30 junho 2020

Ricos debandaram e apoio de neobolsonaristas é frágil



Por Helena Chagas, para o Jornalistas pela Democracia* - Animais, como cobras, muitas vezes trocam de pele e saem novinhos do processo. Com políticos, é bem mais difícil. A última rodada do Datafolha confirma o que levantamentos anteriores começavam a apontar: Jair Bolsonaro vai perdendo apoio entre os ricos e mais instruídos, que na maioria lhe deram seus votos no segundo turno de 2018, e ganhando entre os mais pobres, sobretudo mulheres – segmento que mais o rejeitava – por conta do pagamento do auxílio emergencial de R$ 600. Um processo de metamorfose eleitoral perigoso.

Antes de tudo, porque a perda junto aos ricos que votaram nele parece irreversível. Os índices recordes de apoio à democracia (75%), contra a propagação de fake news sobre políticos e ministros do STF (81%) e de rejeição a manifestações de rua contra outros poderes (68%) relegam o discurso autoritário bolsonarista à minoria das minorias. Dificilmente esse público retornará, e os cruzamentos do Datafolha mostram que, entre os 32% que ainda mantém opinião de que o governo é bom ou ótimo, os mais radicais defensores do presidente que apóiam as práticas antidemocráticas e os feitos da ditadura militar são apenas 15%. Este seria o núcleo duro de Bolsonaro, os que estão com ele para o que der e vier.
Pelos cálculos do Datafolha, explicados em artigo dos diretores do instituto, Mauro Paulino e Alessandro Janoni, se dependesse apenas dos que votaram nele, Bolsonaro teria hoje cerca de 23% de avaliação positiva. Os restantes nove pontos percentuais de bom e ótimo estão vindo de um público novo, os beneficiários do auxílio emergencial – que não lhe deram seus votos em 2018. 
O que isso quer dizer? Antes de tudo, que as oscilações mínimas na aprovação presidencial podem estar, como dizem Paulino e Janoni, “camuflando” a tendência de perda de apoio em grupos minoritários mas influentes, como os mais ricos e instruídos, com potencial de estrago maior para o presidente no futuro.
Quanto ao apoio dos mais necessitados, trata-se de uma tendência que, para ser mantida, depende de uma série de fatores, alguns deles fora do alcance de Bolsonaro. Ele pode até, como parece estar fazendo, trabalhar para manter o benefício por mais tempo. Mas a permanência do valor de R$ 600 para sempre está fora de todas as cogitações, pois não há dinheiro.
A tentativa de fazer mudanças no Bolsa Família para tentar compensar o fim do benefício é uma jogada arriscada. Além de o valor ser bem menor, o governo, com suas dificuldades de gestão no setor social, corre o risco de desmantelar um programa internacionalmente reconhecido e não conseguir colocar nada consistente no lugar, com reflexos imediatos em sua popularidade. 
Isso sem contar a tendência de deterioração ainda maior do quadro geral no pós-pandemia, com aumento do desemprego e piora nos indicadores sociais. É de se prever, portanto, uma debandada dos neobolsonaristas, sem o retorno dos velhos aliados – o pior dos mundos para Bolsonaro. 

29 junho 2020

Entregadores de aplicativos pedem apoio da população para paralisação nacional

Ação acontecerá na próxima quarta (1º) e trabalhadores solicitam que usuários boicotem as empresas no dia

"Nem todo dia temos dinheiro pra sair de casa. Tem vez que deixamos de comer para abastecer", diz entregador - Foto: @tretanotramp

Sem direito à quarentena e sujeitos à informalidade, os entregadores de aplicativos organizam uma paralisação nacional marcada para a próxima quarta-feira, dia 1º de julho. Os trabalhadores exigem melhores condições de trabalho e a suspensão de bloqueios arbitrários realizados frequentemente pelas empresas como Rappi, Ifood, Loggi e UberEats. 
Segundo explica um entregador que se identifica como Mineiro e é um dos organizadores da greve, para além da interrupção imediata dos bloqueios e desligamentos sem justificativas, também estão na lista de reivindicações uma taxa mínima de R$2 por quilômetro percorrido. 
“As outras reivindicações são um auxílio-lanche porque nem todos os dias temos o que comer. Um auxílio oficina e borracharia, que desconte do nosso próprio cartão em que recebemos. Nem todo dia temos dinheiro pra sair de casa. Tem vez que deixamos de comer para abastecer”, declara o entregador da zona Sul de São Paulo, que há 3 anos atua com aplicativos. 
Medidas protetivas contra roubos e acidentes, assim como o pagamento adequado por quilometragem percorrida são outras demandas apresentadas. 
Uma estudo recente feito pela Rede de Estudos e Monitoramento da Reforma Trabalhista (Remir Trabalho) da Unicamp mostrou que a pandemia do coronavírus precarizou ainda mais o trabalho dos profissionais.
Com o aumento da demanda de entrega por delivery, eles passaram a trabalhar mais horas. Custos com equipamentos e materiais de prevenção à contaminação pela covid-19 também pesaram ainda mais no bolso dos trabalhadores informais. 
Neste contexto, Mineiro comemora a estimativa de que 98% dos entregadores integrem a paralisação da próxima semana. Mas, ainda assim, ele ressalta que o apoio da população é essencial. 

