30 janeiro 2024

Abin paralela: havia uma ‘organização criminosa’ sob Bolsonaro, diz Padilha

Ministro afirmou que “ódio” bolsonarista contaminou várias instituições civis e militares. Bolsonaro assume que era “comum” pedir informações a órgãos do governo a partir de “vínculo de amizade”

Padilha relacionou investigação da "Abin paralela" à tentativa de golpe de 8 de janeiro

São Paulo – RBA* - O ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, afirmou nesta segunda-feira (29) que as investigações envolvendo a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) indicam que havia uma “organização criminosa” operando a partir do Palácio do Planalto, durante o governo de Jair Bolsonaro (PL). Assim, Padilha foi o primeiro ministro a comentar a nova fase da Operação Vigilância Aproximada, da Polícia Federal (PF), que apura esquema de espionagem ilegal na Abin, a chamada Abin paralela. Ele falou com jornalistas após reunião no Ministério da Fazenda.

Hoje a PF cumpriu mandados de busca e apreensão contra o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos). As investigações apontam que o filho do presidente integrava o “núcleo político” do esquema de espionagem ilegal. No entanto, quando os policiais chegaram na casa de praia da família, em Angra dos Reis, Bolsonaro e os filhos estavam passeando de lancha e jet ski.

“As novas operações da Polícia Federal vêm mostrando que a cena do crime do dia 8 de Janeiro, que não era um crime isolado, continua trazendo novidades. A organização criminosa tinha tentáculos em várias instituições. Inclusive utilizando mecanismos paralelos, como é o caso dessa ‘Abin paralela’ que foi criada por essa organização criminosa do governo anterior”, disse Padilha.

Questionado sobre eventual “pente fino” na Abin, Padilha afirmou que os “processos de apuração” não se restringem à agência de inteligência. Segundo ele, envolvem todos os órgãos, “sejam civis ou militares”.

“E nós não descansaremos enquanto todos aqueles envolvidos com os crimes preparatórios do dia 8 de janeiro e o próprio 8 de janeiro sejam devidamente apurados, punidos”, disse o ministro.

Nesse sentido, disse que “o clima e o ódio” semeados durante o governo anterior contaminaram várias instituições civis e militares. “A apuração sobre o envolvimento individual em todas as instituições tem que continuar”, frisou.

Bolsonaro reage

Em entrevista à CNN Brasil, Bolsonaro disse que “desconhece” qualquer pedido ilegal de informações por parte de seus filhos para Alexandre Ramagem, ex-diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência (Abin).

A PF, entretanto, suspeita que Carlos Bolsonaro usava assessores para solicitar informações de forma ilegal. Em uma das mensagens obtidas pelos investigadores, uma das assessoras de Carlos entra em contato com uma assessora da Ramagem para solicitar “ajuda” da “Abin paralela”. Ela solicitou informações sobre as investigações contra Jair Bolsonaro e seus filhos.

“Jamais, no meu entender, um filho meu faria uma solicitação dessa. E, se por ventura fizesse, pode ter certeza que seria prontamente rechaçado pelo delegado Ramagem. Investiguem, vão a fundo”, disse Bolsonaro. Nesse sentido, disse que as pessoas que escolheu para a Abin eram “isentas”. E portanto rejeitariam qualquer pedido desse tipo.

Por outro lado, disse que que “era comum” pedir informações para órgãos do governo, a partir de “um certo vínculo de amizade”. “Há uma amizade do Ramagem conosco. Tanto é que o senhor Alexandre de Moraes (ministro do Supremo Tribunal Federal) não permitiu que ele assumisse a Abin por ter uma certa relação de amizade conosco”, afirmou Bolsonaro.

O presidente disse ainda que seu filho Carlos vai prestar depoimento à PF nesta terça-feira (30). A defesa do vereador, no entanto, disse que o depoimento não se refere à operação desta segunda. Segundo o advogado Antonio Carlos Fonseca, a oitiva foi marcada há algumas semanas e se refere a uma publicação feita por Carlos em agosto do ano passado. O inquérito também está em segredo de Justiça.

