29 março 2022

Contra o Golpe e atuais genocídios, Caminhada do Silêncio faz ato neste 31 de Março

"A partir do pacto do governo brasileiro com esses agentes da ditadura, violência seguiu sendo perpetrada", conta Eugênia Gonzaga

         Foto: Movimento Vozes do Silêncio

Por Patrícia Faermann*

Contra o Golpe de 64, pela memória dos mortos e desaparecidos políticos da ditadura e do genocídio de Estado atual, incluindo os mortos de Covid-19, pela revisão da Lei da Anistia e pela democracia, o Movimento Vozes do Silêncio realiza a II Caminhada do Silêncio, neste 31 de março, em São Paulo.

O ato, realizado no parque Ibirapuera, a partir das 17h, este ano terá como bandeira não somente a memória pelos crimes cometidos durante a ditadura do regime militar brasileiro (1964-1985), como também as vítimas da violência de Estado.

“A Caminhada do Silêncio pretende reiterar as pautas anteriores, #DitaduraNuncaMais, a do ano passado, #ReinterpretaJáSTF, pela democracia, só que neste ano a nossa intenção é nomear as vítimas dos vários grupos de pessoas mais vulneráveis e constantemente atacadas pelo Estado brasileiro, inclusive as mais recentes, que são as vítimas de Covid-19″, afirmou a procuradora Eugênia Gonzaga.

São vítimas do atual genocídio do Estado os mortos da pandemia pela má gestão sanitária no Brasil, a população indígena, LGBTQIA+, a juventude negra, além da política de higienização e violência contra a população em situação de rua.

A procuradora regional já atuou na Procuradora Federal dos Direitos do Cidadão (PFDC) e presidiu a Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos até 2019, quando foi demitida por Jair Bolsonaro, e foi uma das idealizadoras da Caminhada.

Ela conta que quando a primeira Caminhada do Silêncio foi realizada em 2019, início de governo Bolsonaro, a proposta ganhou ainda mais força. “O fato de estarmos vivendo naquela situação do governo Bolsonaro, o ataque às instituições, à democracia, com certeza, fortaleceu a ideia de se fazer a Caminhada.”

No ano passado, a data foi considerada uma “comemoração” pelo atual governo. Com as incisivas posturas, Eugênia indica a importância ainda maior do ato nesta quinta.

“Esse é o contexto de se fazer em 31 de março, porque a gente vê essa data do início da ditadura militar no Brasil como representativo das maiores violências já perpetradas nesse país e que, a partir da impunidade, do pacto do governo brasileiro com esses agentes da ditadura, esse tipo de violência seguiu sendo perpetrada.”

Em 2021, a Ordem do Dia, texto oficial assinado pelo Ministério da Defesa, praticava uma tentativa de revisionismo histórico, chamando o 31 de Março de “movimento” que interrompeu a suposta “escalada conflitiva” do país e que as “Forças Armadas acabaram assumindo a responsabilidade de pacificar o País”, ignorando todos os crimes, mortes e torturas praticados pelos militares durante a ditadura.

“Não há o que se comemorar no 31 de março. Tem que ser lembrado para que não se esqueça, para que não se repita”, afirmou a procuradora. “E a certeza de impunidade inspira, dá ânimo aos agentes para continuarem praticando.”

“É uma lógica que a gente precisa inverter nesse país. E o que podemos fazer são atos desse tipo, aprimorar a educação em direitos humanos na escola, e obviamente a gente conta muito com a mídia para tudo isso”, completou.

*Fonte: Jornal GGN

Deputados Pimenta e Valdeci, do PT/RS, estiveram visitando Santiago/RS e Região

 


Neste domingo, 27/03, estiveram visitando Santiago e Região o Deputado  Federal Paulo Pimenta (Presidente do Partido dos Trabalhadores do RS) e  o Deputado Estadual Valdeci Oliveira (Presidente da Assembleia Legislativa do RS).

