26 abril 2024

'Chegou a hora!'


Em 25 de abril de 1974, uma operação militar articulada clandestinamente ganhou as ruas de Lisboa e derrubou a ditadura salazarista que vigorou por 48 anos em Portugal. Foi a participação popular no próprio 25 de abril e nas semanas seguintes que a tornou uma revolução. Foto: Arquivo Nacional da Torre do Tombo


José Cardoso Pires e o 25 de abril

Por Flávio Aguiar*, em A Terra é Redonda*

“É a hora!” (Fernando Pessoa, em Mensagem).


1. Em meados de 1975 o novo governo português enviou uma missão de escritores ao Brasil para “explicar” o que fora a Revolução dos Cravos, o 25 de abril. Eram cinco ou seis escritores que percorreram universidades e outras instituições culturais brasileiras.

Foram também ao curso de Letras da USP, que então se localizava no “antigo” CRUSP, como uma tropa de ocupação para impedir o retorno dos estudantes ao seu conjunto residencial.

Além disto havia uma outra ideia subjacente àquela “ocupação”: a de criar um Instituto de Letras, ideia naquele momento patrocinada sobretudo por um grupo de professores de direita, o chamado “Bando da Lua”.

Esta ideia naufragava desde uma assembleia de professores, realizada no ano anterior, em que vencera por pouca diferença a proposta de permanecermos no que restava da Faculdade de Filosofia, esquartejada pela reforma de 1970.

Mas ela não desaparecera do horizonte. Até mesmo renasceria mais tarde, sob a égide de outros debates. Mas isto é outra história. Retornemos aos portugueses.

Do grupo, liguei-me mais, por motivos diferentes, a Ernesto de Melo e Castro, alto, de magreza elegante, barbudo, que, graças a razões afetivas, permaneceria no Brasil; e sobretudo a José Cardoso Pires, baixinho, de físico forte e atarracado, grande apreciador de conhaques e afins.

Contava então o José Cardoso com 50 anos de idade. Ainda viveria até os 75, sucumbindo a um derrame logo após seu aniversário, comemorado no mês de julho. Já era um escritor de fama; fora perseguido na ditadura salazarista por suas ligações com o Partido Comunista, de que se afastaria logo a seguir.

Nas Letras os escritores cumpriram sua missão na parte da manhã. Fui assistir sua palestra com meus alunos. Tinha 28 anos e concluía meu mestrado sobre o teatro de Qorpo-Santo. Fazia parte do corpo docente da Faculdade desde 1972, a convite do professor Décio de Almeida Prado, para repartir com ele as aulas sobre dramaturgia brasileira.

Por afinidades eletivas e por indicação de amigos comuns, à tarde fui encontrar-me com o José Cardoso num boteco do centro de São Paulo.

Ficamos bebericando conhaques até o anoitecer e ele, com uma prosa de fino sabor, narrou-me sua participação nos acontecimentos do 25 de abril em Lisboa, no ano anterior.

Sem poder reproduzir seu sotaque lusitano, vou confiar-me ao que na minha memória ficou de sua curiosa narrativa, abrindo aspas e recordando com emoção a amizade que nos uniu.

2. Contou-me ele:

“Na noite de 24 estava eu em minha casa quando, pelas dez horas, tocou o telefone. Atendi, e escutei a voz de uma velha amiga do Partido Comunista, que vivia clandestina há tempos. Disse-me: ‘Estás lá, José’? ‘Estou’, respondi. Disse-me então: ‘José, chegou a hora!’ E desligou!

Estupefato, contei o que que acontecera para a Maria Edite, minha mulher. Ela perguntou-me: ‘o que ela quis dizer com isto: chegou a hora?’. ‘Sei lá’, respondi, ‘vai ver que virão prender-me’.

Continuei: ‘Maria, prepara-me, por favor, uma maleta: umas peúgas, a escova de dentes, camisa, essas coisas”. Assim ela fez, e ficamos a esperar, sem poder dormir.

