28 fevereiro 2019

Quando o Carnaval Chegar - Nara Leão & Chico Buarque

Romaria da Terra pauta alimentação saudável em assentamento do MST - 42ª edição do evento será no município de Itacurubi/RS



A Romaria da Terra é itinerante. Em 2017, a antiga Fazenda Annoni sediou o evento. Foto Caco Argemi.jpg
A Romaria da Terra é itinerante. Em 2017, a antiga Fazenda Annoni sediou o evento
Foto Caco Argemi

Por Catiana de Medeiros*
Da Página do MST

A 42ª Romaria da Terra do Rio Grande do Sul será realizada na próxima terça-feira (5) em Itacurubi, município localizado na região Central do estado e a mais de 500 quilômetros de Porto Alegre. Desta vez, quem sedia é o Assentamento Conquista da Luta, onde vivem 160 famílias do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). O tema é “Alimentação Saudável — Identidade, resistência e direitos”, e o lema “Para que todos tenham vida”.

A Romaria da Terra é itinerante, por isso acontece a cada ano em uma localidade diferente. Esta é a primeira vez que Itacurubi recebe o evento, promovido pela Comissão Pastoral da Terra (CPT). A 42ª edição tem o apoio do MST, da Diocese de Uruguaiana, da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e da prefeitura do município.

O Assentamento Conquista da Luta foi criado em 18 de dezembro de 2006, em uma área de 3.730 hectares. Ele está situado há 20 quilômetros do perímetro urbano de Itacurubi. As famílias produzem diversidade de alimentos para autoconsumo e lidam, principalmente, com leite e hortaliças orgânicas para comercialização. Segundo o camponês Mário Padilha, sediar a Romaria da Terra pela primeira vez é motivo de orgulho para os assentados. “A nossa expectativa é boa, estamos esperando de 3 a 5 mil pessoas”, ressalta.

Conforme Maurício Queiroz, da coordenação estadual da CPT, romeiros e romeiras de todo o estado se encontrarão para caminhar juntos, celebrar e fortalecer a luta do povo em defesa da vida. “Será um momento especial da igreja do Rio Grande do Sul para celebrar a fé e fortalecer a esperança e o ânimo do povo”, afirma.

Além da celebração e tradicional caminhada dos romeiros, o evento conta com intervenção sobre o tema da alimentação saudável, partilha de alimentos, tendas com exposição e venda de produtos variados. Também terá Tribuna Popular, com depoimentos de camponeses e manifestações de representantes de diversas organizações.


Acampamento da Juventude em São Gabriel, em 2016. Foto Michele Côrrea.jpg
Acampamento da Juventude em São Gabriel, em 2016 - Foto Michele Côrrea
Acampamento da Juventude

O Assentamento Conquista da Luta também acolhe o 14º Acampamento da Juventude da Romaria da Terra, que reunirá cerca de 200 jovens de diversos municípios nos dias 3 e 4 de março. Eles estão organizados na Pastoral da Juventude, Levante Popular da Juventude, MST, Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), dioceses e CPT.

O evento será um espaço de formação, reflexão e organização dos jovens que buscam construir uma nova sociedade, com valores de comprometimento com a terra, a permanência no campo e a produção de alimentos saudáveis. Para isso, trabalhará o tema da Romaria da Terra e os desafios da luta da juventude.

Conforme a militante Sem Terra Sara Ferreira, o acampamento pautará a atual situação do país e discutirá como os movimentos populares e as pastorais se colocarão em posição de resistência e em trabalho de base. “Vamos debater a reforma da previdência e os direitos humanos que estão sendo atacados pelo novo governo”, acrescenta.

A programação conta ainda com estudos e debates sobre outros temas, visita aos lotes das famílias assentadas, Celebração dos Mártires e atividades culturais. No dia 5, os jovens farão a acolhida aos romeiros.

Programação da 42ª Romaria da Terra – 05/03/2019

7h. – Concentração de romeiros na Escola Florentino Dutra, em Rincão dos Boeiras
8h. – Acolhida aos romeiros
8h30 – Início da celebração e caminhada até a sede do Assentamento Conquista da Luta
12h. – Partilha de alimentos, seguida de Tribuna Popular
16h. – Celebração Ecumênica de envio aos romeiros


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Eventos são organizados pela CPT com o apoio de diversas organizações, entre elas o MST
 
 
Município de Itacurubi - localização
*Via MST

Idiota do MEC, que desistiu do ‘slogan’, agora desiste do vídeo das crianças




Por Fernando Brito*

Perdoem-me a grosseria do título, mas não dá para usar menos com um sujeito assim.

O dito ministro da Educação, Ricardo Vélez, que “desistiu” da carta onde mandava ler o “slogan” bolsonarista para as crianças do ensino fundamental, agora desistiu da ordem para que as crianças fossem gravadas nas escolas.

Ele dá a desculpa de uma manifestação do assessor jurídico da pasta, de que haveria “razões técnicas de dificuldade de guarda desse material (imagens e sons), bem como de segurança” e que por isso “determinará a expedição de nova comunicação, com a retirada do pedido de produção e envio de vídeos”.

É inacreditável que a Educação, algo tão essencial para este país, esteja sob a responsabilidade de um camarada deste naipe.

E o pior é que este cidadão, que nem nasceu no Brasil, misturou o que era normal e que nunca criou problemas, que é se cantar o Hino Nacional nas escolas, com a abjeta propaganda bolsonarista.

Sua demissão é uma imposição já nem apenas do bom-senso, é da decência.

*Jornalista, Editor do Blog Tijoço (fonte desta postagem).

