30 dezembro 2019

Um ano para não esquecer


Em meus anos jovens, volta e meia eu escutava, em casos extremos, “este ano é para ser esquecido”.
Pois para mim, este 2019 que chega ao fim é um ano para não ser esquecido jamais.
Foi um dos piores anos da minha vida. Em parte, por razões pessoais. Mas principalmente, ou melhor, essencialmente, pelo que fizeram e fazem com este meu desgraçado país.
É preciso lembrar dele para sempre, para tentar impedir que se repita. Tentar resistir, da forma que der.
Teve de tudo, e esse tudo foi nefasto. Da autonomia universitária às artes e à cultura, com ênfase especial para o cinema e o teatro, da explosão da violência policial ao desastre do meio ambiente, do desmonte da Petrobras ao desmantelamento das políticas de respeito aos direitos humanos, do funeral da educação ao enterro de uma política externa construída ao longo de décadas, por onde quer que se ponha os olhos o que vemos é pura, furiosa destruição.
Em um ano retrocedemos décadas, e vai saber quantas mais serão necessárias para voltar ao ponto em que estávamos antes da catástrofe.
As sacrossantas instituições continuam apáticas, ninguém parece capaz de conter um Jair Messias desembestado em sua fúria devastadora.  
A estas altas alturas da minha vida, de verdade não acredito que chegue a assistir a essa retomada. Não tenho, porém, outro caminho a não ser continuar na trincheira, resistindo como for.
Meu país desapareceu do cenário internacional, e nem mesmo nos anos mais duros da ditadura sua imagem foi tão absolutamente negativa entre os países civilizados do mundo. Vejo isso por onde ando.
Não, não tem como esquecer este ano tenebroso, de puras trevas. O que me pergunto é como chegamos tão fundo nesse poço sem fundo, e como assistimos, apáticos e inertes, a essa destruição absoluta.
Que Jair Messias era um primata tosco, grosseiro, totalmente desequilibrado, muitos de nós sempre soubemos. Muitíssimos.
Afinal, ele sempre agiu baseado exclusivamente em fúria, ódio, ressentimento. Profundo ressentimento. Um ultradireitista sem norte nem rumo, que jamais ouviu outra voz que a da sua mente enfermiça.
Durante a campanha eleitoral do ano passado ele percorreu o país avisando que faria o que está fazendo.  
Às vezes, nos momentos de mais angústia, me pergunto como é que ninguém vislumbrou o perigo escandalosamente anunciado. E também me pergunto como é que semelhante sacripanta conseguiu convencer os eleitores de que valia a pena entrar nessa aposta suicida.
E recordo que entre os votos de Fernando Haddad e os que optaram por votar em branco, anular o voto ou se abster, estavam 61% do universo eleitoral brasileiro.
A única conclusão é que os que votaram em branco, se abstiveram ou anularam seus votos são responsáveis diretos pelo horror que estamos vivendo. Por ignorância ou seja lá o que for, porém responsáveis.
É preciso, claro, recordar a figura de um juiz manipulador e parcial, o mesmo que impediu que Lula disputasse a eleição mandando o favorito nas pesquisas de opinião para a cadeia num processo escandalosamente absurdo.
Essa mesma figureta abjeta que, numa eloquente demonstração de indecência, virou ministro de Justiça do presidente que ajudou a eleger.
E lembrar também a ação dos meios hegemônicos de comunicação, que se empenharam até o fundo da alma para demonizar a política e abrir espaço para essa aberração que nos destroça.
Mesmo levando tudo isso em consideração, o que tenho à minha frente é um país que estava submerso e veio à tona.
Um país extremamente reacionário, racista, homofóbico, e que eu sempre soube que existia mas jamais imaginei que fosse tão grande, e que se revelou ao eleger um tosco sem remédio para nos destruir, a esse país submerso inclusive.
É verdade que as pesquisas de opinião indicam que Jair Messias chega ao final do seu primeiro ano presidencial sendo o mandatário mais rejeitado da história.
Ou seja: meu país é também um país de arrependidos. De inconsequentes arrependidos.
Os ricos de sempre continuam otimistas. Os abandonados de sempre continuam em seu abandono. E o nefasto desequilibrado que nos preside continua prometendo piorar o que já está péssimo.
Mais que nunca, dizer “Feliz Ano Novo” soa, mais que a um desejo formal ou sincero, a um pedido desesperado.
Resta saber como fazer para resistir e sobreviver num 2020 que se desenha turvo num horizonte escuro. Até quando?
*Jornalista e Escritor - Via Brasil247