*Via Rede Brasil Atual

28 janeiro 2024

REFORMA AGRÁRIA - MST celebra 40 anos em ato político com presença de ministros e lideranças partidárias e populares

Celebração reuniu cerca de mil pessoas em ato político na Escola Nacional Florestan Fernandes, em Guararema (SP)

Ato político celebrou os 40 anos do MST na Escola Nacional Florestan Fernandes - Fotos: Priscila Ramos / MST

Neste sábado (27), o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) realizou um ato político em celebração aos seus 40 anos, na Escola Nacional Florestan Fernandes, em Guararema (SP). O movimento popular camponês está organizado em 24 estados do país, com 185 cooperativas, 120 agroindústrias e cerca de 400 mil famílias assentadas.

Durante a celebração, o movimento lançou uma carta aberta ao povo brasileiro. O documento cita várias medidas para combater a fome, estimular a produção de alimentos saudáveis, educação, cultura, combater as violências e levar mais vida ao campo.

O ato contou com a presença de aproximadamente mil pessoas. Estiveram presentes, inclusive os ministros Silvio Almeida, dos Direitos Humanos; Márcio Macêdo, da Secretaria-Geral da Presidência; Paulo Teixeira, do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar; e Luiz Marinho, do Trabalho.

"O MST ensina que nós não podemos cair na ilusão de separar o conhecimento da prática", comentou o ministro Silvio Almeida. "Nós estamos fazendo essa celebração dentro de uma escola. Não se faz revolução sem ciência. O MST tem feito política de direitos humanos há muito tempo", disse Almeida.

O ministro da Agricultura, Paulo Teixeira destacou que o MST "escreve a história do Brasil ao atuar com os mais pobres e organizá-los para lutar pela reforma agrária e produzir alimentos saudáveis. O movimento tem uma enorme expressão como modelo de organização de luta pela terra".

Também participam da cerimônia representantes do cônsul de Cuba, Benício Pérez, movimentos populares e partidos políticos de todo o país.

José Dirceu, ex-ministro da Casa Civil, disse que a luta do MST é uma luta pedagógica. "Nos ensina e mais do que isso, nos convoca e nos alinha a uma direção. O MST tem empurrado as nossas forças políticas e tem nos alertado sobre os desafios que temos pela frente", analisa.

Coletiva sobre os 40 anos do MST

Antes do ato político foi realizada uma coletiva sobre os 40 anos do MST, com Ceres Hadich, da direção nacional e Jaime Amorim, da coordenação nacional do movimento. “Apesar da direita e de parte da imprensa nos chamarem de invasores, na verdade é o contrário. Quem sempre invade é o latifúndio", disse Jaime Amorim.

Amorim também afirma que o movimento irá lançar candidaturas no próximo ano. “Precisamos ter representantes nas câmaras municipais e fazer a disputa com o fundamentalismo evangélico nos municípios.” Um dos nomes já sedimentados para enfrentar a disputa municipal é o de Rosa Amorim para a Prefeitura de Caruaru, em Pernambuco. Hoje, Amorim é deputada pelo PT no estado. 

"A luta pela terra, a luta pela reforma agrária transcende gerações. Ela não nasceu com o MST. A gente é herdeiro de uma luta histórica que tem mais de 500 anos no Brasil", comentou Ceres Hadich, da direção nacional do movimento. 

*Edição: Vivian Virissimo - Via Brasil de Fato e RBA

27 janeiro 2024

Não basta investigar “israel” por genocídio; é preciso parar o genocídio!


Por Federação Árabe Palestina do Brasil - FEPAL*

A humanidade teve hoje um dia histórico. Primeiro porque “israel”, um modelo de colonialismo baseado na limpeza étnica, apartheid, genocídio e em supremacismo etnorreligioso (judaico, no caso), começa a ser julgado pelo crime de genocídio na Palestina. E em segundo lugar porque a Corte Internacional de Justiça, ao aplicar o Direito Internacional à Palestina, pode estar dando início ao fim do extermínio do povo palestino, que já dura 76 anos, conduzindo à restauração de seus direitos nacionais, civis e humanitários, dentre eles o retorno dos 6,2 milhões de refugiados, resultado do genocídio de que se fez “israel”, cometido entre 1947 e 1951, a Nakba (catástrofe).