A reunião em Santiago ocorreu no período da  tarde (15,30h) no plenário da Câmara Municipal de Vereadores, que esteve praticamente lotada por militantes, filiados e simpatizantes do PT, bem como de movimentos sociais e sindicais. Compuseram a Mesa dos trabalhos, além dos Deputados Pimenta e Valdeci, o Coordenador da Regional Vale do Jaguari do PT/RS, Sidi Santos, a advogada e ex-vereadora Iara Castiel e o advogado e midioativista Júlio Garcia, Presidente do PT de Santiago/RS. 



Os principais assuntos destacados pelos integrantes da Mesa, especialmente pelos deputados petistas, além da pré-candidatura do ex-Presidente Lula à Presidência da República e do Deputado Estadual Edegar Pretto ao governo do RS,  foi o delicado momento atual vivenciado no Estado e no País, onde os desmandos, os ataques aos trabalhadores e suas conquistas históricas, somados ao autoritarismo e às crescentes   manifestações de ódio e violência proferidas por integrantes do governo Bolsonaro e seus apoiadores da extrema-direita fazem coro com a miséria, o desemprego e a fome que atingem hoje milhões de brasileiros - e da necessidade do PT e demais setores democráticos da sociedade enfrentarem e derrotarem os mesmos, tanto no dia-a-dia de suas lutas como também  nas eleições gerais que ocorrerão neste ano, no Estado e no País. Por conseguinte, enfatizaram os oradores - sob o aplauso dos presentes -, a organização do PT "nas bases" e a construção dos Comitês de Luta (que também organizarão o apoio às  campanhas majoritárias e proporcionais do PT), principalmente  nas periferias,  é a grande prioridade dos petistas desde já.


Após a reunião em Santiago os deputados e suas assessorias (que pela manhã já tinham estado em São Francisco de Assis)  dirigiram-se para o município do Itacurubi e, após, para São Borja, onde realizaram reuniões semelhantes. 


*Fotos: Assessoria dos Deputados Pimenta e Valdeci

**Via Blog O Boqueirão Online

28 março 2022

Eduardo Leite (PSDB) renuncia ao cargo de governador do Rio Grande do Sul

Em discurso em tom eleitoral, Leite disse que permanece no PSDB e deve esquentar a discussão sobre a candidatura presidencial tucana

Eduardo Leite (PSDB) renuncia ao cargo de governador do Rio Grande do Sul (Foto: Reprodução/Youtube)

247* - O governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), anunciou na tarde desta segunda-feira (28) sua renúncia ao cargo. Anúncio foi feito em vídeo. 

Em seu discurso feito em vídeo, Leite fala que sua renúncia se dá no contexto de uma "construção nacional" e não fala sobre disputar uma candidatura presidencial. Em tom pré-candidato, ele afirmou que deve rodar o país para ouvir e acompanhar de decisões do PSDB.

“A renúncia abre muitas possibilidades e não me retira nenhuma”, afirmou Leite, segundo o Estado de S. Paulo. "Renunciar ao mandante me abre possibilidades, todas elas, então é neste momento que eu me abro para me apresentar e ser onde mais possa dar minha contribuição", acrescentou. O vice, Ranolfo Vieira Júnior (PSDB), deve assumir o posto na próxima quinta-feira (31).

O governador Eduardo Leite foi derrotado pelo governo de São Paulo, João Doria, nas prévias do PSDB para a candidatura presidencial do partido. Segundo a pesquisa Datafolha mais recente, João Doria tem 2% de intenções de voto, enquanto Eduardo Leite tem 1%. 

*Via https://www.brasil247.com/

25 março 2022

'Cansei de mim' (Kakay*)

“Estou hoje vencido, como se soubesse a verdade. Estou hoje lúcido, como se estivesse para morrer.” Fernando Pessoa, poema Tabacaria



*Por Antônio Carlos de Almeida Castro, Kakay


Cansei-me da elite brasileira! E eu sou parte dela. Cansei de mim.