27 dezembro 2019

Direito é uma das maiores vítimas do avanço da ignorância e da má-fé



A perda de referências mínimas se reflete em diversos campos do saber, como, por exemplo, na Teoria do Direito


Por Pedro Serrano*

Desde o fim da Segunda Guerra Mundial, a concepção de democracia nos planos político e jurídico tem sido reformulada. Ela deixa de ser entendida sob o ponto de vista meramente formal, de regras de procedimentos de disputa entre interesses conflitantes, e passa a ser concebida como instrumento para a preservação e garantia de direitos. Isso foi possível principalmente por conta do que Luigi Ferrajoli chama de “semente antifascista” plantada nas Constituições rígidas elaboradas a partir de então e que surgem para limitar as decisões políticas e judiciais, no plano jurídico interno das nações, impedindo que elas contrariem os direitos de liberdade, e levando os Estados a realizar os direitos sociais. 
Não se cogita mais, nesse sentido, decisão política ou judicial que não esteja condicionada ao que determina a Constituição, seja pelo modal deôntico do proibido – no caso dos direitos de liberdade que o Estado é proibido de vulnerar –, seja no modal deôntico do obrigatório – no campo dos direitos sociais, no qual o Estado é obrigado a realizar.
No plano jurídico internacional, surgem os Direitos Humanos como normas limitadoras das soberanias estatais. A plenitude do exercício da soberania pelos Estados estabelecida no que se convencionou chamar de Paz de Westfália, um conjunto de tratados firmados no século XVII, passa a ser moderada pelos Direitos Humanos como normas civilizatórias, ou seja, surge um pacto implícito a determinar que cada Estado tenha soberania para suas decisões, desde que não ofenda certos valores de civilização na relação com seu próprio povo. 
Assim, temos os Direitos Humanos “juridicizados” e as Constituições rígidas como fator de limitação dos poderes políticos estatais, tanto no plano internacional quanto no local. Esse sistema está inegavelmente em crise, razão pela qual se pode dizer que a democracia, tal como concebida no Pós-Guerra, também está. 
A crise tem múltiplas facetas, mas observarei especificamente uma determinada dimensão. Como se sabe, a vida em sociedade demanda um certo common ground, um solo comum mínimo de valores jurídicos, políticos e morais, essencial para que a própria sociabilidade possa se realizar. Mas a crise observa-se também numa outra dimensão, no common ground racional, aquilo que Durkheim chama de consenso lógico. Esse consenso lógico, racional, diz respeito a coordenadas materiais de tempo e espaço, a acordos mínimos estabelecidos pela ciência, como a existência do espaço sideral, da lei da gravidade, e também a certos fatos, como a ida do homem à Lua. Esse mínimo de visão material comum de mundo, que propicia a sociabilidade, passa a ser questionado.
Um dos efeitos mais pitorescos dessa crise de concepção racional de mundo no ambiente social talvez seja a crença no chamado terraplanismo. Segundo recente pesquisa do Datafolha, 11 milhões de brasileiros acreditam na ideia de que a Terra é plana, divergindo, portanto, da concepção multissecularmente aceita de que o nosso planeta tem forma esférica. Embora a divergência em torno de questões como a forma geométrica da Terra pareça inofensiva, se comparada aos riscos da negação da eficácia das vacinas, colocá-las em xeque é também potencialmente perigoso, pois rompe com o common ground, ou seja, torna instável o ambiente de certezas obtidas durante esse percurso de existência humana civilizada. 
Essa perda de referências mínimas se reflete em diversos campos do saber, como, por exemplo, na Teoria do Direito. O Direito, enquanto prática social, é comumente visto como dotado de um grande campo de incertezas, dúvidas e disputa de narrativas. A interpretação do Direito, das leis e das Constituições leva a divergentes entendimentos, como fica claro a qualquer um que acompanhe debates legislativos ou julgamentos das cortes superiores. Apesar das incertezas, constituíram-se também nessa área do conhecimento ambientes de maior segurança. 
Atualmente, colocam-se em questão valores e saberes que correspondem ao terraplanismo no campo das ciências naturais. Valores mínimos de civilidade no âmbito do processo penal, como o direito de defesa, para citar o mais elementar, são colocados à prova pela adoção de teorias muitas vezes produzidas no mundo desenvolvido e por gente muito erudita, mas que nem por isso devem ter credibilidade teórica para se contrapor a esse acúmulo mínimo de saberes desenvolvidos. 
Preocupa a formação dessa jurisprudência de exceção, que tem sido, também no dizer de Ferrajoli, um verdadeiro processo desconstituinte, ou seja, de esvaziamento de sentido material e concreto dos direitos fundamentais postos nas Constituições, resultante do mau uso de teorias jurídicas legítimas e vigentes e da produção de teses fraudulentas a respeito da natureza e da extensão dos direitos e garantias fundamentais. Estamos diante de um fenômeno perigoso.
...
*Pedro Estevam Alves Pinto Serrano é Advogado, Professor da Faculdade de Direito da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, Pós-Doutor em Direito pela Universidade Clássica de Lisboa, Doutor e Mestre em Direito do Estado pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. - Postado originalmente na Carta Capital

