Por Fernando Brito, no Tijolaço* - Joaquim Ferreira dos Santos, pacato como um cronista deve ser, faz hoje no texto que publica em O Globo, um desabafo-convocação que foge ao seu tom, mas é fiel a quem se encanta(va) com as delicadezas do cotidiano, matéria prima da crônica.
Mas até quando vocês vão ficar aí com esse espanto de donzelas afrontadas, essas exclamações diárias de que isso é um absurdo!, onde já se viu!, não pode estar acontecendo!, e ó meu Deus!?
Parem com esse mimimi de frouxos, um bando de acovardados que ouviu a besta fera se anunciar como tal e preferiu acreditar, apesar dos grunhidos, que ela se civilizaria. Acharam que com a passagem dos meses ela usaria corretamente a lavanda à mesa. Que ao andar pelo palácio o tosco seria transformado em príncipe pelo simples contato dos pés com o mármore do Niemeyer. Perderam todos, playboys otários.
Mexam, urgente, os seus preguiçosos bundões cívicos e, por mais tarde que já se faça, esfreguem a cruz de alho na cara do vampiro. Partam para cima. Há um morcego na porta principal e, enquanto o Doutor Eiras não manda a camisa de força, ele chupa o sangue geral. Chamem o insetisan mais próximo, ponham a máscara contra gases. A piscina cheia de ratos transbordou e o fedor nauseabundo toma conta de tudo.
Sim, o pacato Joaquim tem razões para a clarinada que faz soar chamando quem, ao menos, não quer ser tragado pelas águas da estupidez que nos afogam.
Não dá para deixar em primeiro plano as nossas diferenças, os nossos senões e nuances ideológicas quanto é a nossa própria pretensão de sermos uma sociedade – ainda que injusta e iníqua – civilizada.
A seu modo, o cronista mostra que há um mar agitado de sentimentos de repulsa a esta grotesca transformação do Brasil no país dos absurdos e da grosseria, da insanidade e da estupidez.
A camada de selvagens, ainda que inimaginavelmente maior do que se possa achar tolerável, se reduz aos fanáticos; a de indignados e apavorados com o que se faz ao Brasil, de outro lado, cresce.
Mas se esta força não se mostrar, se ficar dispersa, oculta, reduzida aos mimimis de que fala o cronista, na política e nas instituições, o poder que ocupam não terá limites.
É hora de fazer a água agitada virar onda, encher a rua, fazer sentir sua força.
Falharemos por não “partir pra cima” como nos pede o pacato Joaquim?
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