O pessoal tem que aderir porque ao não fazer o pedido, eles nos ajudam. Não terá muito pedido no dia e os motoboy não farão as entregas. Estamos pedindo o apoio de todo mundo. Nossa reivindicação de sempre vai ser essa: Mais respeito com os motoboys e pedir aos usuários dos apps que nos dias não façam pedidos.” 

E os usuários?
Por meio das redes sociais, os entregadores estão usando a #ApoieoBrequedosApps para orientar a população sobre como se solidarizar ao movimento por condições mais dignas de trabalho. Confira as dicas dos motoboys:
1) Não peça comida pelos aplicativos
Os trabalhadores indicam que os usuários aproveitem o dia de paralisação para cozinhar e priorizar a comida caseira. De acordo com eles, as empresas costumam liberar cupons de desconto nos dias de mobilizações, com o objetivo de enfraquecê-las. 
A campanha pede que no dia 1º de junho, as pessoas cozinhem sua própria comida e compartilhem uma foto com a #ApoioBrequedosApps. Se for mesmo necessário, a orientação é que a refeição seja comprada direto no restaurante escolhido.
Perspectiva é que greve alcance 98% da categoria/ Foto: @tretanotrampo


2) Avalie os apps negativamente
A segunda forma de ajudar a mobilização é acessar as lojas de aplicativos do seu smartphone, como Google Play e Apple Store, e avaliar as apps das empresas de delivery com a menor nota possível. Os entregadores também sugerem postagem de comentários em apoio à paralisação nas lojas de apps para chamar atenção de outros usuários. 
3) Ajude na divulgação
Os motoboys apontam que um outro modo essencial para ajudá-los é compartilhar materiais sobre a paralisação o máximo possível. 
Solidariedade
Um motorista que trabalha com a Uber há quase um ano, e que preferiu não se identificar por receio de retaliação, presta apoio à paralisação dos entregadores. Ele acredita que, mesmo em funções diferentes, a precarização atinge a todos.
“Somos categorias e serviços diferentes, porém todos buscamos os mesmos objetivos. Autonomia econômica, garantia de segurança e saúde. Voltar para casa bem. São princípios e direitos fundamentais pra manter as coisas funcionando, inclusive no trabalho. E se os serviços vinculados aos apps, todos eles, não oferecem o mínimo a quem trabalha neles, então devemos cobrar e é nas ruas que isso precisa ser feito", diz.
Para o motorista, é essencial que a sociedade se sensibilize com a paralisação e demonstre apoio em defesa de uma maior qualidade de vida dos trabalhadores de app.
“Não acredito que alguém não saiba o quanto está difícil para os mais pobres e os mais humildes. Se colocar na situação do outro não é difícil pra ninguém, está difícil pra todo mundo ainda mais nesse momento, no auge de uma pandemia. Então o apoio, e principalmente conhecer a causa do outro, é fundamental", defende.
*Por Lu Sodré, no Brasil de Fato - Edição: Leandro Melito

27 junho 2020

Ricardo Antunes: “Pandemia desnuda perversidades do capital contra trabalhadores”


Por Lu Sudré*

Os altos índices de informalidade e ausência de direitos trabalhistas que atingem os trabalhadores em todo o mundo, com destaque para o Brasil, não são resultados da pandemia da covid-19
Segundo o sociólogo Ricardo Antunes, as graves consequências do novo coronavírus são resultados da combinação letal entre a crise estrutural do capitalismo, que destrói sistematicamente a legislação social protetora do trabalho, e uma crise sociopolítica sem precedentes. 
Em entrevista ao Brasil de Fato*, o autor do e-book Coronavírus: O trabalho sob fogo cruzadolançado recentemente pela Boitempo, define o atual cenário vivido pelo trabalhador brasileiro como “o celeiro da tragédia”.  (...)
*CLIQUE AQUI para ler - e ver - na íntegra.

