26 julho 2024

Miúdas reflexões sobre o desastre ambiental no RS

O resultado das ações e omissões dos atuais administradores do Rio Grande do Sul e de sua capital é simplesmente estarrecedor

Foto: Gustavo Garbino/ PMPA


Por Carlos Frederico Barcellos Guazzelli (*)

Alagados e afogados 

Como era de se esperar – mas com mais violência – o outono gaúcho, no final de abril e começo de maio, foi marcado por intensas chuvas, que se estenderam por quase duas semanas. Como também era de se esperar, os rios que compõem a bacia do Guaíba – a maior e principal do estado – voltaram a transbordar, e as águas desceram com virulência redobrada e inédita, arrancando a terra e a vegetação das margens e várzeas, e invadindo e destruindo bairros e cidades, no caminho inexorável rumo ao estuário e à laguna.

A devastação das cheias de setembro e novembro do ano passado – há quem considere que se tratou de episódio único, em duas etapas – não fora ainda reparada integralmente, quando a fúria das correntes barrentas abateu-se sobre dezenas de municípios situados à beira dos rios, nos vales do Taquari, do Caí e do Jacuí, e do Sinos e do Gravataí, arrastando, afogando e soterrando vidas e bens, futuro e esperança de milhares de rio-grandenses.    

Desalojados e desabrigados; mortos e desaparecidos

Os números do desastre, mesmo parciais, servem para dimensionar a enormidade da tragédia – humana, social e ambiental: 458 municípios atingidos (de um total de quase quinhentos), dos quais 320 em emergência – situação caracterizada pela perda parcial da capacidade de resposta institucional; 46 em calamidade – quando há perda total desta capacidade – entre os quais Porto Alegre; meio milhão de pessoas desalojadas – isto é, forçadas a ficar fora de suas casas; e 80.000 desabrigadas, recolhidas em abrigos públicos ou improvisados. E o pior: até o momento, meados de julho, 182 mortos e dezenas de desaparecidos.   

Este saldo só não é mais trágico devido à extraordinária e espontânea mobilização da sociedade civil, incluindo milhares de voluntários, de proprietários de barcos e pescadores, até simples cidadãos e cidadãs; bem como a efetiva reação do Poder Público – bombeiros, policiais, servidores em geral; e igualmente, de órgãos e instituições da União Federal, a começar pelas Forças Armadas, colocados à disposição pelo Presidente da República, e que desde logo acorreram aos locais atingidos.

Crônica da destruição anunciada

Foram muitos, e todos desconsiderados, os anúncios da tragédia que se avizinhava. Não é preciso recordar os avisos dos serviços de meteorologia – locais, nacionais e estrangeiros, cuja expertise tem sido desenvolvida notavelmente nas últimas décadas – sobre os volumes extraordinários das precipitações que ocorreriam no período, bem como de sua longa duração, dado o fenômeno de bloqueio atmosférico causado pela massa de ar quente e seco que se mantinha sobre o centro-sul do País. 

Mais que isso, o grande alerta já fora dado no segundo semestre do ano anterior. Com efeito, as avassaladoras enchentes então corridas na chamada Região dos Vales, provocaram na sequência grandes inundações no Delta do Guaíba, em especial no bairro Arquipélago, e as águas somente não invadiram o Centro Histórico da capital e os bairros da zona norte, porque o Sistema de Proteção Contra as Cheias (SPCC) conseguiu detê-las.

Estes acontecimentos ilustraram de forma inequívoca a pertinência de pedidos formulados, mais de uma vez, por engenheiros e técnicos do Departamento Municipal de Água e Esgotos (DMAE) – primeiro em documento de 2019, e depois em outras ocasiões mais recentes, inclusive depois das cheias de 2023 – no sentido de reforçar e reparar pontualmente os equipamentos do aludido sistema de proteção. A propósito, sempre é bom lembrar que este foi concebido e construído ao longo de três décadas, para prevenir e impedir a recorrência de episódio similar à histórica “enchente de 41” – o que só não se repetiu agora graças ao SPCC, mesmo sem a manutenção das casas de bombas e comportas solicitada pelos servidores do referido órgão, e desconsiderada por suas chefias.

Não foram apenas os administradores da Capital que menosprezaram os avisos sobre o perigo: também o Governador do Estado minimizou os riscos do desastre iminente – o que não passou despercebido, inclusive, da imprensa nacional, como se viu em entrevista concedida à Folha de São Paulo, na qual ele foi questionado sobre os estudos que apontavam a alta probabilidade de aumento significativo de chuvas na região. Mesmo admitindo que tais elementos indicavam a necessidade de preparação para os eventos excepcionais – que já estavam ocorrendo, aliás – ele declarou candidamente que “…o governo também vive outras pautas e agendas…” (sic), dentre as quais a fiscal, “….agenda que se impunha…”(sic). 

Tamanha desfaçatez levou até mesmo Élio Gaspari, jornalista insuspeito de qualquer laivo esquerdista, a registrar em sua coluna no mesmo periódico: “…o que aconteceu no Rio Grande do Sul é muito mais que um aviso…é a exposição do compromisso com o atraso” (sic).   

O roteiro da destruição

Não por acaso, os grandes acumulados de chuva e as consequentes enxurradas se deram nas regiões do estado denominadas tradicionalmente de “coloniais”, percorrendo como se disse antes o caminho dos grandes cursos d´água que, nascidos nos Campos de Cima da Serra ou no Planalto Médio, desembocam no rio Jacuí e dali ao Guaíba; aos quais se somam, também, os rios Gravataí e Sinos, estes, correndo no sentido leste-oeste. 