Passada a meia-noite, batem-nos à porta, assim, já diretamente dentro do prédio.

‘Chegou a hora!’, eu disse à Maria, e abri a porta. Dei de cara com dois militares, um sargento com as divisas e um soldado de rifle a tiracolo, por detrás dele. Repeti para a Maria: ‘chegou a hora’!

Para minha surpresa, o sargento entrou e deu-me um abraço, a dizer: ‘sim, camarada, chegou a hora! Esta é uma revolução democrática, e viemos buscá-lo para levá-lo à televisão onde faça um pronunciamento’.

Eu estava proibido de ir ao rádio e à televisão e de dar entrevistas. Fiquei desconfiado, mas fui. Afinal, eles estavam armados. Despedi-me da Maria Edite e desci com os dois à rua.

Esperava-nos um caminhão do Exército e ao subir na sua carroçaria reconheci alguns camaradas que lá estavam em meio a outros soldados. Perguntei a um deles o que estava a acontecer. ‘Não sei’, disse-me, ‘só sei que chegou a hora!’. E lá nos fomos para a estação de televisão.

Lá nos levaram – éramos uns dez ou doze – para uma sala, com uma mesa ao centro e em cima dela uma garrafa de uísque. E lá ficamos horas a fio, a conversar e sem saber o que estava a acontecer. Até que já ao raiar do dia, eu pretextei ir à sala de banhos e consegui escapulir do prédio.

Procurei uma cabina telefônica e liguei para minha mulher. ‘Olha’. disse-lhe, ‘vou dar uma volta ao centro para saber o que se passa e volto para casa. Devo chegar aí por volta de uma dez horas’.

Foi uma loucura. Eu estava ao lado do Otelo Saraiva de Carvalho quando ele chegou ao edifício da polícia política, a PIDE, para soltar os prisioneiros e prender os carcereiros, que tinham atirado contra a multidão. Mataram algumas pessoas e feriram outras. Foram as únicas vítimas na revolução’.

Só voltei para casa três dias depois. E minha filha não voltou até hoje”.

Ainda falamos do Brasil e da esperança que a Revolução dos Cravos nos dava. Despedimo-nos emocionados.

*Flávio Aguiar é jornalista e escritor, é professor aposentado de literatura brasileira na USP. Autor, entre outros livros, de Crônicas do mundo ao revés (Boitempo).

-Via Viomundo


24 abril 2024

Zé Dirceu: 'Por justiça com a minha história, tenho o direito de voltar à Câmara como deputado'

Por José Eduardo Bernardes, no BdF* - A história de José Dirceu é de reviravoltas, da saída do Brasil na ditadura até volta ao país com outro nome e uma cirurgia plástica para escapar dos militares. De uma das principais figuras da política nacional e possível sucessor de Luiz Inácio Lula da Silva na presidência da República até a cassação do mandato de deputado federal em 2005. Das duas prisões na década passada até o retorno ao Congresso Nacional na condição de orador em sessão legislativa que celebrou a democracia brasileira, 19 anos depois de perda de seu mandato.

É esse o personagem que nesta semana participa do BdF Entrevista. Dirceu recebeu o programa em sua casa, em São Paulo, para uma hora de conversa, onde passou a limpo importantes passagens de sua vida e fez uma análise aprofundada da conjuntura nacional e dos contornos da geopolítica internacional. (...)

*CLIQUE AQUI para continuar lendo - e assistir, na íntegra, a entrevista com o bravo companheiro Zé Dirceu.