25 dezembro 2019

No Natal, Bolsonaro presenteia os seus


Jair Bolsonaro no Planalto - Foto Orlando Brito
Por Helena Chagas, jornalista*
Se ainda havia alguma dúvida, os presentes de Natal de Jair Bolsonaro mostraram de forma clara para quem ele governa e onde quer estar: com sua base social e com os mais ricos. O inédito indulto a policiais, militares e agentes de segurança condenados por crimes culposos tenta ressuscitar uma medida que já foi rejeitada pelo Congresso — o excludente de ilicitude — para agradar à sua base social. O pessoal da segurança pública, que vai além dos integrantes das corporações e da bancada da bala, sentiu-se presenteado.
É crime culposo — sem intenção — atirar a esmo de forma irresponsável e matar uma criança com a bala perdida? Enquanto for, e com uma ajudinha de Bolsonaro, casos assim vão continuar aumentando, como ocorreu no primeiro ano do governo do ex-capitão.
Subsidiariamente, o presidente mostra também, com seu indulto, que não pensa duas vezes antes de afrontar o Congresso. Certamente terá que se ver (de novo) com o STF, a quem caberá dizer se tal indulto é ou não constitucional. No ano passado — lembram? — Michel Temer incluiu no seu políticos condenados por corrupção e teve o ato suspenso pela Corte. É uma questão de tempo.
Os outros presentes de Natal não deixam margem a dúvidas. Bolsonaro governa preferencialmente também para o andar de cima, os mais ricos — aliás, segmento da população que, segundo as pesquisas, anda muito satisfeito com ele. O anúncio da equipe econômica de que vai acabar com a desoneração dos produtos da cesta básica vai sacrificar os de sempre.

Não adianta substituir a medida por um hipotético acréscimo de vinte e poucos reais no Bolsa Família — programa, aliás, que anda no alvo dos tecnocratas bolsonaristas para sofrer reformulações. O problema é que a redução nos preços da cesta básica pela isenção de impostos beneficia um universo que vai muito além dos beneficiários do programa — e que, apesar de não ser miserável, é pobre também. E vai pagar mais.