Sobre a possível vinda de uma filial da Havan para Santiago/RS ... y "Otras Cositas Más"...



Da Redação*

Circula na mídia local a informação de que o polêmico empresário Luciano Hang, proprietário das lojas Havan (matriz em Santa Catarina), estará em breve em Santiago/RS para "conhecer a cidade e ver a viabilidade do município" para a colocação de uma filial da loja. O convite teria sido  realizado pelo prefeito Tiago Gorski Lacerda (PP), que teria também prometido "incentivos" do município para o megaempresário e seu irmão Nilton Hang, seu sócio.

Nada contra o município, através do Executivo, buscar para Santiago novas empresas,  contribuindo assim para gerar empregos e renda (especialmente neste momento tão delicado para o país, notadamente para os trabalhadores que, dia-adia, vêem seus direitos e  mesmo seus postos de trabalho despencarem... fruto de uma política equivocada e antinacional que vem sendo implantada no país desde o golpe que destituiu a Presidenta Dilma, acentuando-se agora com o governo Bolsonaro). Aliás,  para refrescar a memória:  o sr. Hang foi um entusiasta apoiador/financiador da questionada e fraudulenta  campanha eleitoral (disparos milionários de fake news pelo whatsapp, caixa 2 etc...) que acabou elegendo o ex-capitão. 


No dia 2 de outubro, cinco dias antes do primeiro turno, Luciano Hang publicou imagem com funcionários da Havan e camiseta de Bolsonaro / Foto: Reprodução Twitter - via Brasil de Fato

Muito pelo contrário! O povo, especialmente os trabalhadores (os jovens, sobretudo) de Santiago e Região precisam sim de investimentos, de fábricas, empresas e serviços que gerem empregos, caso contrário - com a estagnação que existe aqui e na Região, e não é de hoje - não lhes restará outra alternativa senão buscar outros espaços, à exemplo de tantos que já se bandearam daqui para outros municípios ... ou mesmo estados. Mais que necessário, está claro, a retomada da discussão sobre nossa "matriz produtiva" (se é que já foi feita - de verdade! - em alguma ocasião)...

Contudo, não é de bom alvitre "abrir-se as portas" de forma indiscriminada e açodada para "empresários" ou "investidores" dos quais não se conhece bem sua procedência, seu histórico - e suas práticas (a propósito, não se pode incorrer nos mesmos erros cometidos em Santiago num passado nem tão distante...), e que tenham por intento vir para cá somente para buscar mais e mais lucros. 

Para contribuir nesse debate que estamos propondo realizar (com o Executivo e, em especial com a Sociedade local), achamos de bom alvitre elencar algumas matérias oriundas da mídia nacional (que podem dar uma ideia de quem é, do que pensa e de como age o sr. Luciano Hang à frente das lojas Havan).

Leiam a seguir e tirem suas conclusões:

 

-Dono da Havan é condenado por crime financeiro e lavagem de dinheiro - Clique Aqui para ler na íntegra (site MT/Agora) 

 

-MP do Trabalho quer que Hang e Havan paguem R$ 100 milhões de indenização por danos morais - Ação questiona a publicação de vídeos nas redes sociais, e a realização de uma enquete eleitoral entre os funcionários, que sabiam qual era a preferência de voto do empregador. Clique Aqui para ler na íntegra (via Gaúcha/RBS) 

 

-Dono da Havan divulga telefone de jornalista que o questionou sobre fake news. Luciano Hang postou em seu Twitter o número do celular do repórter Ricardo Galhardo, do Estado de S.Paulo. Clique Aqui para ler na íntegra (via Revista Fórum) 

 

-Dono da Havan cresceu sob governos petistas e acumula processos - Folha mostrou que a Havan está entre as empresas que impulsionaram disparos contra o PT no WhatsApp. Clique Aqui para ler na íntegra (via Folha de S. Paulo)

 

-Dinheiro do BNDES e sonegação: a história real das lojas Havan, cujo dono intimida funcionários para votar em Bolsonaro - Clique Aqui para ler na íntegra (via DCM)

 

-Dono da Havan é um dos empresários milionários que frauda eleições financiando Bolsonaro - Luciano Hang, empresário dono da Havan, conhecido por crimes de lavagem de dinheiro e evasão fiscal, é um dos empresários que estabeleceu contratos ilegais com agências de disparo de mensagens irregulares pelo WhatsApp em campanha pelo Bolsonaro, no valor de R$ 12 milhões. Clique Aqui para ler na íntegra (via Esquerda/Diário)

 

-O que está por trás do terrorismo eleitoral do dono da Havan - Clique Aqui para ler na íntegra (via GGN)

 

-Santa Catarina e Paraná somam 82 casos de assédio a trabalhadores durante as eleições - Donos das lojas Havan e dos supermercados Condor foram notificados pelo MPT por coagir funcionários a votar em Bolsonaro - Clique Aqui para ler na íntegra (via Brasil de Fato)

 

-Luciano Hang, da Havan, é processado pelo Ministério Público do Trabalho por coação eleitoral -Na ação judicial, o órgão pede tutela antecipada para que a Justiça proíba o empresário de pedir votos aos funcionários e de realizar pesquisas de intenção de voto entre os mesmos -  Clique Aqui para ler na íntegra (via site Infomoney)

 

-Luciano Hang da Havan intimida funcionários - Clique Aqui para ver na íntegra (via YouTube)

 

-E. T.: É sempre bom prestar atenção no que diz a máxima popular: "Diga-me com quem andas ... e eu te direi quem és".