Conforme demonstrou em estudo já clássico o professor Paul Singer, a exploração das terras férteis daquelas zonas de vales e serras pelas pequenas propriedades familiares das colônias formadas pelos imigrantes alemães e italianos, e seus descendentes, originou o surgimento, de maneira até então inédita no país, de uma nova classe média, primeiro rural e logo também urbana. De fato, em “Crescimento Econômico e Desenvolvimento Urbano”, o grande economista, falecido há poucos anos, descreve a maneira peculiar pela qual a produção agrícola e manufatureira destas áreas destinava-se, não ao setor do mercado externo, mas sim ao setor do mercado interno, denominações usadas por ele.

E foi por abastecer as regiões de grandes monoculturas do centro e do nordeste do país, durante décadas – fornecendo-lhes couro, corda, fumo, cerveja, vinho, ferramentas, implementos agrícolas, alimentos, etc – que o Rio Grande ganhou o epíteto de “celeiro do Brasil”, deixando de ser apenas a fração meridional do grande latifúndio estabelecido país afora.

De outra parte, esta forma diferenciada e original de exploração dos vales e serras do estado, além de provocar benéficos efeitos econômicos, sociais e culturais, acarretou também, e necessariamente, sérios problemas ambientais, registrados já durante o século XX – fruto do desmatamento indiscriminado, sobretudo das encostas e matas ciliares, e aterramento de várzeas, bem como da poluição e assoreamento dos cursos d’água. Mais graves ainda se tornaram tais problemas com a implantação de lavouras de soja nos Campos de Cima da Serra. 

O prejuízo ambiental daí advindo é grande, e ainda está por ser devidamente dimensionado, segundo os estudiosos. Ocorre que ali, na micro-região composta por várzeas, arroios e vegetação ciliar¸ que se estende pelos municípios de Jaquirana, Cambará do Sul e São Francisco de Paula, situam-se as nascentes do Rio das Antas – de que aqueles sempre funcionaram como verdadeira “esponja”, absorvendo boa parte das águas das chuvas intensas e periódicas, impedindo ou minimizando, desse modo, as enchentes no vale do Taquari, mais abaixo. 

A propósito, aplicam-se perfeitamente aos episódios ocorridos no mês de maio, as observações que foram feitas pelo biólogo e professor da UFRGS, Paulo Brack, e seu colega Eduardo Luís Ruppenthal, acerca das cheias do final de 2023 (“Reflexões frente ao desastre climático-ambiental das cheias do rio Taquari”, artigo postado neste Sul21 em 14 de setembro daquele ano). Como ali demonstrado, a remoção do colchão natural de amortecimento das águas, na bacia dos rios Antas e Tainhas, feita para acomodar as lavouras de soja – que tornam o solo duro e pouco permeável – agravou em muito a situação ambiental local, pelo enorme aumento que provocou nas massas de água que escorreram vales abaixo. 

A este fenômeno, some-se a lamentável devastação procedida tradicionalmente nas encostas de serra – devida em especial à cultura da uva e do vinho – responsável pelos terríveis desmoronamentos de terra registrados durante as enxurradas.  O resultado trágico e previsível desta conjunção causal foi a destruição das margens e das vegetações ribeirinhas, bem como o alagamento e soterramento de vilas e bairros inteiros das cidades próximas aos rios. 

A participação dos governantes na produção da tragédia

Como se vê, a tragédia deve-se menos aos fenômenos naturais extraordinários registrados, do que a fatores provocados pela ação e omissão humanas, inclusive à contribuição de governantes locais – os quais, mesmo podendo prevê-los, não apenas não mitigaram, como aumentaram de forma exponencial seus efeitos deletérios.  Neste particular, merecem destaque os comportamentos de dois dirigentes, por sua inegável importância, se não na produção direta do desastre ambiental, na ampliação desmesurada de suas dimensões. 

No que toca ao atual chefe do Executivo da capital do estado, conforme dito acima, a desconsideração inexplicável às repetidas advertências de engenheiros e técnicos do município, no sentido de determinar a manutenção e reparos dos equipamentos do SPCC, em especial, das comportas e bombas de recalque – omissão mais imperdoável ainda diante das cheias de setembro e novembro do ano passado, em que o sistema sofreu visível estresse, embora tenha resistido ao assédio das águas.

Não menos graves e censuráveis são as condutas do Governador do Estado – a começar por ter tomado, em 2019, a infeliz iniciativa de desfigurar o Código Ambiental do Rio Grande do Sul, diploma legal pioneiro, editado há mais de duas décadas. Com efeito, por proposição sua, aprovada pela bancada majoritária da Assembléia Legislativa – sempre pressurosa em atender aos interesses das oligarquias rurais e urbanas, a cujo serviço se empenham seus integrantes – foram introduzidas quase quinhentas (?!) alterações naquela legislação, todas na direção da malfadada “flexibilização” de normas protetivas da terra e das águas, da flora e da fauna, dos biomas Pampa e Mata Atlântica. 

Cabe destacar, dentre estas mudanças que deformaram o código, por seu caráter especialmente nocivo, o “auto-licenciamento”, providência muito saudada, é claro, por empresários e fazendeiros – e cujo significado e alcance melhor se expressam pela conhecida metáfora da entrega da guarda do galinheiro à raposa… 

Foram efetivadas ademais outras providências de autoria daquele governante e sua grei, igualmente desastrosas  para o meio ambiente do estado, como a aprovação recente da Lei Estadual n. 16.111/24 – editada justamente em abril, pouco antes das chuvas e cheias que arrasaram o centro e norte do território. Ela permite, entre outras coisas, a utilização das “áreas de preservação permanente” (APP’s) para irrigação de campos agrícolas – o que, além de importar no uso ilegal das águas de várzeas e outras zonas protegidas, significa legislar indevidamente sobre matéria de privativa competência da União, segundo a Constituição Federal.

Não bastasse a contínua remoção dos impedimentos legais à destruição ambiental promovida pelo chamado agronegócio, e mesmo depois da tragédia ocorrida, Eduardo Leite já se mobiliza para manter intactas as atuais políticas de falta de controle sobre esta atividade. 