Da mesma forma, a extinção de cargos públicos e funções obsoletas na administração federal, como anunciado, não é uma medida necessariamente ruim da equipe econômica. Mas é o caso de se acender o sinal vermelho quando a maioria desses cargos está nos ministérios da Educação e da Saúde — e sua principal ocupação, obviamente, não é atender os mais ricos.

*Fonte: Os Divergentes

Poema de Natal


Poema de Natal

Para isso fomos feitos:
Para lembrar e ser lembrados
Para chorar e fazer chorar
Para enterrar os nossos mortos —
Por isso temos braços longos para os adeuses

Mãos para colher o que foi dado
Dedos para cavar a terra.
Assim será nossa vida:
Uma tarde sempre a esquecer
Uma estrela a se apagar na treva
Um caminho entre dois túmulos —

Por isso precisamos velar
Falar baixo, pisar leve, ver
A noite dormir em silêncio.
Não há muito o que dizer:

Uma canção sobre um berço
Um verso, talvez de amor
Uma prece por quem se vai —

Mas que essa hora não esqueça
E por ela os nossos corações
Se deixem, graves e simples.
Pois para isso fomos feitos:

Para a esperança no milagre
Para a participação da poesia
Para ver a face da morte —

De repente nunca mais esperaremos...
Hoje a noite é jovem; da morte, apenas
Nascemos, imensamente.

                    Vinícius de Moraes

23 dezembro 2019

Em jogo de futebol, Lula, Chico Buarque e amigos celebram união das forças progressistas




Chico Buarque e Lula, principais personagens do evento esportivo e político que celebrou a liberdade do ex-presidente e a união das forças progressistas em torno de um projeto para o restabelecimento da democracia no país. (Foto: Claudia Motta/RBA)

No jogo de futebol que foi considerado uma celebração das forças progressistas e democráticas do país,  os amigos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do cantor Chico Buarque venceram os integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) por 2 a 1 . Lula e Chico foram os autores dos gols dos vencedores, ambos de pênalti.  O deputado Nilto Tatto (PT-SP) fez o gol pelo MST.
A partida – e a festa – foi jogada no campo Doutor Sócrates Brasileiro, na Escola Nacional Florestan Fernandes, centro de formação política daquele movimento social. em Guararema-SP.
Cerca de 4 mil pessoas, entre militantes, ativistas, políticos, artistas e juristas estiveram presentes. Entre os jogadores, nomes como o ex-governador da Bahia Jaques Wagner, os músicos Chico César, Otto, Renato Brás e Carlinhos Vergueiro, o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad, o vereador Eduardo Suplicy (bastante aplaudido), o advogado Cristiano Zanin, o ex-jogador Afonsinho e outros.
“Artilheiro” da equipe dos amigos do MST, Nilto Tato ressaltou que  celebração deste domingo representa a esquerda no Brasil, solidária e generosa. “Pra você ter uma ideia, tinham crianças, jovens, mais velhos no campo, mulheres, homens. E o gol que eu tive a alegria de fazer, ele é um gol que teve a marca mesmo da democracia e da generosidade que também tem na esquerda hoje, com passe do Juliano [Medeiros] do Psol.”
“Muito importante encerrar esse ano com o retorno do ex-presidente Lula e participar desta festa é um momento de grande alegria”, disse o coordenador da Central dos Movimentos Populares (CMP), Raimundo Bonfim. “Foi um ano difícil, mas também de muita resistência e perseverança. E nós temos que recarregar nossas baterias, porque em 2020 nós teremos várias batalhas em defesa da classe trabalhadora e do povo brasileiro e da democracia e estamos bastante otimistas”, afirmou o ativista, que disse ter preferido “ficar mais na torcida”, em vez de jogar.
Rose Gaspar, da executiva estadual do PT em São Paulo, foi árbitra do jogo durante parte do tempo, depois de substituir Juca Kfouri, que começou apitando. Para ela, o evento marcou uma significativa união das forças de esquerda do país. “Nós precisamos continuar trabalhando. Não podemos esmorecer em um só momento”, disse a secretária de mobilização do partido.
Para a filha de Lula, Lurian da Silva, o jogo foi uma representação da luta para a libertação do ex-presidente: “Ele estar livre pra gente já é uma simbologia, pra gente que sofreu muito. Não só o povo brasileiro, mas a família em particular, que teve todo o sofrimento, as ofensas, as agressões. Então, pra gente tem uma simbologia muito grande. É maravilhoso poder estar aqui.”
Ao fim da partida, o jornalista Juca Kfouri comemorava sua participação em mais um evento que marcou a luta em defesa dos direitos dos trabalhadores do país e deixou recado para o novo ano. “Que o ano que vem a gente faça esse jogo comemorando a eleição de prefeitos democráticos e progressistas pelo Brasil inteiro.”
*Com informações do Brasil de Fato -Via Sul21