 

*Via Portal O Boqueirão Online

27 fevereiro 2019

José de Abreu se declara presidente e avalia Bolsonaro: “Analfabeto”

Inspirado pela autodeclaração do venezuelano Juan Guaidó, o ator brinca de líder e diz que vai soltar Lula   


Carta Capital - O Brasil tem um novo presidente. José de Abreu passa a usar todo seu legado político, e artístico, a serviço da nação a partir de hoje. A autoproclamação do ator é, obviamente, um misto de piada e protesto, como qualquer cidadão com o mínimo de lucidez, nestes tempos irracionais, pode perceber. Nosso Juan Guaidó às avessas, desalinhado com Trump e desarticulado com Jair Bolsonaro, bombou nas redes sociais e até escolheu seu ministério – encabeçado por Lula.

“Acabei de me proclamar presidente do Brasil. Quem me apoia?”, disse Abreu, iniciando a avalanche da turma da brincadeira acima de tudo. Em questões de minutos, seu nome já aparecia nos assuntos mais falados do Twitter, com apoio massivo de internautas.

“Vamos exigir respeito à minha autodeclarada Presidência como estão dando para o venezuelano. Por que ele tem e eu não?”, disse o ator, citando Guaidó (o real), sua inspiração máxima na tentativa de assumir a cadeira e o par de chinelos utilizados por Jair Bolsonaro.

Em entrevista a CartaCapital, o presidente interino diz que sua primeira ação será libertar o ex-presidente Lula, preso há quase um ano pela Lava Jato. “O Moro aceitar o cargo de ministro comprovou que tiraram o Lula da disputa. Não há legitimidade quando um candidato é preso sem provas. O Lula poderia salvar a economia do país com sua sensibilidade política”, afirmou o presidente.

Abreu está na Grécia, mas já se prepara para chegar no Brasil no dia 8 de março, data escolhida para a sua “posse”. E quer colocar os pés no País sambando na cara dos opositores. As atrações escolhidas (ainda que elas não saibam) para recebê-lo no aeroporto do Galeão, no Rio, são Chico Buarque, Maria Bethânia, Caetano Veloso, Milton Nascimento, Gilberto Gil e outros nomes de sua geração. “Será uma grande festa”, garante o presidente. Uma espécie de reedição do Festival da Canção de 1968, digamos. (...)

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26 fevereiro 2019

Aposentadoria: Pesquisadora do Dieese explica por que só os bancos ganham com a PEC da Previdência

Para Patrícia Pelatieri, capitalização é risco alto para os trabalhadores e lucro certo para o mercado financeiro

Pelatieri critica as bases da reforma da Previdência proposta por Bolsonaro (PSL) / Fetquim/Divulgação

A coordenadora de pesquisas do Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese), Patrícia Pelatieri, analisou todos os pontos da Proposta de Emenda Constitucional nº 6/2019, do governo Jair Bolsonaro (PSL), que altera o sistema previdenciário brasileiro. A elaboração da proposta foi supervisionada pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, defensor da política neoliberal e favorável à atuação dos bancos e empresas privadas com a menor regulamentação estatal possível.

Pelatieri considera que a proposta de Guedes e Bolsonaro representa uma mudança muito mais radical que a reforma discutida no governo Michel Temer (MDB) – que já era vista com bons olhos pelo mercado financeiro. "É uma reforma estrutural, porque introduz a possibilidade da criação de um sistema de capitalização individual. Ela introduz isso nos dispositivos constitucionais e joga para uma regulamentação via projeto de lei. Isso é bastante grave, uma vez que a Constituição de 1988 tem um capítulo inteiro, que é o capítulo terceiro, que trata da construção da política de proteção social. Ou seja, é o capítulo da Seguridade Social: um tripé com Previdência, Saúde e Assistência Social", ressalta Patrícia.

Na prática, a pesquisadora interpreta que Bolsonaro fez uma reforma constitucional sem uma Assembleia Constituinte – o que fere um dos princípios fundamentais da democracia. "Ele trata a maior política de proteção social como um problema fiscal, como um problema de despesa – porque é disso que se trata a proposta de reforma. Você não vai esperar que esse Estado sustente uma Previdência Social sozinho [durante o período de transição entre os dois modelos], uma vez que você não teria mais o aporte de quem está no mercado de trabalho [para financiar as aposentadorias a serem pagas]", analisa.

"Então, significa caminhar para o fim deste sistema de proteção e jogar para a individualidade: o indivíduo que tiver a capacidade contributiva vai fazer a sua poupança para a velhice, com uma série de riscos. E aí, a gente tem vários exemplos paras citar do sistema de capitalização individual e que não deram certo. Não foi só no Chile", ressalta. "Há vários países que fizeram essa transição sem segurança nenhuma. Você privatiza um fundo público bilionário e coloca nas mãos do sistema financeiro para gerenciar da forma como eles bem entenderem", enfatiza Pelatieri.

Confira os melhores momentos da entrevista:

Brasil de Fato: O que está por trás da proposta e o que ela muda em relação as regras atuais?

Patrícia Pelatieri: Essa reforma de critérios dificulta o acesso [à aposentadoria] porque combina duas exigências. Hoje, você pode se aposentar por idade, por tempo de contribuição ou por invalidez, em caso de acidente ou doença. No caso da idade, além de chegar à idade de 60 anos, a mulher, e 65 anos, o homem, é preciso comprovar 15 anos de contribuição. Já é bastante difícil para boa parte dos trabalhadores e, principalmente, das trabalhadoras, que têm uma vida laboral menos estável, com entradas e saídas no mercado de trabalho.

