29 novembro 2023

RISCO À VIDA - Aprovação do Pacote do Veneno é repudiada pela sociedade, que pede a Lula o veto

Aprovada ontem no Senado, proposta é rejeitada por mais de 2 milhões de brasileiros. Se for sancionada, o Brasil terá mais dificuldades para regular e fiscalizar os agrotóxicos. E brechas para liberar aqueles que causam câncer e malformações congênitas

Houve apenas um voto contra o Pacote do Veneno, o da senadora Zenaide Maia (PSD-RN)

São Paulo* – Redação RBA - Movimentos e organizações populares urbanas e rurais, além de parlamentares e entidades do terceiro setor, expressaram repúdio e preocupação com a aprovação do Pacote do Veneno – o Projeto de Lei (PL) 1.459/2022 –, ontem (28,) no Senado. O projeto, que facilita o registro, produção, venda e exportação, dificulta a fiscalização, teve apenas um voto contrário, o da senadora Zenaide Maia (PSD-RN).

Agora segue para sanção ou veto do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Especialistas brasileiros e estrangeiros alertam para os riscos à saúde pública, incluindo a possibilidade de liberação de agrotóxicos cancerígenos e causadores de malformações fetais.

A Frente Parlamentar Mista Ambientalista, coordenada pelo deputado federal Nilto Tatto (PT-SP), se manifestou contrariamente à aprovação. Em vídeo (confira no final da reportagem), o parlamentar destaca os malefícios trazidos com o Pacote do Veneno. “Diante desse cenário, é fundamental que o presidente Lula vete o projeto. Nosso apelo é para uma mobilização conjunta, unindo esforços para garantir a proteção da saúde e do meio ambiente”, disse Tatto..

Em nota, a Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida afirmou que o Brasil perdeu a oportunidade de apontar para um futuro de agricultura sustentável, e optou, ao invés disso, pelo retrocesso de uma lei que deixa inclusive brechas para o registro de agrotóxicos cancerígenos.

“Mais uma vez, a bancada ruralista mostra seu caráter arcaico ao aprovar uma lei em defesa de seus próprios interesses, que nada têm a ver com a vontade da sociedade e as necessidades de um mundo em pleno colapso ambiental”, declarou a Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida.

PL tem rejeição de quase 2 milhões de brasileiros

O Pacote do Veneno enfrenta a rejeição de quase 2 milhões de brasileiros e de mais de 300 organizações e órgãos públicos, como a Fiocruz, Inca, Anvisa e Ibama, que assinaram em 2018 um abaixo-assinado contra a proposta. Há também alerta internacional: até mesmo a Organização das Nações Unidas (ONU) enviou carta ao então governo de Michel Temer (MDB) e à presidência do Congresso Nacional pedindo o arquivamento. Segundo a Agência Pública, 14 mil pessoas foram intoxicadas por agrotóxicos durante o governo Bolsonaro, que apoiava o PL do Veneno.

ONU envia carta ao governo brasileiro alertando contra o Pacote do Veneno

Alexsandra Rodrigues, dirigente nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), afirmou que a aprovação “é um retrocesso muito grande, não só para classe trabalhadora, que produz o alimento, mas também para toda a população, que infelizmente vai se deparar hoje com mais alimentos com mais veneno”.

Bárbara Loureiro, também integrante do MST, destacou que “não há uma convivência possível com os agrotóxicos nos nossos territórios, sobretudo porque os efeitos dos agrotóxicos utilizados não se restringem só onde ele é aplicado, mas atinge também as comunidades rurais, cidades vizinhas, os córregos, os rios, as águas e os alimentos que chegam à população”.

A porta-voz do Greenpeace Brasil, Mariana Campos, criticou a aprovação do projeto, especialmente no contexto da COP28 em Dubai. “Na semana em que a 28ª Conferência do Clima se inicia em Dubai, é uma vergonha para o Brasil a aprovação do PL 1.459/22, que vai colocar ainda mais agrotóxicos na comida da população brasileira e que contamina o meio ambiente, priorizando um modelo tóxico e insustentável de produção de alimentos.”