26 junho 2020

Nova versão de Wassef sobre Queiroz já foi desmentida por Bolsonaro

A versão do advogado Frederick Wassef sobre um fantasioso complô para matar Fabrício Queiroz e culpar o clã Bolsonaro já nasceu morta: em sua live na quinta da última semana, Bolsonaro afirmara que Fabrício Queiroz estava na casa de Wassef em Atibaia pela proximidade do hospital onde o ex-assessor de Flávio Bolsonaro tratava de um câncer - que era mentira também

Frederick Wassef, Jair Bolsonaro e Flávio Bolsonaro (Foto: Reprodução | Valter Campanato/Agência Brasil)

247 - A nova versão criada pelo advogado Frederick Wassef de que o clã presidencial não sabia que o próprio defensor escondia Fabrício Queiroz já foi desmentida por Jair Bolsonaro. Nasceu morta. Em live na semana passada nas redes sociais, ele disse que o ex-assessor do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) estava na casa do advogado em Atibaia (SP) pela proximidade do hospital onde ele tratava de um câncer, versão igualmente mentirosa e desmentida pelo hospital.
"E por que estava naquela região de São Paulo? Porque é perto do hospital onde faz tratamento de câncer. Então, esse é o quadro. Da minha parte, está encerrado aí o caso Queiroz", afirmara Bolsonaro.
A declaração de Bolsonaro contradiz a versão de Wassef. O advogado afirmou ter escondido Queiroz para impedir uma eventual tentativa de assassinato. "Naquele momento, meu entendimento é que eu queria evitar que Fabrício Queiroz fosse executado em uma simulação qualquer ou mesmo que sumissem com o seu cadáver", disse. 
Queiroz foi preso no último dia 18 em Atibaia (SP), onde estava escondido em um imóvel que tem o advogado como proprietário. Ele é acusado de envolvimento com um esquema de lavagem de dinheiro na Assembleia Legislativa do Rio, onde assessorava Flávio Bolsonaro, que era deputado estadual antes de ser eleito senador. 
Segundo relatório do antigo Conselho de Atividades Financeiras (Coaf), Queiroz movimentou R$ 7 milhões de 2014 a 2017.
O procurador da República Sérgio Pinel afirmou ter encontrado "fortes indícios da prática de crime de lavagem de dinheiro" envolvendo o filho de Jair Bolsonaro. O Ministério Público do Rio já disse ter encontrado indícios de que o parlamentar lavou R$ 2,27 milhões com compra de imóveis e em sua loja de chocolates. 

23 junho 2020

Minoria branca racista domina o mundo


Por Emir Sader*
Uma minoria branca se apropriou do poder no mundo, através do colonialismo e do imperialismo, e domina a esmagadora maioria da humanidade, que não é branca. Basta somar a população da China e da Índia, dois países mais populosos do mundo, para se ter cerca de dois bilhões e meio de pessoas, todas de outras etnias.

Foi o surgimento do colonialismo que fez a Europa assumir o domínio econômico, político e militar do mundo. A Inglaterra invadiu a China – na guerra do ópio, entre 1839 e 1860 - que não tinha força militar para se defender, para introduzir o uso do ópio, para poder reequilibrar a balança comercial com a China, vendendo ópio produzido na China. Essa guerra interrompeu o ciclo de desenvolvimento da China, a mais importante economia do mundo até aquele momento.

Naquele momento se deu o auge do colonialismo das potências europeias, que dividiram o mundo entre si. Nascia o eurocentrismo, a visão do mundo segundo a qual a Europa é o centro do mundo, seus valores os valores universais, com os outros povos considerados bárbaros.

O Ocidente instaura o Oriente, que agrupa da China ao Paquistão, do Oriente Médio ao Japão, isto é, o que não é Ocidente.  A partir daquele momento os brancos passaram a dominar o mundo, valendo-se da escravidão. A Africa foi uma vítima privilegiada do colonialismo europeu.

Teve suas riquezas dilapidadas e sua população transformada em escravos para produzir para o consumo da população branca europeia. O Brasil se tornou o modelo de economia escravista.

Três séculos depois, quando a escravidão terminava, o Brasil foi o país das Américas que mais demorou para terminar com ela. Como não passamos de colônia a república, mas a monarquia, a escravidão continuou. E 1850 a Lei de Terras legalizou a propriedade dos que se tinham apropriado delas, inclusive através da grilagem. Quando os escravos, já no final do século, se tornaram livres, já não havia mais terras para ele. Os negros foram perpetuados como pobres, no campo ou nas cidades.

Assumiram as funções menos qualificadas, sofrendo, da forma mais aguda, a desigualdade social no Brasil. Foram relegados a brasileiros de segunda classe. Excluídos sociais em todos os planos, ficaram identificados como os de menor nível educacional, de formação profissional, de poder econômico, sem possibilidade de ascensão social. Discriminados, desqualificados, se tornaram o modelo mesmo dos excluídos socialmente. 