Branco, com acesso aos Poderes, formado pela UnB e com mais condições de vida do que a absoluta maioria da população. Mas, que coisa nós viramos! Um Brasil triste, capenga e ridículo. Termos ainda 30 % dos brasileiros apoiando o crápula do Presidente diz muito sobre quem nós somos: um país que nega a existência do navio negreiro, que teima em dizer que não há racismo e que convive com a violência e a misoginia. Uma aristocracia que ganha dinheiro com a miséria. Nós somos uma sociedade que aceita sentar-se com o Bolsonaro defensor de torturadores, que cospe nas mulheres, que cultua a morte e exalta a tortura.

A pior representação do que poderíamos imaginar. Vamos esquecer daquela ideia do brasileiro cordial. Vamos fixar no brasileiro sacana, covarde e indiferente com a pobreza, com a fome e com o desemprego. Naquele para o qual pouca importa se nosso sofrido povo está em estado de abandono - com 14 milhões de famélicos e 20 milhões de desempregados. Essa é a nossa elite.

Às vezes, como elite que sou, fico andando pela Europa, ainda que a trabalho, e devo dizer que não vejo aqui o ambiente tóxico que temos no dia a dia da imprensa brasileira. É difícil ter, como temos, alguns jornalistas viúvos do ex-juiz Sérgio Moro e que se apresentam como ícones. Parece não existir fundo nesse buraco. Nós somos o fim do tal poço.  

Mas, ainda assim, é preciso resistir às tragédias diárias. Não é possível viver somente entre uma guerra sanguinária de uma ocupação covarde e bandida e um Brasil se desmilinguindo como povo e como nação. Hoje, somos uma imagem pálida do que éramos na era do Lula. O bando chefiado pelo Moro, que foi o principal eleitor do bolsonarismo, a serviço de grupos que precisam ser desmascarados, roubou o que tínhamos de mais nosso: uma identidade orgulhosa de um país.

Sendo lulistas ou não, temos apenas uma chance de voltar a ter o Brasil de volta: derrotar esse projeto obscurantista. Vamos vencer o fascismo, confrontar os representantes da barbárie e fazer um Brasil feliz de novo!

Na verdade, não estamos a pedir muito. É um pouco de respeito, uma pitada de amor, um carinho pelas pessoas que estão absolutamente desprotegidas e um afago, no limite. Até, quem sabe, um abraço amigo. Ou seria pedir demais um contato assim, quase amoroso, com quem esses bárbaros cuidam de afastar das nossas vidas? E vamos enfrentá-los em todas as áreas.

Ainda agora, o Superior Tribunal de Justiça condenou um dos membros daquele bando.  O tal Deltan foi condenado a pagar ao Lula, pela leviandade do uso do power point, um valor a título de danos morais. Um gesto mínimo de respeito por parte do Judiciário. Um reconhecimento de que a breguice, o uso político e a ausência de técnica jurídica do Ministério Público não podem prevalecer. Deltan não é só corrupto e incompetente; ele é coitado, brega e vulgar.  E a sua reação contra o Tribunal foi de um destempero de quem se julga acima das instituições.

É o começo do fim do grupo que Moro comandava. Vamos garantir a eles os direitos que eles desprezaram. Todos, inclusive o da prisão somente após o trânsito em julgado. Sem vingança, apenas com respeito à Constituição.ne

Remeto-me ao grande Castro Alves, em O Navio Negreiro:

“Quem são estes desgraçados,

Que não encontram em vós,

Mais que o rir calmo da turba

Que excita a fúria do algoz?

Quem são?”

...

*Kakay (foto) é Advogado

Via: Último Segundo

Entidades da segurança pública do RS indicam paralisação para dias 29 e 31 de março

Após marcha com mais de 5 mil servidores, entidades da segurança pública querem aprofundar mobilização e pressão sobre governo Eduardo Leite

Servidores da segurança pública realizaram marcha e ato em frente ao Palácio Piratini. (Foto: Luiza Castro/Sul21)

Sul21* - As entidades da segurança pública que organizaram a marcha do dia 22 de março debateram, em reunião realizada nesta quinta-feira (24), em Porto Alegre, o prosseguimento da mobilização pela reposição salarial das categorias da Segurança Pública. Participaram da reunião o Sindicato dos Agentes da Polícia Civil do RS (UGEIRM), a ACP-RS, ACRIGS, AMAPERGS, ASDEP, ASPAPI, SINDIPERÍCIAS e SINPOL-RS.

