30 julho 2025

Tarifaço dos EUA - Brasil tenta diálogo, mas governo Trump ‘não quer conversar’ para negociar tarifas, diz Lula ao New York Times

Segundo o presidente, foram ao menos 10 tentativas de reuniões com secretaria dos EUA, mas não houve retorno

     Foto: Presidente Lula discursando na ONU (Arquivo deste Blog)


Em entrevista concedida ao jornal estadunidense The New York Times, publicada na madrugada desta quarta-feira (30), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou que o Brasil tem feito reiteradas tentativas de diálogo com o governo de Donald Trump para negociações relacionadas às tarifas de 50% sobre produtos brasileiros anunciadas pelo mandatário dos Estados Unidos. Lula ressaltou que o menos 10 reuniões com representantes da Secretaria de Comércio do país foram solicitadas, mas sem sucesso. A taxação deve entrar em vigor nesta sexta-feira (1).

“O que está nos impedindo é que ninguém quer conversar. Eu pedi para fazer contato. Eu designei meu vice-presidente, meu ministro da Agricultura, meu ministro da Economia, para que todos conversem com seus equivalentes nos EUA para entender qual é a possibilidade de conversa. Até agora, não foi possível”, relatou o petista.

“Eu acho que é importante que o Trump considere: se ele quer ter uma briga política, então vamos ter uma briga política. Se ele quer falar de comércio, então vamos sentar e conversar sobre comércio. Mas você não pode misturar os dois”, disse Lula. 

The New York Times, um dos maiores jornais dos Estados Unidos, caracterizou que “talvez não haja nenhum líder no mundo que desafie o presidente Trump com tanta firmeza como Lula”. Na conversa, o presidente brasileiro afirmou que a sobretaxa deixa o Brasil “preocupado”, mas não “com medo”.

“Nas negociações políticas entre dois países, a vontade de nenhum deve prevalecer. Nós sempre precisamos encontrar um meio-termo. Isso não é alcançado ‘estufando o peito’ e gritando coisas que você não pode entregar, nem abaixando a cabeça e simplesmente dizendo ‘amém’ a qualquer coisa que os Estados Unidos quiserem”, declarou Lula na entrevista, que é a primeira concedida ao veículo em 13 anos.

“Tenham a certeza de que estamos tratando isso com a maior seriedade. Mas seriedade não exige submissão. Trato todo o mundo com grande respeito. Mas quero que me tratem com respeito”, declarou o presidente brasileiro. 

O presidente Lula salientou, ainda, que os esforços de Trump para ajudar Bolsonaro, réu em ação por tentativa de golpe de Estado, serão pagos pelos estadunidenses. Como consequência, poderão enfrentar preços mais altos de café, carne, suco de laranja e outros produtos exportados do Brasil. 

“Nem a população estadunidense nem a brasileira merecem isso. Porque vamos passar de uma relação diplomática de 201 anos de ganha-ganha para uma relação política de perde-perde”, argumentou Lula. 

“Espero que a civilidade retorne à relação entre Estados Unidos e Brasil”, defendeu o presidente brasileiro, para quem “o tom da carta dele [Trump] foi definitivamente de alguém que não quer conversar”.

28 julho 2025

Sob Lula, Brasil deixa o Mapa da Fome pela segunda vez

Em apenas dois anos, o governo Lula reduziu a insegurança alimentar para menos de 2,5%

Lula - 12/06/2025 (Foto: Ricardo Stuckert/PR)

247* - O Brasil está oficialmente fora do Mapa da Fome das Nações Unidas. O anúncio foi feito nesta segunda-feira (28) pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), durante a 2ª Cúpula de Sistemas Alimentares (UNFSS+4), em Adis Abeba, na Etiópia. A informação foi divulgada no Relatório O Estado da Segurança Alimentar e Nutricional no Mundo 2025 (SOFI 2025), que se baseia em médias trienais — neste caso, de 2022 a 2024. Segundo a FAO, o Brasil reduziu para menos de 2,5% o percentual de sua população em risco de subnutrição.

A conquista foi alcançada em tempo recorde. Em 2022, o Brasil enfrentava um cenário crítico de insegurança alimentar. Ainda assim, em apenas dois anos de governo, o país conseguiu reverter esse quadro, graças a uma combinação de políticas sociais, incentivo ao trabalho e valorização da agricultura familiar.