São 54% da população brasileira, mas são uma porcentagem muito maior entre os desempregados, os de trabalho precário, os presidiários, as vítimas privilegiadas da violência policial. O maior escândalo do Brasil é o genocídio de jovens negros, mortos diariamente pela polícia, de forma anônima, sem nome, sem famílias, sem rosto, como se fosse delegada à polícia a tarefa de eliminá-los, de exclui-los, prendê-los.

Em  qualquer lugar para que se olhe na sociedade e no Estado brasileiro, são brancos que ocupam – com exceções para confirmar a regra – os cargos de poder, de projeção, de formação da opinião pública, de poder econômico e político. No mundo também é assim. A Europa continua a se considerar o centro do mundo, a se definir como o continente civilizado, cercado de continentes bárbaros.


No entanto, não haverá democracia no mundo, nem no Brasil, enquanto houver racismo, enquanto os negros continuarem sendo cidadãos de segunda classe, marginalizados, discriminado, excluídos. Um país que tem uma maioria de negros, mas é governado por brancos, não é uma democracia.

*Emir Sader é um dos principais sociólogos e cientistas políticos brasileiros. -Via Brasil247

(Edição final deste Blog)

POR UMA ESCOLA PÚBLICA - DE TODOS & PARA TODOS! (Live)



19 junho 2020

Paulo Paim e as marcas que o racismo deixa


Juremir Machado da Silva e Taline Oppitz, na Rádio Guaíba


Por Juremir Machado da Silva*

Na última terça-feira, no Esfera Pública, na Rádio Guaíba, Taline Oppitz, Lucas Rivas e eu entrevistamos o senador gaúcho Paulo Paim [PT]. Foi emocionante. Uma das mais tocantes entrevistas  das quais participei na vida. Uma das melhores do programa. Sou admirador de Paulo Paim, esse incansável defensor de causas que vão se tornando tristemente perdidas, como as da previdência social e da aposentadoria. Ele é um dos poucos negros de um Congresso Nacional dominado pela branquitude, num país com mais de 50% de não brancos. O tema da entrevista era racismo. Paim contou passagens da sua vida e não se conteve: chorou mais de uma vez.

Dava para sentir a sinceridade, a dor, a tristeza carregada ao longo de uma vida em confronto com a discriminação racial. Em determinado momento, Paulo Paim lembrou que, na formatura, não pode entrar no clube onde foi comemorar. Por ser negro. Foi às lágrimas. Lembrei-me de que na minha infância e adolescência os negros eram barrados nos clubes da minha cidade e nos bailes da campanha. Isso era considerado “normal”. Os relativistas por conveniência alegam hoje que eram os “valores da época”. Ao longo da escravidão, milhões de homens e mulheres sempre souberam da infâmia que aquilo significava: os escravos. Era uma instituição legal e não faltava escravagista para condenar quem dava abrigo a escravo em fuga com o argumento clássico ainda hoje usado para outros fins: não se pode ir contra a lei.

Senador Paulo Paim, do PT/RS

Paulo Paim rotulou o presidente da Fundação Palmares, Sérgio Camargo, que é negro, de “capitão do mato”. Camargo chamou o movimento negro de escória e disse que a escravidão foi benéfica aos escravizados. “Ele me lembra aquela figura do 'capitão do mato'. Ele é contratado para destruir o povo negro, a nossa historia. Ele é pago para isso. Eu prefiro desconhecê-lo e ponto”. Numa das suas mais belas obras, o argentino Borges, branco e conservador, disse do seu personagem: “Carriego acreditava ter uma obrigação com seu bairro pobre”. Paulo Paim orgulha-se da obrigação que tem com sua negritude. Não faço campanha antecipada por ele, que não sei se será mais candidato.

Em tempos de revisão bastante tardia de certos conceitos infames, depois do assassinato covarde do negro George Floyd, nos Estados Unidos, por um policial branco treinado para odiar e para não ceder às súplicas das suas vítimas, temas costumeiramente jogados para baixo do tapete da Casa Grande já não podem ser descartados com desdém e certeza de impunidade. Ressoam nos meus ouvidos as palavras de Paulo Paim sobre ser barrado em algum lugar por causa da cor da pele: “Marca a gente”.

Senador Paulo Paim e este Editor

A propósito, quantos negros integram a Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul? E a Câmara de Vereadores de Porto Alegre? A voz embargada de Paulo Paim na Rádio Guaíba me arrepiou. Acostumado a fazer entrevistas, calejados pelos anos de labuta, não esperava também eu me emocionar. Trabalhando de casa, fechei o microfone para respirar. Ficou martelando na minha cabeça a expressão “marca a gente’. Até quando?