Assim é que, neste sentido, anunciou no fim de junho a criação de um Plano de Reconstrução e a instituição de um Conselho para efetivá-lo, composto por mais de uma centena de representantes do Estado e da sociedade civil – dos quais há apenas quatro ligados a entidades ambientalistas…

Na mesma linha, o alcaide de Porto Alegre já havia anunciado a contratação da notória Alvarez e Maciel – empresa norte-americana, misto de escritório de advocacia e agência de publicidade, especializada na recuperação da reputação de autoridades suspeitas de irregularidades.

O resultado das ações e omissões dos atuais administradores do Rio Grande e de sua capital – e, claro, também de alguns de seus predecessores, adeptos das mesmas políticas neoliberais – é simplesmente estarrecedor: basta que se atente a dado do MapBiomas, segundo o qual o território estadual perdeu, entre 1985 e 2022, 22% de sua vegetação nativa, ou seja, 3,6 milhões de hectares, principalmente para a soja.  

As tarefas urgentes: (re) construir e responsabilizar

Superados os movimentos iniciais – primeiro, o salvamento e atendimento às populações mais atingidas; seguidos do restabelecimento, na medida do possível, das condições de seu retorno aos locais de origem e às atividades habituais, operações ainda em curso – cabe então planejar e executar os trabalhos de recuperação das infraestruturas – físicas, ambientais e sociais – abaladas, quando não destruídas pelas chuvas e cheias. Nesta fase, tão difícil quanto as anteriores, e certamente mais demorada e custosa, trata-se fundamentalmente de fazer escolhas.

É, pois, de política que se trata – no sentido amplo do termo, atinente ao exercício do poder legítimo em uma democracia, com a definição, sob os critérios constitucionais e legais, das competências, objetivos e metas a perseguir, bem como a discriminação prévia e racional dos recursos – pessoais, financeiros e materiais – a serem disponibilizados aos diferentes agentes sociais encarregados da recuperação das áreas degradadas. A própria opção do caminho a ser seguido – reconstruir o que foi destruído, ou construí-lo de modo diverso, para evitar a repetição do acontecido – embute em si mesma a disputa entre projetos políticos opostos, que já é possível perceber.   

De um lado, as aludidas autoridades, as quais, além de salientar que não é o momento de “apontar culpados” (!?) – preocupação típica de quem não quer ser responsabilizado – já se adiantam na busca de contratação de “consultorias” especializadas, como visto. De outra parte, cientistas e políticos comprometidos com a urgência na adoção de medidas preventivas das alterações climáticas e de políticas ambientalmente sustentáveis, propõem o reordenamento da ocupação dos territórios atingidos pelo desastre, de modo distinto àquele que o provocou ou favoreceu. 

E, nesta direção, algumas tarefas se revelam impositivas. Em primeiro lugar, no que se refere à realocação das populações desalojadas – assim como no reerguimento e restabelecimento dos prédios comerciais e públicos – evitar fazê-lo no caminho das águas, diante da alta probabilidade de novos eventos similares no futuro próximo.

É fundamental, ademais, impedir a ocupação ou reocupação de APP’s e, da mesma forma, recuperar as áreas de encostas dos rios, nas regiões dos vales e serras, bem como regenerar as várzeas e as vegetações ciliares. Nesta esteira, na impossibilidade de vedá-la, limitar e regular a implantação de lavouras nas zonas de alagamento natural dos cursos d’água dos Campos de Cima da Serra – que funcionam como verdadeiras “esponjas”, que atenuam a força das cheias nas bacias inferiores.

Trata-se de medidas imprescindíveis para prevenir o impacto dos futuros fenômenos climáticos do gênero dos ocorridos, e que devem ser acompanhadas do circunstanciado apontamento, aos diferentes órgãos públicos de controle e fiscalização, dos danos ambientais causados ou potencializados pela conduta, ativa e omissiva, de autoridades públicas.  

Por fim, cabe lembrar ao povo rio-grandense – vítima de grave desastre ambiental que, mesmo inevitável, poderia ter sido previsto e mitigado – que ele tem, nas próximas eleições municipais, oportunidade ímpar para substituir alguns dos responsáveis pelos danos que lhe foram infligidos. Seguindo, aliás, o conselho dado ao eleitorado porto-alegrense por Sebastiâo Melo, quatro anos atrás: trocar o Prefeito! 

(*) Defensor Público aposentado, Coordenador da Comissão Estadual da Verdade/RS (2012-2014)

Texto condensado de ensaio ainda inédito de mesmo título

-Fonte: Sul21

24 julho 2024

VENENO - 'Valemos menos': situação do Brasil frente à União Europeia é sub-humana, diz Larissa Bombardi sobre agrotóxicos

Pesquisadora fala sobre herança colonialista no uso de substâncias produzidas por multinacionais europeias

Bombardi: "o campesinato brasileiro é um campesinato que nasce sem terra. É um campesinado excluído. É uma sociedade que se constrói na exclusão" - Terra de Direitos

A população brasileira é tida como sub-humana frente à União Europeia (UE). A constatação é da pesquisadora Larissa Bombardi, que estuda os impactos e o funcionamento do comércio mundial de agrotóxicos. "Quando eu olho o fato de que no Brasil o resíduo de glifosato autorizado na água potável é cinco mil vezes maior do que aquele autorizado na União Europeia. Quando eu vejo que o resíduo de malationa no Brasil é 400 vezes maior do que o autorizado na União Europeia, sou obrigada a pensar que, no conjunto das relações internacionais, a população brasileira, latino-americana e africana é tida como sub-humana. Nós valemos menos."

Dos dez agrotóxicos mais vendidos no Brasil, cinco são proibidos na UE. Isso significa que são autorizados em território nacional agrotóxicos cancerígenos, que provocam má formação fetal, alterações hormonais, infertilidade e mal de Parkinson, por exemplo.