O geneticista Rubens Onofre Nodari, professor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), classificou como “inadmissível” a aprovação de “tamanho retrocesso” no Senado, ao comentar a tramitação do projeto. O especialista alerta para outra proposta perigosa contida no PL: a concentração de toda a autoridade sobre os agrotóxicos ao Ministério da Agricultura, que costuma ser controlado por ruralistas, principais interessados na aprovação do Pacote do Veneno.

A mudança ainda contraria a divisão tripartite desde 1989, envolvendo os ministérios do Meio Ambiente e da Saúde nas avaliações. Entidades ligadas ministérios, como o Ibama e a Anvisa, que foram debilitadas devido aos sucessivos cortes de orçamento dos últimos anos, ficam à margem do controle das substâncias nocivas utilizadas na agricultura.

O professor e pesquisador da Universidade Estadual do Norte Fluminense (Uenf) Marcos Pedlowski destacou outra questão: a provável transformação do Brasil em uma espécie de parque industrial dos agrotóxicos banidos em outras partes do mundo, justamente devido à capacidade de causar doenças graves, incluindo diversos tipos de câncer.  “Essa facilitação para a produção de agrotóxicos com conhecido potencial cancerígeno está alinhada com o esforço de aprovação do acordo comercial Mercosul-União Europeia”, lembrou.

Segundo o especialista, que monitora as liberações de “novos agrotóxicos”, que neste governo tende a quebrar o recorde de Jair Bolsonaro (PL), vai além: “É preciso lembrar que as multinacionais europeias como a Bayer e a Basf enfrentam uma oposição crescente em relação a alguns de seus ‘campeões de venda’, como é o caso do glifosato,.e agora poderão transferir a produção desses venenos para território brasileiro, especialmente se o acordo comercial for assinado.”

Confira outras manifestações contra o Pacote do Veneno:

*Redação: Clara Assunção e Cida de Oliveira, com Brasil de Fato - Via RedeBrasilAtual

28 novembro 2023

COMITÊ PALESTINA LIVRE RS CONVOCA ATOS EM SOLIDARIEDADE AO POVO PALESTINO*

 


Dois atos em solidariedade ao povo palestino acontecerão nesta quarta-feira (29) no Rio Grande do Sul. O primeiro será em Pelotas, às 17h: uma marcha que sairá do Chafariz do Calçadão e irá até a praça Palestina. O segundo será em Porto Alegre, às 18h, no Largo Glênio Peres.

Os atos são convocados pelo Comitê Palestina Livre RS, que foi criado na terça-feira da semana passada (21), com o apoio de cerca de 50 entidades sindicais e movimentos sociais, em evento no auditório do Sindicato dos Bancários da capital gaúcha. Na ocasião já foram marcados os eventos de solidariedade deste dia 29.

Nesta data também é comemorado o Dia Internacional de Solidariedade com o Povo Palestino, que foi instituído pela Organização das Nações Unidas (ONU) para lembrar o aniversário da Resolução 181, da Assembleia Geral das Nações Unidas. Em 29 de novembro de 1947, a ONU aprovou, sem consulta aos habitantes locais, o Plano de Partição da Palestina.

O presidente da Federação Árabe Palestina do Brasil (FEPAL), Ualid Rabah, compartilhou a ideia de que o comitê deve ser uma plataforma para unir diversas entidades e movimentos em prol de uma causa humanitária, justa e necessária. Ele destacou a importância de buscar consenso entre os integrantes.

Na convocação para os atos ele lembrou que “em 50 dias de ataques à Palestina, quase 13 mil vidas foram perdidas, com 4.500 ou mais desaparecidos. Entre as vítimas, cerca de 6 mil eram crianças e 3 mil mulheres. Esses números ultrapassam os trágicos eventos da limpeza étnica na Palestina na década de 40, que resultou na perda de cerca de 15 mil vidas”.

Rabah destaca que presidentes de diversos países, membros da ONU e o próprio secretário-geral da entidade, António Guterres, já declararam que o que está ocorrendo na Palestina é um genocídio. “Não se pode ficar em silêncio”, defende.

O Hamas libertou neste domingo (26) 17 reféns que estavam sob sua custódia. Desses, 13 são israelenses, três são tailandeses e um é russo. Israel, por sua vez, libertou 39 prisioneiros palestinos. As solturas fazem parte do acordo de cessar-fogo do conflito na Palestina.