“Sair do Mapa da Fome era o objetivo primeiro do presidente Lula ao iniciar o seu mandato em janeiro de 2023. A meta era fazer isso até o fim de 2026”, relembrou o ministro do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome, Wellington Dias. “Mostramos que, com o Plano Brasil Sem Fome, muito trabalho duro e políticas públicas robustas, foi possível alcançar esse objetivo em apenas dois anos. Não há soberania sem justiça alimentar. E não há justiça social sem democracia.”

Avanços no combate à pobreza - Segundo dados do IBGE e do Ministério do Desenvolvimento Social, entre 2022 e 2024, cerca de 24 milhões de brasileiros saíram da insegurança alimentar grave. Em paralelo, a pobreza extrema foi reduzida a 4,4% em 2023, o menor índice da série histórica, tirando quase 10 milhões de pessoas dessa condição desde 2021.

O bom desempenho econômico também contribuiu para os resultados. Em 2024, o Brasil alcançou a menor taxa de desemprego desde 2012 (6,6%) e bateu recordes de renda domiciliar per capita, que chegou a R$ 2.020. A desigualdade também recuou: o índice de Gini caiu para 0,506, impulsionado pelo crescimento de 10,7% na renda do trabalho dos 10% mais pobres — um ritmo 50% superior ao dos mais ricos.

Boa parte dessa transformação tem origem no fortalecimento dos programas sociais. Segundo o Caged, 98,8% das 1,7 milhão de vagas com carteira assinada criadas em 2024 foram ocupadas por pessoas registradas no Cadastro Único, sendo que 1,27 milhão eram beneficiárias do Bolsa Família. Com o aumento da renda, cerca de um milhão de famílias deixaram de receber o benefício em julho de 2025.

De acordo com Wellington Dias, o sucesso do combate à fome está diretamente ligado à articulação de políticas complementares: “Essa vitória é fruto de políticas públicas eficazes, como o Plano Brasil Sem Fome, que engloba o Bolsa Família, o Programa de Aquisição de Alimentos, o Programa Cozinha Solidária, a valorização do salário mínimo, o crédito para a agricultura familiar, o incentivo à qualificação profissional, ao emprego e ao empreendedorismo, além do fortalecimento da alimentação escolar.”

O feito de 2025 marca a segunda vez que o Brasil sai do Mapa da Fome sob a liderança do presidente Luiz Inácio Lula da Silva — a primeira foi em 2014. O retorno ao mapa ocorreu a partir do triênio 2018-2020, após o desmonte de diversas políticas sociais.

 Aliança Global Contra a Fome e a Pobreza - Durante sua presidência no G20 em 2024, o Brasil propôs a criação da Aliança Global contra a Fome e a Pobreza, que já reúne mais de 100 países, além de fundações, organizações e instituições financeiras internacionais. A meta da Aliança é contribuir para o cumprimento dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) até 2030, especialmente os que tratam da erradicação da fome e da pobreza.

“O exemplo brasileiro pode ser adaptado em muitos países ao redor do globo. No Brasil, sair do Mapa da Fome é só o começo. Queremos justiça alimentar, soberania e bem-estar para todos”, afirmou Wellington Dias.

O ministro também destacou que, ao unir políticas públicas eficazes com esforços internacionais, o Brasil reafirma seu compromisso com a Agenda 2030 da ONU, buscando a construção de um mundo mais justo, igualitário e livre da fome.

*Via https://www.brasil247.com/

19 julho 2025

Tornozeleira é pouco - ‘Se fosse um pobre, seria decretada prisão preventiva’, diz especialista sobre medidas contra Bolsonaro

Para Marcelo Neves, professor da UnB, uso de tornozeleira eletrônica é 'suave' diante da gravidade das acusações*


As medidas cautelares determinadas pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), como o uso de tornozeleira eletrônica, recolhimento domiciliar noturno e proibição de uso de redes sociais, são consideradas “suaves” por Marcelo Neves, professor de Direito Público da Universidade de Brasília (UnB).

A decisão foi cumprida pela Polícia Federal nesta sexta-feira (18). Em entrevista ao Conexão BdF, da Rádio Brasil de Fato, o especialista afirma que, diante da gravidade das acusações, haveria elementos suficientes para uma prisão preventiva.

