31 agosto 2008

Eleições 2008: Canoas/RS




JAIRO JORGE E JURANDIR MACIEL DEVEM DISPUTAR 2º TURNO EM CANOAS

Pesquisa realizada pela Fato e divulgada na imprensa gaúcha neste final de semana sobre a tendência das eleições em Canoas (município mais populoso da Região Metropolitana de Porto Alegre) apresenta os seguintes resultados: o atual vice-prefeito Jurandir Maciel (PTB/DEM/PRB/PMN) e o jornalista Jairo Jorge (PT/PP/PSB/PPS/PC do B/PR) estão empatados tecnicamente e encaminham-se para o segundo turno, deixando para trás o candidato da situação, Nedy Vargas (PMDB/PSDB/PDT/PV/PSC/PHS/PT do B/PSDC/PSL), apoiado pelo atual prefeito Marcos Ronchetti (PSDB) e pelo seretário de governo Chico Fraga (envolvido até a medula com o escândalo do Detran). Em quarto lugar vem Paulo Sérgio, do Psol. Segundo a pesquisa, Jurandir Maciel e Jairo Jorge (foto acima) estão empatados na simulação espontânea, com 19%.

Na pesquisa estimulada, Jurandir tem 30,1 %, Jairo Jorge 26,4 %, Nedy 16,4 % e Paulo Sérgio 1,1%. Portanto, a vantagem do candidato do PTB/DEM sobre o petista na induzida é de 3,7 pontos percentuais, numa pesquisa em que a margem de erro é de 3,5 pontos, caracterizando assim o empate técnico. O universo de entrevistados contabilizou 800 pessoas.

A mesma pesquisa revela que em Canoas os índices de apoio ao governo do Presidente Lula superam os 50% entre bom e ótimo, sendo apenas 14,8% de ruim e péssimo no município. Já a governadora Yeda Crusius tem apenas 17,7% de bom e ótimo e 41,8% de ruim e péssimo.

Segundo analisa a jornalista Rosane de Oliveira em sua coluna de hoje em ZH "os líderes da pesquisa em Canoas têm em comum o apoio de padrinhos poderosos: Jurandir é afilhado do senador Sérgio Zambiasi (PTB), um dos políticos mais populares na cidade. Jairo Jorge concorre com a bênção do ministro da Justiça, Tarso Genro, de quem foi o braço direito no Conselho de Desenvolvimento Econômico e no Ministério da Educação. Sua campanha investe na ligação com o presidente Lula, cujo governo é considerado ótimo ou bom por metade dos eleitores ouvidos na pesquisa Fato".

A tendência, portanto, em permanecendo o quadro atual da disputa (e se for bem capitalizado na campanha o apoio ao presidente Lula e o descontentamento geral com a governadora Yeda auscultado na pesquisa junto à população canoense) sem dúvida favorece ao candidato do heterogêneo Bloco encabeçado pelo candidato do Partido dos Trabalhadores, Jairo Jorge, capacitando-o a chegar com folga ao segundo turno e conquistar a vitória inédita que levará os petistas e aliados ao comando da prefeitura desse importante município gaúcho.

Poema







OS DESAPARECIDOS

De repente, naqueles dias, começaram
a desaparecer pessoas, estranhamente.
Desaparecia-se. Desaparecia-se muito
naqueles dias.

Ia-se colher a flor oferta
e se esvanecia.
Eclipsava-se entre um endereço e outro
ou no táxi que se ia.
Culpado ou não, sumia-se
ao regressar do escritório ou da orgia.
Entre um trago de conhaque
e um aceno de mão, o bebedor sumia.
Evaporava o pai
ao encontro da filha que não via.
Mães segurando filhos e compras,
gestantes com tricots ou grupos de estudantes
desapareciam.
Desapareciam amantes em pleno beijo
e médicos em meio à cirurgia.
Mecânicos se diluiam
- mal ligavam o tôrno do dia.

Desaparecia-se. Desaparecia-se muito
naqueles dias.
Desaparecia-se a olhos vistos
e não era miopia. Desaparecia-se
até a primeira vista. Bastava
que alguém visse um desaparecido
e o desaparecido desaparecia.
Desaparecia o mais conspícuo
e o mais obscuro sumia.
Até deputados e presidentes esvaneciam.
Sacerdotes, igualmente, levitando
iam, arefeitos, constatar no além,
como os pescadores partiam.