*Via https://ptrs.org.br/  

**Texto publicado originalmente no site do Brasil de Fato RS.  -Foto: Lucas Pitta

23 novembro 2023

Fepal: Cessar-fogo não pode ser pausa do genocídio contínuo. É necessário cessar a ocupação israelense da Palestina

 


É necessário um cessar da ocupação israelense da Palestina. O apartheid e a ocupação são perenes há 76 anos.

Cessar-fogo não pode ser o interlúdio do genocídio palestino

Fepal — Federação Árabe Palestina do Brasil*

O que é um “cessar-fogo temporário”?

Um intervalo no genocídio realizado por “israel” na Palestina?

Uma pausa para recarregar as baterias e seguir o extermínio de pelo menos 5,8 mil crianças – outras 3,5 mil crianças desaparecidas – e 3,2 mil mulheres?

São mais de 12,7 mil palestinos assassinados; outros 4,5 mil, desaparecidos. Mais de 30 mil feridos.

Seria talvez um break antes de fazer mais milhares de feridos e mutilados?

Ou seria, quem sabe, o interlúdio da limpeza étnica antes de tornar o restante dos 2,3 milhões de palestinos de Gaza refugiados novamente, como já são 73% deles desde 1948?

Não podemos seguir vendo e vivendo os crimes de “israel” contra a Palestina de tempo em tempo, a destruição de tempo em tempo, os cadáveres e escombros de tempo em tempo e aceitar que tudo se “resolve” com mais um cessar-fogo.

Não há o que comemorar se a matança de palestinos é quase tão sazonal quanto as estações do ano. Se o apartheid e ocupação são perenes há 76 anos.

Vamos celebrar a pausa de um genocídio continuado?

Seja em 4 dias ou daqui a um ano, vamos precisar clamar novamente por um “cessar-fogo temporário”, aguardando a próxima rodada do extermínio, que necessariamente virá, em seguida novo cessar-fogo, e assim renovar-se um ciclo vicioso que normaliza o genocídio continuado na Palestina e a metódica limpeza étnica?

Não. É necessário um cessar da ocupação israelense da Palestina e o fim de todos os crimes de guerra e de lesa-humanidade daí decorrentes.

Sem isso, a vida palestina seguirá a rotina interminável da destruição, que, depois de consumada, será interrompida por novo cessar-fogo.

“israel” obtém o sangue palestino que busca, inclusive para resolver seus problemas políticos domésticos, e um cessar-fogo, que garante sua impunidade, é louvado e aplaudido. Os crimes de “israel” é que precisam cessar, não meramente sua fúria genocida momentânea, até que venha a próxima.

Assim, é preciso dar fim a este ciclo vicioso. Novas agressões e novos e inúteis cessar-fogo só terão fim na cena Palestina quando “israel” sofrer as consequências de seus atos.

Comunidade Internacional deve assumir suas responsabilidades e impor a “israel” total obediência às resoluções da ONU, ao Direito Internacional, bem como garantir proteção internacional ao povo palestino.

Que esse “cessar-fogo temporário” seja de alívio às necessidades urgentes do povo palestino em mais esse capítulo do genocídio e da limpeza étnica programada por “israel”.

Mas que seja também o primeiro passo para que a Comunidade Internacional comece de fato a olhar para povo palestino. Que se comece a enxergar o que é o sionismo e o que faz o sionismo.

Não há espaço para uma ideologia racista, supremacista, colonial e violenta em pleno século XXI.

Não há espaço para um genocídio em 2023. Não é mais possível conviver com o apartheid e a ocupação em nosso tempo.

Palestina Livre a partir do Brasil, 22 de novembro de 2023, 76º ano da Nakba

*Via Viomundo

Milei é um Paulo Guedes histriônico, não um Bolsonaro

Seu objetivo são os grandes negócios com estatais argentinas e, especialmente, com a exploração das recém descobertas jazidas de óleo e gás.


Por Luís Nassif*

Vamos a algumas explicações sobre a Argentina e o fenômeno Milei, a partir das informações preciosas trazidas pelo cientista político Bruno Lima Rocha.