21 dezembro 2019

Há um cheiro de Collor no ar


É difícil não ver semelhanças, para quem viveu os dois tempos, entre a situação que enfrenta o senhor Jair Bolsonaro e aquela que levou à demolição o governo de Fernando Collor de Mello.
Às vezes, tantas semelhanças que a gente teme que, por não se repetir, a história possa ser outra, que não a réplica daqueles tempos.
Também Collor não consumou a formação de uma base de direita que, depois de sua vitória eleitoral, parecia fácil e inevitável.
Também Collor deixou que as intrigas de governo entrassem e se espalhassem em seu ambiente familiar.
Igual os dois deixaram corroer-se o apoio majoritário que obtiveram nas urnas, como registra hoje o Estadão.
Pouco adianta o (meio) recuo de hoje nas grosserias de ontem, aquelas são as que ficam.
E sempre, nas desculpas, novas engrossadas irresponsáveis e desnecessárias, como a de dizer que se entende com o presidente do Senado, Davi Alcolumbre porque não tem “gordofobia” que que Rodrigo Maia é “outro fofuxo com quem estou me dando bem”.
Mostra medo ao agredir e mostra medo ao desculpar-se, assim como é valentão num dia sobre o Fundo Eleitoral e, no seguinte, gagueja dizendo que não quer ser “impichado”.
Quer ausentar-se das questões econômicas, delegando a Paulo Guedes um poder decisório que este não tem, dizendo que prefere “deixar isso [a economia] na mão do Paulo Guedes para ele achar o que é melhor, decidir o que é melhor”.
Por exemplo, acordar um aumento do óleo diesel em pleno repique inflacionário.
Bolsonaro, como Collor, elegeu-se com o discurso do “macho”, que faz e acontece. E não faz, nem acontece, senão para o ridículo.
Ao entrar nestes arroubos de valentia, seguidos de recuos dóceis e ausências, desagrada a “gregos e goianos”.
Cada vez mais vai virando, como o “não me deixem só” de Alagoas, um personagem patético a clamar no deserto.
(Por Fernando Brito, jornalista - no Tijolaço)

20 dezembro 2019

Impeachment de Bolsonaro é urgência civilizatória

"Nenhum país que se pretenda minimamente civilizado pode tolerar um presidente que, no mesmo dia, diga estas duas frases: (1) 'Pergunta pra tua mãe o comprovante que ela deu pro seu pai', e (2) 'Você tem cara de homossexual terrível'", avalia o jornalista Aquiles Lins, editor do 247, sobre a nova quebra de decoro de Jair Bolsonaro