Com placares de 15 contra 2 e 15 contra 1, a CIJ considerou plausíveis as alegações de genocídio apresentadas pela África do Sul. Relatórios e pronunciamentos de funcionários da ONU indicando o genocídio em curso, bem como declarações de dirigentes israelenses, civis e militares, com ordens e incitamento a práticas genocidas, foram a base de convencimento dos juízes da CIJ.

A CIJ afirmou que os palestinos constituem “um ‘grupo nacional, étnico, racial ou religioso’ distinto e, portanto, um grupo protegido na acepção do Artigo II da Convenção sobre o Genocídio”, o que a levou a determinar que “israel” e seus militares parem de:

  1. a) Matar membros do grupo;
  2. b) Causar sérios danos físicos ou mentais a membros do grupo;

c) Infligir deliberadamente ao grupo condições de vida calculadas para provocar a sua destruição física, total ou parcial; e

d) Impor medidas destinadas a prevenir nascimentos dentro do grupo.

Mandou, ainda, que os militares “israelenses” não cometam mais estes atos e que “israel” adote ações “para prevenir e punir o incidente direto e público que comete genocídio em relação a membros do grupo palestino em Gaza”, assim como que permitam a chegada de assistência humanitária à população palestina da Faixa de Gaza.

E para que a investigação não seja prejudicada, a CIJ determinou que “israel” preserve as provas relacionadas ao crime de genocídio, além de apresentar, em 30 dias, relatório que demonstre a aplicação de todas estas medidas.

É, portanto, claro que a CIJ aceitou investigar o crime de genocídio de “israel” na Palestina. Isso não é pouco e deve ser comemorado.

Mas para que alcancemos os efeitos desejados, é preciso que a ONU e a Comunidade Internacional, a cidadania global somada, façam “israel” curvar-se a esta decisão, ao Direito Internacional e às resoluções da ONU para a Palestina. Não basta uma vitória meramente moral, em que “israel” não sofra consequências reais. Por isso as mobilizações e denúncias não devem parar. Ao contrário, o mundo deve se mobilizar ainda mais para fazer parar o genocídio agora reconhecido.

Se “israel” está sob investigação de genocídio, seus estado e governo não podem ser tratados como se normais fossem. Devem, desde já, sofrer as consequências. Sanções, boicote e desinvestimento devem ser dirigidos a “israel”, como foram contra a África do Sul do Apartheid.

Neste sentido, o Brasil deve suspender os acordos de cooperação com “israel”, especialmente aqueles diretamente determinantes da ocupação e do genocídio do povo palestino, como militar, de segurança e de tecnologia. O acordo de livre comércio entre o Mercosul e “israel” também deve ser suspenso e investigado, pois a cláusula que impede o ingresso de produtos israelenses oriundos de assentamentos ilegais em territórios palestinos ocupados não é respeitada.

Não basta declarar “israel” um regime genocida; é preciso desde já tratá-lo como tal. “israel”, como estado e regime pária, deve sofrer as consequências de seus atos, pelo menos enquanto durarem suas ações genocidas na Palestina.

Quanto ao mundo e os palestinos, celebramos a decisão da CIJ. Já “israel” e seu patrão, os EUA, verdadeiros executores do genocídio palestino, devem se preparar para pagar por seus crimes de lesa-humanidade.

Fim do genocídio palestino já!  

Palestina livre do genocídio a partir do Brasil, 26 de janeiro de 2024, 76° ano da Nakba.

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-Confira a íntegra da decisão em português clicando AQUI

*Via Fepal 

22 janeiro 2024

MST completa 40 anos de lutas em defesa da Reforma Agrária nesta segunda-feira (22)

Estão previstas atividades comemorativas nas cinco regiões do país durante toda a semana

Marcha Nacional 2005. Foto: Leonardo Prado


Por Wesley Lima*

Da Página do MST


O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) completa, nesta segunda-feira (22), 40 anos de existência, a partir da luta em defesa da terra, da reforma agrária e da transformação da sociedade. A data foi marcada pela realização do 1º Encontro Nacional, em Cascavel, no estado do Paraná, em 1984.


O Encontro contou com a presença de posseiros, atingidos por barragens, migrantes, meeiros, parceiros, pequenos agricultores, entre outros atores políticos. E foram eles que fundaram o Movimento, após a primeira ocupação de terra ocorrida no ano anterior na Encruzilhada Natalino. 


