20 maio 2010
Eleições 2010
Nesses momentos políticos...
Flávio Koutzii escreve:
Uma dramática característica do pensamento e do espaço onde se dá o trânsito das idéias políticas passa, nos últimos anos, por uma profunda fragilização do pensamento e da reflexão.
Domina este processo:
a) A simplificação maniqueísta que se opõe à análise complexa;
b) A ampliação e a valorização do fragmento em detrimento da compreensão do todo;
c) A supervalorização do anedótico e pontual confrontando-se com o entendimento de conjunto e as causas dos fenômenos.
A simplificação maniqueísta, a ampliação do fragmento e a supervalorização de fatos isolados e pontuais percorrem a história política há muito tempo, mas se acentuaram radicalmente neste período histórico diferenciado que é inaugurado pelos dois mandatos do Presidente Lula.
Exemplificando: o novo avião da presidência (o “Aerolula”) e as múltiplas viagens são opostos ao conjunto da política internacional (truque vulgar que tenta sugerir a idéia de “gastos excessivos” e que sendo assim invalidariam esta política). Em verdade, a política internacional tem que ser avaliada em outro patamar e não na preliminar material que envolve - avião e viagens. De fato ela é uma das mais bem sucedidas políticas do governo brasileiro.
Outro exemplo é a expressão famosíssima de Lula: a “marolinha” referindo-se ao início da crise econômica e sua repercussão no Brasil. Por que isso é um exemplo? Porque a oposição de direita no Brasil, conservadora, maximiza a expressão e minimiza a extraordinária capacidade que o governo, os agentes econômicos, as decisões e escolhas, determinassem decisivamente a que fossemos o país que mais cedo e melhor saiu da crise.
Além do comprometimento da reflexão e empobrecimento do pensamento, também é marcante o esforço titânico do conservadorismo para anular a história, reduzir os significados, desconectando o presente do passado, ignorando seus percursos, dinamitando o valor da experiência e o significado da própria democracia.
Um exemplo extraordinário da miséria do pensamento conservador é a reiterada manifestação de políticos da direita gaúcha e nacional que nos explicam que “não interessa” comparar os anos FHC com os anos Lula, os anos 90 da reforma neoliberal com a primeira década do século XXI que é hegemonizada por um governo que faz uma forte inflexão desenvolvimentista, de redistribuição de renda e fortalecimento da independência e autonomia do país.
Por isto se vê tão reiteradamente nos pronunciamentos e debates na mídia a fala usando o velho clichê “não ficar olhando pelo espelho retrovisor, temos que olhar pra frente”. Esta é uma formulação indecente porque, como as eleições envolvem um episódio de escolha, nada mais substantivo do que saber o que cada projeto materializou. E também é muito funcional para a direita, recusa o real para melhor fantasiar a próxima peça de marketing. Recusa a análise comparativa, e aí de novo, e uma vez mais, abastarda a política e o pensamento e nega a história.
Aliás, a recente decisão do Supremo Tribunal Federal é uma imensa e trágica contribuição para anular a história (o que não conseguirão) ao consagrar a anistia de 79 como eterna, perene, uma espécie de clausula pétrea da violência e da tortura. Como se vê todos os rios do conservadorismo se encontram no mar da covardia.
Tudo isto cria e facilita um campo fraturado para avaliar as políticas públicas, o significado dos fatos, os desafios concretos e as respostas diferenciadas nas quais se materializam projetos diferentes para a sociedade.
É por isto que neste 2010 há decisões políticas e sociais decisivas a tomar.
Apesar da degradação da política, da indução dos grandes centros midiáticos e da direita, o episódio eleitoral é arena de disputa onde não somente se escolhe candidato, partido e projeto mas também se pode restaurar valores, história, capacidade crítica e compreensão analítica, quer dizer, mais condições para os humanos, mais liberdade e mais Brasil.
*Flávio Koutzii (foto) é sociólogo. Foi deputado estadual pelo PT/RS e chefe da Casa Civil no governo da Frente Popular (1999/2002).
**Fonte: Jornal Sul21 - http://www.sul21.com.br/index.php/colunistas/Flavio-Koutzii/169
(Edição e grifos deste blog)
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