22 abril 2024

TERROR SEM FIM - Massacre de Israel na Faixa de Gaza já beira as 35 mil mortes, dizem palestinos

Contagem deste domingo do Ministério da Saúde do território contabilizou pelo menos 48 vítimas fatais e mais 79 feridos nos ataques do governo sionista de Benjamin Netanyahu
(Marius Arnesen/flickr/arquivo)
Estima-se que há cerca de 8 mil soterrados  (Marius Arnesen/flickr/arquivo)

São Paulo - RBA* – Já beira 35 mil o número de palestinos mortos no massacre que Israel espalha pela Faixa de Gaza desde outubro do ano passado. Neste domingo (21), o Ministério da Saúde do território divulgou a morte de pelo menos mais 48 pessoas, fazendo com que o total de vítimas fatais atinja 34.097. O comunicado cita também ao menos 79 feridos, levando essa cifra para 76.980.

Do total de mortos, pelo menos 14.685 são crianças e 9.670 são mulheres. De acordo com a Telesurtv, estima-se, ainda, que aproximadamente 8 mil pessoas seguem sob escombros de edificações bombardeadas diante das dificuldades de resgate, seja pela falta de recursos, seja pelos incessantes ataques israelenses.

Jan Yunis

O porta-voz da defesa civil da Faixa de Gaza, Mahmoud Basal, afirmou que as equipes de resgate encontram mais de 50 corpos espalhados pela cidade de Jan Yunis, ocupada pelo exército sionista de Benjamin Netanyahu até o dia 7 de abril. Basal disse, sempre de acordo com a Telesurtv, que os corpos foram enterrados pelos israelenses em valas comuns. O porta-voz acrescentou que as buscas por desaparecidos seguem e que dezenas de corpos forma destruídos pelos soldados invasores.

Apoio dos EUA

O parlamento dos Estados Unidos aprovou no sábado (20) uma ajuda militar de US$ 17 bilhões, ou R$ 88 bilhões, para Israel. O pacote prevê também US$ 9 bilhões, cerca de R$ 46 bilhões, para ajuda humanitária na Faixa de Gaza. Após o anúncio, o governo de Benjamin Netanyahu afirmou que aprovação do suporte militar “envia uma forte mensagem aos inimigos”, de acordo com o Opera Mundi.

Dois dias antes, na quinta-feira (18), os Estados Unidos vetaram o reconhecimento do Estado da Palestina como membro pleno da Organização das Nações Unidas (ONU). A decisão foi tomada pelo Conselho de Segurança, onde os estadunidenses têm poder total de veto sobre qualquer resolução. Ao todo, 15 membros votaram, sendo que 12 foram a favor e dois abstiveram-se.

*Fonte: Rede Brasil Atual

21 abril 2024

CHE GUEVARA - Até a Vitória, Sempre! com ALEIDA GUEVARA e JOÃO CARVALHO no ICL

VÍDEO: ‘O imperialismo está em sua fase mais perigosa para o futuro da humanidade’, alerta sociólogo

O sociólogo, professor e escritor argentino Atilio Borón. Foto: Wikipedia

Da Redação*

“O imperialismo está em sua fase mais agressiva e mais perigosa para o futuro da humanidade”, alerta o sociólogo e escritor argentino Atilio Borón em entrevista à Revista Diálogos do Sul e à rede colaborativa Comunicasul.

”O imperialismo afeta também as pessoas comuns, na medida em que impede nossos goveros de cumprirem suas promessas eleitorais e seu compromisso com o povo”, acrescenta.

Assista no vídeo acima.

Borón é um dos palestrantes do Encontro para uma Alternativa Social Mundial, que acontece em Caracas e organizado pela Alba-TCP.

*Fonte: Viomundo

19 abril 2024

Generais, Revogações, Democracia e Constituinte - Debate

Brasil registra menor nível de extrema pobreza na história, diz FGV

 

Pessoas em situação de extrema pobreza. Foto: Agência Brasil

Por Caique Lima* - Com o aumento da renda média dos brasileiros em 2023, o Brasil atingiu o menor nível de extrema pobreza registrado na história, segundo o Centro de Políticas Sociais da Fundação Getúlio Vargas (FGV Social). No ano passado, 8,3% da população (16,9 milhões de pessoas) estava abaixo da linha de miséria.