Por Aquiles Lins, para o Jornalistas pela Democracia*
Jair Bolsonaro deu nesta sexta-feira, 20, mais uma demonstração do seu absoluto despreparo, como político, mas sobretudo como ser humano, para continuar no cargo de presidente da República. 
Acossado pelo escândalo das rachadinhas, comandado pelo senador Flávio Bolsonaro quando era deputado na Assembleia do Rio de Janeiro, Bolsonaro reagiu com homofobia ao ser questionado por jornalistas se "o seu filho tiver cometido algum deslize".
"Você tem uma cara de homossexual terrível, mas nem por isso eu te acuso de ser homossexual", disse o capitão visivelmente alterado (leia mais no Brasil 247). 
O que a orientação sexual de um jornalista tem a ver com os crimes cometidos pelo clã Bolsonaro? Mais: sob a lógica doentil bolsonariana, então o filho Flávio tem cara de corrupto terrível, de alguém que lavou R$ 638 mil com compra de imóveis, segundo o MP-RJ, mas não é corrupto? 
Em outro momento da entrevista lastimável que Jair Bolsonaro concedeu na portal do Palácio do Alvorada, ele chegou a gritar e a ofender um repórter ao responder se ele tinha comprovante do alegado empréstimo feito a Queiroz. "Ô, rapaz, pergunta para a tua mãe o comprovante que ela deu pro teu pai, tá certo?", gritou. 
Jair Bolsonaro está descontrolado porque conhece os crimes que cometeu. Ele é o chefe do clã, é Bolsonaro quem conhece Fabricio Queiroz há quase quatro décadas, não Flávio. Além das rachadinhas, as investigações do Ministério Público podem levar a provas incontestes do envolvimento do clã Bolsonaro com o assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL). 
O Congresso Nacional não pode assistir passivamente a estes ataques de Jair Bolsonaro contra profissionais da imprensa, contra as instituições. É imperativo que o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, saia da sua zona de conforto de primeiro-ministro informal e e dê seguimento aos pedidos de impeachment que já tramitam na Casa contra Bolsonaro. 
Jair Bolsonaro jamais deveria estar na cadeira presidencial. Não tem competência, nem o mínimo preparo psicológico. 
Nenhum país que se pretenda minimamente civilizado pode tolerar um presidente que, no mesmo dia, diga o que ele disse. Ser conivente com este estorvo em nome de uma política ultraliberal que está entregando o patrimônio do País é o maior crime que o Congresso Nacional poderá cometer. 
*Fonte: Brasil247

19 dezembro 2019

Assembleia do RS aprova projeto de Eduardo Leite para aumentar contribuição previdenciária de servidores


Servidores protestaram nas galerias contra pacote enviado por Eduardo Leite à Assembleia. Foto: Luiza Castro/Sul21

A Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul aprovou na noite desta quarta-feira (18), por 38 votos contra 15, o Projeto de Lei Complementar 503, de autoria do Executivo, que altera o regime da previdência estadual, aumentando a soma total das contribuições de servidores civis ativos e inativos.
Para garantir a aprovação do PLC 503, o governo Eduardo Leite (PSDB) articulou com sua base de apoio uma emenda com um novo escalonamento de aumentos da taxação previdenciária, variando de 7,5% a 22%, dependendo da faixa salarial. A bancada do PT propôs uma emenda que isentava de pagar a Previdência os inativos que ganham até o teto do INSS, mas ela sequer foi apreciada pelo plenário. Em seguida, foi votada a emenda do governo, que mantém a taxação progressiva para quem recebe acima de um salário mínimo.
Para a Bancada do PT o projeto proposto pelo governo comete uma profunda injustiça. Enquanto o inativo que ganha menos vai pular de zero para 7% de pagamento da previdência, os altos salários terão um acréscimo de apenas 2,5%. Em um vídeo publicado nas redes sociais após a aprovação do projeto, o governador Eduardo Leite agradeceu aos deputados que aprovaram a reforma que, segundo ele, vai possibilitar a redução do déficit da Previdência e propiciar melhorias salariais para quem ganha menos”.
Após a aprovação, o governo Eduardo Leite solicitou à Assembleia a retirada do regime de urgência de seis outros projetos que compõem o pacote: PLCs 504, 505, 506, 508 e 509/2019, além do PL 507/2019, que deverão voltar a ser apreciados somente em janeiro. (...)
-Continue lendo a postagem do Sul21 clicando AQUI

-Para ver como votaram os deputados - e se posicionaram seus respectivos partidos -  clique AQUI

18 dezembro 2019

Bolsonaro também deveria ser investigado




Por Alex Solnik, para o  para o Jornalistas pela Democracia*

Os dois principais personagens do Bolsonarogate – Jair Bolsonaro e Flávio Bolsonaro - não foram alvo de busca e apreensão da Operação desencadeada esta manhã pelo MP do Rio de Janeiro, por meio do GAECO, como ocorreu com os demais acusados, todos seus subalternos.