Também é possível se aposentar por tempo de contribuição. Os trabalhadores que têm uma condição melhor, uma vida laboral mais estável, conseguem comprovar, no caso de homens, 35 anos, e no caso das mulheres, 30 anos, e sem idade mínima para isso.

Desde que foi aprovada a regra do fator 85/95, em 2015, que hoje está em 86/96, vale uma combinação entre a idade e o tempo de contribuição. Ou seja, consegue comprovar esse tempo quem começou a trabalhar muito cedo e teve a sorte de estar em trabalhos formais, que tem a contribuição.

A proposta da PEC é juntar esses dois critérios elevando o grau de dificuldade. De cara, aumenta a idade mínima, só que tem que combinar 20 anos de contribuição. Isso vai excluir uma parte significativa dos trabalhadores que são mais vulneráveis. Estamos falando de negros, mulheres e empregados domésticos.

Quais os outros elementos dessa reforma que prejudicam o trabalhador?

A regra [da PEC da Previdência] mexe no valor, sem regra de transição, do cálculo. Hoje, o cálculo do INSS para aposentadoria pega todas as contribuições do trabalhador feitas de 1994 para cá, ou desde que ele começou a trabalhar, tira 20% das menores contribuições e faz a média sobre as maiores contribuições. E o trabalhador tem direito a receber essa média na aposentadoria por tempo de contribuição. No caso da aposentadoria por idade, o trabalhador tem direito a 95% dessa média.

O que o governo fez na proposta é estabelecer que, ao atingir as exigências, você tem direito a 60% de uma média já rebaixada, porque a proposta é fazer uma média simples de todas as contribuições, do começo do trabalho até a aposentadoria [sem descartar os valores mais baixos]. Aí, comprovando a idade e os 20 anos de contribuição, o governo vai pagar só 60%. Se você quiser receber 100% da média rebaixada, terá que comprovar mais 20 anos, o que soma 40 anos de contribuição.

O governo diz que a reforma acaba com os privilégios. Você concorda?

Com essa proposta, pobres e ricos não estarão aposentando com a mesma idade, ao contrário do que eles dizem. Ela não é uma proposta que acaba com os privilégios.

Primeiro, a gente tem que estabelecer o que são privilégios. O 1% da população, que são os mais ricos, está fora – porque não há nenhuma proposta de tributação desses bilionários para contribuir e equilibrar a arrecadação pública. Então, os privilegiados continuam privilegiados. Considerando que, entre os trabalhadores, você tem alguns 'mais privilegiados', podemos dizer que os militares estão fora. Então, todos os grandes salários dos generais estão fora. Tem lá uma promessa de que venha uma proposta, mas não veio junto com essa.

Também tem a questão dos casos eletivos [os políticos], mas é a partir dali para frente, então todos os políticos dessa geração aí estão garantidos [em seus privilégios]. No caso dos altos salários, do serviço público federal, que são uma minoria, tirando talvez os juízes estaduais, os demais todos ganham abaixo do teto do INSS.

Então, quem é que ganha com essa proposta de capitalização?

O sistema todo está em risco ao se introduzir a possibilidade da quebra de um pacto entre gerações. Ou seja, quem está na ativa hoje sustenta quem está aposentado. Quem é que vai sustentar esses milhões de trabalhadores e trabalhadoras que estão hoje aposentados? Também quem vai se aposentar no futuro, se esse sistema for substituído pelo sistema de capitalização, como é o desejo do ministro Paulo Guedes.

Os grandes favorecidos são os bancos, que vão colocar a mão por décadas nesse fundo bilionário. No Chile, as seis instituições que fizeram o modelo de capitalização lucraram bilhões, enquanto a aposentadoria dos trabalhadores ficou muito abaixo do esperado. 

*Por Juca Guimarães - Brasil de Fato 
  Edição: Pedro Ribeiro Nogueira

MEMÓRIA

Crítica & Autocrítica - nº 152



“Recuerdos de um bom combate”

Por Júlio Garcia**

Outro dia, ao postar no meu Blog o poema ‘Inverno em Porto Alegre’, veio-me à lembrança um episódio ocorrido ainda na época da - nada saudosa - ditadura militar.

Já faz um bom tempo, mas, como diria um amigo meu, ‘parece que foi ontem!’. O ano era 1980***, se não estou enganado.

A Argentina vivia, assim como o Brasil, sob as botas implacáveis de uma ditadura militar sanguinolenta. O ditador de plantão era o general Videla, o ‘pantera cor-de-rosa’.

No Brasil, o ditador de então era o general Figueiredo (aquele que preferia sentir o 'cheiro de cavalo' ao invés do 'cheiro do povo'). A tortura, o seqüestro e o assassinato dos adversários e presos políticos corria solto nos dois países, mas com maior intensidade no país dos nossos hermanos.

Pois o ditador Videla veio fazer uma visita ao seu “colega” brasileiro. E resolveu dar uma ‘esticada’ até Porto Alegre, onde participaria de algumas “solenidades” ...

Resolvemos então, em solidariedade ao povo argentino, organizar um protesto contra a presença do ditador no solo brasileiro.

O Ato Político teve início por volta do meio-dia no pátio da Faculdade de Direito da UFRGS, na Av. João Pessoa, em Porto Alegre. Começou com pouco mais de 50 pessoas, a absoluta maioria composta por estudantes de várias faculdades, destaque para os colegas da ‘federal’, da PUC, membros de DCEs, estudantes secundaristas e militantes de organizações de esquerda.