Desaparecia-se. Desaparecia-se muito
naqueles dias.
Os atores no palco
entre um gesto e outro, e os da platéia
enquanto riam.
Não, não era fácil ser poeta naqueles dias.
Porque os poetas, sobretudo
- desapareciam.
Se fosse ao tempo da Bíblia, eu diria
que carros de fogo arrebatavam os mais puros
em mística euforia. Não era. É ironia.
E os que estavam perto, em pânico, fingiam
que não viam. Se abstraíam.
Continuavam seu baralho a conversar demências
com o ausente, como se ele estivesse ali sorrindo
com suas roupas e dentes.

Em toda família à mesa havia
uma cadeira vazia, a qual se dirigiam.
Servia-se comida fria ao extinguido parente
e isto alimentava ficções
- nas salas e mentes
enquanto no palácio, remorsos vivos boiavam
- na sopa do presidente.
As flores olhando a cena, não compreendiam.
Indagavam dos pássaros, que emudeciam.
As janelas das casas, mal podiam crer
- no que viam.
As pedras, no entanto,
gravavam os nomes dos fantasmas
pois sabiam que quando chegasse a hora,
por serem pedras, falariam.

O desaparecido é como um rio:
- se tem nascente, tem foz.
Se teve corpo, tem ou terá voz.
Não há verme que em sua fome
roa totalmente um nome. O nome
habita as vísceras da fera
Como a vítima corrói o algoz.

E surgiam sinais precisos
de que os desaparecidos, cansados
de desaparecerem vivos
iam aparecer mesmo mortos
florescendo com seus corpos
a primavera de ossos.

Brotavam troncos de árvores,
rios, insetos e nuvens em cujo porte se viam
vestígios dos que sumiam.

Os desaparecidos, enfim,
amadureciam sua morte.

Desponta um dia uma tíbia
na crosta fria dos dias
e no subsolo da história
- coberto por duras botas,
faz-se amarga arqueologia.

A natureza, como a história,
segrega memória e vida
e cedo ou tarde desova
a verdade sobre a aurora.

Não há cova funda
que sepulte
- a rasa covardia.
Não há túmulo que oculte
os frutos da rebeldia.
Cai um dia em desgraça
a mais torpe ditadura
quando os vivos saem à praça
e os mortos da sepultura.

Affonso Romano de Sant'Anna

29 agosto 2008

25 anos da CUT












Vida longa à CUT

Nascida no berço das grandes mobilizações dos trabalhadores, a CUT completa hoje 25 anos de existência. Durante o 1º Congresso Nacional da Classe Trabalhadora (CONCLAT), realizado em São Bernardo do Campo no dia 28 de agosto de 1983, mais de cinco mil pessoas lotaram o galpão da extinta companhia cinematográfica Vera Cruz e lançaram as bases do novo sindicalismo brasileiro, autônomo e independente.

Ao mesmo tempo em que ruíam os alicerces da ditadura militar no Brasil, inúmeros setores da sociedade civil começavam a se reorganizar. É neste ambiente de profunda mobilização da classe trabalhadora por seus direitos e pela redemocratização do País que nasceu a CUT, como expressão concreta da luta contra o sindicalismo oficial.

Vinte e cinco anos podem parecer pouco tempo, principalmente se comparados com as trajetórias das centenárias das organizações sindicais da Europa. No entanto, em função dos obstáculos à livre organização dos trabalhadores em nosso País, este um quarto de século representa um imenso passo no sentido de assegurar um espaço para os trabalhadores organizados no cenário nacional.

Parabéns a todos que ajudar a construir a CUT.

* Do sítio PTSul

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** Nota do Blog: O 'titular' deste blog, à época trabalhando no jornal Correio do Povo (na 'fotocomposição'), participou desse histórico Congresso como delegado pelo Sindicato dos Gráficos do RS (eleito pela base) e teve a honra de ter sido um dos fundadores da Central Única dos Trabalhadores, a nossa CUT. (Júlio Garcia)

26 agosto 2008

Raposa Serra do Sol



Índios da Raposa Serra do Sol esperam que STF cumpra a Constituição



Indígenas representantes das comunidades da Terra Indígena Raposa Serra do Sol, em Roraima, já estão em Brasília para acompanhar o julgamento de ações que contestam a demarcação da reserva em área contínua, marcado para amanhã, no Supremo Tribunal Federal (STF). Um dos líderes do grupo, o conselheiro de Saúde Valuar Alves de Souza, da etnia Macuxi, afirmou ontem que os indígenas confiam em uma decisão judicial que confirme o direito dos índios sobre as terras.

"Já viemos a Brasília falar com vários ministros que não vamos reagir e estamos aguardando a Justiça. Se existe Justiça no Brasil, se existe a lei, estamos esperando que se cumpra a Constituição", disse Souza.