*Jornalista, escritor e radialista - Via Correio do Povo

(Edição final deste Blog)

Plenária virtual do DAP tem Gleisi, Luísa Hanune e cerca de 100 representantes de todo o país



Com informações do site do DAP www.petista.org.br
Uma plenária nacional do Diálogo e Ação Petista realizada neste sábado (13) reuniu quase cem militantes de 15 estados do país. Foi a primeira plenária nacional virtual, desde o inicio da pandemia. Além dos membros do DAP nos estados a plenária contou com a presença de uma delegação jovem da Juventude Revolução do PT, de Luísa Hanune, Secretária Geral do PT da Argélia e coordenadores do Acordo Internacional dos Trabalhadores e dos Povos, e da presidente do PT, Gleisi Hoffman.
Misa Boito, que coordenou a plenária, explicou as razões do encontro: “O comitê nacional decidiu essa plenária diante da necessidade dos grupos de base de nos manter agrupados. Essa plenária vem no bojo das atividades dos grupos de base, e no bojo dos atos pelo país contra Bolsonaro e contra o racismo”.
A companheira Gleisi, que esteve presente na abertura, explicou a posição que o PT adotou na última segunda-feira de apoiar as manifestações pela democracia e contra o racismo, fazendo uma boa análise da conjuntura nacional. Disse a companheira Gleisi: “vocês do DAP têm bem claro a conjuntura. Precisamos é ter clareza da posição do PT, qual o papel do PT nessa conjuntura. Desde o início da crise (da covid-19), defendemos o emprego, a vida e a democracia. Isso ficou claro em todas as manifestações em que fizemos. A bancada do PT foi a que mais apresentou projetos em defesa das questões emergenciais, para ajudar o povo e governadores a enfrentar a crise”.
“É preciso o fim do governo”
Gleisi ainda falou sobre o governo Bolsonaro: “Bolsonaro para os trabalhadores veio com a MP 936 (que permite redução jornada e de salários e suspensão de contrato de trabalhos – Nota da redação) e nada fez para pequenas e médias empresas. O Brasil se tornou pária (**) internacional: em segundo lugar quantidade de casos, perdendo apenas pros Estados Unidos. Para o desdobrar dessa crise, entendemos que é preciso o fim do governo. Bolsonaro é a crise em si. Ele aposta em instabilidade, aposta no caos social, até pra dar guarida na escalada autoritária dele.”
Crise institucional
Gleisi ainda citou a preocupação sobre a posição das Forças Armadas: “Entendem como governo deles, basta ver que estão em todos os postos estratégicos. Acho que nem na ditadura militar tiveram tantos postos estratégicos”
Sobre saída política, Gleisi afirmou que “a luta que nós temos é pela saída do governo Bolsonaro, não é só de Bolsonaro. Apresentamos a proposta de impeachment, e também queremos a PEC para que em 90 dias tenhamos eleições (…). Nunca tivemos ilusão de sermos ‘oposição propositiva’. A democracia tem que ser qualificada. Democracia, para nós do PT, tem que ter a ver com os direitos do povo: comer 3 vezes por dia, acesso a emprego, renda, e direitos”.
Manifestações
Gleisi ainda citou os próximos passos do PT, em termos de discussão com outras forças políticas: “Estamos preparando um manifesto popular e democrático. Obviamente podemos fazer alianças democráticas neste processo, sem nunca abrir mão de nos posicionar. Saudamos as manifestações de rua, amanhã (domingo) vou estar na manifestação em São Paulo. Estamos orientando a nossa militância. A maioria das pessoas que está indo pra rua é de quem já está confrontado a COVID-19. É quem escolheu lutar para viver”.
Gleisi ainda relembrou pra termos cuidado, relembrando as manifestações de 2013, que, segundo ela, com a despolitização de 2013 resultou na eleição de Bolsonaro.
Frente com quem não quer direitos e fora Bolsonaro?
Sobre a discussão sobre frente ampla versus frente de esquerda, Gleisi afirmou: “Não estamos nesse movimento de frente ampla, não achamos que essa frente ampla possa ser uma saída pro Brasil. Essa frente caminha pra exclusão do povo.”
Gleisi finalizou dizendo que tem muito em comum no PT na situação atual com as idéias do DAP: “Muita força, muita firmeza. O que vem pela frente não vai ser fácil”
Luísa Hanune: “A frase ‘socialismo ou barbárie’ nunca teve tanta atualidade”
Luísa fez uma análise da situação política mundial que, segundo vários participantes, considerou uma “injeção de ânimo” para a plenária. Disse Luísa:
“As imagens que vemos sobre a situação dos povos na pandemia parecem imagens que vimos em livros, da 1ª Guerra Mundial e da 2ª Guerra mundial. Jamais como hoje em dia os povos estiveram tão simultaneamente unidos diante das consequências como nessa pandemia. O que provocou a impotência de enfrentar o vírus foi um processo de sucateamento dos serviços públicos de saúde. Esse sucateamento da proteção social provoca a impotência dos governos. Mesmo as pesquisas científicas que marcaram progressos da humanidade, foram travadas e desviadas para atender os requisitos de lucro do capital. Essa constatação pode ser feita em qualquer país. (…) O governo (da Argélia – NDT) usou o confinamento para atacar os direitos do povo. Em outros países houve supressão de liberdades democráticas, como a de reunião e a de manifestação. A classe trabalhadora está diante de uma unidade total na ofensiva capitalista na pandemia.
Crise nos Estados Unidos