Por trás disso, empresas como as alemãs Bayer e Basf, as estadunidenses Corteva e FMC, a estatal chinesa Syngenta e a indiana Upl venderam, em 2020, juntas, US$ 43 bilhões dessas substâncias. Mais de 80% desse mercado é controlado pela Bayer, Corteva e Syngenta. 

A autorização de venda de agrotóxicos proibidos na UE para nações do sul global, como o Brasil, coloca o país numa nova espécie de colonialismo, que se une, segundo Bombardi, à concentração de terras, à violência contra povos originários e às nossas origens escravocratas.

"A gente tem uma oligarquia que controla politicamente o país, que representa esse monopólio das terras no Brasil, que se afina com os interesses externos. O campesinato brasileiro é um campesinato que nasce sem terra. É um campesinado excluído. É uma sociedade que se constrói na exclusão."

A análise está posta em Agrotóxicos e Colonialismo Químico, livro lançado em outubro do ano passado e divulgado pela própria autora no Brasil somente neste mês, quando ela finalmente volta - ainda que de passagem - ao país. Bombardi está há três anos exilada na Europa por conta de ataques sofridos após a divulgação do Atlas Geografia do Uso de Agrotóxicos no Brasil e Conexões com a União Europeia, publicado em 2017. (...)

*CLIQUE AQUI para continuar a ler (e assistir)  a entrevista realizada por Beatriz Drague Ramos com Larissa Bombardi no Brasil de Fato

23 julho 2024

EM CONVENÇÃO REALIZADA DIA 20, PT SANTIAGUENSE OFICIALIZOU SUAS CANDIDATURAS AO PLEITO DESTE ANO

 

             Foto: Josieli Miorin, Jussara D. Vieira e Liamara Finamor

O Partido dos Trabalhadores - PT de Santiago/RS (Federação Brasil da Esperança) realizou sábado, dia 20/07, sua Convenção Municipal para oficializar suas candidaturas ao Executivo e Legislativo nas próximas eleições de outubro. 

A Convenção, realizada em sua nova Sede Municipal (situada na Travessa Jaime Pinto, esquina com a Rua Benjamin Constant, Centro), contou com a presença da Presidenta Estadual do PT, Jussara Dutra Vieira, além de expressiva participação de filiados, dirigentes, militantes, apoiadores e pré-candidatos(as). Na oportunidade, foi confirmada a candidatura à Prefeita da Secretária Geral do PT local, a Advogada e  Socióloga Josieli Minosso Lamana Miorin, que terá como candidata a vice-Prefeita a professora e sindicalista Liamara Guarda Finamor (foto acima).

Assim como a chapa ao Executivo, foi também chancelada a relação de candidatos(as) do PT ao Legislativo Municipal (que contará com 14 nomes), que  terá a seguinte composição:

Candidatos(as) à vereança: Antônio Carlos Rosa Bueno, Carlos Antônio Sestrem, Fernanda de Lima Machado, Geanine Bolzan Cogo, Iris Minéia da Silva Guedes, João Inácio Souza de Carvalho, Joel Antônio Crestani, Jorge Deoclécio Gonçalves da Rosa, Marcio Reginaldo Bitencourt da Cruz, Miguela Marina de Bastos Gonçalves, Odacir Viviane Perônio, Ramão Thadeu Santos Silveira, Tierle Polga Canterle e Valtair Oliveira.

"Nossas candidaturas e nosso Programa de Governo Democrático e Popular, assim como a nível nacional está fazendo o governo liderado pelo Presidente Lula, representa uma alternativa real de mudanças ao mesmismo e conservadorismo direitista até agora hegemônico na política local. Importante também elegermos uma forte nominata de vereadores/as. Chega dos mesmos. É hora de mudar!”, reiterou em sua fala Josieli Miorin, a candidata petista ao Executivo Municipal.

A campanha eleitoral deste ano inicia oficialmente dia 16 de Agosto. O PT santiaguense foi o primeiro partido no município a definir sua tática, estratégia, candidatos(as)  e a realizar sua Convenção para estas eleições.  

Lula pede que Maduro respeite resultado na Venezuela; 'vamos respeitar e celebrar', rebate Caracas

Venezuela deve 'voltar à normalidade', desejou brasileiro; 'como não respeitar se vamos vencer?', disse líder chavista


   Foto: Ricardo Stuckert

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva pediu que os resultados das eleições presidenciais venezuelanas, marcadas para o próximo domingo (28), sejam amplamente respeitados para que o país possa "voltar à normalidade". As declarações foram dadas em entrevista às agências de notícias internacionais Bloomberg, Reuters, AFP, EFE, AP e Xinhua

“Eu disse a [Nicolás] Maduro que a única possibilidade de a Venezuela voltar à normalidade é haver um processo eleitoral amplamente respeitado”, disse Lula, segundo a AFP. "Maduro tem que aprender, quando você ganha, você fica, quando você perde, você vai embora. Vai embora e se prepara para disputar outra eleição."

Horas depois, as falas do mandatário foram rebatidas pelo presidente do Parlamento venezuelano, Jorge Rodríguez. Em entrevista coletiva, o deputado chavista foi questionado sobre as declarações de Lula, as quais ele alegou ainda não ter lido, mas prometeu respeito do governo aos resultados eleitorais.

“Não li o que Lula disse, mas como não respeitar os resultados se vamos vencer?”, questionou Rodríguez, uma das maiores lideranças políticas do país, já tendo atuado como vice-presidente de Hugo Chávez, prefeito de Caracas e ministro em distintas oportunidades. 

“É claro que vamos respeitá-los [os resultados], vamos celebrá-los nas ruas. Maduro vai comemorar os resultados com o seu povo”, completou. 

Clique aqui ou na imagem abaixo para acompanhar a cobertura completa sobre as eleições na Venezuela.