Para celebrar essa data, trabalhadores rurais Sem Terra de todo o Brasil estão mobilizados nas áreas de assentamentos e acampamentos realizando um conjunto de atividades, como o plantio de árvores, criação de bosques, atividades pedagógicas nas escolas do campo recuperando a memória e história de luta, além de eventos festivos com música e mística.


De acordo com Rosmeri Witcel, da direção nacional do MST, a celebração das quatro décadas de existência tem o sentido de revisitar a memória, mas também de festejar e comemorar a existência, inclusive as lutas pela terra que antecedem o Movimento.


“Para nós é importante comemorar porque nesses 40 anos fomos aprendendo com nossa própria história, temos métodos de luta, princípios organizativos e buscamos o cultivo de valores humanistas. Celebrar nos traz ainda mais o desafio de continuarmos preservando a natureza, a terra e a diversidade como sinal da vida. Celebrar o aniversário tem o significado de estarmos vivos, cultivando a luta, valores humanistas e produzindo alimentos saudáveis para alimentar muitos povos”, afirma Witcel.


Marcha Nacional 2005. Foto: Leonardo Prado


Conquistas

Atualmente o Movimento Sem Terra está organizado em 24 estados e conta com 400 mil famílias assentadas e cerca de 70 mil famílias acampadas. Nas áreas, o Movimento organiza mais de 1.900 associações, 185 cooperativas e 120 agroindústrias que atuam na produção, beneficiamento e comercialização da produção da Reforma Agrária Popular.


A nível nacional, o MST constrói pelo menos 15 cadeias produtivas principais, onde mais de 1700 itens são comercializados em feiras, nos armazéns do campo, supermercados e distribuídos nas escolas públicas, hospitais e nas ações de solidariedade do Movimento.


No ponto de vista da solidariedade, que sempre foi um princípio para o Movimento desde a sua fundação, as ações começaram a ser contabilizadas de maneira organizada durante a pandemia da Covid-19. Desde 2020 o Movimento já doou 9,8 mil toneladas de alimentos e 2,7 milhões de marmitas em todo o país.


No âmbito da solidariedade internacionalista, ao longo dos últimos meses, o movimento já doou 13 toneladas de alimentos às vítimas da crise humanitária na Faixa de Gaza, e pretende enviar um total de 100 toneladas de alimentos.


Em resposta à crise ambiental sofrida no mundo, o Movimento lançou também em 2020 o Plano Nacional “Plantar Árvores, Produzir Alimentos Saudáveis” com o objetivo de plantar 100 milhões de árvores em dez anos. Ao longo destes últimos quatro anos, o MST já realizou o plantio de 25 milhões de árvores e construiu um conjunto de ações em defesa do meio ambiente.


No marco dos 40 anos do MST, as milhares de árvores plantadas atuam na recuperação ambiental de 15 mil hectares de terra nos seis biomas brasileiros. A área plantada equivale a 22 mil campos de futebol.


A educação, desde o início do Movimento, tem atuado com centralidade. Por isso, que o MST já alfabetizou mais de 100 mil jovens e adultos no campo; ajudou a construir mais de 2 mil escolas públicas em acampamentos e assentamentos; garantiu que mais de 200 mil crianças, adolescentes, jovens e adultos com acessassem à educação; tem 2 mil estudantes em cursos técnicos e superiores; e organizou mais de 100 cursos de graduação em parceria com universidades públicas por todo o país, através do Programa Nacional de Educação nas Áreas de Reforma Agrária (Pronera).


*Editado por Fernanda Alcântara

-Fonte: https://mst.org.br/

PERIGOS DO ASFALTAMENTO EXCESSIVO EM NOSSAS RUAS E ESTRADAS – PARTE II

 


Coluna Crítica & Autocrítica - nº 225


Por Júlio Garcia**

*SOBRE OS PERIGOS DO ASFALTAMENTO EXCESSIVO EM NOSSAS RUAS E ESTRADAS – PARTE II - A Coluna reproduz a segunda parte deste importante estudo (oriundo do site e-Cycle) sobre esse tema que, com certeza -  conforme enfatizamos na edição anterior -, “preocupa cada vez mais as pessoas minimamente comprometidas não somente com as questões ecológicas/ambientais, mas também com a saúde e a segurança da população (bem como dos animais urbanos e da nossa fauna silvestre), sendo que Santiago e Região não se constituem em exceção”.