Estão blindados por lei, só poderiam ter sido investigados se o STF tivesse dado permissão, mas isso sequer foi solicitado.
Presidente da República, de acordo com a constituição, não pode ser condenado por atos alheios ao mandato, mas pode ser investigado. Enquanto está no cargo a investigação prossegue, só que o julgamento se dá depois de cumprido o mandato.
Bolsonaro pai está envolvido nisso porque os acusados por rachadinha no gabinete de seu filho seus parentes – família de sua ex-mulher – ou amigos, como o notório Fabrício Queiróz. E rachadinha é um outro nome para corrupção.
Outra questão que deixa mal Bolsonaro na história é a evidência de que ele fora informado antecipadamente acerca dessa operação, que deveria ter ocorrido em sigilo, como ele mesmo declarou em entrevista.
Ele deveria ser instado a revelar quem o informou – e quebrou o sigilo da operação.
*Via Brasil 247

17 dezembro 2019

Viúva de Paulo Freire: Bolsonaro não tem pudor nem caráter!

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O professor Paulo Freire (Reprodução: TV UFMG)
Será que o Jair Messias sabe soletrar "energúmeno"?
Paulo Freire (1921-1997), educador e filósofo brasileiro, é um dos maiores pensadores da história da pedagogia mundial.
É o terceiro autor mais citado em pesquisas acadêmicas na área das ciências humanas em todo o mundo.
Grandes universidades, como Oxford e Harvard, exaltam Paulo Freire e adotam sua metodologia de ensino.
Desde 2012, Paulo Freire é reconhecido como patrono da educação brasileira.
Entretanto, como Jair Bolsonaro e seu governo vivem em guerra contra o ensino, a hostilidade obviamente estende-se também ao professor Paulo Freire.
(Os bolsonários - assim como a ditadura militar que prendeu Freire - não querem uma educação que ensine o cidadão a pensar...)
Na manhã desta segunda-feira 16/XII, enquanto conversava com admiradores na porta do Palácio da Alvorada, o presidente Jair Bolsonaro justificou o fechamento da TV Escola, um projeto voltado à capacitação dos profissionais de ensino da rede pública: "quem assiste a TV Escola? Ninguém assiste. Dinheiro jogado fora".
Ele continuou: "era uma programação [da TV Escola] totalmente de esquerda. (...) Os caras estão há trinta anos [no ministério], tem muito formado aqui em cima dessa filosofia do Paulo Freire da vida, esse energúmeno, ídolo da esquerda".
A educadora Ana Maria Freire, viúva de Paulo Freire, revidou em grande estilo:
"No fundo, ele [Bolsonaro] tem um pouco de inveja. Ele também [queria] ser como Paulo foi, mas não pode, não consegue. Tem de estar o tempo todo de pontaria armada para atingir alguém. (...) Bolsonaro é um homem sem nenhum pudor, sem nenhum caráter, sem nenhuma autocensura. (...) É um homem nefasto, uma coisa absolutamente terrível", disse.
Em tempo: será que o Bolsonaro sabe soletrar "energúmeno"?