Clique na imagem para acompanhar a cobertura completa / Rafael Canoba/Brasil de Fato

Eleição e violência

Foi Jorge Rodríguez quem tentou retificar na semana passada uma declaração de Maduro que repercutiu de maneira negativa na imprensa mundial. Na última quinta-feira, durante um ato de campanha, o presidente venezuelano disse que a derrota do governo poderia levar a uma situação de instabilidade e violência provocada "pelos fascistas", afirmando que o país poderia cair em uma “guerra civil” e ocorrer "um banho de sangue" caso o governo saia derrotado.

“O destino da Venezuela, no século 21, depende da nossa vitória em 28 de julho. Se não querem que a Venezuela caia num banho de sangue, numa guerra civil fratricida, produto dos fascistas, garantimos o maior sucesso, a maior vitória na história eleitoral do nosso povo”, afirmou em discurso.

No dia seguinte, Rodríguez justificou a fala de Maduro e afirmou que a possibilidade de conflitos se daria porque a parte mais extremista da oposição perseguiria os chavistas caso chegasse ao poder. Ele ainda garantiu que o governo vai reconhecer o resultado das eleições e vai sair às ruas para defender o resultado “nem que seja com a nossa própria vida”.

Lula comentou essas declarações hoje às agências internacionais e, segundo a AFP, afirmou que ficou "assustado" com as falas de Maduro. "Quem perde as eleições toma um banho de voto, não de sangue", disse.

"Já falei com o Maduro duas vezes, [...] e o Maduro sabe que a única chance da Venezuela voltar à normalidade é ter um processo eleitoral que seja respeitado por todo mundo", afirmou Lula. "Se Maduro quiser contribuir para resolver a volta do crescimento na Venezuela, a volta das pessoas que saíram da Venezuela, estabelecer um estado de crescimento econômico, ele tem que respeitar o processo democrático", defendeu o presidente brasileiro.

Lula confirmou também nesta segunda que o assessor para assuntos imternacionais, Celso Amorim, e dois representantes do Tribunal Superior Eleitoral vão à Venezuela acompanhar o pleito do próximo domingo. 

Eleições na Venezula

Os venezuelanos vão às urnas no dia 28 para escolher entre 10 candidatos o próximo presidente. Embora as pesquisas eleitorais não sejam consideradas confiáveis no país, especialistas dizem acreditar que a disputa está acirrada entre o atual presidente, Nicolás Maduro, e o opositor Edmundo González Urrutia. 

Em junho, Urrutia foi um dos dois únicos candidatos que se recusou a assinar um compromisso de reconhecer o resultado eleitoral. Na semana passada, a oposição voltou a levantar suspeitas sobre o sistema eleitoral, afirmando que reconheceria apenas os resultados das zonas eleitorais que ela própria monitorasse.

O sistema eleitoral venezuelano, que mescla urnas eletrônicas e em papel, é considerado um dos mais seguros do mundo por entidades internacionais. Espera-se que o resultado do pleito seja divulgado na noite do próprio dia 28.

*Com AFP  - Edição: Rodrigo Durão Coelho

-Via Redação do Brasil de Fato

Parte da esquerda está encantada por Kamala

"Batem bumbo por Kamala Harris, por quê?


Por Arnóbio Rocha*

Parte da esquerda de verdade está encantada por Kamala. São os mesmos  das famigeradas jornadas de junho de 2013, filhos dos mesmos ventos das primaveras Árabes, da praça Maiden, aquele momento horroroso  que uniu a extrema-direita à extrema-esquerda cheirosa, no ultraliberalismo, na defesa da "liberdade". 

Qual liberdade? O moralismo pequeno burguês, asséptico, contra política e que produziu a lavajato, aliás, namoraram a tese de Curitiba.

Hoje, batem bumbo por Kamala Harris, por quê?

Uma mulher descendente de latinos, traços afrodescendente, e  uma mulher reacionária, foi PGR na Califórnia, implacável contra os imigrantes,  vice-presidente de Biden, defendendo Israel e o massacre genocida contra os palestinos. 

Qual justificativa para achar que ela difere em alguma medida de Trump? Ok, pode ser menos pior,  concedo, mas entusiasmo com ela, ou com Biden, é demais.

O identitarismo é destrutivo para esquerda e para humanidade.

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*Arnóbio Rocha é Advogado civilista, membro do Sindicato dos Advogados de SP, ex-vice-presidente da CDH da OAB-SP, autor do Blog arnobiorocha.com.br e do livro "Crise 2.0: A taxa de lucro reloaded". (Foto: Reuters/Nathan Howard) 

- Fonte: Brasil247

21 julho 2024

Criminosos usam apagão cibernético para aplicar golpes e coletar dados

Apagão cibernético que afetou o mundo nesta semana tem sido usado por criminosos como isca para aplicar golpes na internet.

Foto: Joédson Alves/Agência Brasil

Da Agência Brasil*

O apagão cibernético que afetou o mundo nesta semana tem sido usado por criminosos como isca para aplicar golpes na internet, coletando dados confidenciais de pessoas e empresas. Nos Estados Unidos (EUA), a Agência de Defesa Cibernética (CISA) alertou sobre os riscos de se cair em ações criminosas.

“Vale ressaltar que a CISA observou ameaças de agentes tirando vantagem deste incidente [apagão cibernético] para phishing e outras atividades maliciosas. A CISA pede que organizações e indivíduos permaneçam vigilantes e sigam apenas instruções de fontes legítimas. A CISA recomenda que organizações lembrem seus funcionários de evitar clicar em e-mails de phishing ou links suspeitos”, afirmou o órgão dos EUA.

Phishing é roubo de dados mediante diversas formas de fazer a pessoa entregar a informação para o criminoso. Geralmente, é enviado um e-mail com link que leva para uma página falsa, contaminando o computador com um vírus que rouba dados sigilosos, como informações sobre contas bancárias ou dados sensíveis de empresas.