“Eu acho que a decisão é correta, mas poderia ser mais [dura], poderia ser a preventiva”, afirma Neves. Ele explica que o ex-presidente está implicado em crimes como obstrução de investigação, coação no curso do processo, atentado à soberania nacional e abolição violenta do Estado Democrático de Direito.

“Colegas meus, muitos penalistas com quem conversei, acham que se fosse um pobre coitado lá no interior, em Cabrobó, que apresentasse uma coação no curso do processo, com certeza ia ser decretada a preventiva. Ele podia até ser um velhinho com problemas de saúde e ia ser decretada a preventiva”, compara.

Segundo o professor, Moraes se baseou no artigo 282 do Código de Processo Penal, que trata das medidas cautelares alternativas à prisão. A decisão inclui, entre outras restrições, o uso de tornozeleira eletrônica, proibição de sair de casa entre as 19h e as 7h em dias úteis, e integralmente em fins de semana e feriados, além do impedimento de aproximação de embaixadas, de contato com autoridades estrangeiras e com outros investigados no caso da tentativa de golpe de Estado.

Para Neves, as restrições refletem uma preocupação com o risco de fuga e de articulações internacionais. “[Ele pode] pedir asilo na Embaixada dos EUA ou da Hungria, um desses países que hoje têm detentores de poder, que têm tendências autoritárias, como Bolsonaro”, alerta.

Prisão pode ser decretada

O professor destaca que, caso qualquer uma das medidas seja desrespeitada, a prisão preventiva pode ser decretada. “Se Bolsonaro, no horário que ele pode sair de casa, se aproximar da embaixada americana, ele poderá ser preso por descumprir essa [medida]”, indica. “O próprio Alexandre fala: o descumprimento dessas medidas levará à prisão preventiva”, reforça.

Durante as buscas autorizadas pelo STF, a PF encontrou US$ 14 mil em espécie e um pen drive na gaveta de um dos banheiros da casa de Bolsonaro. O ex-presidente não havia declarado possuir valores em espécie em nenhuma de suas campanhas eleitorais.

Sobre o futuro do processo, Neves afirma que, com a apuração da PF, a denúncia segue para o Ministério Público. “Sendo aceita a denúncia pelo Supremo, surge um novo processo penal para averiguar esses crimes novos”, diz. “O Estado de Direito é vagaroso exatamente para garantir os nossos direitos, de qualquer pessoa, por mais condenável que seja”, explica.

Ao comentar a situação do deputado licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), que conspirou contra o Brasil nos Estados Unidos em benefício do pai, Neves avalia que, ao se afastar do mandato e permanecer no exterior, ele pode perder a imunidade parlamentar. “Nesse sentido, me parece que as medidas poderão, quanto a esses crimes atuais, [ser aplicadas mesmo] sem precisar de qualquer decisão do Congresso Nacional”, aponta.

Para ouvir e assistir

O jornal Conexão BdF vai ao ar em duas edições, de segunda a sexta-feira, uma às 9h e outra às 17h, na Rádio Brasil de Fato98.9 FM na Grande São Paulo, com transmissão simultânea também pelo YouTube do Brasil de Fato.

*Fonte: BdF

"Inaceitável", diz Lula sobre "intimidação" e "ameaça" de Trump a ministros do STF

Estados Unidos suspenderam os vistos de Alexandre de Moraes e outros magistrados. Presidente Lula fala em "medida arbitrária"

     Donald Trump e Lula (Foto: Reuters | ABR)

247* - Em nota oficial divulgada neste sábado (19), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) repudiou a decisão do governo dos Estados Unidos de suspender os vistos de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). A medida foi anunciada por Marco Rubio, secretário de Estado da gestão do presidente Donald Trump, e já provocou reações no governo brasileiro. 

Lula expressou solidariedade aos ministros e classificou a decisão como “mais uma medida arbitrária e completamente sem fundamento” por parte do governo norte-americano. “A interferência de um país no sistema de Justiça de outro é inaceitável e fere os princípios básicos do respeito e da soberania entre as nações”, declarou o chefe do Executivo. “Estou certo de que nenhum tipo de intimidação ou ameaça, de quem quer que seja, vai comprometer a mais importante missão dos poderes e instituições nacionais, que é atuar permanentemente na defesa e preservação do Estado Democrático de Direito".