Decidimos, após alguns discursos inflamados contra a ditadura de ‘lá e cá’, iniciarmos mais uma passeata pelas ruas centrais da capital.

Começamos a “subir” a Avenida João Pessoa em direção ao centro de Porto Alegre: passo acelerado, palavras-de-ordem, megafones a mil; os estudantes que estavam na fila do almoço do Restaurante Universitário (R.U.) da UFRGS (era já próximo ao meio-dia) foram chamados a participarem; alguns populares também incorporaram-se, a adesão foi aumentando... Quando a passeata chegou à esquina com a Rua André da Rocha já contava com mais de duzentas pessoas. Para nós, já era uma multidão (segundo os critérios ‘drumondianos’)!

Lembro-me bem dos acontecimentos, pois eu integrava a direção da passeata (estava no S.O., nosso "Serviço de Ordem"). Fomos então avisados que a tropa-de-choque da Brigada Militar deslocava-se pela Salgado Filho e vinha em nossa direção. Paramos momentaneamente a passeata para organizar a resistência. A orientação era ‘não aceitar provocação’, mas também não recuar. Gritamos os slogans de praxe: ‘soldado da brigada, também é explorado’, ‘o povo, unido, jamais será vencido’, ‘o povo, na rua, derruba a ditadura’ etc...


Mas não adiantou, a repressão se fez presente – e o ‘pau comeu solto’, com muita violência; o número de brigadianos (do famoso “Choque”) era muito superior ao dos manifestantes.

Os estudantes começaram a debandar pela Rua André da Rocha, pela Salgado Filho, pela João Pessoa, descendo em direção ao campus central da UFRGS...


Um grupo de manifestantes, acuados, sem alternativas, adentrou o R.U. da UFRGS, quebrando os vidros do saguão com os próprios corpos, perseguidos pelo “choque” que não cansava de baixar os cassetetes nas suas costas, cabeças, braços... Quase que “por milagre”, ninguém saiu seriamente ferido... E o R.U. virou trincheira da Resistência. Então, baixada a poeira, decidimos – simbolicamente – “ocupar” o R.U. até a saída do ditador Videla do Brasil. A seguir, o R.U. foi declarado “Território Livre”, símbolo da resistência da juventude contra as tiranias!

Organizou-se o Comando da ocupação, a vigília, turnos, tarefas... Palavras-de-ordem foram escritas nas paredes, murais... Um palco foi montado. Músicos, atores, cantores, militantes revezavam-se ao microfone, todos denunciando as ditaduras latino-americanas e manifestando solidariedade ao ‘Movimento’. Lembro que o pessoal do ‘Oi Nóis Aqui Traveiz’ (grupo teatral de vanguarda) também esteve lá e representou em nosso palco improvisado...

No outro dia estava marcada a ‘reinauguração’ da Praça Argentina, onde o ditador Videla descerraria uma placa alusiva.

Pela manhã a cavalaria da BM, juntamente com o “choque” e seus “equipamentos” (gás lacrimogênio, camburões, fuzis, baionetas, cães etc.), ocuparam a praça. Organizamos então uma nova manifestação [bem mais massiva] e uma vigília na calçada do Centro de Engenharia da UFRGS (o CEUE), que ficava em frente à praça onde o ditador era aguardado.


Após algumas horas, veio a informação que incendiou os “resistentes”: a “reinauguração” da praça - e a visita do ditador a Porto Alegre – haviam sido suspensas!

Demarcamos nossa pequena vitória com mais um ato improvisado, alterando então (simbolicamente) o nome da Praça Argentina para ‘Praça das Madres de Mayo’, em homenagem às mães argentinas (ou “locas”, como eram chamadas) que, corajosamente, denunciavam o assassinato e o desaparecimento de seus filhos pela repressão, ajudando a tornar conhecidos mundialmente os hediondos crimes praticados pelos militares fascistas do país vizinho. Foram mais de sessenta horas de Resistência e Luta!

Quando o ditador Videla saiu do Brasil, encerramos o nosso “Movimento” e liberamos o R.U. Foi mais um episódio na luta travada pelos estudantes – e populares - contra as ditaduras latino-americanas.

Esse combate, comemoramos, nós havíamos vencido! Mas as ditaduras no Brasil, na Argentina e em outros países da América Latina durariam ainda mais alguns penosos anos, mas também acabariam derrotadas, nos anos 80, pela força organizada e resistente do povo.

–Esperamos - e continuaremos alertas, mobilizados, para que não se repitam. Afinal, “a pior das democracias é melhor ... que a ‘melhor’ das ditaduras”...
...

**Júlio César Schmitt Garcia é Advogado, Pós-Graduado em Direito do Estado, Poeta e Midioativista. Foi um dos fundadores do PT e da CUT. - Publicado originalmente no Jornal A Folha (do qual é Colunista) em 22/02/2019. - Fotos: Arquivo ZH, via Jornal Sul21.