As entidades fizeram uma avaliação positiva da marcha que levou mais de 5.000 servidores da segurança pública às ruas de Porto Alegre e enfatizaram a necessidade de aprofundamento da mobilização e da pressão sobre o governo do estado. Com esse objetivo, decidiram, consensualmente, apontar um indicativo, que será levado para deliberação pelas bases de cada sindicato, de dois dias de paralisação na próxima semana, nos dias 29 e 31.

Esses dias de protestos terão a denominação de “Dias do Diálogo da Segurança Pública”. Nesses dois dias, os servidores da segurança pública de cada órgão, paralisarão as suas atividades para dialogar com a sociedade e expor todos os problemas da segurança pública do estado. Serão mantidos os atendimentos de ocorrências de repercussão, crimes graves, atendimentos de prisões em flagrante, atendimento de locais de crimes, liberação de corpos e movimentações urgentes no sistema prisional. Paralelo a essa movimentação, as entidades de classe percorrerão a Assembleia Legislativa, dialogando com os parlamentares em busca de apoio ao movimento dos servidores da segurança pública. (...)

*Continue lendo clicando AQUI

STJ COGITA AUMENTAR VALOR DA INDENIZAÇÃO DE DELTAN A LULA; VEJA OS MOTIVOS

24 março 2022

Gleisi diz que PT irá à Justiça por ameaças de morte feitas por neonazistas: 'não vão nos intimidar ou calar'

Presidenta nacional do PT usou as redes sociais para afirmar que "o PT tomará as medidas para que os criminosos sejam identificados e punidos"


    (Foto: Alessandro Dantas | PT no Senado)

247* - A presidenta nacional do PT, deputada federal Gleisi Hoffmann, usou as redes sociais para anunciar que o partido não será intimidado e que adotará as medidas cabíveis contra os autores das ameaças de morte feitas contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a deputada federal Maria do Rosário (RS), o vereador de Porto Alegre e policial civil, Leonel Radde, além do ativista do movimento negro Antonio Isupério.

"Neonazistas ameaçaram assassinar Lula, os companheiros Maria do Rosário, Leonel Radde, que faz brilhante trabalho contra grupos extremistas. PT tomará as medidas para que os criminosos sejam identificados e punidos. Não vão nos intimidar, nem nos calar!”, postou Gleisi no Twitter. 

Radde coordena a Operação Bastardos Inglórios, um canal de denúncias, que em parceria com a polícia, busca identificar e combater a atuação de grupos neonazistas no Rio Grande do Sul. "Sua morte está planejada, será dia 31 de outubro de 2022, 21h, no Rio Grande do Sul", diz uma das ameaças enviadas ao parlamentar. 

"Se prepara, você, Lula e o Isupério estão ferrados, vamos acabar contigo, seus vermes, lixo, macacos de merda (...) Lula vai morrer", diz uma outra mensagem. Em outra, deixam claro que pertencem a grupos nazistas. 

...

-Leia também: Lula: 'Bolsonaro é um psicopata, Ciro se perdeu e Moro é asqueroso'

*Via https://www.brasil247.com/

17 março 2022

A eleição de outubro no Brasil e a urgência da reconstrução nacional

 

Ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e Jair Bolsonaro (Foto: Ricardo Stuckert | Clauber Cleber Caetano/PR)

Por Jeferson Miola*

Versão de artigo que será publicado na edição nº 3 da Revista Relato – Comunicação Política, do Uruguai – https://relatocompol.com/revista

A eleição de outubro próximo no Brasil é a mais ansiosamente aguardada da história e, também, a que ocorrerá em um contexto complexo e de apreensão quanto aos riscos de violência política.