Asfalto em demasia, como é sabido por grande parte da população (talvez ainda não pelas ditas ‘autoridades’ municipais, uma vez que essas insistem muitas vezes em pavimentar – desnecessariamente – ruas bem calçadas com paralelepípedos regulares, jogando não raramente asfalto por cima dos mesmos e, assim, também jogando fora o dinheiro público!), polui, alaga ruas e calçadas, contribui para o aumento da velocidade dos veículos, ajudando a causar acidentes e atropelamentos. Hora de refletir responsavelmente sobre isso.

“Existe asfalto ecológico? Quais são as alternativas? - Tendo em vista os impactos ambientais do asfalto, cientistas seguem investigando materiais alternativos para tornar o processo de produção e aplicação mais sustentável.

Pneus e entulho - Uma equipe de engenheiros na Austrália apresentou uma receita feita com pneus descartados e entulho de construção. É a primeira receita a apresentar uma mistura de borracha e entulho e oferece mais flexibilidade do que os materiais convencionais, sendo provavelmente menos sujeito a rachaduras e, ao mesmo tempo, mais ecológico.

Borra de café - Pesquisadores da Swinburne University usaram borra de café como parte de um material de construção de estradas mais sustentáveis, além de outros materiais reciclados, como tijolos quebrados, vidro e concreto. A equipe do projeto uniu borra de café com um produto residual da fabricação de aço, chamado escória, e uma solução alcalina líquida para unir tudo. O resultado foram blocos cilíndricos robustos o suficiente para serem utilizados abaixo da superfície da estrada.

Máscaras cirúrgicas - Em outra pesquisa, cientistas da Universidade RMIT da Austrália utilizaram itens de lixo, como bitucas de cigarro, pneus descartados, entulho de construção e máscaras cirúrgicas para criarem materiais rodoviários de alto desempenho. A equipe experimentou diferentes receitas para produzir agregado de concreto reciclado. Quando adicionaram um por cento de máscara facial retalhada obtiveram um resultado mais dúctil e flexível. Se esse material fosse usado para uma estrada de duas pistas de um quilômetro poderiam evitar que 93 toneladas de lixo fossem para os aterros sanitários.

Cordas - Uma equipe de pesquisadores na Suíça investigou o uso de cordas cuidadosamente colocadas por braços robóticos para unir asfalto no lugar de betume prejudicial ao meio ambiente. É a primeira vez que utilizam métodos de construção digitalizados. Nesse projeto, em vez de usarem concreto para unir as pedras soltas, o cascalho foi entrelaçado com um fio que mantinha toda a estrutura no lugar. É um experimento inicial, mas os pesquisadores planejam realizar mais testes e obter um pavimento reciclável para o futuro.

Sobras de concreto - Em 2020, a Sabesp anunciou uma usina de reciclagem para produzir asfalto. A matéria-prima são sobras das obras, como pedaços de asfalto, concreto e sarjeta. O asfalto será produzido a partir da técnica que utiliza injeção de ar e de água sob pressão no cimento asfáltico aquecido, resultando em um asfalto espumado que dá mais flexibilidade ao pavimento.”

...

**Júlio César Schmitt Garcia é Advogado, Pós-Graduado em Direito do Estado, Consultor, ecologista, dirigente político (um dos fundadores do PT e da CUT), 'poeta bissexto', articulista e midioativista. - Coluna originalmente publicada no Jornal A Folha (do qual é Colunista, que circula em Santiago/RS e Região) em 12/01/2024. 

- Via Blog O Boqueirão Online

21 janeiro 2024

VIDA INTERROMPIDA - Caso da venezuelana Julieta Hernández alerta sobre aumento de casos de feminicídio no Brasil

Dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública apontam que no 1º semestre de 2023 ocorreram 722 feminicídios no país

Artista venezuelana viajava sozinha de bicicleta realizando apresentações circenses pelo país - Foto: @utopiamaceradaenchocolate.