A reação do governo brasileiro ocorre após Rubio, em publicação na rede social X, afirmar que ordenou “a revogação dos vistos de Moraes e seus aliados no tribunal, bem como de seus familiares próximos, com efeito imediato”. Segundo o secretário, o motivo seria o que chamou de “caça às bruxas política” promovida por Moraes contra Jair Bolsonaro (PL), o que, na visão de Rubio, violaria direitos básicos não apenas de brasileiros, mas também de norte-americanos.

Ainda segundo Rubio, Trump teria deixado claro que sua gestão “responsabilizará estrangeiros responsáveis pela censura de expressão protegida nos Estados Unidos”. No início do mês, o republicano anunciou um tarifaço de 50% sobre produtos brasileiros, relacionando a medida diretamente às investigações conduzidas no Brasil sobre a tentativa de golpe de Estado em 8 de janeiro de 2023.

Medidas cautelares e suspeitas de fuga - A ofensiva de Washington acontece após o ministro Alexandre de Moraes determinar novas medidas cautelares contra Jair Bolsonaro, com base em indícios de que o ex-presidente estaria articulando para fugir do país e pressionar autoridades internacionais — entre elas o próprio governo Trump — para que impusessem sanções contra o Brasil.

As providências foram justificadas por evidências levantadas pela Polícia Federal e pela Procuradoria-Geral da República, que expressaram preocupação com uma possível fuga e com gestões internacionais para desestabilizar o funcionamento das instituições brasileiras. Moraes destacou que tanto Bolsonaro quanto seu filho, Eduardo Bolsonaro (PL-SP), radicado nos EUA, estariam implicitamente reconhecendo irregularidades ao buscar ingerência estrangeira em processos judiciais em curso.

Entre as determinações do STF estão: uso obrigatório de tornozeleira eletrônica, toque de recolher noturno e nos finais de semana, proibição de acessar redes sociais, vedação de contato com diplomatas e acusados, além da interdição de frequentar ou se aproximar de embaixadas e consulados. Bolsonaro enfrenta cinco acusações criminais, que incluem formação de quadrilha, danos ao patrimônio público, subversão da ordem constitucional e tentativa de golpe, podendo somar mais de 30 anos de prisão.

Retaliação política e guerra comercial - A escalada da retaliação norte-americana preocupa o Itamaraty e o Planalto, especialmente após o anúncio da elevação de tarifas de importação. Além disso, o Escritório do Representante de Comércio dos EUA (USTR) iniciou uma reavaliação das relações comerciais bilaterais. Em resposta, o governo Lula estuda contramedidas e articula respostas diplomáticas em fóruns multilaterais.

*Via Brasil247

17 julho 2025

Câmara aprova PL da Devastação. Veja quais são os riscos que o Brasil corre

O projeto favorece a impunidade e a degradação ambiental, comprometendo o futuro das próximas gerações, diz nota da CUT*


O chamado "PL da Devastação", oficialmente Projeto de Lei nº 2.159/2021, foi aprovado por volta das três da madrugada, nesta quinta-feira (17) na Câmara dos Deputados, em meio a debates acalorados e pressões de setores interessados na flexibilização das normas ambientais provocando forte reação de ambientalistas, especialistas e representantes de comunidades tradicionais.

O projeto promove mudanças profundas nas regras do licenciamento ambiental, consideradas por muitos como um dos principais pilares da política ambiental brasileira. A análise das novas diretrizes evidencia riscos significativos tanto para o meio ambiente quanto para a população.

Em nota a CUT afirmou: “a proposta ignora os aprendizados trágicos de desastres como os de Mariana e Brumadinho, que causaram mortes, inclusive de trabalhadores da Vale S.A., destruíram comunidades e causaram danos irreparáveis ao meio ambiente”.

Na mesma nota, a Central Única dos Trabalhadores reafirma que “ é inadmissível que, em um momento em que o Brasil se prepara para sediar a COP 30 e se compromete internacionalmente com a redução das emissões de gases de efeito estufa, o Congresso Nacional aprove medidas que caminham na contramão desses compromissos”.