O sistema já estava dilacerado por suas contradições. O assassinato do negro George Floyd abriu uma situação nova, não apenas porque as mobilizações nos EUA não tem precedentes – maiores do que na época do assassinato de Martin Luther King -, mas pela onda de solidariedade em vários outros países como na Europa. Isso porque o movimento nos EUA expressa não só o combate ao racismo, que é estrutural no capitalismo, mas conjura com a raiva que existe dos povos em geral diante de sua condição de vida. Nos EUA, brancos e negros, lado a lado, dizem isso. O que está em questão é o sistema diretamente.”
“A COVID-19 apenas acelerou a crise.“
O companheiro Júlio Turra, do comitê nacional do DAP, completou a discussão internacional com a situação do continente americano. Turra comentou da importância da tecnologia para manter a ligação internacional que o CILI tem realizado, como a “live” que o DAP promoveu dia 09. Ele disse que a pandemia veio apenas pra acentuar a crise já antes existente: “Os órgãos internacionais como Banco Mundial, FMI, e governos, já estavam anunciando a crise do capitalismo antes do vírus: a COVID-19 apenas acelerou a crise. Se o vírus foi produto do acaso, as suas consequências não: foram produto da ação dos governos nos últimos 20 anos. Na América Latina os sistemas de saúde foram sucateados. O SUS no Brasil desde o governo Temer vem sendo sucateado”.
40 milhões de desempregados nos Estados Unidos
Júlio ainda abordou a crise atual nos Estados Unidos, México, e Chile:
“Nos EUA tem 40 milhões de desempregados. Tá no pano de fundo do assassinato do George Floyd. Assassinato de negro ocorre todo dia e toda hora. Nos EUA 15% da população é negra.  Nesse momento em que estamos falando, algum policial no Brasil está matando um negro. O que explica a explosão social nos Estados Unidos não é o ato racista em si.
No Brasil, Bolsonaro milita contra o isolamento. Porém mesmo em países que tiveram isolamento, há crise: no Chile teve ‘lockdown’. Setores da periferia saem nas ruas gritando “eu não tenho o que comer”. Os países que tiveram maior sucesso no combate à pandemia – não atacando os trabalhadores de maneira brutal – logram conter a pandemia, e em outros países a situação é dramática. O México, que tem um governo progressista, foi um dos últimos a adotar medidas de proteção. Para quem ainda acha que o Daniel Ortega é progressista, ele diz que não tem COVID-19 na Nicarágua até hoje. As conseqüências para os trabalhadores e povos em todo lugar. Estamos diante de uma situação que é inédita. A crise de 2008 nos EUA depois iam pros outros países. Agora é simultâneo”.
Uma hora explode
Julio Turra ainda abordou a situação dos trabalhadores no Brasil e no Chile:
“As lideranças sindicais aqui no Brasil estão em quarentena, mas o povão tá trabalhando. Tem dirigente sindical em quarentena e a base dele trabalhando. Com a irresponsabildiade do Bolsonaro, já somos o segundo país do mundo em casos de covid-19. Se continuarmos confinados, e esperarmos um milagre do céu, não vamos conseguir ajudar nosso povo. No Chile o governo deu bilhões pros patrões e nada pros trabalhadores. No Brasil Bolsonaro deu trilhões pros bancos, e pros trabalhadores redução de salário e de empregos. Isso vai acumulando uma revolta na sociedade que uma hora explode. Não podemos virar os ideólogos do ‘fique em casa’ enquanto a nossa classe tá trabalhando”.
DAP é motor de Arranque do PT
Depois das falas iniciais e de um rico debate ficou a cargo do companheiro Luiz Eduardo Greenhalgh, membro da coordenação do DAP, fazer uma síntese da discussão. Para Greenhalgh o DAP é uma espécia de motor de arranque e consciência crítica do PT. Confira sua fala na íntegra:
“Não haverá saída para o Brasil sem a saída do governo Bolsonaro. O país vive uma sequência de ameaças e provocações diárias, e essas ameaças materializam uma tentativa de escalada fascista no Brasil. O PT não vai trair o povo brasileiro, o PT vai continuar a fazer oposição sistemática e contundente, e vamos levar a luta até o fim, pelo fim do governo genocida de Jair Bolsonaro.
Nós queremos democracia, mas a democracia que queremos é aquela que protege os direitos do povo trabalhador do Brasil. Nós, os petistas, não vamos nos omitir, não vamos desistir, nós somos socialistas e não queremos que a barbárie atual continue, fora Bolsonaro, viva o PT, viva o DAP do PT, nenhum passo sem o povo.
Nós estamos verificando a sacanagem que é esse governo utilizando da pandemia contra as conquistas que a duras penas tivemos, em relação ao trabalhadores, com a retirada de direitos, direitos dos trabalhadores, dos estudantes, das universidades, agredindo a ecologia, incendiando a Amazônia, as áreas de proteção ambiental, substituindo o ensino presencial pela educação a distância. Enfim a gente vê que o governo Bolsonaro está se aproveitando da pandemia pra tentar passar a boiada do ultra neoliberalismo em nosso país, em uma escala como nunca a gente viu.
E é verdade também que a resistência agora é uma resistência dos povos quase que simultânea, e essa situação de simultaneidade nos ajuda, se a gente tiver a possibilidade de intercâmbios permanentes, sobre o que se está fazendo na África, o que se está fazendo na Argélia, o que se está fazendo nos EUA, no Chile, no México. Daí, o sucesso que foi a experiência positiva dessa “live” internacional que a gente fez, a experiência positiva da “live” nacional que foi feita antes.