Nem mesmo os mais pessimistas poderiam imaginar que durante o breve período de seis anos que correspondem aos governos de Michel Temer e Jair Bolsonaro, a oligarquia dominante seria capaz de promover a devastação do país em tão assombroso nível.

O Brasil regrediu economicamente e passou da posição de 6ª economia planetária para a 14ª em termos de Produto Interno Bruto.

O desemprego atinge ao redor de 12,5 milhões de trabalhadores. Além deste contingente, o total de subempregados, em condições de trabalho precarizado [46,6 milhões] e de pessoas desalentadas, que já desistiram de procurar emprego [4,9 milhões], representa outros 51,5 milhões de trabalhadores.

Ao todo, portanto, o número de desempregados, subempregados/precarizados e desalentados totaliza mais de 63,5 milhões de pessoas – praticamente a soma das populações da Argentina, Chile, Paraguai e Uruguai.

Mais da metade da população brasileira – 116,8 milhões de pessoas – vive em situação de insegurança alimentar, ou seja, não tem acesso pleno e permanente a alimentos. Dentre esses, 19 milhões passam fome.

Esta trajetória de desemprego, fome e miséria iniciada com o golpe de Estado de 2016 se aprofundou no governo Bolsonaro, e recolocou o Brasil no mapa da fome da FAO.

A inflação está acima de 10% ao ano e o custo de vida insustentável, corroendo fortemente o poder de compra de segmentos das classes médias que embarcaram na conspiração para derrubar a presidente Dilma Rousseff e depois elegeram Bolsonaro em 2018.

A postura do governo Bolsonaro no enfrentamento da pandemia da COVID-19 foi irresponsável e criminosa. Com um general da ativa do Exército à frente da desastrosa gestão do ministério da Saúde, o país teve o segundo maior índice de mortes do mundo pela doença. Especialistas estimam que cerca de 450 mil das 650 mil perdas humanas no Brasil poderiam ter sido evitadas se o governo tivesse atuado em outros moldes.

O governo é acusado em tribunais internacionais pelo crime de genocídio das populações indígenas. Não somente devido à condução na pandemia, mas também em decorrência da cumplicidade com a invasão das terras dos povos originários por grileiros, fazendeiros, garimpeiros e crime organizado.

Com uma maioria congressual comprada por meio de um esquema bilionário de emendas orçamentárias secretas, o governo ficou blindado contra processos de impeachment e radicalizou a execução do programa do golpe de 2016.

A legislação trabalhista foi desmontada e os direitos dos trabalhadores foram extintos. A reforma previdenciária endureceu as regras e piorou as expectativas de aposentadoria ao fim do ciclo de décadas de trabalho.

As privatizações avançaram o processo de rapinagem e de liquidação depravada da riqueza nacional. A cadeia de gás e petróleo foi entregue a grupos privados nacionais e estrangeiros. A PETROBRÁS deixou de ser um instrumento de desenvolvimento econômico nacional para ser convertida em dispositivo de saqueio dos acionistas no exterior. Somente no primeiro trimestre de 2022, a PETROBRÁS distribuiu R$ 101 bilhões de lucros aos predadores da renda pública brasileira.

A perspectiva de vitória do Lula e a ameaça à democracia

Levantamentos de intenção de votos mostram um cenário estabilizado nos últimos 18 meses. A disputa eleitoral está polarizada entre dois blocos políticos.

Por um lado, o bloco da candidatura Lula, que congrega a esquerda partidária e social, o progressismo e, inclusive, setores de centro e centro-direita temerosos com o risco de ruptura institucional. Na média das pesquisas, Lula aparece com 52% dos votos válidos.

O outro bloco, com quase uma dezena de candidaturas anti-Lula, é formado majoritariamente por setores de centro-direita, direita e as duas facções da extrema-direita: a bolsonarista e a Moro-lavajatista. Na média das pesquisas, este bloco alcança 48% dos votos.