Críticas e alertas

A principal crítica ao PL gira em torno da possibilidade de ampliação do desmatamento, degradação de biomas sensíveis e aumento dos conflitos socioambientais. Ao criar brechas para a realização de obras e atividades sem a devida análise de impacto ambiental, o projeto pode acelerar perdas de biodiversidade, afetar nascentes e cursos d'água, ameaçar terras indígenas e comprometer a qualidade de vida de populações tradicionais e urbanas.

Diversos estudos apontam que o licenciamento ambiental é uma ferramenta essencial para evitar tragédias como rompimentos de barragens, contaminação de aquíferos e disseminação de doenças. Ao flexibilizar ou dispensar esse controle, o PL coloca em risco não apenas o meio ambiente, mas também a saúde pública e a segurança de comunidades inteiras.

Licenciamento ambiental: o que muda

O PL 2.159/2021 muda de forma substancial o processo de licenciamento ambiental. Entre as principais alterações, está a possibilidade de autodeclaração de impacto por parte das empresas, que poderão informar os potenciais efeitos de seus empreendimentos sem uma análise prévia rigorosa por parte dos órgãos de fiscalização. Além disso, o texto amplia o número de atividades isentas de licenciamento, incluindo obras de infraestrutura de pequeno e médio porte, o que pode abrir margem para abusos e dificultar a responsabilização em caso de danos.

Outra mudança relevante é a redução dos prazos para análise dos processos, o que pode pressionar os órgãos ambientais e comprometer a qualidade das avaliações. O enfraquecimento dos mecanismos de participação social e consulta a comunidades afetadas também é motivo de preocupação, pois reduz o controle social sobre decisões com grande impacto coletivo.

Garimpo e atividades extrativistas

O novo texto também traz impactos diretos sobre o garimpo. Ao facilitar o procedimento para obtenção de licenças, o PL pode impulsionar o avanço de atividades de mineração, inclusive em áreas sensíveis como a Amazônia e territórios indígenas. A dispensa ou a simplificação do licenciamento para determinadas modalidades de garimpo pode agravar a degradação ambiental, ampliar conflitos fundiários e colocar em risco a saúde de populações locais, frequentemente expostas à contaminação por mercúrio e outros poluentes.

Próximos passos

Após a aprovação na Câmara, o PL da Devastação segue para análise no Senado Federal. Caso seja aprovado sem alterações, será enviado à sanção do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Diante das diversas manifestações contrárias de setores da sociedade civil, de especialistas e até de órgãos internacionais, cresce a pressão para que Lula vete total ou parcialmente o projeto.

“É lamentável que o Congresso tenha aprovado na madrugada esse projeto, a alternativa que a gente tem, agora, é que possa ser vetado pelo presidente Lula”, disse a secretária de Meio Ambiente da CUT, Rosalina Amorim.

O veto presidencial é uma possibilidade real, tanto pelo compromisso internacional do Brasil com a agenda ambiental quanto pela necessidade de preservar a integridade dos instrumentos de proteção da natureza e das populações vulneráveis.

14 julho 2025

Lutas - Para uma reflexão sobre o PED 2025




Por Cristiano Junta*

1- A pedido da Redação apresento alguns elementos de reflexão para um futuro balanço, com as informações irregulares que dispunha.

2- Em primeiro lugar, falta a votação de Minas Gerais, para um verdadeiro balanço. O PED-MG foi adiada para este domingo dia 13, pelo que entendi, por uma disputa nas cúpulas sobre a regra do depósito do pagamento estatutário, o que levou um dos lados a recorrer à justiça. Mas isso já seria depositar o partido nas mãos da justiça da classe dominante e aí este setor perdeu o grão de razão que podia ter. Em consequência, a deputada federal Dandara (RS, Tribo, MPT e divisão do CNB) ficou fora da disputa pela presidência estadual. Ela tinha uma grande dívida com o PT, é verdade, mas vazou há vários outros parlamentares com dívidas até maiores, mas não candidatos, o que não é motivo para que continuem na sombra.

Estão no pleito em MG o professor Juanito (Virar à Esquerda-DAP), Esdras (avulso independente) e a deputada Leninha (CNB, apoiada pelo resto das tendências com assento no DN).