O DAP tá se adaptando muito rapidamente a essa situação de conjuntura, essa situação excepcional da nossa conjuntura. A única coisa que o DAP oferece é a certeza de que tem que lutar, que nós temos que resistir, que há uma escalada militarista, e que nós temos que nos adequar a essa situação resistindo, lutando, nós não temos outra alternativa senão lutar.
Esse ano é um ano de eleição, nós vamos apoiar a Benedita no Rio, vamos apoiar o Lino Peres em Florianópolis – aliás, belíssima intervenção do nosso companheiro -, vamos apoiar outros companheiros, vamos apoiar com que jeito? Vamos apoiar com base em um programa, um programa mínimo com as origens do PT, com as bandeiras históricas do PT, um programa que vise sempre a defesa e a recuperação dos direitos que nos municípios também estão sendo tirados de nós, vamos apoiar vereadores, vamos para as ruas.
O DAP tem que apoiar também e participar, não só apoiar, o DAP tem que participar das manifestações, é verdade que tem que ter cautela, é verdade que tem que ter distância, é verdade que tem que ter máscaras, é verdade que tem que obedecer o protocolo, mas temos que ir pra rua sem medo pra enfrentar essa situação. As ruas são nosso lugar preferido, é lá que a gente nasceu no PT, é lá que o DAP hoje, uma certa consciência crítica do PT, busca fazer com que o PT saia de um certo comodismo, saia dos espaços exclusivamente institucionais e venha de novo se encontrar com o povo nas ruas.
As ruas são o nosso lugar, sempre que possível a gente deve ir nas nossas manifestações, e sempre que possível meter os pirulitos do DAP. Aliás, eu queria dar aqui, isso não é resumo da reunião, mas é uma opinião minha, eu acho que os pirulitos são muito pequenos, acho que a gente já tem condições de dobrar o tamanho dos nossos pirulitos, tá certo?  Em todas as manifestações nossas põe lá a estrela do PT, põe o vermelho do PT, põe a bandeira do PT, põe os pirulitos em dobro do DAP pra que a gente pirulite lá, “pirulitos de Itú”, tá certo? E sempre que possível com a identidade do DAP.
Nós temos que apoiar esses candidatos com compromisso de defesa dos cidadãos, dos trabalhadores.
O Gilson Lírio colocou, acho que é uma boa visão, o DAP é uma espécie de motor de arranque do PT. O DAP, companheiros, se vocês olham pra trás, no retrovisor, e vê como a gente nasceu, como foi crescendo, como chegamos aqui, além de ser o motor de arranque, é hoje uma certa consciência crítica, tá certo? Quando as pessoas vêm a gente do DAP, elas respeitam, elas sabem que estamos no trajeto correto, defendendo a bandeira do PT, e hoje tá mais fácil porque, sinceramente, a nossa presidente Gleisi tá de acordo conosco, o nosso presidente Lula, para decepção de muitos setores da CNB, tem feito intervenções no nosso sentido, do nosso lado com as mesmas preocupações.
Acho que é bom, também, aproveitar o espaço das eleições para lembrar o golpe contra a Dilma, a situação jurídica do Lula, a perseguição implacável ao PT, pra que a gente possa também juntar na análise, na aproximação, na busca do voto também, relembrar e recuperar a verdade sobre a narrativa do golpe.
Enfim, tem muita luta pra gente participar, tem muita luta pra gente lutar, e o nosso papel no PT, o nosso papel nos períodos eleitorais é isso, os espaços institucionais para um partido como o nosso são importantes, o erro é a gente só fazer política nesses espaços, se distanciando das bases, das nossas origens, da população.  Então, a gente tem que ter um pé no parlamento mas os dois pés na periferia, na população, nos sindicatos, nos movimentos sociais.
Essa luta hoje com base nessas manifestações eclodidas nos EUA, aqui no Brasil a gente tem exemplos diários sobre isso, eu acho que essa história também vai pegar aqui no Brasil. Espaços institucionais são importantes, mas não podem ser exclusivizados, não podemos nos distanciar das bases populares, o poder popular é nas ruas.
E, por fim, eu quero falar: a gente não pode deixar, militante do DAP, em qualquer discussão que faça, de levantar como vai ficar a situação do nosso país. Depois do governo genocida de Jair Bolsonaro, as instituições vão estar em frangalhos, nós vamos ganhar deles, o povo vai passar por cima do Jair Bolsonaro, mas nosso país terá instituições em frangalhos, pra isso a gente precisa, pra recuperar essas instituições sob a perspectiva do nosso povo, nós precisamos começar a discutir, desde, já a Assembleia Nacional Constituinte Livre e Soberana.
E nós não podemos ter vergonha. As pessoas, às vezes, quando eu falo isso, falam assim: lá vem o pessoal do DAP dando trabalho, falar de Assembleia Constituinte, há 40 anos que eles falam isso. Mas faz 500 anos que essas instituições do Brasil estão apodrecendo, e se a gente quiser ter um poder popular verdadeiro nós vamos ter que ter uma Assembleia Nacional Constituinte Livre e Soberana. Como disse o Sokol, quem vai anular o que eles fizeram de mal? E o que estão fazendo de mal contra o nosso país? É uma Assembleia Nacional Constituinte.
Então, companheiros, eu acho que é um pouco isso, finalmente, agradecer às referências que me foram feitas, mas dizer pra vocês: o papel do DAP no PT hoje é estratégico, no sentido da sua importância.
Muito obrigado, um abraço.”