Há uma semana, bicicletadas em memória à artista circense, cicloviajante e bonequeira Julieta Hernández, de 38 anos, vítima de feminicídio em dezembro do ano passado no município de Presidente Figueiredo, no interior do Amazonas, aconteciam por cidades em todo o Brasil e também no exterior. Além dos pedidos de justiça, os atos denunciaram o machismo estrutural e a violência contra a mulher que segue em números alarmantes pelo território nacional. 

Dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública apontam que no primeiro semestre de 2023, 722 mulheres foram vítimas de feminicídio no Brasil, um crescimento de 2,6% comparado com o ano anterior. O levantamento destaca ainda que 34.428 casos de estupro e estupro de vulnerável de meninas e mulheres foram registrados no mesmo período, um aumento de 16,3% em relação a 2022.

O caso de Julieta entra para as estatísticas como símbolo de um país em que o direito de existir plenamente enquanto mulher segue violado. (...)

*CLIQUE AQUI para ler, na íntegra, a matéria assinada pela jornalista Jaqueline Deister, do site Brasil de Fato.

15 janeiro 2024

REVOLUCIONÁRIA - Rosa Luxemburgo: pensamento da filósofa marxista segue atual mesmo após 105 anos de sua morte

Da exploração da terra à expulsão de povos dos territórios, filósofa denunciava barbárie presente até hoje na sociedade


Rosa Luxemburgo discursa no Congresso Socialista Internacional em Stuttgart, no ano de 1907 - © Fundação Rosa Luxemburgo

Por Nara Lacerda*

Poucos meses antes de sua morte (em 15 de janeiro de 1919), a filósofa e economista marxista Rosa Luxemburgo publicou um artigo no jornal alemão Die Rote Fahne (A Bandeira Vermelha) em que pedia uma reforma do sistema judicial e chamava atenção especialmente para as condições prisionais. O tema, atualíssimo em diversas partes do mundo, inclusive no Brasil, foi abordado por ela há mais de 100 anos, em novembro de 1918. Alguns dias antes da publicação, Rosa Luxemburgo havia sido libertada de um longo período presa pela defesa do socialismo e de trabalhadores e trabalhadoras. 

“Agora estão todos em liberdade. Estamos novamente em fila, prontos para o combate. (…) Contudo, outra categoria de habitantes infelizes desses edifícios lúgubres foi completamente esquecida. Ninguém pensou até agora nos milhares de figuras pálidas e macilentas que definham anos a fio atrás dos muros de prisões e penitenciárias expiando crimes comuns”, escreveu. 

No mesmo texto, Rosa Luxemburgo afirma que o sistema penal alemão estava “profundamente impregnado de um brutal espírito de classe e da barbárie do capitalismo”. Não foi a primeira vez que a pensadora relacionou a violência à essência e à própria sobrevivência do capitalismo e tocou em pontos que dialogam diretamente com os dias de hoje. Ela considerava que a guerra era inseparável do regime de acumulação de capital, assim como a invasão e aniquilação de povos, expressa no colonialismo e na exploração de recursos em países com menor poder econômico. 

Em entrevista ao Brasil de Fato, Isabel Loureiro, professora aposentada do Departamento de Filosofia da Universidade Estadual Paulista e colaboradora da Fundação Rosa Luxemburgo, aponta que essa percepção é um dos pontos mais atuais do pensamento da filósofa. “A grande atualidade dela está nesta análise que ela faz no livro 'Acumulação do Capital' de que, assim como a guerra é inerente ao capitalismo, a anexação de território também é. A busca por colônias e o colonialismo fazem parte do capitalismo”.  

A pensadora marxista também apontava que, para continuar se desenvolvendo, o capitalismo precisaria criar mercados em outras nações. No contexto da época, Luxemburgo citava a colonização dos Estados Unidos, a dominação de países no continente africano e o controle de territórios na China, nos séculos 18, 19 e 20. Mas essa análise também conversa profundamente com a atualidade e ainda pode ser vista no poder que os países do Norte Global exercem sobre as decisões internacionais, os conflitos e as guerras. 

“É extremamente convincente e extremamente atual. Inclusive ela diz que o que Karl Marx chamava de acumulação primitiva, e a violência inerente à acumulação primitiva, continuava”, ressalta Isabel Loureiro. A professora conta que, em 2005, o antropólogo e geógrafo britânico David Harvey revisitou esse pensamento no livro O Novo Imperialismo, em que usa o termo acumulação por despossessão ou por expropriação. 

