17 setembro 2009
'Estão chegando perto...'
Novos áudios revelam cinco interlocutores tratando do repasse de propina à governadora e pagamento de contas do PSDB
Porto Alegre/RS - Do Portal PTSul: Mais quatro áudios, liberados pela Justiça de Santa Maria, foram apresentados na sessão da CPI da Corrupção desta quinta-feira (17). As escutas flagram comentários de cinco interlocutores sobre o repasse de propina para a governadora, pagamento de contas do PSDB e da própria Yeda Crusius com dinheiro desviado de Detran e possíveis irregularidades no caixa da campanha tucana ao Piratini. Segundo a presidenta da comissão de inquérito, Stela Farias (PT), o conjunto de áudios contém indicações muito fortes da participação da governadora e pistas muito claras da divisão dos dividendos da fraude no Detran.
A gravidade do teor das escutas, na avaliação da parlamentar, explica a ausência dos deputados governistas na sessão. “É cada vez mais compreensível a ausência, que só pode ser creditada à negativa da base aliada em investigar para proteger os envolvidos. Vamos continuar trabalhando porque a sociedade gaúcha tem o direito de saber como funcionava o esquema e em que mãos foram parar os recursos desviados dos cofres públicos”, avisou.
O primeiro dos áudios exibidos é de um telefone entre o empresário Lair Ferst e Marcelo Cavalcante, ex-chefe do Escritório Político do Rio Grande do Sul em Brasília, morto em circunstâncias não explicadas no início do ano na capital federal. O diálogo gira em torno da carta que Ferst teria enviado à governadora, alertando sobre o risco da fraude do Detran se transformar num escândalo caso ela (Yeda) não tomasse uma providência.
Na gravação, o empresário relata uma conversa em que a governadora teria dito que “o negócio é muito complicado porque envolve os partidos e não quero me incomodar com os partidos”. Yeda teria dito ainda, conforme Lair informou a Cavalcante, que “vieram me falar que vão me dar R$ 50 mil. Se for para ganhar R$ 50 mil, eu vou acabar com tudo. Pelo que tô sabendo parece que eles estão recebendo muito dinheiro.”
Ganância do Piratini
Em outro trecho do telefonema, Ferst conta que foi chamado pelo então presidente do Detran Flavio Vaz Netto, que o informou que “fizeram um acordão para distribuir os valores entre eles e tinha ficado acertado que a parte da governadora seria R$ 170 mil”. O empresário diz a Cavalcante que “o pessoal do Palácio... é muito ganancioso... cada mês eles querem mais”. O pessoal do Palácio seria Carlos Crusius, ex-marido da governadora, Delson Martini, ex-secretário Geral de Governo, Walna Villarins Meneses, ex-assessora especial da governadora e a própria Yeda.
Lair afirmou, ainda, que a governadora “dá sinais de que está concordando com tudo”. E mais adiante comentou “ela me dá impressão que tá refém. Ou tá refém ou tá gostando da grana que tá entrando....O Flávio me disse que ela sabe de tudo... ela sabe detalhe por detalhe...ela acompanha nos mínimos detalhes tudo...”
Recado ameaçador
Em outro áudio exibido na CPI, Vaz Netto envia um recado para o relator da CPI do Detran, Adilson Troca (PSDB), por meio do assessor do PP, Sérgio Araújo. No telefonema, o ex-presidente do Detran pede que Araújo diga ao tucano está disposto à voltar à comissão de inquérito para dizer que foi pressionado por Delson Martini a readmitir Lair Ferst no esquema fraudulento para “produzir dinheiro para pagar as contas do PSDB e da governadora”. Vaz Netto queria que Troca defendesse a procuradora Andréa Vieira, que prestava assessoria à CPI do Detran e que foi flagrada passando informações das investigações para o deputado federal José Otávio Germando (PP), apontado como um dos principais beneficiários do esquema fraudulento.
Também foi apresentado telefonema entre Vaz Netto e Antônio Dorneu Maciel em que os dois implicados na fraude do Detran trocam impressões sobre o andamento dos trabalhos da comissão de inquérito. Ao comentar uma entrevista coletiva em que o deputado Fabiano Pereira (PT) apresentou cópia do contrato de aluguel do comitê da campanha da governadora, assinado pelo presidente do Bansisul, Rubens Bordini, e por Ferst, Vaz Neto comentou que “estão chegando perto.... chegando nos caras que mexeram com o dinheiro da campanha dela”. Maciel emendou afirmando que “tem qualquer coisa no Uruguai”.
Repercussões
O deputado Daniel Bordignon (PT) considera que a gravidade do conteúdo dos áudios demonstra que o movimento da base governista de não dar quórum para votar os requerimentos de convocação de testemunhas repete a tática de depoentes da CPI do Detran que ficaram em silêncio. “Os representantes do governo não comparecem para nada declarar e impedir o trabalho da CPI da Corrupção, assim como alguns réus fizeram na CPI do Detran. É o silêncio da impunidade”, frisou.
Bordignon afirmou, ainda, que o áudio da conversa entre Ferst e Cavalcante mostra que, ao contrário do que os integrantes da base aliada alardeiam, o empresário gozava da confiança da governadora. O petista citou trecho do diálogo em que Cavalcante relata pedido de Yeda para que ele (Cavalcante) não deixasse “o Lair desamparado”.
O deputado Ronaldo Zülke (PT) classificou os áudios de estarrecedores. Apesar de criticar a ausência dos governistas, Zülke considera que a “tática da obstrução” poderá ter como resultado a “aceleração do ritmo da apresentação das provas”. “Eles que fujam da verdade e continuem se negando a gerar provas contra seus partidos. É uma opção política que podem fazer. Por outro lado, a CPI poderá continuar mostrando à população gaúcha os detalhes do esquema de corrupção instalado no Piratini.”
Morte de Cavalcante
O deputado Fabiano Pereira (PP) sugeriu a formação de uma comitiva para ir a Brasília cobrar a conclusão do inquérito sobre a morte de Cavalcante. “Os áudios mostram que o ex-assessor da governadora sabia muito. E sua morte até agora não foi esclarecida”, justificou, recomendando que os parlamentares procurem a Polícia Civil, o Ministério Público e o governo do Distrito Federal. (Por Olga Arnt, do sítio PTSul)
*Edição e grifos deste blog
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