***O "Movimento" ocorreu nos dias 22 e 23 de agosto de 1980. 

Perícia atesta: juíza usou arquivo de texto de Moro em sentença contra Lula

Defesa de Lula enviou sentença da juíza Gabriela Hardt, que condenou o ex-presidente a 12 anos e 11 anos de prisão no caso do sítio de Atibaia, a um perito; o resultado foi: ela copiou trechos inteiros do "mesmo arquivo de texto" usado por Sérgio Moro na sentença do caso do triplex do Guarujá; foi uma sentença "recorta e cola"

CLIQUE AQUI para ler na íntegra (via 247) 

25 fevereiro 2019

Venezuelanos na fronteira com Brasil condenam protestos violentos contra Maduro - Opositores queimaram pneus e atiraram pedras contra soldados; exércitos de Brasil e Venezuela fizeram encontros públicos



Bombas de gás foram lançadas pelo exército venezuelano após horas de protesto de opositores / Sebastián Soto
Um dia depois da frustrada tentativa de fazer atravessar uma suposta ajuda humanitária para o povo venezuelano pelo lado brasileiro, as duas camionetes que transportariam as doações dos Estados Unidos e do Brasil amanheceram e permaneceram, durante todo o domingo (24), dentro do Batalhão do Exército Brasileiro na cidade de Pacaraima, em Roraima, na fronteira com a Venezuela. Alguns metros à frente, no limite entre os dois países, opositores ao governo do presidente Nicolás Maduro, em menor quantidade, se reuniram para um dia de novas provocações aos militares da Venezuela.

A pouca presença das forças de segurança do Brasil deixou o grupo oposicionista à vontade para buscar um novo enfrentamento com os agentes encarregados da vigilância do país vizinho na divisa. Ainda pela manhã, começaram queimando pneus e atirando-os em direção ao posto de gasolina da Petroleira Venezuelana (PDVSA), o que poderia provocar uma explosão. Em seguida, depredaram um alojamento do exército venezuelano e lançaram pedras contra os soldados daquele país. Depois de assistir por horas a provocação, os militares responderam com bombas de gás lacrimogêneo para dispersar o grupo que protestava.

Se as intenções do grupo opositor eram chamar a atenção do mundo e buscar apoio contra Nicolás Maduro, a estratégia violenta gerou repúdio de outros venezuelanos que acompanhavam a situação na fronteira. “Vão chegar nesse país assim? Isso já é vandalismo. Não tem porquê fazer isso. É minha opinião. Eles [Brasil] estão nos dando um apoio e, se quiserem, tiram todos os venezuelanos daqui, porque estarão no seu direito”, sentencia a venezuelana Claudia, que vive em Pacaraima.

Crítico ao governo Maduro, o venezuelano Alejandro também condenou as manifestações violentas do grupo no último domingo. “Eu penso que isso não pode ser feito assim. Isso é um ato de vandalismo. O que vão pensar da gente? Dessa forma não solucionamos nada. Isso que estamos fazendo não resolve nada”, afirma. Ele, assim como outros opositores, chegou pelo segundo dia consecutivo à fronteira e se frustrou ao ver a violência provocada por seus compatriotas. 

Controle da situação 

Somente horas depois do início das provocações, o Exército Brasileiro, a Força Nacional e a Polícia Rodoviária Federal chegaram com um efetivo maior. Antes disso, apenas alguns soldados eram vistos assistindo às ações do grupo opositor do lado venezuelano. Quando passaram de volta ao lado brasileiro, os manifestantes receberam ordens para se retirarem do limite entre os dois países e foram impedidos por uma barreira policial de retornarem ao ponto a partir de onde estavam atacando os militares venezuelanos. 

Encontro de exércitos 

Em dois momentos, representantes dos exércitos brasileiro e venezuelano promoveram um encontro público no limite entre os dois países. No primeiro, conversaram sobre questões de segurança e também debateram a possibilidade de trazer para o pátio da alfândega venezuelana os caminhões brasileiro que ficaram parados na Venezuela em pontos mais distantes depois do fechamento da fronteira. No segundo encontro, discutiram ações para reforçar a segurança na zona de fronteira, que, nos últimos três dias, tem recebido provocações de grupos opositores ao governo do presidente Nicolás Maduro.

*Por André Vieira - Brasil de Fato - Edição: Aline Scátola


24 fevereiro 2019

Sinal Fechado


A guerra na Venezuela é construída sobre mentiras





Viajando com Hugo Chávez, logo entendi a ameaça representada pela Venezuela. Em uma cooperativa agrícola no estado de Lara, as pessoas esperavam pacientemente e com bom humor no calor. Jarros de água e suco de melão foram servidos. 
Uma guitarra foi tocada; uma mulher, Katarina, levantou-se e cantou com um contralto rouco.

“O que suas palavras disseram?”, Perguntei.

“Que estamos orgulhosos”, foi a resposta.

Os aplausos por ela se fundiram com a chegada de Chávez. Sob um braço carregava uma mochila cheia de livros. Usava sua grande camisa vermelha e cumprimentava as pessoas pelo nome, parando para ouvir. O que me impressionou foi sua capacidade de ouvir.

Durante quase duas horas leu no microfone da pilha de livros ao lado dele: Orwell, Dickens, Tolstoi, Zola, Hemingway, Chomsky, Neruda: uma página aqui, uma linha ou duas lá. As pessoas aplaudiram e assobiaram, emocionadas, de autor para autor.

Então os fazendeiros pegaram o microfone e lhe disseram o que sabiam e do que precisavam; um rosto antigo, entalhado, fez um discurso longo e crítico sobre o assunto da irrigação; Chávez tomou notas.

Vinho é produzido aqui, uma uva tipo Syrah escura.

“John, John, venha até aqui”, disse o presidente, depois de ter me visto adormecer no calor e nas profundezas de Oliver Twist.

“Ele gosta de vinho tinto”, disse Chávez — e o público assobiando me presenteou com uma garrafa de vinho do “povo”. Minhas poucas palavras em espanhol ruim trouxeram assobios e risos.

Chávez prometeu, ao chegar ao poder, que cada movimento seu estaria sujeito à vontade do povo.