No Brasil, também têm sido relatado alguns casos de phishing usando como isca o apagão cibernético. Os criminosos oferecem soluções tecnológicas para problemas gerados pelo apagão cibernético. Uma empresa de Brasília enviou, neste sábado (20), um aviso aos seus funcionários.

“A Gerência Executiva de Tecnologia da Informação informa que diferentes atores de ameaça estão aproveitando o incidente relacionado ao CrowdStrike Falcon para realizar campanhas de phishing e outras atividades maliciosas. Foram implementadas medidas para bloquear e-mails maliciosos. No entanto, alguns ainda podem escapar dos filtros”, informou a companhia.

Apagão cibernético

Uma falha na atualização de conteúdo relacionada ao sensor de segurança CrowdStrike Falcon, que serve para detectar possíveis invasões de hackers, foi a causa da falha cibernética desta sexta-feira (19), que deixou milhares de empresas e pessoas em todo o mundo sem acesso a sistemas operacionais, especialmente o Windows, da Microsoft.

*Via Sul21

20 julho 2024

PT aprova resolução em que defende a luta contra o extremismo e contra o neoliberalismo

Documento aprovado pelo Diretório Nacional também destaca as conquistas do governo Lula

(Foto: ABR | Ricardo Stuckert)

O Diretório Nacional do Partido dos Trabalhadores (PT) aprovou no dia 18 de julho uma resolução destacando a importância da luta contra o extremismo de direita e o neoliberalismo. Este documento, aprovado após 18 meses do terceiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, enfatiza a consolidação de políticas voltadas à reconstrução do país e à recuperação de direitos e soberania.

A resolução do PT apoia a proposta do presidente Lula de construir um movimento internacional de países e partidos do Campo Democrático para conter o avanço do extremismo direitista no mundo. O documento também endossa a agenda diplomática brasileira de buscar consensos em prol de um mundo mais multipolar, destacando a combinação da defesa da democracia com a luta contra o neoliberalismo e a defesa da soberania nacional.

Conquistas Econômicas e Sociais

O PT ressaltou diversas conquistas econômicas e sociais alcançadas desde o início do atual mandato de Lula, evidenciando os esforços do governo em prol da melhoria da qualidade de vida da população. Entre os principais destaques, estão:

  • Aumento do Salário Mínimo: Pelo segundo ano consecutivo, o salário mínimo subiu acima da inflação, resultando em um aumento significativo da renda média per capita, que cresceu 11,5% em 2023.
  • Controle da Inflação: A inflação, que atingiu dois dígitos em 2022, está agora sob controle, dentro da meta estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional, mantendo-se na casa dos 4%.
  • Redução do Desemprego: O Brasil registra a menor taxa de desemprego em 10 anos (7,1%), com um recorde de 101,3 milhões de pessoas empregadas. Mais de 2,5 milhões de novos empregos foram criados nos últimos 18 meses.
  • Combate à Fome: Em 18 meses, 24 milhões de brasileiros foram resgatados da insegurança alimentar, refletindo os esforços do governo em combater a fome.

A resolução também destaca avanços importantes nas políticas de igualdade e inclusão:

  • Lei de Igualdade Salarial: A lei, que visa corrigir injustiças históricas contra as mulheres, tem mostrado avanços significativos, com os primeiros relatórios indicando uma redução nas desigualdades salariais.
  • Nova Lei de Cotas: Completando dez anos, a lei foi ampliada para incluir populações indígenas e quilombolas, além de aumentar a reserva de vagas em concursos públicos para 30%.

O documento celebra o desempenho positivo da economia brasileira:

  • Crescimento do PIB: O PIB do Brasil está em constante revisão para cima, com projeções apontando um crescimento de 2,5% em 2024. O país voltou a figurar entre as 10 maiores economias do mundo, com o FMI projetando a oitava posição para o Brasil.
  • Exportações e Negócios: O Brasil continua batendo recordes de exportações, com 165 novos mercados abertos para produtos nacionais. Entre janeiro e junho, o país abriu 1,43 milhão de pequenos negócios.

Apesar das conquistas, a resolução destaca os desafios ainda presentes e a necessidade de avançar em várias frentes:

  • Reforma Tributária: O PT enfatiza a necessidade de uma reforma tributária que onere mais os super-ricos e alivie a carga tributária sobre a população de baixa renda. A isenção de impostos para quem recebe até dois salários mínimos a partir de 2025 é um passo nessa direção.
  • Defesa da Democracia e dos Direitos Sociais: A resolução aponta a importância de defender os pisos constitucionais da saúde e da educação, assim como a política de valorização do salário mínimo, como pilares fundamentais para a construção de um Brasil mais justo e igualitário.

No cenário internacional, o PT condena veementemente o genocídio promovido por Israel contra o povo palestino e apoia os pedidos do presidente Lula por um cessar-fogo imediato na região.

O documento também aborda a estratégia do partido para as eleições municipais deste ano, destacando a importância de fortalecer candidaturas nas capitais e principais cidades do país, com o objetivo de derrotar o bolsonarismo e ampliar a representação progressista.

A resolução aprovada pelo Diretório Nacional do PT reafirma o compromisso do partido com a defesa da democracia, a luta contra o neoliberalismo e o extremismo de direita, e a construção de um Brasil mais justo, soberano e inclusivo. Leia aqui a íntegra do documento.