No ano anterior, em 2022, 9,6% da população (19,5 milhões de pessoas) estava nessa condição, segundo os dados da Pesquisa Nacional de Amostra por Domicílios Contínua (Pnad-C) divulgados nesta sexta (19) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

A série histórica do IBGE começa em 2012, mas os primeiros números sobre o tema datam de 1976. Segundo Marcelo Neri, diretor do FGV Social, é improvável que a miséria fosse menor no país antes disso. “Se retroagir essa série, desde 1976, é a menor taxa de pobreza da história”, afirma.

A taxa de extrema pobreza já havia reduzido entre 2022 e 2023, com 2,6 milhões de brasileiros deixando essas condições. Os cálculos da FGV consideram extremamente pobres quem ganha abaixo de R$ 303 de renda per capita (por pessoa) em uma família.

Expansão do Bolsa Família contribuiu com recorde de renda em 2023. Foto: Divulgação

Segundo o IBGE, a renda média domiciliar per capita do brasileiro subiu para R$ 1.848 por mês, maior número registrado na série história. Os principais fatores para a alta de 11,5% em relação ao ano anterior são a expansão do Bolsa Família e o aquecimento do mercado de trabalho, que proporcionou um avanço de salários e empregos.

O benefício social chegou a 19% dos domicílios do país em 2023, o maior percentual da série histórica, e representa atualmente 5,2% da composição da renda média domiciliar do país. O trabalho representa um total de 74,2% do valor, enquanto aposentadorias e pensões respondem por 17,5%.

Todas as classes de renda tiveram um aumento expressivo de renda, mas o maior avanço ocorreu entre os 5% mais pobres da população, que são os grandes beneficiários do Bolsa Família, que teve um crescimento de 60% nos últimos anos: saltando de 13,2 milhões para 21,1 milhões de famílias beneficiadas.

A melhor renda média registrada na história antes do recorde de 2023 foi em 2019, antes da pandemia de Covid-19, quando o valor per capita era de R$ 1.744.

*Via DCM

18 abril 2024

POLÍTICA - Ministro Barroso, fascismo e lavajatismo vivem de ideias infelizes e criminosas

 


Por Moisés Mendes*

O ministro Luis Roberto Barroso definiu como apenas uma ideia infeliz a tentativa de Deltan Dallagnol de se apropriar de R$ 2,5 bilhões da Petrobras. A juíza Gabriela Hardt teria somente avalizado a infelicidade alheia. 

Pois o mundo recua, tropeça e avança por causa de ideias infelizes, sempre dependendo do ponto de vista de quem examina as ideias dos outros, sendo ou não um juiz. 

Na noite de 3 de novembro de 2022, uma quinta-feira, um grupo teve a ideia infeliz de cercar o restaurante em que o ministro Barroso e a família jantavam com amigos em Porto Belo, um dos paraísos do litoral catarinense. 

A ideia parecia ser apenas essa. Vaiar o ministro, o que é do jogo para toda figura pública, e esculhambar seu fim de semana. Mas o grupo foi ganhando o reforço de extremistas e Barroso teve de deixar o local. Refugiou-se numa casa. Mas a casa também foi cercada. 

A ideia infeliz de gritar e vaiar evoluiu para ameaças. O ministro e a família abandonaram a casa às 4h da madrugada, porque outra ideia infeliz poderia prosperar. 

Na Amazônia, mais ou menos na mesma época, grupos que haviam decidido explorar o garimpo na terra dos yanomamis foram ganhando o reforço de traficantes e bandidos de toda espécie. 

Uma ideia infeliz, a de garimpar ouro ilegalmente, evoluiu para outras ideias, e os bandidos passaram a cercar e matar inimigos, indigenistas, os indígenas e quem chegasse perto. A tiros e de fome. 

Os yanomamis não têm como escapar do cerco, mas o ministro Barroso fugiu para Brasília, onde conta, não se sabe em que dimensão e até quando, com a proteção institucional de autoridade da mais alta Corte do país. 