Em oito anos, Chávez ganhou oito eleições e referendos: um recorde mundial. Ele era eleitoralmente o chefe de estado mais testado no hemisfério ocidental, provavelmente no mundo.

Toda grande reforma chavista foi votada, nomeadamente uma nova constituição, que 71% dos venezuelanos aprovaram — cada um dos 396 artigos consagrando liberdades inéditas, como o artigo 123, que pela primeira vez reconheceu os direitos humanos dos mestiços e negros — Chávez era um deles.

As pessoas comuns consideravam Chávez e seu governo como seus primeiros campeões: como pertencendo a eles.

Isto foi especialmente verdadeiro para os indígenas, mestiços e afro-venezuelanos, que haviam sido vítimas dos antecessores imediatos de Chávez e incomodou aqueles que hoje vivem nos bairros chiques, nas mansões e penthouses do leste de Caracas, que se deslocam para Miami, onde se consideram “brancos”.

Eles são o núcleo poderoso do que a mídia chama de “oposição”.

Quando eu conheci essa turma, em subúrbios chamados Country Club, em casas com lustres baixos e retratos ruins nas paredes, eu os reconheci. Eles poderiam ser brancos sul-africanos, a pequena burguesia de Constantia e Sandton, pilares das crueldades do apartheid.

Cartunistas da imprensa venezuelana, a maioria de propriedade de uma oligarquia que se opõe ao governo, retrataram Chávez como um macaco.

Um apresentador de rádio referiu-se a ele como “o macaco”.

Nas universidades privadas, a moeda verbal dos filhos dos abastados é frequentemente o abuso racista daqueles cujos barracos são visíveis apenas através da poluição de Caracas.

Embora a política identitária ocupe espaço nas páginas de jornais liberais do Ocidente, raça e classe são duas palavras quase nunca proferidas na “cobertura” mentirosa da mais recente tentativa de Washington de agarrar a maior fonte mundial de petróleo e recuperar o seu “quintal”.

Apesar de todas as falhas dos chavistas — como permitir que a economia venezuelana continuasse refém das fortunas do petróleo, nunca seriamente desafiando a desigualdade estrutural e a corrupção — houve justiça social para milhões de pessoas e isso foi feito com democracia sem precedentes.

“Das 92 eleições que nós monitoramos”, disse o ex-presidente Jimmy Carter,  um monitor de eleições respeitado em todo o mundo, “eu diria que o processo eleitoral na Venezuela é o melhor do mundo”.

A título de contraste, disse Carter, o sistema eleitoral dos EUA, com sua ênfase no dinheiro de campanha, “é um dos piores”.

Ao estender autoridade comunal, baseada nos bairros mais pobres, Chávez descreveu a democracia venezuelana como “nossa versão da idéia de soberania popular de Rousseau”.

No Barrio La Linea, sentada em sua minúscula cozinha, Beatrice Balazo contou-me que seus filhos eram da primeira geração de pobres a frequentar uma escola um dia inteiro e receber uma refeição quente e aprender música, arte e dança.

“Eu vi a confiança deles florescer”, disse ela.

No Barrio La Vega, eu escutei uma enfermeira, Mariella Machado, uma mulher negra de 45 anos, questionando um conselho de terras urbanas sobre assuntos que iam desde a falta de moradia até as gangues. Naquele dia foi lançada uma das Missões, o programa voltado para as mães solteiras.

Sob a Constituição, as mulheres têm o direito de serem pagas como cuidadoras e podem tomar emprestado dinheiro de um banco especial para mulheres. Agora as donas de casa mais pobres ganham o equivalente a U$ 200 por mês.

Em uma sala iluminada por um único tubo fluorescente, conheci Ana Lucia Ferandez, de 86 anos, e Mavis Mendez, de 95 anos. Sonia Alvarez, de 33 anos, veio com os dois filhos. Houve um tempo em que nenhuma delas sabia ler e escrever; agora, estavam estudando matemática.

Pela primeira vez em sua história, a Venezuela tem quase 100% de alfabetização.

Este é o trabalho da Missão Robinson, que foi criada para adultos e adolescentes antes privados de educação devido à pobreza.

A Missão Ribas dá a todos a oportunidade de uma educação secundária, chamada bacharelado (os nomes Robinson e Ribas referem-se aos líderes da independência venezuelana do século XIX).

Em seus 95 anos, Mavis Mendez assistiu a um desfile de governos, principalmente vassalos de Washington, presidirem o roubo de bilhões de dólares de petróleo, muitos dos quais voaram para Miami.

“Não importávamos, em um sentido humano”, ela me disse. “Vivemos e morremos sem educação e água corrente, e comida que não podíamos comprar. Quando adoecemos, os mais fracos morreram. Agora eu posso ler e escrever meu nome e muito mais; plantamos as sementes da verdadeira democracia e tenho a alegria de ver isso acontecer ”.

Em 2002, durante golpe contra Chávez apoiado por Washington, os filhos de Mavis, filhas e netos e bisnetos, se juntaram a milhares de pessoas que desceram as encostas dos morros e exigiram que o exército permanecesse leal a Chávez.

“As pessoas me resgataram”, disse-me Chávez. “Eles fizeram isso com a mídia contra mim, escondendo até mesmo os fatos básicos do que aconteceu.”

Desde a morte de Chávez, em 2013, seu sucessor, Nicolas Maduro, apareceu na imprensa ocidental como o “ex-motorista de ônibus” que se tornou encarnação de Saddam Hussein.

Sob seu governo, a queda do preço do petróleo causou hiperinflação numa sociedade que importa quase toda a comida.