*Fonte: https://www.brasil247.com/

19 julho 2024

PT/SANTIAGO-RS (ELEIÇÕES MUNICIPAIS)

 


Coluna Crítica & Autocrítica - nº 232 

Por Júlio Garcia**

*PT SANTIAGUENSE PREPARANDO-SE FORTE PARA ENFRENTAR MAIS UMA CAMPANHA ELEITORAL – Na noite desta última terça-feira, dia 16, o Partido dos Trabalhadores de Santiago inaugurou sua nova sede municipal. A mesma fica localizada na Travessa Jaime Pinto, nº 135, esquina com a Rua Benjamim Constant, Centro (em frente à Rádio Santiago). Na oportunidade, se fez presente o Deputado Federal petista Elvino Bohm Gass, que fez uso da palavra, assim como as pré-candidatas ao Executivo Municipal pelo partido, companheiras Josieli Minosso Lamana Miorim (prefeita) e Liamara Guarda Finamor (vice-prefeita) e vários/as pré-candidatos/as ao Legislativo Municipal, dirigentes, ex-dirigentes, militantes e simpatizantes do PT (foto acima).

Na pauta da reunião que se seguiu à inauguração da Sede, constou também conjuntura política (nacional e internacional), fortalecimento da unidade partidária e com os movimentos sociais/sindicais, defesa e divulgação das várias ações positivas do Governo Lula (que a maioria os órgãos da mídia tradicional e corporativa não mostra, pelo contrário) e a organização da pré-campanha eleitoral. 

... 

*O PT santiaguense também definiu que fará sua Convenção Oficial no próximo dia 20/07, sábado, na sua nova Sede Municipal, das 9 às 17hs. Segundo a advogada e socióloga Josieli Miorin, Secretária Geral do partido e pré-candidata à Prefeita, “vamos começar oficialmente nossa campanha à partir da Convenção (como determina a Legislação) buscando intensificar também o apoio e a participação de todos os setores de esquerda, populares, democráticos e progressistas de Santiago. Nossas candidaturas e nosso Programa de Governo Democrático e Popular, assim como a nível nacional está fazendo o governo liderado pelo Presidente Lula, representa uma alternativa real de mudanças na política local. Importante também elegermos uma forte nominata de vereadores/as. Chega dos mesmos. É hora de mudar!”, reiterou em sua fala a pré-candidata petista.

...

**Júlio César Schmitt Garcia é Advogado, Pós-Graduado em Direito do Estado, Consultor, ecologista, dirigente político (um dos fundadores do PT e da CUT, ex-Presidente do PT de Santiago/RS), 'poeta bissexto', articulista e midioativista. - Coluna originalmente publicada no Jornal A Folha (do qual é Colunista, que circula em Santiago/RS e Região) em 19/07/2024.

17 julho 2024

Por que diante de tantas provas dos crimes de Bolsonaro, a mídia finge que não está acontecendo nada?

Por Ângela Carrato*

Esta foi uma semana terrível para Bolsonaro. Revelações de que comandou o esquema de roubo de joias sauditas que pertencem ao acervo da Presidência da República e, tão ou mais grave, que ele e seu grupo espionaram integrantes dos Três Poderes, o colocaram mais próximo da cadeia.

Era para a mídia corporativa brasileira ter dado o maior destaque para tais assuntos, a exemplo do que fez a mídia internacional.

No caso das joias, Bolsonaro vinha negando qualquer ação envolvendo relógios, colares, anéis e estatuetas que afanou e depois, atabalhoadamente, tentou devolver.

Quanto à espionagem, nem seus aliados de primeira hora, como os presidentes da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, e do Senado, Rodrigo Pacheco, escaparam dela. O esquema montado pelo ex-capitão e sua turma espionou também ministros do STF, empresários, advogados e jornalistas.

Literalmente ninguém estava seguro e com privacidade garantida durante os quatro anos em que esteve no poder.

Detalhe: nesta espionagem, foi utilizada tecnologia israelense. O que explica aquelas inúmeras viagens, sem aparente motivo, de filhos e assessores de Bolsonaro a Israel. Explica ainda o “carinho” desta família para com um estado que comete genocídio contra o povo palestino.

As ações de Bolsonaro envolvendo o roubo das joias só vieram a público, porque o ministro do STF, Alexandre de Moraes, retirou o sigilo do inquérito que lhe foi encaminhado pela Polícia Federal.

Se dependesse da mídia corporativa brasileira, ela daria a notícia, como deu, de forma discreta, e nada mais.

Um assunto como esse, envolvendo militares de alta patente, como o tenente-coronel Mauro Cid, e seu pai, o general Lourena Cid, viagens aos Estados Unidos, uso de aviões da FAB e até de uma agência do governo brasileiro, a Apex, não mereceu sequer uma reportagem investigativa!

As joias que Bolsonaro roubou valem mais de R$ 6 milhões. Na tentativa de encobrir o crime, ele contou com assessores militares e civis, deixando nítido como transformou a presidência da República em uma espécie de escritório para os seus interesses.

O caso da espionagem é pior ainda. Ele só veio a público em função da operação deflagrada, na quinta-feira (11), pela Polícia Federal. Se dependesse da mídia corporativa brasileira, você, caro leitor ou leitora, não ficaria sabendo de nada.

Já imaginou se tivesse sido o contrário? Se o governo Dilma ou Lula tivessem espionado os demais Poderes da República e a própria mídia?

A mídia corporativa brasileira gastou centenas de edições de jornais e revistas para denunciar um tríplex que nunca pertenceu a Lula e para tentar convencer o respeitável público que deixar algumas roupas e comprar dois pedalinhos era prova de que Lula e sua então esposa, dona Marisa, eram os verdadeiros proprietários de um sítio supostamente recebido como propina.

Jornal Nacional, da TV Globo, fez inúmeras chamadas extraordinárias para as ações da Operação Lava Jato.

Não há como esquecer aquela imagem de um cano enferrujado, num fundo vermelho, do qual jorravam notas de R$ 100 para denunciar corrupção na Petrobras e atribui-la a Lula e ao PT, sem que nada fosse provado e sem que a família Marinho tenha pedido desculpas aos injustamente acusados e ao público.

Lula foi preso e permaneceu 580 dias na cadeia, e não lhe foi dado, sequer, o direito de se pronunciar sobre o assunto.