Loureiro aponta esse como mais um elemento do pensamento de Rosa Luxemburgo que se expressa na realidade até hoje, mais de um século após a morte da filósofa. “Podemos até dar outra palavra, mas essa relação de opressão entre a metrópole e a periferia, o sul global e o norte global – como é a terminologia usada hoje – continua presente. Com elementos novos, o velho colonialismo continua presente.” 

Como exemplos, a professora traz questões que estão colocadas na ordem do dia para garantia do futuro da própria humanidade e do planeta. “A anexação territorial das mais variadas maneiras, para explorar elementos da natureza em territórios, a mineração, a floresta abatida para ser substituída para criar gado. E tem o colonialismo interno. Se pensarmos no caso do Brasil, como se trata a Amazônia, o Cerrado, os povos ancestrais.” 

Rosa Luxemburgo nasceu no ano de 1871 em uma família judia, na região da Polônia que era dominada pelo império czarista (monarcas da Rússia). Ela conviveu com a violência cotidiana de um regime sem direitos a trabalhadores e trabalhadoras, sem liberdade de imprensa e religião e sem garantias de direitos básicos. Na infância, não podia falar o idioma nativo na escola e presenciou ataques violentos contra a comunidade judaica, pautados pelo antissemitismo. 

Ainda na adolescência, se juntou à luta dos trabalhadores e trabalhadoras no Partido Proletário. Defensora incondicional da democracia, considerava que qualquer mudança ou revolução só ocorreriam com protagonismo popular. Foi presa diversas vezes, a última delas na Alemanha, em 1915, durante a Primeira Guerra Mundial. Após o fim do conflito, Rosa Luxemburgo foi solta, mas era considerada um risco. Foi perseguida por milícias e alvo de uma rede de espionagem com a conivência de membros do Partido Social Democrata. Rosa tinha sido integrante do partido, mas se desfiliou após a legenda apoiar a participação da Alemanha na Primeira Guerra.

A caçada terminou com o assassinato da filósofa, em 1919, gestado e executado por personagens que iriam integrar o regime nazista posteriormente. “Os assassinos foram considerados heróis e, mesmo depois da Segunda Guerra Mundial, não foram incomodados”, conta Isabel Loureiro. 

Nos últimos anos em que esteve presa, Rosa Luxemburgo escreveu diversas cartas. Nos textos falava de temas do cotidiano do cárcere e também de assuntos que estudava, que não se limitavam à política. Por décadas, ela catalogou centenas de plantas e guardava o inventário botânico na prisão, com exemplares preservados das espécies. O interesse pela natureza está expresso em uma das cartas, endereçada à amiga Sophie Liebknecht, em que Rosa Luxemburgo descrevia especial gosto pela leitura de obras sobre ciências naturais, geografia das plantas e dos animais.  

“Ontem eu estava justamente lendo sobre as causas do desaparecimento das aves canoras na Alemanha: é o crescente cultivo racional dos bosques, dos jardins e da lavoura que lhes destrói pouco a pouco as condições naturais de nidificação e alimentação: árvores ocas, florestas virgens, matagais, folhas murchas no chão dos jardins. Doeu-me tanto ler isso. Não pelo que o canto significa para as pessoas, foi a imagem da silenciosa, incontível decadência dessas pequenas criaturas indefesas que me provocou tanta dor ao ponto de me fazer chorar”. 

No mesmo trecho, ela faz uma conexão, ao mesmo tempo objetiva e profunda, com o extermínio de povos originários nas colônias, citando o exemplo das comunidades indígenas dizimadas no território invadido pela Inglaterra e que viria a se tornar os Estados Unidos.

“Exatamente da mesma maneira foram eles expulsos pouco a pouco de sua terra pelos homens civilizados e entregues a uma decadência muda, cruel. Mas é claro que devo estar doente para que tudo me abale tão profundamente. Ou então, sabe de uma coisa? Tenho às vezes a sensação de não ser verdadeiramente um ser humano, e sim algum pássaro ou outro animal em forma humana malograda”.

*Edição: Raquel Setz - Via Brasil de Fato