O primeiro ponto é que o Javier Milei maluco da campanha é um personagem criado. A pessoa física por trás dele graduou-se em Economia pela Universidade de Belgrano em 1993. Após a faculdade, trabalhou como pesquisador no Instituto Argentino de Mercado de Capitales (IAMC) e como professor universitário. Em 2005, obteve um doutorado em Economia pela Universidade de Belgrano.

Em 2009, Milei fundou a empresa de investimentos Milei Capital. A empresa foi bem-sucedida e Milei acumulou uma fortuna pessoal estimada em US$ 100 milhões.

Trabalhou durante anos, também, como executivo de um dos maiores grupos empresariais argentinos, que controla um dos três canais nacionais de televisão.

Ou seja, é um Paulo Guedes mais histriônico, e não um Jair Bolsonaro mais esperto. Como tal, seu objetivo são os grandes negócios com estatais argentinas e, especialmente, com a exploração das recém descobertas jazidas de óleo e gás.

O caminho que poderá trilhar para a dolarização passa por uma hiperinflação. Sua ideia é que a paridade peso x dólar seja de 10.000. Hoje, o dólar vale 355 pesos. Portanto, apenas uma hiperinflação faria o peso chegar à paridade pretendida.

Mas como garantir dólares suficientes para uma economia complexa como a Argentina? O único caminho seria a securitização dos ativos argentinos, incluindo as reservas de gás e petróleo. E ainda está pendente a dívida argentina com o FMI, de US$ 44 bilhões, contratada ainda no governo Macri.

O modelo significará a destruição final da indústria argentina – que, hoje em dia, representa 23,6% do PIB, bem mais do que a do Brasil, destruída por 20 anos de políticas fiscais e monetárias irresponsáveis.

Segundo o próprio Milei, serão 6 meses iniciais de inferno, antes de se atingir o céu. Nesse intervalo, estão sendo estimuladas brigadas de jovens do interior para investir contra os críticos e contra o sistema.

O que pode conter essa loucura é a falta de maioria no Congresso e nas províncias. Apesar da derrota ampla de Sérgio Massa, o peronismo ainda domina a maioria absoluta das províncias. No entanto, uma das propostas de Milei é acabar com um fundo de compensação, que permite direcionar recursos das províncias mais ricas para as mais pobres. Esse movimento poderá tornar governadores reféns do governo.

Enfim, há um roteiro de terror pela frente, com final ainda imprevisível.

*Jornalista - via Jornal GGN

20 novembro 2023

Milei anuncia privatização de petroleira, da comunicação pública e fim do Banco Central*

 Novo presidente argentino insultou brasileiro de graça em entrevista recente. Apesar de tensão, relação deve ser pragmática 

AMORIM DIZ QUE LULA NÃO DEVE IR À POSSE DE MILEI NA ARGENTINA


O recém-eleito presidente da Argentina, Javier Milei, revelou planos de privatizar a empresa estatal de petróleo YPF, as empresas públicas de comunicação e confirmou a intenção de fechar o Banco Central do país.

Em suas primeiras declarações após a vitória nas urnas, Milei enfatizou a transferência para o setor privado do que for possível, delineando os primeiros passos para o futuro governo. (...)

*CLIQUE AQUI para continuar lendo (via DCM)

20 DE NOVEMBRO: Na luta para barrar a violência contra a população negra no Brasil!*

 


O genocídio do povo negro em nosso país aumenta a cada ano.

É uma verdadeira guerra que atinge em especial os jovens negros das periferias. Já sem perspectiva de um futuro digno (pelas desigualdades na educação, no acesso a serviços público, empregos e salários inferiores) agora é a vida que lhes é negada.

No dia 24 de agosto, o povo negro tomou as ruas das capitais do país e cidades do interior na jornada dos Movimentos Negros contra a Violência policial com atos, manifestações e atividades políticas, organizadas como resposta a uma série de chacinas que ocorreram em São Paulo, Rio de Janeiro e Bahia.

Estas manifestações levaram às ruas: “fim da violência policial e de estado! Nossas crianças e o povo negro querem viver!” Elas demonstraram a força e unidade que é preciso avançar nesse 20 de novembro, dia da Consciência Negra, em homenagem ao líder do Quilombo dos Palmares, Zumbi, que foi assassinado nesse dia pelas tropas coloniais brasileiras em 1695.