Coluna C&A - nº 179



Coluna Crítica & Autocrítica - nº 179


Por Júlio Garcia**

*O Partido dos Trabalhadores de Santiago/RS (PT) realizou, na última sexta-feira, 06/12, uma importante Reunião/Jantar (foto) com os integrantes de seu novo Diretório e Executiva Municipal (recentemente empossados). O evento ocorreu na Associação dos Inativos da Brigada Militar de Santiago (Greminho). Estiveram presentes as principais lideranças do partido no município, dezenas de filiados e militantes. Antes do Jantar de Confraternização houve um Ato Político que analisou a conjuntura, as eleições do próximo ano, celebrou a liberdade do ex-Presidente Lula e discutiu a continuidade da luta pela anulação do processo fraudulento e da condenação injusta que o mesmo sofreu, capitaneada pelo ex-juiz Moro e seus aliados da malfadada ‘República de Curitiba’ e do TRF-4.
...
*Mas a farsa judicial/midiática montada especialmente contra Lula está sendo rapidamente desmascarada. Além das revelações das conversas promiscuas e criminosas realizada pelo então juiz Moro com Procuradores de Curitiba, dentre outros, divulgadas pelo site The Intercept e outros veículos midiáticos, a Justiça do DF absolveu Lula, Dilma e outros petistas de um processo oriundo de denúncia do ex-procurador Janot (aquele que confessou ter tentado matar com um tiro o Ministro Gilmar Mendes no STF); processo que, ao fim e ao cabo, segundo entenderam o MP e, após, o juiz Marcus Vinicius Reis Bastos, da 12ª Vara Federal em Brasília, o processo visava exclusivamente “criminalizar a atividade política".
...
*A propósito, "Moro é a figura mais perigosa para a democracia brasileira. Porque ele é autoritário, ele tem uma visão repressiva para a segurança pública e para o país", alertou recentemente o respeitado jornalista Kennedy Alencar em entrevista à Rádio CBN, que também reproduzi num dos blogs que edito, o ‘Blog do Júlio Garcia’.
...
*Para conhecimento: Em 2003, o escritor canadense Lawrence Britt publicou um artigo na revista Free Inquiry intitulado “As 14 Características do Fascismo”. No texto, o autor compara os regimes totalitários de Hitler, Mussolini, Franco, Suharto e Pinochet, dentre outros. Não por acaso Bolsonaro e seu (des)governo apresentam todas essas características (excetuando-se a 1ª, uma vez que não é nada nacionalista, pelo contrário: é “entreguista-mor” e já deu provas cabais de seu “amor” e submissão a Donald Trump e aos EUA, principalmente). -Leiam abaixo o resumo das características do fascismo elencadas pelo escritor Lawrence Britt – e tirem suas conclusões:

1) Nacionalismo exacerbado e contínuo; 2) Desprezo pelo reconhecimento dos Direitos Humanos; 3) Identificação de Inimigos e bodes expiatórios como causa unificante; 4) Supremacia dos militares; 5) Sexismo desenfreado; 6) Controle da mídia de massas; 7) Obsessão com a Segurança Nacional; 8) Entrelaçamento entre governo e religião (o câncer de qualquer sociedade civilizada); 9) Proteção do poder corporativo; 10) Opressão às forças de trabalho (perda de direitos); 11) Desprezo por intelectuais e as artes; 12) Obsessão com criminalidade e punição (principalmente contra os negros e pobres); 13) Corrupção crônica; 14) Eleições fraudulentas.
...
*Para finalizar, o (des)governo Bolsonaro continua ‘em alta’: alta do desemprego, do combustível, da carne, da inflação, da criminalidade, das queimadas na Amazônia, da poluição nosso litoral (óleo derramado especialmente do nordeste e sudeste), do entreguismo criminoso do patrimônio público às multinacionais, como das bobagens que diz na mídia e escreve regularmente das redes sociais; alta das fake news, dos ataques aos trabalhadores, estudantes e aposentados ... aliás, nesse quesito o (des)governo de seu aliado gaúcho Eduardo Leite (PSDB e aliados) vai na mesma direção... Deveras preocupante para quem defende a liberdade, a Democracia e o Estado de Direito. Alguém discorda?
...
**Júlio César Schmitt Garcia é Advogado, Pós-Graduado em Direito do Estado, Consultor, Poeta, dirigente político (PT) e Midioativista. Foi um dos fundadores do PT e da CUT. - Publicado originalmente no Jornal A Folha (do qual é Colunista) em 13/12/2019.