18 junho 2020

Fabrício Queiroz, ex-assessor de Flávio Bolsonaro, é preso em SP

FOTO: REPRODUÇÃO

Ele é investigado no esquema de rachadinha

O ex-assessor do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), Fabrício Queiroz, foi preso em Atibaia, interior de São Paulo, na manhã desta quinta-feira 18. De acordo com o portal G1, ele estava no imóvel do advogado do parlamentar, Frederick Wassef.
Os mandados de busca e apreensão e de prisão foram expedidos pela Justiça do Rio de Janeiro, num desdobramento da investigação que apura esquema de rachadinha na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj).
Em nota, a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo afirmou que o Departamento de Operações Policiais Estratégicas (Dope) “apoia agentes do Grupos de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (GAECO/MP) no cumprimento de mandados de prisão e busca e apreensão em Atibaia”.
O Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) afirma que obteve na Justiça “a decretação de medidas cautelares que incluem busca e apreensão, afastamento da função pública, o comparecimento mensal em Juízo e a proibição de contato com testemunhas”. A operação foi nomeada de Operação Anjo.
A lista inclui o servidor da Alerj Matheus Azeredo Coutinho, os ex-funcionários da casa legislativa Luiza Paes Souza e Alessandra Esteve Marins, e o advogado Luis Gustavo Botto Maia.

Entenda o caso

A investigação contra Flávio Bolsonaro começou após um relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) ter identificado uma movimentação suspeita de 1,2 milhão de reais na conta de Queiroz entre janeiro de 2016 e janeiro de 2017.
De acordo com o relatório, diversos saques e depósitos em dinheiro vivo foram feitos na conta de Queiroz em datas próximas do pagamento de servidores da Assembleia Legislativa do Rio. O PM chegou a admitir que recolhia parte do salário de servidores do gabinete do então deputado estadual Flávio Bolsonaro para contratar “assessores informais”.