A violência contra o povo negro é secular, porém nos últimos anos a escalada de assassinatos de jovens negros aumentou absurdamente. Segundo o Observatório da Rede de Segurança, a cada quatro horas um negro é assassinado no Brasil (http://observatorioseguranca.com.br/uma-pessoa-negra-e-morta-pela-policia-a-cada-quatro-horas/)

A juventude negra e pobre, principalmente nas periferias e comunidades, continua vivendo uma verdadeira política de genocídio, em uma situação em que você ser preto e jovem coloca a sua vida em risco. E o sistema prisional reflete as consequências da violência policial e um judiciário que escolheu um lado para beneficiar no País.

Segundo o anuário brasileiro de segurança pública, divulgado em julho desse ano, Produzido pelo fórum brasileiro de segurança pública, no Brasil houve 47.508 mortes Violentas intencionais (MVI) e quando se avalia o perfil étnico racial das vítimas, 76,5% dos mortos são negros. Negros são o principal grupo vitimado pela violência Independente da ocorrência registrada, e chegam a 83,1% das vítimas de intervenções Policiais” diz o documento.

A violência não é o único problema que a população negra enfrenta em nossa sociedade. A diferença de salário, de acesso às universidades ou mesmo o direito da titulação das terras quilombolas são questões em aberto e que precisam ser enfrentadas urgentemente.

Diante de todas essas mazelas faz-se necessário unificarmos as lutas pela construção de um Brasil, onde todos possam viver com acesso emprego, educação, saúde e moradia digna.
Neste 20 de novembro estamos na luta:

  • Pelo fim da violência contra nossos irmãos negros e negras!
  • Pela Desmilitarização das polícias que miram as armas em função da cor da pele!

Neste 20 de novembro também estamos nas ruas em solidariedade:

Aos nossos irmãos do Haiti, país vítima de várias ocupações imperialistas e hoje ameaçado pelo caos deixado por estas ocupações e sob ameaça de uma nova ocupação. Nós dizemos: Defender o Haiti é defender nós mesmos!

Aos nossos irmãos da faixa de Gaza e Cisjordânia, povo vítima, há 75 anos, da ocupação para a criação de um estado promovido pelo imperialismo, e que hoje são vítimas do genocídio perpetrado pelo Estado Sionista de Israel, com o apoio do imperialismo estadunidense: Nós dizemos: Cesar fogo imediato! Fim do bloqueio à Faixa de Gaza!

No Brasil, Haiti e Palestina, a luta é a mesma! Por paz, direito ao futuro com dignidade para todos os povos!

*Fonte: Diálogo e Ação Petista - DAP - (Edição final deste Blog).

19 novembro 2023

ARGENTINA: "NO OLHO DO FURACÃO"*


Por Ângela Carrato*

Os argentinos vão às urnas neste domingo para eleger, em segundo turno, quem ocupará a Casa Rosada pelos próximos quatro anos.

Mesmo apresentando resultados diferentes ao longo da campanha, com o peronista Sérgio Massa e o extremista de direita Javier Milei alterando-se na preferência do eleitorado, as últimas pesquisas apontam para empate técnico.

O resultado não sinaliza apenas que um ou outro pode vencer. Aponta para a absoluta incerteza sobre o futuro da Argentina, enquanto país livre e democrático, mas também sobre parte significativa dos tratados e blocos internacionais aos quais integra.

Em outras palavras, os eleitores argentinos estarão escolhendo bem mais do que um presidente. Estarão definindo, em grande medida, a própria correlação de forças que pode vigorar na América Latina nos próximos anos.

A mídia corporativa argentina e brasileira, semelhantes em sua posição subserviente aos interesses do Tio Sam, esconde o assunto, mas ele é o que prioritariamente importa. Daí essa eleição, que poderia ser mais uma na América Latina, estar sendo acompanhada com tamanha atenção por países tão diferentes quanto Estados Unidos, China, Brasil, Inglaterra e Israel.

A atual disputa pela Casa Rosada guarda muitas semelhanças com as eleições brasileiras de 2018 e de 2022.

Nelas os candidatos que passaram para o segundo turno deixaram a nu um país cindido, manipulado pelos interesses imperialistas e pela desinformação das fake news.