Não é estranho que essa mesma mídia, diante de evidências e provas as mais diversas de que Bolsonaro cometeu crimes, finja que não está acontecendo nada?

A título de exemplo, basta observar as manchetes dos principais jornais durante a última semana ou mesmo o noticiário da televisão e do rádio.

O escândalo da espionagem feito pela Agência Brasileira de Informação (Abin) por determinação de Bolsonaro não está presente, mesmo com todo o caráter explosivo que possui.

Era para ter merecido manchetes e explicações detalhadas de como acontecia, mas ficou confinado a notinhas de pé de página ou a notícias que sequer mencionavam o nome de Bolsonaro.

É importante lembrar que esse esquema além de monitorar ilegalmente autoridades, também produzia notícias falsas, as fake news, apontando para uma relação estreita com o chamado “Gabinete do ódio”, comandado por Carlos, um dos filhos de Bolsonaro.

Por que a mídia corporativa brasileira esconde os crimes de Bolsonaro e família?

Ao contrário do que alguns possam imaginar, essa não é uma pergunta cuja resposta seja difícil.

Essa mídia busca preservar Bolsonaro na tentativa de ainda usá-lo contra Lula nas eleições deste ano e em 2026, mesmo ele estando inelegível até 2030.

Além disso, é importante lembrar que essa mídia é parte do golpe que derrubou Dilma Rousseff, em 2016, prendeu Lula sem crime, em 2018 e garantiu a eleição de um ser abjeto como o ex-capitão.

Às vésperas da eleição de 2018, por exemplo, o jornal Estado de S. Paulo, em editorial, não afirmou que era muito difícil escolher entre Fernando Haddad, um professor, com várias pós-graduações, ex-ministro da Educação, um humanista, e Bolsonaro?

A mídia corporativa sabia quem era Bolsonaro. Conhecia seu histórico de péssimo militar, seus negócios escusos envolvendo “rachadinhas” e milicianos, suas posições fascistas em defesa da tortura, contra mulheres, negros e o segmento LGBTQIA+.

Parte da classe dominante brasileira, a mídia corporativa empoderou a mentirosa Operação Lava Jato, foi decisiva para derrubar Dilma e para a prisão, sem crime, de Lula e acreditava que, depois de tudo isso, o ex-presidente estaria politicamente liquidado.

A vitória de Lula para um terceiro mandato desconcertou essa turma, mas não fez com que desistisse de seus propósitos.

Lula não tem tido um minuto de tranquilidade desde que tomou posse, tendo que enfrentar e driblar uma extrema-direita feroz no Congresso Nacional e à frente do Banco Central, ambas apoiadas e elogiadas pelos proprietários de O GloboFolha de S. Paulo e Estado de S. Paulo.

A aposta desta mídia é de que o terceiro governo Lula naufragaria, diante da impossibilidade de viabilizar os compromissos que assumiu em campanha.

Como está acontecendo o contrário e a popularidade de Lula volta a subir, ela vê Bolsonaro como um aliado no combate ao adversário comum.

Tentar esconder o roubo das joias e a espionagem significa poupá-lo das críticas e da avaliação negativa da população e mesmo entre os seus seguidores.

Se parte dos bolsonaristas se assemelha ao gado, nada os faz mudar de opinião, a maioria não é assim e sabe distinguir o certo do errado.

Daí a importância da mídia corporativa esconder os crimes de Bolsonaro, fazendo uma espécie de parceria com as redes sociais da extrema-direita que enganam seus usuários ao colocar o ex-presidente como “vítima de perseguição política”.

É na mídia corporativa que os bolsonaristas raiz podem confirmar as informações que recebem. Se lá não encontram nada sobre os crimes de Bolsonaro, a conclusão a que chegam é de que ele realmente seja vítima de injustiça.

Desnecessário dizer que o “gado” não se informa pela mídia independente.

Mesmo Bolsonaro estando inelegível até 2030, a mídia corporativa brasileira acredita que ele possa ser útil para eleger prefeitos e vereadores esse ano contra os candidatos apoiados por Lula e, sobretudo, enfrentar o próprio Lula em 2026.

Para desespero dessa mídia, Lula já anunciou que se houver risco de a extrema-direita voltar ao poder, poderá disputar a reeleição.

Se a semana que passou foi terrível para Bolsonaro, os próximos dias podem se transformar em pesadelo se vier a público o conteúdo de um áudio em que ele, o então diretor-geral da Abin, Alexandre Ramagem (PL), e o então ministro chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general Augusto Heleno, articulam para brindar o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) no caso das “rachadinhas”.

O áudio, além de atingir diretamente Bolsonaro e seu filho, pode ser fatal para a candidatura de Ramagem, que pretende disputar a Prefeitura do Rio de Janeiro.

Está nas mãos do procurador-geral da República, Paulo Gonet, decidir se o processo contra Bolsonaro e demais envolvidos no caso das joias será aberto imediatamente, aguardará o término de outras investigações ou será arquivado.

O arquivamento, pela quantidade de provas, se tornaria um escândalo do qual Gonet não se livraria jamais.

Quem o conhece acredita que possivelmente ele opte por aguardar o término de outros inquéritos dos quais Bolsonaro é alvo – falsificação de carteira de vacinas e atentado contra o estado democrático – para juntar tudo num mesmo processo.

Pode demorar um pouco ainda, mas Bolsonaro não sairá ileso dos crimes que cometeu.

Até lá, continuará sangrando e vendo seus seguidores minguarem.

Já a máscara da mídia corporativa caiu completamente.

Sua verdadeira face ficou à mostra. Ela está a serviço de todo aquele que garantir os privilégios de seus proprietários, pouco importando que sejam extremistas de direita, fascistas e criminosos como Bolsonaro, sua família e sua turma.

*Ângela Carrato é Jornalista. Professora da UFMG. Membro do Conselho Deliberativo da Associação Brasileira de Imprensa (ABI) - Fonte: Viomundo