A despeito de todas barbaridades e desatinos, Bolsonaro ainda é o candidato mais competitivo do establishment. Ele tem, em média, 26% das intenções de votos. As demais sete candidaturas que se apresentam como “3ª via”, embora defendam a continuidade do programa bolsonarista e anti-Lula de destruição nacional alcançam, juntas, cerca de 22% das intenções de voto.

As chances de vitória do Lula em outubro, como se observa, são promissoras. Há um amplo reconhecimento, no debate nacional, de que dentro das regras e da legalidade, dificilmente algum opositor conseguiria derrotá-lo.

A possibilidade de nova farsa ao estilo da Lava Jato em 2018 é totalmente improvável. Mas o risco de atentado político não pode, contudo, ser menosprezado, considerando-se a escalada da truculência e da violência política e o ódio da extrema-direita contra Lula e o PT.

É preciso considerar, ainda, a retórica conflitiva de Bolsonaro, militares e extremistas de direita que reiteradamente ameaçam tumultuar a eleição.

As cúpulas militares partidarizaram as Forças Armadas e atuam como facção partidária com um projeto próprio de poder. Eles poderão resistir à perda de cargos e de poder e, também, ao retorno do Lula à presidência.

Diante da perspectiva bastante plausível de vitória do Lula em outubro, existe, no entanto, uma incógnita sobre o comportamento de Bolsonaro, dos militares e da extrema-direita: eles aceitarão a derrota, ou criarão um clima de guerra política, caos e balbúrdia – o clima do “Capitólio de Brasília”?

A governabilidade do país demandará, por isso, um grande compromisso de todos setores democráticos em defesa da democracia, da legalidade e contra a ameaça fascista-militar; mas, sobretudo, precisará de uma extraordinária capacidade de apoio e mobilização popular do governo Lula.

A eleição de outubro será muito mais que um capítulo repetitivo da rotina eleitoral do país. Esta eleição será uma encruzilhada; nela se decidirá o futuro do Brasil.

Está em jogo a sobrevivência do pouco que ainda resta de democracia. E também está em jogo o fim – ou a continuidade – do ciclo de devastação, destruição e barbárie aberto com o golpe de 2016 e aprofundado pelo governo dos generais com Bolsonaro.

*Integrante do Instituto de Debates, Estudos e Alternativas de Porto Alegre (Idea), foi coordenador-executivo do 5º Fórum Social Mundial - Fonte: Brasil247

15 março 2022

Âncora da Fox News fica chocado com respostas de ex-oficial das forças armadas dos EUA sobre Putin e Zelensky; vídeo

 


Da Redação*

Os interesses dos EUA e OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte) estão determinando a linha da cobertura jornalística global no conflito Rússia e Ucrânia.

A campanha de desinformação está gigantesca, até mesmo para os padrões da mídia corporativa ocidental.

O vídeo acima é sensacional.

Ao vivo, um âncora da Fox News achando que o entrevistado — ex-oficial das forças armadas dos EUA — seguiria o  manjado script contra a Rússia, pergunta de peito cheio:

— Putin ataca uma usina nuclear. Qual é a estratégia por trás disso? É para intimidar os civis? 

— Zelensky é um herói?

O âncora leva várias invertidas.

Engole seco cada resposta do ex-militar americano, inclusive a de que o presidente-comediante da Ucrânia “não é um herói” e está colocando em “risco desnecessário” a população do país.

Vale a pena atentar para a fisionomia de ambos ao longo da entrevista.

*CLIQUE AQUI para assistir (legendado). Via Viomundo

14 março 2022

Russofobia: a história se repete em momentos de crise

Boicotes culturais, agressões e discriminações a cidadãos comuns fazem parte do cenário que vem a reboque da guerra

Filarmônica de Cardiff substituiu programa do próximo concerto retirando peça '1812 Overture', de Tchaikovsky, chamando-a de "inapropriado desta vez" - Reprodução

Em diversas partes do mundo têm sido registradas cenas que remetem a um sentimento anti-Rússia que vai muito além da rejeição a autoridades governamentais, atingindo os cidadãos comuns, imigrantes, ícones culturais e a própria história russa. As ações vão desde boicotes a estabelecimentos que estejam associados ao país até a exclusão de artistas de espetáculos e eventos, passando por constrangimentos de todo tipo.