Sérgio Massa está longe de ser o nome dos sonhos dos peronistas de esquerda, que estiveram no poder de 2007 a 2015. Se dependesse deles, a candidata seria a ex-presidente e atual vice, Cristina Kirchner.

Sua candidatura, no entanto, acabou sendo inviabilizada pelo agressivo lawfare que enfrenta por parte do Judiciário e pela pesada campanha da mídia corporativa de lá, que guarda semelhança com a brasileira Operação Lava Jato.

A escolha de Massa como candidato acabou se dando não necessariamente por seus méritos, mas por ser talvez o único nome no governo de Alberto Fernández disposto a assumir riscos máximos.

Massa é o atual ministro da Economia, num momento em que a hiperinflação domina o país, os juros altíssimos travam a Argentina e 40% da população se encontra na linha da pobreza.

Ele é o responsável por isso? Claro que não. Como a mídia não conta a verdade, ele aparece como o responsável para significativa parcela da população.

A Argentina ter chegado a esse descontrole econômico e financeiro envolve múltiplos aspectos.

Os sete anos da última ditadura militar (1976-1983) deixaram como herança uma dívida externa impagável. Os militares fizeram uma farra com o dinheiro de fora e com os impostos dos contribuintes.

Como se isso não bastasse, para arranjar dinheiro novo para pagar os juros da dívida, o então presidente Maurício Macri, um playboy e neoliberal a la Aécio Neves, deixou para seu sucessor, Alberto Fernández, uma conta que não fecha.

Os neoliberais tinham certeza que Macri seria reeleito e se entenderia com os credores, à custa, claro, dos contribuintes.

Como perdeu a eleição, a conta caiu no colo de Alberto Fernández que, diferentemente do que pensava seu partido e a própria Cristina Kirchner, sua vice-presidente, preferiu, sem sucesso, tentar negociar ao invés de romper com as regras draconianas do FMI.

A criminalização que os argentinos conseguiram fazer em se tratando dos militares, colocando-os no banco dos réus e na cadeia, por mortes, prisões e torturas a adversários políticos na ditadura, não incluiu os ladrões do dinheiro público.

Os eleitores bem informados e aqueles que têm tradição de votar no peronismo sabem o que aconteceu e o que está acontecendo.

Mas parcela expressiva, especialmente a composta por jovens entre 18 e 25 anos, que não têm memória do que foi a ditadura militar e não acompanhou o governo neoliberal de Maurício Macri, acredita que “a culpa é dos políticos”. São esses os fechados com o bolsonarismo de lá, que atende pelo nome de Javier Milei.

Donald Trump, Jair Bolsonaro e Javier Milei não surgiram do nada.

São criações da extrema direita de seus países em parceria com os grandes interesses econômicos e financeiros internacionais.

O objetivo é confundir o jogo, tirar o foco do que interessa e manter a exploração máxima sobre enormes contingentes populacionais.

O neoliberalismo nada mais é do que o capitalismo elevado à potência máxima, com o Estado sendo substituído pelo mercado e a vida humana não valendo nada.

A ligação desses três políticos com o que há de mais nefasto na cena internacional explica como Trump, que era um empresário de sucesso e Bolsonaro um ex-capitão defensor da tortura, se tornaram candidatos à presidência de seus países e venceram, no caso dos dois primeiros.

Milei é, sem dúvida, o exemplo mais paradigmático. Comediante num agressivo programa popular na TV, ele foi devidamente trabalhado para canalizar a frustração dos argentinos e atribuí-la aos “políticos profissionais”.

Isso não soa familiar? Bolsonaro fez o mesmo aqui, aos criticar os políticos, sendo que ele e família estavam aboletados na política há décadas.

Milei não ocupou nenhum cargo público e é por isso que se sente mais à vontade para falar e propor absurdos.

De seu programa de governo consta, por exemplo, dolarizar a economia, acabar com o Banco Central, privatizar tudo inclusive educação, saúde e previdência social, além de romper relações com os principais parceiros econômicos e comerciais da Argentina, o Brasil e a China.

Como se isso não bastasse, Milei terminou todos os comícios no segundo turno gritando “liberdade” e acompanhado essa palavra de um sonoro palavrão, abraçado à bandeira de Israel. Mais patético, impossível, mas a plebe embrutecida e indignada o aplaudia.