Barroso sabe que o Brasil enfrenta os sobressaltos de ideias infelizes recentes, desde o golpe contra Dilma, passando pelo encarceramento de Lula, até o que aconteceu no 8 de janeiro. 

Desde a ideia infeliz do golpe de 2016, levada adiante como ideia da grande imprensa em conluio com o Brasil arcaico e a leniência das instituições, direita e extrema direita evoluíram para a certeza de que era preciso consumar a ideia do encarceramento de Lula. 

E chegaram assim à ideia infeliz de ajudar a eleger Bolsonaro e de apoiar outra ideia infeliz, a de transformar Sergio Moro em empregado de Bolsonaro, enquanto todo o governo teve a ideia de negar vacina aos brasileiros. 

No ano passado, se o Supremo tivesse concordado com a tese de que a invasão de Brasília havia sido apenas uma ideia infeliz, todos os mais de mil presos do 8 de janeiro seriam tratados, como diz Bolsonaro, como uns coitados. 

Porque não havia ali um líder entre eles. Eram pessoas comuns tomadas pelo transe de uma ideia coletiva infeliz. Os autores da ideia nunca assumiram que a ideia era deles, e os presos e condenados são apenas os que levaram a sério as ideias infelizes dos outros. 

Alguém em algum lugar, nesse momento, está furtando um pacote de massa em algum supermercado. E em algum gabinete um juiz estará decidindo que o furto de um pacote de massa não pode ser tratado apenas como ideia infeliz, mas como furto mesmo. 

O temor de pelo menos metade do Brasil é de que essa percepção do que é furto, no caso do pacote de massa, e do que possa ser uma ideia infeliz, no caso da apropriação de R$ 2,5 bilhões da Petrobras, se institucionalize ainda mais e vire acórdão e jurisprudência e inspiração de conduta, não para magistrados, mas para as almas coletivas. 

Porque o que o lavajatismo e o fascismo esperam é que suas atitudes sejam percebidas assim mesmo, apenas como ideias infelizes à espera da fala e da decisão de um grande juiz capaz de legitimá-las. 

O cerco que o ministro sofreu em Santa Catarina, sem notícia até agora de que tenha culpados, não foi, nem na origem, quando o primeiro grupo chegou ao restaurante, apenas uma ideia infeliz. 

A turba extremista, no Estado mais extremista do país, estava cercando o Supremo, depois da eleição consumada. Para avisar que o fascismo cotidiano continuava ativo e que a ideia do golpe estava mantida. 

Como ainda continua vivo, por ser mais do que ideia infeliz, o fascismo que se rearticula sob a proteção do poder econômico, o mesmo fascismo patrocinado que cercou o ministro do Supremo e o expulsou da cidade às 4h da madrugada. 

O poder econômico, que continua organizando e mobilizando tios e tias, fora e dentro das redes sociais e do zap, está intocado, ministro Barroso. É o único núcleo do golpismo e do lavajatismo ainda intacto. O único que o Supremo não consegue alcançar. 

Essa é a impunidade do poder do dinheiro, dos que lidam ou pretendem lidar com bilhões, em nome de uma grande causa ou apenas de uma ideia infeliz. 

O dinheiro atenua os desvios éticos e morais dos que sabem manuseá-lo. O dinheiro torna os seus atos, por mais absurdos que pareçam, apenas ideias infelizes e às vezes até infelizmente razoáveis. 

O Supremo continua cercado pelo poder do dinheiro, ministro Barroso, e o Brasil todo, e não só o STF, precisa de ideias melhores do que fugir sem olhar pra trás no meio da madrugada.

...