3- Alguns dados: a totalização (sem MG) apurou 471.089 votos, sendo 434.066 válidos, o que é 50% de votos à mais do que no PED anterior, em 2019 (descontando MG), quando votaram no total 350 mil, sendo 300 mil válidos. A previsão que ouvi entre dirigentes do partido oscilava de 400 e 450 mil. Com a expectativa de entrarem 40 mil votos de MG, domingo, passaríamos para o recorde de 500 mil votos!

O PT estaria tão bem assim?  Não foi o que falaram os candidatos à presidente na campanha, inclusive o vencedor Edinho, candidato de Lula.

Haverá muitos balanços deste PED. Haverá o balanço de Edinho que emplacou 73% dos votos (antes de MG). Rui Falcão estava com 11, 3%, Romênio com 10,7% e Valter Pomar 4,66%. É provável que Edinho e a CNB sejam os maiores beneficiários da onda de votos maior que a prevista.

Haverá também balanços que incluirão o impacto, ao longo período de 2019 para cá, do crescimento do Fundo Partidário para 153 milhões de reais, do grande crescimento do Fundão Eleitoral para 620 milhões de reais distribuídos pela oligarquia dirigente de cima para baixo e, finalmente, da explosão das emendas parlamentares distribuídas pelos próprios, no valor de 50,4 bilhões de reais.

A coisa chegou a um ponto que neste PED houve locais de votação onde assessores parlamentares (profissionais) controlavam o comparecimento baseados na atribuição de emendas na área ou, então, nos adesivos que “carimbavam” o eleitor na fila. Ai de quem não entregasse o comprometido! Embora outras tendências também tenham parlamentares com emendas – eu não vi elas questionar -, é claro que a mais bem relacionada com a cúpula do Congresso e nos Ministérios é a CNB.

O DAP sabia que não tinha, nem pretende ter, condições para disputar em pé-de-igualdade neste terreno.

4- Mas o PT não é só PED. O DAP deve se orgulhar da campanha que fez, na minha opinião, pelos debates e pelas novas relações estabelecidas, e inicia agora um balanço que deve ser cuidadoso e detalhado.

A totalização publicada pela SORG nos atribui 5103 votos, ou 1,18% dos válidos. Com MG podemos superar o total de 6850 votos que tivemos em 2019.

Agora atenção antes de fazermos contas da representação e comparações nas instancias nacionais. Devemos lembrar que a degradação do cenário institucional (Fundão etc.) foi acompanhada da alteração, uma degradação também das regras do PED deste ano. Entre outras mudanças para pior, está a eleição “direta” – sem real discussão entre as centenas de milhares de eleitores – para todos os cargos nacionais.

Ora, em 2019, se elegeram nas urnas delegados aos Encontros Estaduais, os quais elegeram aí os delegados nacionais, que, então, no Encontro Nacional elegeram o Diretório e a Executiva. Foi só assim que o DAP, começando com 2,15% dos 300 mil votos em urna, pode conquistar, pela discussão com algumas centenas de petistas nos Encontros Estaduais, mais delegados no Encontro Nacional, chegando a 2,6%, o que deu um membro na CEN e três no DN.

5- Agora vamos ao que deveria ter começado esta nota, a avaliação política. Ainda vamos discutir nas instâncias do DAP, a rapidíssima evolução da situação do país nas últimas semanas e, pé no chão, o tamanho do seu efeito no PED.

Há dois meses, quando o governo adotou um decreto elevando o IOF, a situação evoluiu para um conflito aberto entre o governo, o Congresso e os capitalistas contrários à medida, de um lado. E de outro lado, houve a elevação da temperatura no julgamento de Bolsonaro e dos generais golpistas no STF. Ficou configurada a resistência à taxação dos super-ricos, ao lado do alinhamento com os bolsonaristas contra o governo. Finalmente, 72 horas depois do PED, veio o ataque imperialista de Trump que terminou de dar uma tonalidade popular antiimperialista à situação.

Constatamos que tudo parece, repetimos parece, ir a desejada “virada à esquerda”, pois se opõe as forças populares que sustentam Lula, à extrema direita vende-pátria e aos setores patronais que temem mais a mobilização popular do que a humilhação nacional e mesmo um certo prejuízo. Esta situação nova não caiu do céu, vinha se preparando de antes das ameaças de Trump. Ou seja, ricos contra pobres, Lula versus reação, “esquerda contra direita”. Uma reflexão necessária é saber como isso influenciou no animo dos petistas no dia 6.