Quando os 35,8 milhões de argentinos aptos a votar estiverem fazendo suas escolhas neste domingo, dificilmente estarão pensando em algo além da performance de Massa, de Milei e na poderosa campanha que cada um realizou.

Só que as consequências dessa escolha num país onde o trágico, está espelhado em sua música maior, o tango, podem ser fatais.

Sérgio Massa fez campanha tentando apelar à razão, num momento em que Milei não mede consequências para puxar os argentinos a votarem exclusivamente pela emoção.

Milei critica tudo e a todos, com exceção de Trump e de Bolsonaro.

Para ele, o Papa Francisco, o primeiro argentino a chegar ao cargo maior no Vaticano, é “comunista”. Segundo ele, também é “comunista” o presidente Lula. Já o primeiro-ministro de Israel, o genocida Benjamin Netanyahu, a seu ver, merece todo crédito.

Possivelmente seja o apelo emocional que marcou a campanha de Milei o que impediu que milhões de jovens argentinos percebessem que quando ele fala em privatizar tudo, está incluindo a escola e a faculdade que cursam, os empregos que têm e os que poderiam ter nas áreas de ciência e tecnologia, além do próprio futuro de cada um e do país.

Quem tem interesse num fim trágico assim para Argentina, que nas primeiras décadas do século XX chegou a ser a sexta maior potência econômica do mundo?

A resposta é simples. Os mesmos que tiraram Dilma Rousseff do poder, em 2016, prenderam Lula, em 2018, fizeram e fazem de tudo para inviabilizar o terceiro governo Lula.

Os mesmos que querem pilhar as riquezas naturais e minerais dos diversos países da América do Sul.

Os mesmos que mantêm o arquipélago das Malvinas (Falklands para os ingleses) como colônia em pleno século 21.

Os mesmos que não querem que o Mercosul continue existindo, funcione e seja um importante tratado internacional de comércio.

Os mesmos que querem uma América Latina desintegrada e subserviente aos interesses do Tio Sam.

Os mesmos que não aceitam que a velha ordem mundial chegou ao fim e que em seu lugar esteja surgindo o mundo multipolar.

Os mesmos que querem destruir a Celac, o G-77 e o BRICs.

Coincidentemente, a Argentina passou a integrar recentemente o chamado BRICS ampliado, por indicação do Brasil.

Os mesmos que sonham em manter a América Latina cativa, com suas veias abertas e sangrando.

Não por acaso, o presidente Lula se tornou personagem tão ou mais mencionada nesta campanha eleitoral que os próprios candidatos.

Se o peronista Massa fez questão de exaltar sua proximidade com o Brasil e a importância dessa relação ser mantida e ampliada, Milei faz juras de amor para os Estados Unidos e Israel.

Se depender dele, a Argentina vira satélite do Tio Sam, governado pela máquina mortífera do Mossad, o serviço secreto de Israel, que há décadas tem aquele país sob mira.

Quem se lembra do estranhíssimo Caso Nismam, cujos ecos ainda se escutam nas ruas de Buenos Aires?

Se você não sabe do que se trata, tem série na Netflix sobre o assunto. Série manipulada pelo lobby sionista, mas para olhos experientes, dá para perceber do que se trata.

Nas últimas semanas, esse mesmo lobby tentou aportar aqui, com o factoide dos brasileiros que seriam “terroristas” integrantes do Hezbollah, o partido político que controla o sul do Líbano e que os Estados Unidos e Israel, só eles, consideram terrorista.

Se os argentinos tiverem juízo, a escolha será pelo nome de Massa.

Se preferirem a tragédia, devem votar em Milei. E aguantarem as consequências, que, infelizmente, não se limitarão a eles.

Afinal, uma América tendo ao norte Trump no poder, com a deterioração das chances de Biden à reeleição, e no, extremo sul, um palhaço do imperialismo como esse Milei, não é apenas uma lamentável letra de tango de terceira categoria.

É se jogar na sarjeta da história e nos arrastar, a todos na América Latina, para o olho do furacão.

*Ângela Carrato é jornalista e professora do Departamento de Comunicação Social da UFMG

-Via Viomundo