*Moisés Mendes é jornalista em Porto Alegre. Foi colunista e editor especial de Zero Hora. Escreve também para os jornais Extra Classe, Jornalistas pela Democracia e Brasil 247. É autor do livro de crônicas 'Todos querem ser Mujica' (Editora Diadorim) - Fonte: Blog do Moisés Mendes

-Via Blog O Boqueirão Online

17 abril 2024

Vitória no CNJ mostra que Lava Jato é um câncer em atividade

 


Por Jeferson Miola* 

A decisão do ministro-corregedor do Conselho Nacional de Justiça sobre a gangue da Lava Jato é demolidora.

Nela, Luis Felipe Salomão transcreve trechos impressionantes do relatório da Correição [auditoria] realizada na 13ª Vara da justiça federal de Curitiba e no Tribunal Regional Federal da 4ª Região sediado em Porto Alegre.

A Corregedoria descreveu práticas indecentes, ilícitas e, inclusive, criminosas dos implicados em conexão com Sérgio Moro e Deltan Dallagnol.

Apesar das evidências e provas eloquentes, a maioria do CNJ decidiu revogar os afastamentos cautelares da juíza Gabriela Hardt e do juiz Danilo Pereira, mantendo afastados apenas os desembargadores do TRF4 Loraci Flores de Lima e Thompson Flores.

O ministro Luís Roberto Barroso agiu como advogado de defesa dos acusados e liderou a reação lavajatista. Quebrando a tradição do presidente votar por último, ele abriu dissidência em relação ao voto do ministro-corregedor e defendeu ardorosamente a juíza plagiadora do Moro, aquela adepta da prática do copia-e-cola.

Barroso não se envergonhou com seus argumentos, embora tenha causado vergonha alheia em que o escutava. No quesito ridículo, ele ombreou com um colega patético que disse “votar com o coração”.

Indiferente às graves infrações funcionais e prováveis crimes de Gabriela Hardt apurados pela Corregedoria, Barroso disse que “essa moça não tinha absolutamente nenhuma mácula”, é “uma boa moça, de reputação ilibada”.

Referindo-se ao acordo ilegal e firmado clandestinamente entre procuradores da Lava Jato e agentes do governo dos EUA para desviar entre 2,5 e 6 bilhões de reais para a fundação criada por Deltan e colegas, Barroso disse tratar-se de um “bom acordo” homologado pela juíza. Simplório assim.

Barroso tem identidade ideológica com o lavajatismo. E já cultivou momentos de intimidade com os integrantes da Lava Jato – a ponto de, em 9 de agosto de 2016, recepcioná-los em sua casa para um jantar “com máxima discriçãoNa medida do possível, desejamos manter como um evento reservado e privado”.

Tereza e eu teremos o imenso prazer em recebê-los para um pequeno coquetel/jantar em nossa casa”, dizia o convite a Moro e Dallagnol.

Apesar de tais afinidades e intimidades, Barroso não considera abaladas sua isenção e imparcialidade, ainda que seus posicionamentos enfáticos e apaixonados em defesa da Lava Jato e dos seus integrantes indiquem o contrário.

A vitória no CNJ, ainda que parcial, mostra que a Lava Jato é um câncer ainda em atividade. E suas metástases continuam se espalhando na institucionalidade judicial do país – da primeira instância do judiciário à Suprema Corte.

A unidade editorial pró-Lava Jato da mídia hegemônica nos últimos dias, com a Rede Globo à frente, evidencia o esforço de recomposição do lavajatismo em aliança com a direita antipetista, a extrema-direita bolsonarista e os militares.