Matéria do site EuroNews publicada nesta quarta-feira (9) relata atos de vandalismo contra igrejas ortodoxas e o centro cultural russo de Paris. Em Dublin, capital da Irlanda, um homem avançou com um caminhão contra os portões da embaixada russa na segunda-feira (7), sem deixar feridos.

Na semana passada, a rede de hotéis Pytloun, na República Tcheca, anunciou que deixaria de hospedar pessoas da Rússia e da Bielorrússia devido à guerra na Ucrânia. No mesmo país, um professor da Universidade de Economia de Praga chegou a postar em rede social uma convocação para um boicote a estudantes russos em escolas tchecas. Depois, Martin Dlouhý apagou a publicação afirmando que havia “ficado com raiva” com as ações da Rússia.

Em Bruxelas, na Bélgica, universitários russos “não podem mais solicitar apoio financeiro” para seus estudos após o ministro da Educação flamengo Ben Weyts ter excluído o país do programa de bolsas de estudos Mastermind, a pedido de seu colega ucraniano Serhiy Shkarlet, nesta semana.

No mundo das artes, o preconceito também flui livremente. A Filarmônica de Cardiff, do País de Gales, substituiu o programa de seu próximo concerto retirando a peça ‘1812 Overture’, de Tchaikovsky, chamando-a de “inapropriada desta vez”. Um pianista russo de 20 anos, Alexander Malofeev, que estava pronto para se apresentar com a Orquestra Sinfônica de Montreal, teve sua apresentação cancelada, mesmo se opondo à guerra na Ucrânia. 

Na segunda-feira (7), o músico afirmou em uma rede social que estava triste com o “ódio indo em todas as direções, na Rússia e em todo o mundo”, e que “ainda acredita que a cultura e a música russa especificamente não devem ser manchadas pela tragédia em curso”. Ele também afirmou que tinha sido instado a fazer mais declarações antiguerra, mas estava “muito desconfortável” e preocupado em relação a como isso poderia afetar sua família que vive na Rússia.

A russofobia generalizada

Em artigo publicado na Current Affairs, o editor da publicação e ex-colunista político do Guardian Nathan J. Robinson pontua que “julgar alguém pelo país em que nasceu ao invés da posição que assume na guerra é intolerância nacionalista”. “Prejudicar a carreira de um pianista de 20 anos, embora ele tenha condenado a guerra, é sem sentido. Temos que ter cuidado com atos de culpa e punição coletivas, porque muitas vezes são cruéis e injustificados”, diz.

“Há uma tese por trás da punição aos russos comuns pelos crimes de Vladimir Putin, que é que ela vai ‘pressionar’ para acabar com a guerra. Mas enquanto algumas ações (como o congelamento de ativos do Banco Central russo) visam diretamente o Estado russo, outras respostas têm uma conexão muito menos óbvia com o objetivo, e podem parecer operar na suposição questionável de que estigmatizar ser russo seja uma maneira eficaz de alterar as decisões de Vladimir Putin”, adverte.

Ao lembrar de casos de normalização da russofobia, como o do ícone do hóquei da NHL estadunidense Dominik Hasek, que pediu à liga suspensão imediata dos jogadores russos e que os mesmos doassem todos os seus ganhos desde o início da guerra a programas de ajuda humanitária, a jornalista radicada na República Tcheca Bradley Blankenship, no Global Times, destaca que “há certamente outros países que estão vendo as mesmas coisas”.

“Tudo isso vai muito além das medidas punitivas contra o Estado russo e é uma guerra generalizada contra o povo russo”, diz. “Mas esse tipo de comportamento é perigoso. É perigoso para pessoas normais que vivem nesses países e não têm nada a ver com as decisões tomadas pelo governo russo. Também é perigoso porque leva à amplificação de ações radicais. Esse comportamento corrói os direitos civis e a democracia nesses países de maneiras óbvias, criando claras contradições através do excepcionalismo.”

Vodcas russas no chão

A editora do Boston Globe Renée Graham lista em artigo alguns casos em que cidadãos da Rússia foram alvo de ofensas e manifestações xenofóbicas nos Estados Unidos. Daniel Mataiev, gerente do Café São Petersburgo na cidade de Newton, em Boston, disse que o estabelecimento recebeu ligações em que foram ditas “coisas horríveis” sobre os russos. O restaurante tem também ucranianos entre seus funcionários. A Escola Russa de Matemática, um programa pós-escola que opera em 15 localidades da Grande Boston, divulgou uma declaração em seu site para dizer “que, independentemente de seu país de origem, ninguém é responsável por esta guerra além de Putin e seu regime”.

Russian Tea Room (em tradução livre, “Sala de Chá Russa”), icônico restaurante novaiorquino que não é de propriedade de russos, apesar do nome, vem sofrendo queda acentuada em sua clientela desde o início da ofensiva de Putin na Ucrânia. Estadunidenses derrubaram vodcas russas nas ruas em “protesto” em diversas cidades do país.

No meio político também há manifestações nada construtivas. O deputado democrata da Califórnia Eric Swalwell defendeu na semana passada, na CNN, que se discutisse a extradição de estudantes da Rússia. “Francamente, eu acho… expulsar todos os estudantes russos dos Estados Unidos”, disse , deveria “estar na mesa”. O também deputado democrata Ruben Gallego, do Arizona, o apoiou, tuitando: “Esses estudantes russos são filhos e filhas dos russos mais ricos. Uma mensagem forte pode ser enviada enviando-os para casa.” Cerca de 5 mil estudantes vindos da Rússia estudavam em universidades estadunidenses em 2021, de acordo com o Instituto de Educação Internacional. 

Ondas de preconceito recorrentes

Renné aponta que “ser russo não é sinônimo de apoiar um presidente autocrático”. “Na história americana, pessoas inocentes muitas vezes se tornaram bodes expiatórios para as decisões imorais dos tiranos. Com a guerra de Putin contra a Ucrânia, não finja que não pode acontecer novamente”, adverte, destacando outros episódios em que diversas nacionalidades foram alvo de discriminação em diversos países, em especial nos Estados Unidos, como os chineses, durante a pandemia de covid-19, ou mesmo a islamofobia estimulada após os ataques terroristas do 11 de Setembro.

“O sentimento antimuçulmano e a violência aumentaram após os ataques de 11 de setembro de 2001. Manifestantes islamofóbicos frustraram os planos de construção de mesquitas e centros comunitários, enquanto casas de culto muçulmanas foram desfiguradas e vandalizadas”, lembra. “Desde o início da pandemia de covid-19, os crimes de ódio contra asiáticos, asiático-americanos e habitantes das ilhas do Pacífico aumentaram. Depois que a China se tornou a primeira nação a identificar o vírus, Chinatowns, inclusive em Boston, sofreram o peso da raiva e do medo irracionais que fizeram com que seus negócios lutassem semanas antes de o país entrar em confinamento.”

Os números demonstram a realidade que Renné aponta. Entre março de 2020 e dezembro de 2021, um total de 10.905 incidentes de ódio contra pessoas asiáticas americanas e das Ilhas do Pacífico (AAPI) foram relatados à entidade Stop AAPI Hate. As violações dos direitos civis como, por exemplo, discriminação no local de trabalho, recusa de serviço, ser barrado em transporte e discriminação relacionada à moradia, representaram 11,5% do total de incidentes.

“Sem dúvida, as repercussões sempre são mais profundas para as comunidades não brancas”, lembra a jornalista. “Meses após o bombardeio de Pearl Harbor pelo Japão em 1941, mais de 120 mil nipo-americanos foram removidos à força de suas casas e enviados para campos de internação onde permaneceram durante a guerra. Nada mais do que sua etnia os tornava suspeitos. Algo que expôs de forma singular o que a cidadania americana realmente significa para quem não é branco.”

*Via RBA