu a meta para o ano de 2020 (embora o Brasil não o tenha assinado).

Para a diretora executiva do Greenpeace Brasil, Carolina Pasquali, há um bom motivo pelo qual Bolsonaro se sentiu confortável em assinar este novo acordo. “Ele estende o prazo para acabar com a destruição da floresta em dez anos, não é obrigatório e, quando se trata de limpar as cadeias de abastecimento, parece ter como alvo apenas o desmatamento ilegal. Mas a Amazônia já está à beira do colapso e não pode sobreviver a mais uma década de destruição, legal ou não. Os povos indígenas estão clamando pela proteção de 80% da Amazônia até 2025, e eles têm razão; é o que é preciso. O clima e o mundo natural não têm condições de pagar por esse acordo”, afirmou.

Após três anos sem planos para reduzir o desmatamento, o governo Bolsonaro promete agora cortar 15% do desmatamento em 2022, ano que termina o mandato. “Se tivermos em 2021 taxas iguais de desmatamento dos últimos dois anos, esse número estaria por volta de 9.000 Km2, um aumento de 22% em relação ao ano de 2018, véspera do início do atual mandato. O governo antecipou também a meta de zerar o desmatamento ilegal até 2028, mas a conta não fecha, até lá o governo estaria admitindo quase 42.200 km2 de desmatamento ilegal, uma área maior que a Holanda ou Suíça, por exemplo”, aponta o Greenpeace.

Enquanto o governo brasileiro se aproveita da visibilidade da COP 26 para lançar diversos programas, anunciar novas metas de redução do desmatamento ilegal, cortes de emissões e um plano para acelerar a economia verde, nos bastidores, a prática é outra, critica ainda a organização ambientalista. “O Brasil, ao lado de outros países, tentou interferir nas recomendações do relatório do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) para excluir as menções à agropecuária como vilão do clima e a importância da adoção de uma dieta baseada em vegetais. É importante lembrar que o desmatamento e a agropecuária representam 72% do total das emissões dos gases do efeito estufa do Brasil. As emissões no país aumentaram 9,5% em 2020, impulsionadas pela destruição da Amazônia — resultado de escolhas políticas deliberadas do governo Bolsonaro”.

Para o Greenpeace, a falta de ação para reduzir a demanda por carnes e laticínios industriais — uma indústria que está causando a destruição do ecossistema por meio da produção de gado e do uso de soja para ração animal -, mostra que há poucas chances do governo cumprir esse acordo e instigar políticas que colocariam o Brasil de volta ao caminho certo para diminuir o desmatamento. “Enquanto não adotamos dietas baseadas em vegetais e reduzimos a quantidade de carne industrial e laticínios que consumimos, os direitos dos povos indígenas continuarão a ser ameaçados e a natureza continuará a ser destruída, em vez de ter a oportunidade de se restaurar e se recuperar”, adverte a entidade.

*Via Sul21Com informações do Greenpeace Brasil