*Fonte: https://jefersonmiola.wordpress.com/

15 abril 2024

Israel provocou Irã para envolver EUA e ampliar conflito, mas fracassou, dizem analistas

Meta de Tel Aviv seria reduzir isolamento internacional gerado pelo massacre em Gaza e salvar governo Netanyahu

Irã respondeu bombardeio de consulado em Damasco, na Síria - Rede Social Imam Khamenei/Fotos Públicas

Por Rodrigo Durão*

A onda de solidariedade internacional para com Israel gerada pelo ataque do Hamas dentro de seu território, em outubro, durou pouco. O massacre diário de civis palestinos na Faixa de Gaza, a maioria de mulheres e crianças - que prossegue apesar de condenações globais - tornam o país cada vez mais isolado

É nesse contexto que ampliar o conflito com o envolvimento de Estados Unidos e Irã poderia ser a forma de o governo de Benjamin Netanyahu reconquistar empatia internacional e apoio interno, segundo analistas ouvidos pelo Brasil de Fato. Eles apontam que o ataque israelense ao consulado iraniano na Síria, no dia primeiro de abril - que resultou em diversas mortes, incluindo a de um importante comandante militar do Irã - foi ato pensado para causar a reação do último domingo.

"O bombardeio do consulado foi claramente uma provocação, Israel quer há muito tempo ampliar o conflito por vários razões", disse Mohammed Nadir, coordenador do Laboratório de Estudos Árabes da Universidade Federal do ABC (UFABC). "Esse ataque ocorreu após vários outros ataques contra alvos iranianos na Síria, justamente para trazer o Irã para o confronto."

Nadir acredita que provocar o Irã para uma disputa militar direta é desejo do governo israelense, que elegeu Teerã como seu "inimigo número 1". "Israel acusa o Irã de ter instigado o Hamas para causar os ataques de sete de outubro, se ressente da influência iraniana cada vez maior junto a grupos armados como os Houthis no Iêmen e o Hezbollah no Líbano, mas acima de tudo, com a possibilidade de Teerã conseguir a  bomba atômica."

O pesquisar do instituto Front Anderson Barreto Moreira concorda com a análise, afirmando que o ataque israelense em Damasco tinha o objetivo de "envolver os Estados Unidos numa guerra de alto potencial e salvar não apenas o governo [de Netanyahu], mas tirar o Estado de Israel do isolamento em que se encontra".

Netanyahu vem enfrentando inúmeros problemas internos. Mesmo antes dos ataques do Hamas, ele corria o risco de ser deposto da liderança do Knesset - o Parlamento de Israel - pela oposição, por tentar mudar a constituição e emplacar leis que reduziam os poderes dos legisladores. Recentemente, o premiê vem sendo alvo de protestos que pedem sua saída por não conseguir libertar os reféns feitos pelo Hamas.

Razões do fracasso

No entanto, os analistas ouvidos pelo Brasil de Fato concordam que a estratégia israelense não funcionou. 

"Primeiro porque os Estados Unidos não têm a mínima condição de abrir um front desse porte, dada a humilhação e fracasso na Ucrânia e sem uma solução para sair daquele atoleiro, estão deixando para os europeus. As eleições estão em risco, a política externa um caos", afirma Moreira. 

"O fato de, domingo mesmo, Biden ter afirmado que não embarcará em nenhuma resposta israelense contra o Irã já é uma mudança de postura. 'Israel pode considerar o dia de hoje como uma vitória' essa foi a frase de Biden."

Para Mohammed Nadir, "os EUA não querem nesse momento, depois do fracasso no Afeganistão e Iraque, se envolver em outra aventura militar; um ataque apenas não resolveria, teria que mandar soldados no terreno e não há clima para isso." 

"A estratégia estadunidense hoje visa a China, não o Oriente Médio. Além disso, a Rússia, aliada do Irã, não permitiria uma guerra no Oriente Médio", pondera. "Imaginemos que os EUA estivessem dispostos a embarcar em uma guerra nos moldes do que ocorreu no Iraque - coisa que não estão. Para Moscou, a aliança com Teerã permite uma presença estratégica no Golfo, um privilégio geopolítico. É por isso que a Rússia não permitiria uma mudança de regime no Irã que a enfraquecesse como país."

Já o analista Giorgio Romano, também do OPEB (UFABC), destaca ainda a "inteligência da resposta iraniana" ao ataque contra o consulado em Damasco.

