Por Joaquim de Carvalho*
Não li o livro de Malu Gaspar sobre a Odebrecht e dificilmente lerei, por uma simples razão: ele nasce desatualizado, o que é um pecado sem salvação no mercado editorial.
A Organização é o nome da obra editada pela Companhia das Letras, que o Fantástico esmiuçou dentro do seu padrão miserável de jornalismo.
A Globo ataca os políticos como se fossem eles os responsáveis pela corrupção, e ignora que são peças de uma engrenagem da qual o próprio grupo de comunicação faz parte.
Pelo que narrou o Fantástico, o livro reproduz — e talvez detalhe — as delações premiadas dos donos e executivos da empreiteira, e as desavenças pessoais dos membros da família, inclusive entre pai e filho.
Tudo o que já é público, inclusive com uma fartura de vídeos no YouTube.
A questão mais importante a ser respondida é sobre o papel de Sergio Moro e dos demais integrantes da Lava Jato no ataque a um grupo empresarial que foi destroçado depois de se destacar como um líderes da construção pesada e também do setor petroquímico.
O que sabemos hoje é que Sergio Moro ganhou, pessoalmente, com essa destruição, já que foi anunciado como sócio diretor da Alvarez & Marsal, empresa estrangeira responsável pela recuperação judicial da Odebrecht.
Esta é a história que precisa ser contada, o tema atual: como o sistema de justiça criou dificuldade para empresas e, depois, seus integrantes acabaram beneficiados.
Outra história que nasceria sem cheiro de mofo é a da investida dos EUA contra uma empresa nacional que ocupava espaço relevante no mercado de obras públicas e privadas no mundo todo, inclusive em seu próprio território.
Ex-prestador de serviços da Odebrecht, Rodrigo Tacla Durán, uma das prováveis fontes da autora, sabe bem que havia interesse da administração de Barack Obama de apresentar, em 2016, a capitulação da empresa brasileira como um troféu.
E isso ocorreu.
A empresa assinou acordo nos Estados Unidos em que admitiu o pagamento de US$ 1 bilhão em propina em 12 países — não nos EUA.
Em razão disso, comprometeu-se a indenizar Brasil, EUA e Suíça, no valor total de R$ 6,9 bilhões.
O governo Obama apresentou a Odebrecht como o maior caso de corrupção internacional da história.
Certamente, os concorrentes da empresa sediados nos EUA, tanto da área de construção pesada quanto da petroquímica, comemoraram.
No jornalismo, sempre é gratificante contar a história sob a perspectiva de Davi — que, de acordo com a tradição judaica, derrotou o gigante.
A Odebrecht cometeu erros monumentais, mas no mercado mundial nunca foi o gigante Golias.
Muito menos o Brasil.
A Odebrecht também nunca foi o Davi. Mas hoje tem o aspecto de um cachorro morto.
E, como se sabe, chutar cachorro morto é feio.
Coragem editorial seria contar como Moro ganhou (e tende a ficar rico) com uma operação que destruiu empresas e tirou emprego de milhões de trabalhadores brasileiros.
*Via DCM
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