No entanto, como o jornalista e cineasta Pablo Navarrete relatou esta semana, a Venezuela não é a catástrofe que foi pintada.

“Há comida em toda parte”, escreveu ele. “Eu tenho filmado muitos vídeos de comida nos mercados [por toda Caracas] … e sexta à noite os restaurantes estão cheios.”

Em 2018, Maduro foi reeleito presidente. Uma seção da oposição boicotou a eleição, uma tática usada contra Chávez. O boicote falhou: 9.389.056 pessoas votaram.

Dezesseis partidos participaram e seis candidatos disputaram a presidência. Maduro ganhou 6.248.864 votos, ou 67,84 por cento do total.

No dia da eleição, falei com um dos 150 observadores eleitorais estrangeiros. “Foi totalmente justo”, disse ele. “Não houve fraude; nenhuma das sinistras denúncias da mídia foi comprovada. Zero”.

Como uma página da festa do chá de Alice no País das Maravilhas, o governo Trump agora apresenta Juan Guaidó, uma criação pop do National Endowment for Democracy e da CIA, como o “Presidente legítimo da Venezuela”.

Para 81% do povo venezuelano, segundo The Nation, Guaidó não foi eleito por ninguém.

Maduro é “ilegítimo”, diz Trump (que venceu a presidência dos EUA com 3 milhões de votos a menos que seu oponente); um “ditador”, diz o vice-presidente Mike Pence. De olho no petróleo está o conselheiro John Bolton (que quando eu o entrevistei, em 2003, me perguntou: “Ei, você é comunista, talvez até trabalhista?”).

Como seu “enviado especial à Venezuela”, Trump nomeou um criminoso condenado, Elliot Abrams, cujas intrigas a serviço dos presidentes Reagan e George W. Bush ajudaram a produzir o escândalo Irã-Contra na década de 1980 e a mergulhar a América Central em anos de miséria encharcada de sangue.

Colocando Lewis Carroll de lado, esses “loucos” pertencem aos noticiários da década de 1930. E, no entanto, suas mentiras sobre a Venezuela foram abraçadas com entusiasmo por aqueles pagos para manter o registro histórico.

No Channel 4 News, britânico, Jon Snow berrou com o deputado trabalhista Chris Williamson: “Olha, você e o Sr. Corbyn estão em uma posição muito desagradável [na Venezuela]!”

Quando Williamson tentou explicar por que ameaçar um país soberano estava errado, Snow cortou: “Você já teve sua chance!”

Em 2006, o mesmo canal acusou Chávez de tramar armas nucleares com o Irã: uma fantasia.

O então correspondente em Washington, Jonathan Rugman, permitiu que um criminoso de guerra, Donald Rumsfeld, comparasse Chávez a Hitler, sem contestação.

Pesquisadores da Universidade do Oeste da Inglaterra estudaram as reportagens da BBC sobre a Venezuela durante um período de dez anos.

Eles analisaram 304 relatos e descobriram que apenas três deles se referiam a qualquer uma das políticas positivas do governo.

Para a BBC, o registro democrático da Venezuela, a legislação de direitos humanos, os programas de alimentação, as iniciativas de saúde e a redução da pobreza não aconteceram.

O maior programa de alfabetização da história da humanidade não aconteceu, assim como os milhões que marcham em apoio a Maduro e em memória de Chávez não existem.

Quando perguntada por que ela filmou apenas uma marcha de oposição, a repórter da BBC Orla Guerin tuitou que era “muito difícil” estar em duas marchas no mesmo dia.

Uma guerra foi declarada à Venezuela, na qual a verdade é “muito difícil” de ser encontrada.

É difícil falar sobre o colapso dos preços do petróleo desde 2014, em grande parte como resultado de maquinações criminosas de Wall Street.

É difícil relatar o bloqueio do acesso da Venezuela ao sistema financeiro internacional dominado pelos EUA, como sabotagem.

É muito difícil relatar as “sanções” de Washington contra a Venezuela, que causaram a perda de pelo menos U$ 6 bilhões na receita desde 2017, incluindo U$ 2 bilhões em medicamentos importados — ou a recusa do Banco da Inglaterra em devolver o ouro da Venezuela, um ato de pirataria.

O ex-relator das Nações Unidas, Alfred de Zayas, comparou isso a um “cerco medieval” projetado para “trazer os países de joelhos”. É um ataque criminoso, disse ele.

É semelhante ao bloqueio enfrentado por Salvador Allende em 1970, quando o presidente Richard Nixon e seu equivalente de John Bolton, Henry Kissinger, decidiram “fazer a economia [do Chile] gritar”. A longa e escura noite de Pinochet se seguiu.

O correspondente do Guardian, Tom Phillips, tuitou uma foto usando um boné no qual as palavras em espanhol significam, em gíria local: “Torne a Venezuela legal de novo”.

O repórter como palhaço pode ser o estágio final da degeneração do jornalismo tradicional.

Caso Guaidó e seus supremacistas brancos tomem o poder, será a 68ª derrubada de um governo soberano pelos Estados Unidos, a maioria deles democracias.

Uma liquidação das riquezas minerais da Venezuela certamente se seguirá, juntamente com o roubo do petróleo do país, conforme descrito por John Bolton.

Sob o último governo controlado por Washington em Caracas, a pobreza alcançou proporções históricas. Não houve cuidados de saúde para aqueles que não podiam pagar. Não houve educação universal.

Mavis Mendez e milhões como ela não sabiam ler ou escrever. Isso é legal, Tom?

*ornalista australiano. Via Viomundo