"Netanyahu jogou uma casca de banana para o Irã, que não podia escolher não fazer nada perante sua população interna e grupos sobre os quais têm influência, como Hezbollah e Hamas. Teerã mostrou capacidade de fogo ao atingir uma base militar no sul de Israel com míssil, indicando o que poderia acontecer em um eventual ataque surpresa - o que não foi o caso", explica. 

"O ataque foi anunciado com bastante antecedência, para que Israel pudesse se preparar. Os Estados Unidos, reconhecendo a moderação na resposta do Irã, fizeram questão de imediatamente fechar a questão em torno do G7, com uma posição clara para que Israel não retaliasse."

"Claro que lidamos com a irracionalidade de Netanyahu, mas um indicativo claro de que não haverá escalada é que os preços do petróleo hoje (segunda-feira) caíram, após uma alta gerada pela incerteza do que poderia acontecer." . 

'Netanyahu é o grande derrotado'

Moreira diz que "o governo Netanyahu é o grande derrotado até agora. Se não responder à retaliação corre o risco de ser retirado do poder pelos setores linha dura que já avisaram que não aceitam uma não resposta. Se responder sem o apoio dos Estados Unidos corre o risco de sofrer um ataque ainda maior, reafirmado mais de uma vez pelo governo iraniano."

"Para um governo que está vendo milhares nas ruas, tendo o Parlamento invadindo pedindo a sua renúncia, condenado mundialmente pelo genocídio em andamento na Palestina, parece que qualquer resposta não terá efeito algum."

Por outro lado, a resposta iraniana - embora tenha causado poucos danos concretos a Israel - teve o mérito de ter sido o primeiro ataque direto já realizado pelo país contra o território israelense, o que reforça o status do Irã como potencia regional, segundo os analistas. 

"O Irã sai como o novo poder da região. Demonstrou que tem capacidade de confronto e mostrou as vulnerabilidades do maior rival. Ainda por cima articulou uma vasta rede de apoio: Houthis no Iemên, Hezbollah no Líbano, Síria e Iraque com espaços aéreos abertos para a passagem dos drones e mísseis", afirma Moreira. 

"Apesar de Israel recorrer à ONU, sua imagem e posição já estão tão destruídas que não houve comoção mundial alguma. Com exceção de Estados Unidos e seus aliados na Europa, o mundo não saiu em defesa e nem condenando os ataques. É a ordem multipolar sendo construída sobre os escombros da antiga", conclui. 

*Edição: Lucas Estanislau - Via BrasildeFato

13 abril 2024

Secom suspende publicidade no X depois dos ataques de Elon Musk à soberania nacional*

Bilionário de extrema-direita atacou o Brasil, as instituições nacionais e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva

   Elon Musk (Foto: Gonzalo Fuentes / Reuters I Reuters)

A Secretaria de Comunicação da presidência da República (Secom), numa decisão tomada pelo ministro Paulo Pimenta, suspendeu nesta sexta-feira todos os contratos de publicidade com o X, do bilionário de extrema-direita Elon Musk. A decisão foi uma resposta às ações do extremista contra o Brasil, as instituições nacionais e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Numa ação coordenada com parlamentares de extrema-direita e propagadores de notícias falsas, Musk tentou fabricar um escândalo sobre uma suposta "ditadura" no Brasil, com cerceamento da liberdade de expressão. Um de seus objetivos é fortalecer a extrema direita em nível mundial. Outro, garantir acesso a recursos naturais estratégicos do Brasil.

Além de suspender os contratos de publicidade com o X, o governo tomou outra providência importante. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva estreou nesta sexta-feira sua conta no BlueSky, uma rede social que chega com força para enfrentar o X no Brasil. Em entrevista, a presidente do BlueSky, Jay Graber, destacou o compromisso da plataforma com os direitos humanos, bem como o combate ao discurso de ódio. Ela também ressaltou que o Brasil é uma democracia vibrante.

*Via Brasil247