Esta reflexão somado a muitos outros elementos devem ser devidamente pesados e apreciados numa avaliação mais consistente do PED.

*Cristiano Junta, membro da Coordenação Municipal do DAP São Paulo. - Fonte: Diálogo e Ação Petista - DAP

SOBERANIA - ‘Aqui quem manda é a gente’: governo Lula lança vídeo ‘Brasil soberano’ reagindo à taxa Trump-Bolsonaro

Divulgada neste domingo (13), peça publicitária tem símbolos nacionais e diz ‘não mexe com o meu Brasil’

"O Brasil é dos brasileiros e se escreve com S, de Soberania. Nunca seremos Brazil", diz post do governo federal - Sergio Lima/ AFP


O governo Lula (PT) lançou neste domingo (13) um vídeo institucional que integra campanha publicitária em resposta ao anúncio de Donald Trump de imposição de tarifa de 50% sobre produtos brasileiros nos Estados Unidos a partir de 1º de agosto. Sob o mote Brasil soberano, a peça de 30 segundos foi divulgada nas redes sociais e deve ir, nos próximos dias, para a rádio e a TV. 

Mesclando cenas rápidas que fazem referência ao povo brasileiro e a setores do agronegócio – como de um homem negro com um pandeiro, gados em um pasto, maquinário agrário, uma mulher branca com um avental, futebol e cores nacionais sendo pintadas em um rosto – o vídeo foi preparado pela Secretaria de Comunicação Social da Presidência (Secom), sob comando do ministro Sidôneo Palmeira.

“Não mexe com o meu Brasil, viu”, diz sorrindo, uma criança em uma laje. “O Brasil é um país soberano. E um país soberano é um país independente, que respeita suas leis. Um país soberano protege seu povo e sua democracia. Um país soberano não baixa sua cabeça para outros países”, afirma, em off, a narração da peça publicitária.

“Ser contra a nossa soberania é ser contra o Brasil”, afirma o vídeo, se referindo, sem citar, a família Bolsonaro, que se apresenta como articuladora da taxação estadunidense, como forma de chantagem pela anistia aos envolvidos na tentativa de golpe de Estado na virada de 2022 para 2023. “É, my friend, aqui quem manda é a gente”, diz outro trecho da gravação, finalizando com “o Brasil é dos brasileiros”. 

Com os impactos à economia – as exportações aos Estados Unidos representam cerca de 2% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro – e a incoerência com o discurso nacionalista, especialistas ouvidos pelo Brasil de Fato consideram que a retaliação estadunidense pode ter sido um tiro no pé da extrema direita do país.

O Palácio do Planalto, que já vinha em uma campanha de comunicação pela taxação dos super-ricos em resposta à derrubada do Congresso Nacional da proposta de alteração na alíquota do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), ganha mais corpo no discurso de combate a privilégios por justiça tributária.  

Estratégia de comunicação do governo

O governo federal pretende associar a desigualdade social e o desrespeito à soberania econômica e judiciária do país à imagem de Donald Trump, da família Bolsonaro e seus apoiadores. Entre eles, o governador de São Paulo Tarcísio de Freitas (Republicanos), possível candidato à presidência em 2026.  

Sob o comando de um dos estados cujo setor produtivo será dos mais impactados pela tarifa de 50%, Tarcísio afirmou em rede social que “Lula colocou sua ideologia acima da economia, esse é o resultado”. O governador disse, ainda, que “não adianta se esconder atrás do Bolsonaro. A responsabilidade é de quem governa”. Depois, no entanto, resolveu amenizar o tom. Agora, pede o recuo da taxa e fala em “união nacional”. 

A abordagem pública do governo federal sobre o tema começou a ser traçada já na última quarta-feira (9), logo após o anúncio de Trump. Em reunião ministerial, foi descartada que a resposta ficasse apenas por conta do Itamaraty. Seguindo proposta da Secom, a reação ao que foi considerado um ataque às instituições brasileiras seria encabeçada pelo presidente Lula, sem um pronunciamento oficial na TV, mas com entrevistas à imprensa.   

Na próxima semana, uma pesquisa encomendada pelo Palácio do Planalto deve medir a avaliação de Trump entre a população brasileira, para nortear os próximos passos da estratégia de comunicação. 

Assista ao vídeo: