Do DCM* - Quando esteve no Brasil, há alguns anos, perguntaram a Pepe Mujica sobre a derrota do PT nas eleições de 2016. A resposta dele na ocasião vale para agora.
“A vida é uma luta e é uma luta permanente. Os únicos derrotados são os que cruzam os braços”, disse.
Mujica passou doze anos preso, boa parte do tempo em isolamento. Quase ficou louco. Depois se elegeu senador e presidente.
Manteve a humildade. Tanto quando perdeu quanto quando venceu.
Por isso, sempre foi um vitorioso.
A única coisa que não se deve perder é a lucidez. E ele nunca perdeu.
Ao terminar o primeiro turno com 31% dos votos válidos, Sebastião Melo (MDB) declarou que o segundo turno, no próximo dia 29, é “outra eleição” e que agora terá mais tempo para explicar seu projeto de governo. Com 29% dos votos, Manuela D’Ávila (PCdoB) destacou, na noite dedomingo (15), o elevado percentual de abstenção no primeiro turno e também disse querer debater projetos e programas com seu adversário no segundo turno da eleição à Prefeitura de Porto Alegre. (...)
*CLIQUE AQUI para ler a íntegra da postagem no Sul21.
A candidata do PCdoB à Prefeitura de Porto Alegre, Manuela D’Ávila, participou na tarde desta quinta-feira (26) de uma sabatina com veículos independentes organizada pelo Sul21, com participações dos jornalistas Kátia Marko, do Brasil de Fato, Thiago Suman, do canal Sexta-Feira 13, Gabrielle de Luna, de O Periférico, e Dayane Santos, da TV 247.
Em cerca de 40 minutos de conversa, Manuela respondeu questões sobre mobilidade urbana, seus projetos para a periferia de Porto Alegre, para melhorar o acesso dos moradores à cidade, sobre a retomada das atividades em meio à pandemia do coronavírus, entre outros temas.
O Fórum 21 é um coletivo nacional de intelectuais orgânicos, professores, pesquisadores e lideranças políticas que defendem um projeto democrático, popular e soberano de nação, comprometidos com os movimentos e as lutas emancipatórias da cidadania brasileira.
O Brasil, como sabemos, está enfrentando uma confluência de crises profundas – econômica, social, ambiental e política, agravadas pela pandemia – o que impõe enormes adversidades à vida do nosso povo.
As eleições municipais ocorrem nesse contexto.
Muitas propostas apresentadas por candidatos e candidatas às Prefeituras estão defendendo políticas autoritárias e neoliberais que capturaram – a partir do golpe parlamentar-midiático-judicial de 2016 e da eleição presidencial de 2018 – o Governo Federal e a maioria dos governos estaduais.
A candidatura Sebastião Melo, em Porto Alegre, agravada pela presença de seu vice Ricardo Gomes, integrante do MBL e do Mamãe Falei, e pelo alinhamento explícito ao bolsonarismo, representa a continuidade dessas políticas, voltadas para os interesses das minorias abastadas da sociedade.
São políticas que não beneficiam as grandes maiorias sociais e estão destinadas ao fracasso, como já ocorreu em praticamente todo o mundo. Elas só agravam as condições de vida em nossas cidades: desemprego, perda de renda, precarização do trabalho, vulnerabilidades sociais, violência, insegurança, pobreza e extrema pobreza.
Os nossos municípios estão precisando de investimentos e políticas públicas, emergenciais e estruturais, para enfrentar os efeitos das crises, sobretudo a econômica e social e as graves consequências da pandemia. E isso não será possível com a manutenção, também em nível local, do teto de gastos, da interdição e reversão do Estado do bem estar e da ruptura em curso do pacto federativo consagrado pela Constituição Cidadã.
Governar Porto Alegre nesse contexto requer liderança, ousadia política, convicções consistentes, experiência e compromisso com as necessidades e reivindicações da cidadania.
Requer um governo aberto à participação popular, acolhedor das demandas dos movimentos sociais, garantidor de direitos e defensor firme da democracia.
Requer um governo que seja capaz de mobilizar os atores e ativos políticos, sociais, econômicos, culturais, técnicos e científicos para a redução da desigualdade social, o combate às discriminações e a eliminação da extrema pobreza em Porto Alegre.
Requer uma prefeita capaz de exercer uma forte liderança local e também nacional. Uma prefeita com ativa presença no movimento municipalista e nas diferentes iniciativas das forças democráticas, populares e em defesa da soberania do nosso país e da região.
É por essas razões que o Fórum 21 reconhece nas candidaturas, Manuela e Miguel, e em seu programa de governo, a plena identidade com os valores e objetivos que destacamos nesta Carta pública.
E reconhece em suas trajetórias pessoais complementares, já testadas por experiências, desafios e lutas coletivas históricas, a garantia e a credibilidade dos seus compromissos.
O Fórum 21 manifesta assim publicamente o seu apoio à candidatura Manuela e Miguel para a Prefeitura de Porto Alegre.
E conclama a todos, em especial a cidadania democrática, progressista e antifascista, a votar no próximo dia 29 no número 65.
Manuela e Miguel vão unificar nossa Cidade em torno do que cada um e cada uma de nós tem de melhor e mais generoso: a solidariedade social e a dimensão republicana da vida comum em defesa dos valores da democracia e da participação cidadã.
Conselho Político Facilitador do FÓRUM 21 - Ideias para o avanço social.
Joaquim Palhares (Secretário Político) - Aluisio Schumacher; Arlete Moyses; Benedito Tadeu César; Carlos Eduardo Fernandez da Silveira (Caico); Carlos Tibúrcio; José Luiz Del Roio; Liszt Vieira; Magda Barros Biavaschi; Maria Rita Loureiro; Roberto Leher; Sebastião Velasco; Vicente Trevas; Walquíria Leão Rêgo (mais de 180 intelectuais orgânicos, acadêmicos e lideranças políticas e sociais em todo o Brasil e alguns no exterior).
Na terça-feira, 17 de novembro, o ex-presidente dos EUA, Barack Obama, cujo governo se engajou na espionagem contra a presidente Dilma Rousseff e o Departamento de Justiça/ FBI dos EUA e orquestrou a operação Lava Jato, apareceu na poderosa rede de televisão brasileira Globo para promover seu novo livroUma Terra Prometida. No livro, ele afirma que o ex-presidente brasileiro Lula tinha “os escrúpulos de um cacique de Tammany Hall”.
Obama e Lula (Foto: REUTERS/Kevin Lamarque | REUTERS/Charles Platiau)
Por Brian Mier*
A palavra machine e usado popularmente nos Estados Unidos para descrever um sistema de governança urbana bastante parecida com o velho coronelismo politica clientelista do nordeste Brasileiro. Tammany Hall, uma coalizão politica que mandou na cidade da Nova Yorque entre o fim do século 18 e a década de 1930, é geralmente citado como a maior machine urbana da história dos Estados Unidos. A segunda maior foi a machine Daley em Chicago, que governou de 1953-1983, e novamente de 1987-2011, sob a liderança de Richard J. Daley, seu filho Richard M. e seus comparsas Michael Bilandic e Jane Byrne.
Muito foi escrito sobre a machine dos Daleys. O livro Boss, do jornalista vencedor do Prêmio Pulitzer Mike Royko, é uma boa introdução ao assunto. Mas eu gostaria de usar alguns exemplos pessoais. Eu cresci cercado pela cultura da machine em um bairro da classe trabalhadora na zona norte de Chicago e sei profundamente como a machine operava. Eu poderia dar centenas de exemplos, mas a maneira como geralmente explico como a machine dos Daleys funcionava é falando sobre meu amigo de infância, a quem chamarei aqui de Joe. Joe é meio italiano, meio irlandês e sua mãe solteira tinha uma queda por tipos da máfia. Em um ponto, seu namorado possuía 3 postos de gasolina, 2 pizzarias e servia como Vice-Comissário de Saneamento Básico da Cidade de Chicago. Chamava-se Tony, pesava quase 140 quilos, dirigia um Buick, só usava ternos de seda e sempre carregava uma pistola Barreta 0,25 mm no coldre de ombro. Um dia, enquanto minha mãe estava trabalhando em nosso bairro na campanha do candidato a prefeito anti-machine Harold Washington, ele parou, abaixou a janela do carro e disse: "Estamos de olho em você, Sra. Mier".
Joe era um cara ótimo que se importava muito mais com a maconha e os quadrinhos do que com política. Quando ele terminou o ensino médio, ele tentou estudar teatro na faculdade, mas foi reprovado no primeiro semestre. Depois de uma série de empregos de baixa remuneração, o novo marido de sua mãe, um ator-chave na machine do prefeito Richard M. Daley, arranjou-lhe um emprego no Departamento dos Parques da Cidade de Chicago como supervisor de equipe de mapeamento. O requisito mínimo oficial para o trabalho era um diploma em engenharia civil. Quando ele mencionou isso, seu novo padrasto disse: "não se preocupe com isso. Ninguém vai olhar seu currículo. Vou lhe dar todas as respostas do teste e depois vou levá-lo para um ou dois dias para ensiná-lo a operar o equipamento.”
O novo emprego de Joe fez maravilhas para sua auto-estima. Logo ele estava comprando maconha da mais alta qualidade e os quadrinhos antigos mais caros com seu salário governmental. Isso foi no início dos anos 1990. Nos 20 anos seguintes, ouvi relatos periódicos de Joe sobre a vida dentro da machine. Alguns anos depois de sua contratação, houve um enorme escândalo de corrupção no Departamento dos Parques e apenas o círculo interno conseguiu sobreviver com os empregos intactos. Joe foi transferido para o Departamento de Água. Pouco depois, estourou um escândalo. Descobriu-se que o neto de Tony Accardo, consigliereda máfia de Chicago, trabalhava lá. Do Brasil, liguei para Joe para saber o furo. “Ele foi demitido”, ele me disse. "Mas você sabe o que? São 17 parentes de Tony Accardo trabalhando no Departamento de Água”.
Ao longo dos anos, Joe me contou história após história de seus deveres extraoficiais batendo de porta em porta durante a temporada de eleições para trazer à tona o voto para Daley e seus vereadores comparsas, e o que ele receberia em troca. Na época, os trabalhadores municipais recebiam o dobro do pagamento de horas extras. Num inverno, quando eu estava de volta à cidade, liguei para ele para saber se ele queria beber alguma coisa. “Não posso”, disse ele, “estou fazendo hora extra, dormindo no banco do passageiro de um limpa-neve. O capataz nos pediu para mover essa pilha gigante de neve de um lado do estacionamento para o outro. Demorou 4 horas e quando terminamos ele pediu ao motorista para movê-lo de volta para onde estava. ”
Tammany Hall pode ter morrido na década de 1930 e a outra machinetradicional em Buffalo, Nova York, fracassou na década de 1970, mas a máquina de Chicago ainda estava forte na época em que os Obama começaram sua carreira política, mesmo que o prefeito Daley Jr. começasse a terceirizar alguns dos trabalhos de clientelismo a empresas pertencentes a comparsas a fim de reduzir a folha de pagamento do governo municipal de acordo com os princípios do neoliberalismo clintoniano.
É por isso que estou com tanta raiva de ver Barack Obama comparar o ex-presidente Lula, que era tão comprometido com os princípios democráticos que usou critérios profissionais em vez de alinhamento político para nomear juízes para o Supremo Tribunal (muitos dos quais se voltaram contra ele e seu partido durante o ano de 2016 golpe) a um chefe da machine. Quem é ele para comentar sobre a machine, que se casou com a Secretaria Adjunta de Planejamento e Desenvolvimento do prefeito Richard M. Daley? Quem é ele, que concorreu contra os políticos anti-machine Alice Palmer e Bobby Rush com as bênçãos do prefeito Richard M. Daley? Quem é ele, que contratou William, irmão de Richard M. Daley, como seu chefe de gabinete, para difamar o presidente mais popular do Brasil de todos os tempos? Afinal, quando os bens de Lula foram congelados como parte da investigação Lava Jato, ele tinha apenas R$ 606.000,00 em sua conta bancária. Na época, Obama estava cobrando mais do que essa quantia por um único discurso corporativo. Você pode acreditar na coragem desse cara?
*Jornalista, geógrafo e co-autor do site Brazil Wire
Crime brutal, cometido poucas horas antes do Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra, foi gravado. Assassinos foram presos e protesto foi convocado
Seguranças imobilizam e espancam Beto, homem negro, até a morte. Barbárie repetida em empresa com histórico de violências e descasos
RBA* - A poucas horas do Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra, João Alberto Silveira Freitas, o Beto, homem negro de 40 anos, foi espancado até a morte por dois seguranças de uma loja do Carrefour na zona norte de Porto Alegre na noite desta quinta-feira (19). O crime brutal foi filmado e as cenas circulam nas redes sociais. Os dois assassinos estão presos. Um deles é policial e foi levado para um presídio militar. O outro, funcionário de uma empresa de segurança contratada pelo Carrefour, foi detido pela Polícia Civil. A investigação trata o crime como homicídio qualificado.
Segundo a Brigada Militar, o espancamento começou após um desentendimento entre a vítima e uma funcionária do supermercado. Beto foi levado da área de caixas para a entrada da loja agredido no estacionamento do supermercado pelos dois seguranças. A cena foi gravada por uma cliente do supermercado. Em seguida, já com sangue espalhando pelo chão, outras pessoas aparecem em volta de Beto, enquanto os dois agressores continuam sobre ele, já desfalecido.
Uma equipe do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU) tentou reanimar a vítima, mas ele morreu no local.
Reações
Movimentos negros de Porto Alegre convocaram protesto para final da tarde de hoje diante do Carrefour do Passo d’Areia contra o assassinato de João Alberto Silveira Freitas. “Ainda nas primeiras horas dessa data, estamos falando sobre mais um episódio brutal de racismo e de novo no Carrefour. De 20 de novembro a 20 de novembro e todos os dias, a estrutura racista deste país nos trás brutalidade como regra”, reagiu o ativista Raull Santiago, ativista e integrante dos coletivos Papo Reto, Movimentos, Perifa Connection, criados no Rio de Janeiro.
Em nota, o Carrefour afirma que “adotará as medidas cabíveis para responsabilizar os envolvidos neste ato criminoso. Também romperá o contrato com a empresa que responde pelos seguranças que cometeram a agressão. O funcionário que estava no comando da loja no momento do incidente será desligado. Em respeito à vítima, a loja será fechada. Entraremos em contato com a família do senhor João Alberto para dar o suporte necessário”.
Os dois candidatos à prefeitura de Porto Alegre falaram sobre o caso em suas redes sociais. Manuela D’Ávila questionou e fez chamado à reflexão: “O racismo que estrutura as relações de nossa sociedade precisa ser enfrentado de frente. As mulheres e homens brancos precisam assumir a sua responsabilidade na luta antirracista. Quantos Betos? Qual pessoa branca você viu ser vítima dessa violência? Sei que já há pedido de investigação sendo feito por parlamentares e pela bancada antirracista recém eleita. Mas as imagens dizem muito.”
Sebastião Melo (MDB) chamou a morte de absurda e disse que as cenas dos vídeos são chocantes. “Justamente no dia nacional de luta contra o racismo. Medidas rigorosas devem ser tomadas imediatamente”, disse.
Também o ex-presidente Lula manifestou-se sobre mais um episódio de barbárie contra um cidadão negro no país. “O racismo é a origem de todos os abismos desse país. É urgente interrompermos esse ciclo.”
"A oligarquia local não hesitará em promover toda sorte de vilania, violência política e trapaça contra Manuela – uma mulher que apavora eles não só pelo fato de ser mulher, mas por ser uma mulher guerreira, de esquerda e comprometida com os anseios da maioria pobre do povo", avalia Jeferson Miola sobre o segundo turno das eleições em Porto Alegre
Por Jeferson Miola, no 247*
O povo de Porto Alegre escolheu mudar; deu um basta ao governo Marchezan Júnior/PSDB, que deixou a cidade abandonada, descuidada e promoveu enormes retrocessos culturais, econômicos e sociais.
O tucano é o primeiro prefeito da capital gaúcha que se candidata à reeleição e não alcança o 2º turno. Este resultado significa o rechaço da maioria da população à desastrosa gestão tucana na Prefeitura, que transformou a cidade num laboratório de inventos ultraliberais.
Marchezan não é o único responsável pelos retrocessos dos últimos 4 anos na cidade. As políticas implementadas por ele foram apoiadas e aprovadas pelos vereadores de todos partidos conservadores da Câmara, que inclusive integraram o secretariado municipal, como foi o caso do MDB do Sebastião Melo e do seu vice Ricardo Gomes – ex-PP, hoje DEM – que inclusive foi secretário de Desenvolvimento Econômico do Marchezan.
O governo tucano continuou e aprofundou as políticas desenvolvidas pelo consórcio partidário que se reveza na Prefeitura desde 2005 e que estagnou Porto Alegre.
Em parte destes 16 anos, Melo/MDB foi o vice-prefeito [2013/2016] incompetente que deixou muitas obras e investimentos da Copa paralisados, mesmo com a injeção de mais de R$ 500 milhões de verbas do governo Dilma na cidade.
No período do Melo na Prefeitura faltou competência, mas abundaram escândalos de corrupção e avançaram os desmontes das políticas sociais.
Ricardo Gomes, o candidato a vice-prefeito do Melo, é um ultraliberal que defende as mesmas idéias privatistas, de cortes sociais e de Estado Mínimo que Paulo Guedes.
Na propaganda eleitoral, Melo esconde o verdadeiro programa que pretende implementar na Prefeitura, mas seu candidato a vice deixa muito claro que o plano deles é avançar as políticas destrutivas do Marchezan, como a terceirização da atenção primária e serviços essenciais do SUS, a privatização do DMAE, o abandono das creches e escolas municipais, o sucateamento da assistência social, a privatização de praças e parques e os ataques aos servidores públicos.
Ricardo Gomes, que foi fundador e coordenador do MBL no Rio Grande do Sul, é um defensor da injustiça tributária. Na visão dele, os ricos e os especuladores imobiliários devem pagar menos IPTU.
Ele entende que para garantir os privilégios tributários da elite, a Prefeitura deve reduzir investimentos sociais na educação, assistência social e no SUS e, ao mesmo tempo, terceirizar e privatizar ao máximo os serviços públicos.
Para Ricardo Gomes, “a prefeitura deve se concentrar em fazer o básico”; por isso ele defende a privatização das empresas públicas de transportes [a centenária CARRIS] e de tecnologia e processamento de dados [PROCEMPA].
Está claro, portanto, que Melo representa a continuidade das políticas nefastas do Marchezan com outra roupagem.
Tem sido rotina nas eleições a tática ilusionista dos candidatos da direita, que usam disfarces para enganar a população. No debate eleitoral eles escondem seus reais propósitos – senão não se elegeriam – e se dedicam a infundir medo e pânico com mentiras e falsidades propagadas nos esgotos das redes sociais contra a esquerda, o PT e o campo progressista. E nesta eleição não está sendo diferente.
Durante entrevista ao final da apuração do 1º turno, Melo e seu vice [o ex-ativista raivoso do MBL] apareceram cercados de militantes bolsonaristas e de extrema-direita, o que é indício da pistolagem política que estão armando para o 2º turno. Melo já abraçou o projeto de escolas cívico-militares do Bolsonaro e anuncia postura irresponsável acerca da pandemia, como o chefe miliciano.
O extremista Eduardo Bolsonaro já anunciou desembarque em Porto Alegre para se juntar à marcha terrorista de Melo e Ricardo Gomes contra a chapa Manuela/Rossetto.
A oligarquia local não hesitará em promover toda sorte de vilania, violência política e trapaça contra Manuela – uma mulher que apavora eles não só pelo fato de ser mulher, mas por ser uma mulher guerreira, de esquerda e comprometida com os anseios da maioria pobre do povo.
No 1º turno, o povo de Porto Alegre optou pela mudança. E isso significa colocar fim ao ciclo de governos do consórcio conservador e reacionário do qual a chapa MDB/DEM de Melo e Ricardo Gomes é notória representante.
Prezados (as) companheiros (as) e amigos(as), como é sabido, ficamos bem aquém - em nº de votos - do que esperávamos (nossa candidatura e as dos demais comp. candidatos do PT), mas não estamos surpresos - nem abatidos.
Como sabíamos, Santiago/RS é muito conservadora, a direita muito forte política e economicamente, existe muita desinformação e alienação e só a médio prazo para mudarmos esse cenário.
Também avalio que fomos muito prejudicados eleitoralmente (e isso, creio, foi determinante para não reconquistarmos uma bancada petista na Câmara Municipal) por não termos lançado chapa majoritária; também por minha candidatura à vereador ter sido uma das últimas a ser confirmada (num primeiro momento, meu nome havia sido colocado à disposição do partido para concorrer ao Executivo), dentre outros fatores que precisamos analisar com calma ... mas com profundidade.
Contudo, como sempre disse, a luta - e a vida - segue.
Outros combates - políticos e eleitorais virão... e a luta política não se resume apenas à atuação nos parlamentos e nos executivos... Precisamos nos preparar melhor e, sobretudo, aprofundarmos nosso trabalho de base - e não somente nos períodos eleitorais.
Muito obrigado à todos vocês que nos apoiaram e/ou torceram por nossa eleição; vamos nos manter unidos, militando, lendo, refletindo, estudando... participando do partido, contribuindo para sua reorganização e fortalecimento e, sobretudo, intervindo nas lutas do nosso povo (em especial, na denúncia do desgoverno Bolsonaro, por seu impedimento, contra o fascismo, em defesa da democracia e pela anulação do processo fraudulento contra o ex-presidente Lula).
Também do campo progressista, PCdoB disputará segundo turno em Porto Alegre (RS) com Manuela D'Ávila
O Partido dos Trabalhadores (PT) e o Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) estão entre as siglas que mais cresceram na disputa das prefeituras das 100 maiores cidades do país. Somados, os dois partidos, que hoje não têm nenhum prefeito nesses municípios, podem chegar a 15 representantes a partir de 2021: 13 do PT e dois do PSOL.
Além de Guilherme Boulos em São Paulo (SP), maior cidade brasileira, o PSOL disputará 2º turno em Belém (PA), com Edmilson Rodrigues, em 29 de novembro.
O PT continua na disputa no Recife (PE), com Marília Arraes; em São Gonçalo (RJ), com Dimas Gadelha; em Caxias do Sul (RS), com Pepe Vargas; em Santarém (PA), com Maria Lima; em Cariacica (ES), com Celia Tavares (PT); em Contagem (MG), com Marília Campos; em Guarulhos (SP), com Elói Pietá; em Feira de Santana (BA), com Zé Neto; em Juiz de Fora (MG), com Margarida Salomão; em Diadema (SP), com Filippi; em Anápolis (GO), com Antonio Gomide; em Pelotas (RS), com Ivan Duarte; em Vitória da Conquista (BA), com Zé Raimundo.
Em 2016, o PT disputou o 2º turno em sete das maiores cidades do país e só venceu em Rio Branco (AC), com Marcus Alexandre, que renunciou em 2018.
Outro partido do campo progressista, o PCdoB disputará o 2º turno em Porto Alegre (RS), com Manuela D’Ávila.
Entre todas as siglas, a que mais ganhou terreno nas 100 maiores cidades do país foi o PSD, que tinha seis prefeitos, já garantiu cinco e pode chegar a 19 após o segundo turno.
O PSDB, que até 31 de dezembro é o primeiro do ranking, com 28 prefeitos, garantiu oito em primeiro turno e pode chegar a 23. O MDB, segundo colocado, tinha 15 prefeitos. Neste domingo, elegeu sete em primeiro turno e disputará o segundo turno em outros 14 municípios.
Júlio César Schmitt Garcia é Advogado, inscrito na OAB/RS sob o nº 91.182. É Pós-graduado em Direito do Estado pelo UniRitter. Integrou a Casa Civil do Governo do PT e da Frente Popular do RS (Governo Olívio Dutra, 1999 a 2002) e o Governo Lula (2003 a 2008). De 2011 a 2012 integrou o Governo da Frente Popular do RS (Governo Tarso Genro), também na Casa Civil. No final da década de 70, participou da Resistência à Ditadura Militar, atuando no Movimento Estudantil e Sindical. Foi um dos fundadores do Partido dos Trabalhadores – PT (1980) e da Central Única dos Trabalhadores, a CUT (1983). Foi membro das Direções Municipal e Estadual do PT/RS por vários anos. Na Prefeitura de Canoas/RS, governo do BOM (PT e aliados), integrou a PGM - Procuradoria Geral do Município e o Gabinete do Prefeito, na Assessoria Jurídica Especial (2014 a 2016). Foi o primeiro candidato a vereador pelo PT de Santiago (1982). Concorreu a Deputado Federal (1990) e a Deputado Estadual (2014).
Júlio Garcia, além de Advogado, é também consultor, articulista, ambientalista e midioativista. Foi um dos fundadores e membro da direção da USPAN – União Santiaguense de Proteção ao Ambiente Natural (1989). Foi sócio fundador e Diretor do Jornal Tribuna de Santiago (1991/1994) e sócio proprietário da Livraria Pasárgada. Autor do livro Cara e Coragem - Poemas (1995). Trabalhou também como Assessor Parlamentar na Câmara dos Deputados nos mandatos do então Deputado Federal Valdeci Oliveira (1997/1998) e do Deputado Federal Marco Maia (2017/2018), ambos do PT/RS. Atualmente, edita o Portal O Boqueirão Online e o Blog do Júlio Garcia. Integra a Comissão Executiva do Partido dos Trabalhadores de Santiago/RS como Secretário de Comunicação.
Propostas:
Uma vez eleito vereador, buscarei exercer um mandato propositivo, crítico, articulado e combativo que fiscalize o Executivo e, ao mesmo tempo, contribua para a conscientização, informação e politização da maioria do nosso povo – que é constantemente alvo da desinformação, das inverdades (fake news) e das manipulações produzidas pela mídia conservadora, reacionária e golpista (em particular neste momento sombrio que vivemos no Brasil, onde a Constituição da República é constantemente violentada e as liberdades, a Democracia e o Estado de Direito correm sérios riscos). #Resistir é preciso!
Meu compromisso primeiro é com os trabalhadores e com as trabalhadoras (da cidade e do campo) na luta por seus direitos; com a juventude, assim como com os setores populares sempre excluídos e marginalizados pelas ‘elites dominantes’ que querem perpetuarem-se no poder. Estarei junto com o povo nas lutas pela conquista de suas demandas mais relevantes – especialmente dos bairros e periferias -, tais como por trabalho, moradia, educação, saúde, cultura, lazer ... assim como não medirei esforços na defesa do Meio Ambiente e da Proteção aos Animais, dentre outras questões relevantes para a nossa comunidade. #Alutasegue!!!
No futuro, as faculdades de jornalismo poderão estudar a reportagem do Fantástico deste domingo, sobre o tema da desigualdade social no Brasil nas últimas décadas, como um exemplo de censura política.
Há de se reconhecer o esforço da Rede Globo em fazer o PT desaparecer e recontar a história do Brasil.
A invisibilidade e falta de voz impostas ao maior partido de oposição no país é uma insistente tentativa de colocar as lutas sociais na clandestinidade.
Um erro pelo qual as organizações Globo disseram estar arrependidas em 2013, ao pedir desculpas pela posição vexatória em 1964.
Mas essa é a tradição do maior monopólio de mídia do país.
A democracia é bem vinda apenas fora de nossas fronteiras.
Mas a História não esquece.
E vai cobrar as consequências e autocrítica daqueles que deram guarida à erosão da nossa frágil democracia.
A obsessão pelo PT e a censura da Globo não vão apagar o legado do partido na vida e na consciência daqueles que viveram na pele as transformações sociais positivas que ontem o Fantástico narrou, mas esqueceu de dizer quem lutou e trabalhou para que ocorressem.
Depois de ficar atrás por mais de 300 mil votos na Geórgia, o candidato democrata Joe Biden virou o jogo num estado tradicionalmente vencido pelos republicanos.
Era madrugada em Brasília quando os votos enviados pelo correio permitiram a Biden assumir a liderança com pouco mais de 1.000 votos de vantagem.
A vitória de Biden no estado ainda não é garantida. Ele deve terminar com vantagem de pouco mais de 10 mil votos.
Foi por esta vantagem que Donald Trump venceu Hillary Clinton no importante estado de Wisconsin em 2016.
A Geórgia tem até o dia 12 de novembro para certificar o resultado final.
O estado enviou mais de 8.800 cédulas para votos de militares no Exterior, mas ainda não sabe quantos foram enviados de volta.
Além disso, há algumas centenas de cédulas provisórias, que precisam ser confirmadas com eleitores — alguns esqueceram de assinar, por exemplo.
Dependendo da margem, a lei garante o pedido de recontagem do perdedor, mas em geral isso só mexe com algumas centenas de votos.
A virada de Biden na Geórgia, que pode se tornar a primeira vitória de um democrata no estado desde 1992, é atribuída às mudanças demográficas.
Milhares de jovens se mudaram para a área metropolitana de Atlanta nos últimos anos.
Na Geórgia será decidido o futuro do Senado americano. As duas cadeiras que estão em jogo não foram decididas no primeiro turno e haverá uma segunda disputa em 5 de janeiro.
Pelos resultados do momento, democratas e republicanos estão empatados com 49 votos no Senado.
Se o empate persistir depois do segundo turno na Geórgia, o voto de minerva no Senado seria dado pela vice-presidente Kamala Harris, se a vitória de Biden se confirmar.
Com a possível vitória na Geórgia, o presidente Donald Trump não tem mais como chegar a 270 votos no Colégio Eleitoral.
Se Biden confirmar a vitória na Geórgia e Trump vencer todas as disputas ainda indefinidas — Alasca, Carolina do Norte, Nevada, Arizona, Pesilvânia e um distrito do Maine –, haverá empate em 269 votos no Colégio Eleitoral.
Neste caso, a eleição seria decidida na Câmara dos Deputados, com cada delegação estadual tendo direito a um voto.
Na Pensilvânia, a vantagem de Trump caiu de cerca de 600 mil para pouco mais de 18 mil votos. Considerando a margem de Biden nos votos pelo correio e os votos que ainda falta contar, o democrata pode virar no estado ainda hoje e atingir margem confortável de ao menos 40 mil votos de vantagem.
Se vencer na Pensilvânia, Biden atinge 270 votos — se acrescentar Geórgia, Nevada e Arizona, ele atingiria 306 votos, o mesmo número de Trump em 2016.
Mais cedo, o presidente disse que foi vítima de fraude, sem apresentar provas. Prometeu ações legais em todo o país. Um senador republicano disse, na Fox, que mortos e imigrantes ilegais votaram.
As acusações são baseadas em rumores das redes sociais.
O agitador Steve Bannon teve sua conta no Twitter suspensa depois de sugerir que a cabeça do médico Anthony Fauci, um dos cientistas mais respeitados dos Estados Unidos, fosse pendurada numa estaca.
Fauci sofreu ataques de Trump no final da campanha, por contradizer o presidente na estratégia para combater a pandemia de coronavírus.
Ele integra o National Institutes of Health (NIH) e sofreu ameaças de apoiadores de Trump ao longo da campanha por causa de um e-mail simpático que supostamente escreveu no passado para a democrata Hillary Clinton.
Trump e seus apoiadores mais próximos estão atirando gasolina no fogo, o que pode provocar violência nas ruas dos Estados Unidos quando os resultados oficiais forem anunciados.
Os Estados Unidos bateram ontem o recorde de casos de coronavírus — quase 120 mil, com 1.124 mortes.
Agenda dos candidatos para política externa diverge em relação a métodos e alianças, mas mantém política imperialista
Por Giovani del Prete e Mariana Davi Ferreira*
Nesta terça-feira, 3 de novembro, o povo dos Estados Unidos viverá o Dia D das eleições presidenciais, tendo uma ideia de quem vencerá o pleito. De um lado, o republicano Donald Trump, que tenta reeleição e possui 42% das intenções de voto, segundo as últimas pesquisas. Do outro, o democrata Joe Biden, que foi vice-presidente na administração Barack Obama, com 54% das intenções de voto. O resultado das eleições sairá nas próximas semanas, depois que todos os votos enviados pelos correios forem contabilizados em cada estado.
O sistema eleitoral estadunidense é bem diferente do brasileiro. Além dos votos da população, o que decide as eleições são os votos dos colégios eleitorais em cada um dos 50 estados do país. Ao todo, são 538 delegados distribuídos por todo o país. O número de delegados em cada estado é definido a partir de um cálculo que considera o número de habitantes, de membros da Câmara dos Representantes dos Estados Unidos e de membros do Senado que representam o estado. Vence as eleições o candidato que atingir 50% mais 1 de delegados, ou seja, 270 delegados.
Destacamos dois outros elementos das eleições dos Estados Unidos. O primeiro é que o voto é facultativo. A população, portanto, não é obrigada a votar. Nas últimas eleições presidenciais, em 2016, 61,4% da população apta a votar participou das eleições. Outra peculiaridade é a votação antecipada. Das 240 milhões de pessoas aptas a votar neste pleito, cerca de 70 milhões já votaram antecipadamente, seja presencialmente, seja através dos correios. A expectativa é de que 65% do eleitorado participe destas eleições, algo em torno de 156 milhões de pessoas.
Trump ou Biden?
Mesmo que Trump e Biden tenham grandes diferenças em alguns temas, como a questão ambiental, por exemplo, ambos os candidatos representam os interesses das classes dominantes dos Estados Unidos. Nenhum dos dois possuem uma plataforma comprometida com o enfrentamento das desigualdades sociais ou com a melhoria das condições de vida da classe trabalhadora do país. Democratas e Republicanos no poder cumprem o mesmo papel de garantir as condições de acumulação de capital de grandes empresas que enriquecem às custas da precarização - cada vez mais intensa - das condições e relações de trabalho.
Do ponto de vista das diferenças entre os candidatos, o tema do Acordo de Paris é um bom exemplo. Foi durante a administração Obama que os Estados Unidos foi um dos que lideraram a construção deste acordo que envolve 195 países, com o compromisso de reduzir a emissão de gases de efeito estufa para retardar o aquecimento global. Donald Trump, filiado às ideias negacionistas, de que o aquecimento global é uma farsa, retirou o país deste acordo, alegando que as cláusulas ambientais impedem o desenvolvimento da economia do país. Por sua vez, Joe Biden propõe a volta dos Estados Unidos ao acordo, ao mesmo tempo em que promete uma série de investimentos em energias limpas no país.
Vivemos tempos tão difíceis, que mesmo com grandes semelhanças entre Biden e Trump - no que tange à garantia os interesses do capital e à manutenção de uma ação externa imperialista -, Biden representa a possibilidade de retirar da Casa Branca um presidente xenofóbico, homofóbico e negacionista frente a pandemia da covid-19.
Desde a eleição em 2016, Trump não economiza esforços para promover sua agenda de estímulo ao conflito violento e de ofensiva ideológica contra as forças progressistas e democráticas. Caso Trump se reeleja, a ofensiva da política externa estadunidense continuará incidindo sobre os países que representem empecilhos aos seus interesses externos. Na Venezuela: uma revolução bolivariana que atrapalha os interesses do imperialismo em controlar o petróleo. Na Bolívia: o povo reelege o MAS que dificultará seus interesses em explorar o lítio no país. A Revolução Cubana que resiste ao sangrento embargo norte-americano.
Além da resistência latino-americana, China, Rússia, Irã e Síria são exemplos de países que enfrentam cotidianamente as constantes ofensivas de ingerência externa, sendo submetidos à estratégia de máxima pressão para se curvarem aos desígnios de Washington. Entre Trump ou Biden, as lideranças de extrema-direita de todo o mundo seguramente preferem Trump. Só para citar alguns nomes, Bolsonaro, Modi (Índia), Duterte (Filipinas), Orban (Hungria), Netanyahu (Israel), Juan Guaidó (Venezuela), Duque (Colômbia) estarão melhores posicionados para empreender seus projetos reacionários em seus países caso Trump seja reeleito. Não podemos ignorar que Donald Trump é o responsável por difundir o racismo contra o povo chinês ao se referir ao covid-19 como o “vírus chinês”, algo repetido como um mantra pelos eleitores da extrema-direita mundo afora.
Para entender melhor o cenário pré-eleições, conversamos com Manolo de los Santos, 31 anos, militante do Popular Education Project nos Estados Unidos. Manolo chama atenção para os dados da realidade: são 65 milhões de desempregados, 140 milhões de pessoas na pobreza e quase 230 mil mortes em consequência da covid-19. Esses dados evidenciam a profunda crise que o povo atravessa nos EUA.
Os desafios para a juventude nos Estados Unidos são ainda maiores. Por exemplo, um jovem que estude por quatro anos no ensino superior acumulará uma dívida impagável, algo entre 200 mil e 300 mil dólares, mais de 1,1 milhão de reais. Somado ao quadro de desemprego e de pobreza, as perspectivas de sucesso para um jovem da classe trabalhadora não são nada animadoras. “Não por acaso que menos de 40% das pessoas com menos de 35 anos participam das eleições, a descrença no sistema bipartidário é cada vez mais latente”, explica Manolo de los Santos. Nem Biden, nem Trump apresentam uma agenda que faça o enfrentamento das causas dos problemas que esses dados evidenciam.
O que está em jogo para o povo dos Estados Unidos é a esperança no futuro, fato que cada vez mais é dificultado pelo sistema político e econômico que só aprofunda as desigualdades sociais no país. Reflexo dessa situação foi a eclosão de protestos populares em mais de 200 cidades após o assassinato de George Floyd em Minneapolis, mais uma vítima do sistema policial racista do país. As manifestações antirracistas acompanharam o processo eleitoral deste ano.
No dia 26 de outubro, a população voltou às ruas depois de Walter Wallace Jr., um homem negro, ser alvejado com dez tiros por dois policiais da Filadélfia. O assassinato ocorreu sem que ele representasse uma ameaça iminente aos policiais. A prefeitura da Filadélfia decretou toque de recolher para evitar mais manifestações. Mas o povo não se calou. A constante mobilização luta contra a violência brutal do sistema policial dos EUA que tem como foco a população jovem, preta, LGBT, imigrante, da classe trabalhadora. Além disso, as manifestações demonstram um descrédito no sistema político-econômico dos Estados Unidos e exigem a construção de caminhos para melhoria nas condições de vida do povo.
Duas faces da mesma moeda para a América Latina
A agenda dos candidatos para a política externa dos Estados Unidos nos próximos anos diverge em relação aos métodos e possíveis alianças, mas possui o principal ponto em comum: manutenção da política imperialista. Concordam que os EUA precisa adotar uma posição dura em relação à China, mesmo que por métodos diferentes. Em relação à América Latina, ambos continuam a ver a região como um quintal dos Estados Unidos. Trump, caso eleito, continuará a ofensiva contra a Venezuela e contra qualquer sinal de avanços da esquerda na região. Em um segundo mandato, a ofensiva imperialista contra a região também continuaria a contar com uma peça chave: a posição de subordinação passiva da política externa brasileira aos Estados Unidos no governo Bolsonaro.
Biden também tem um olhar atento para a América Latina. Quando foi vice-presidente, era o emissário especial do presidente Barack Obama para assuntos latino-americanos e visitou 16 vezes a região. Biden afirma que irá rearticular campanhas "anticorrupção" nos países da região, caso vença as eleições. Assim, mesmo com um “verniz mais democrático”, o Partido Democrata possui a mesma direção de desrespeitar a soberania e autodeterminação dos Estados latino-americanos, além de financiar o estrangulamento das forças populares em cada canto da região.
É nosso dever jamais tirar de perspectiva o peso da Doutrina Monroe -- que existe desde 1823, quase 200 anos -- no que diz respeito à mobilização das forças reacionárias em Nuestra America, com o objetivo de inviabilizar experiências de autonomia e resistência ao imperialismo. Assim como os Estados Unidos apoiaram e financiaram os golpes de Estado que instalaram ditaduras em diferentes países da América Latina no século passado; no século 21 continuamos a ver a manutenção dessas práticas, agora de maneira mais sofisticada. Como diz Vijay Prashad, as “balas de Washington” são “balas que assassinaram processos democráticos, que assassinaram revoluções e que assassinaram esperanças."
Não faltam exemplos da águia imperialista intervindo em nossa história recente: é importante que não esqueçamos. Tentativas de golpe frustradas com nítida participação dos Estados Unidos na Venezuela, em 2002 e 2019, na Bolívia, em 2008. Golpes efetivados como Honduras (2009), Paraguai (2012), Brasil (2016) e Bolívia (2019). Bloqueios e sanções econômicas sangrentas em Cuba e na Venezuela. São exemplos do uso sofisticado de diferentes armas que o imperialismo faz para garantir seus interesses político-econômicos, mesmo que isso destrua vidas.
Entender as eleições dos EUA é estudar parte da política do Estado inimigo. Por isso, após a conclusão das eleições presidenciais dos Estados Unidos, qualquer que seja o resultado, é preciso estarmos atentos. O imperialismo estadunidense, democrata ou republicano, continuará a agir sobre nossos territórios como se não fôssemos povos e Estados soberanos. De nossa parte, temos que denunciar esta realidade e construir força social anti-imperialista para derrotar este sistema. Cabe a nós sermos resistência ao imperialismo!
*Giovani del Prete é bacharel em Relações Internacionais pela Universidade Federal do ABC (UFABC) e militante internacionalista. Mariana Davi Ferreira é cientista social, internacionalista e militante do Levante Popular da Juventude.