Na Raposa Serra do Sol vivem aproximadamente 18 mil índios. A área foi homologada em 2005 pelo governo federal com 1,7 milhão de hectares. Entretanto, um grupo de grandes produtores de arroz e famílias de agricultores brancos se nega a deixar a área, por não concordarem com os valores de indenização propostos pela Fundação Nacional do Índio (Funai). Sustentam ainda ocuparem apenas 1% das terras.

Os índios insistem, porém, que a área deve ficar exclusivamente para a utilização pelas comunidades. "Há mais de 40 anos estamos lutando na Raposa Serra do Sol. Ela foi delimitada, depois foi feita a demarcação. Onde está uma lei para revogar outra vez? Vai ser um prejuízo para a comunidade. Nascemos ali, criamos nossos filhos e vamos permanecer ali", afirmou Souza.

Segundo relatou o índio macuxi, a Polícia Federal está monitorando a reserva, mas não haveria, por parte dos indígenas, disposição para um confronto com os agricultores após a decisão do STF.

"Nosso povo está mantendo firme seu trabalho e não estamos ameaçando ninguém", garantiu. (Informes)

Charge do KAYSER
















'GENTE INGRATA'

21 agosto 2008

RS: investigações prosseguem








Solicitadas novas investigações ao MP sobre compra da casa da governadora e indícios de tráfico de influência

A bancada do PT solicitou ao Ministério Público Estadual que investigue indícios de tráfico de influência praticado pelo ex-secretário Geral de Governo Delson Martini. O pedido foi motivado por notícia de que o ex-integrante da cúpula do governo do tucano teria participado, junto com diretores da Fundação CEEE, de visitas a entidades financeiras de São Paulo para arrecadar recursos para a campanha do PSDB no Rio Grande do Sul e se apresentado como representante do Executivo gaúcho. Em documento entregue nesta quarta-feira (20) à tarde ao procurador geral de Justiça, Mauro Renner, os deputados Elvino Bohn Gass e Raul Pont sugeriram que o MP requisite as fitas de gravações de segurança dos bancos que teriam sido procurados pela comitiva gaúcha. “É preciso saber qual foi o objetivo das visitas, quem integrou o grupo e como se apresentaram. O episódio evidencia que Delson Martini, mesmo afastado, pode estar ainda operando em nome do governo do Estado”, frisou Bohn Gass.

A representação do PT contém, ainda, novas informações sobre a compra da casa da governadora. Segundo os parlamentares, a empresa Self Engenharia, cujo proprietário vendeu a casa para Yeda Crusius, foi adquirida por duas firmas estabelecidas no Uruguai – a Starex Sociedad Anônima e a Starmax Sociedade Anônima. “Chama a atenção que uma empresa endividada junto ao Banrisul tenha encontrado comprador no Uruguai, país apontado como um dos destinos dos R$ 44 milhões desviados do Detran. É preciso que o MP investigue estes fatos, que são, no mínimo, estranhos”, defendeu Bohn Gass.

Negócio Insólito

O deputado Raul Pont pediu que o empréstimo contraído pela empresa de Laranja junto ao Banrisul também seja investigado. Para o líder do PT, o fato da dívida ter sido cobrada pelo banco só depois que o tema da compra da casa da governadora veio à tona na CPI do Detran é mais um elemento que coloca a transação imobiliária sob suspeita. “Há uma sequência estranha de fatos que envolvem o negócio da compra da casa. No que concerne ao Banrisul, a situação beira à temeridade. Se todos os devedores tiverem o tratamento dispensado a Laranja, que só foi cobrado quando o assunto tomou proporções de escândalo, a saúde financeira do banco corre risco”, assinalou Pont.

O parlamentar afirmou, ainda, que há aspectos insólitos no episódio da compra da casa da governadora que merecem atenção especial do MP. Pont se refere ao fato da negociação, firmada entre Laranja e Yeda, prever que os R$ 200 mil restantes para quitar o imóvel só serão pagos pela governadora quando o empresário resgatar suas dívidas junto ao Itaú.

Informações sobre a data da venda do Passat 1998 pela governadora para compor o valor pago pelo imóvel também foram agregadas pelo PT à representação entregue ao Ministério Público. Segundo o documento, no dia 2 de dezembro de 2006, o veículo, conduzido por Delson Martini, foi roubado. No dia 4, o carro foi recuperado e, conforme informações da assessoria de Yeda Crusius, já estava na garagem do prédio da governadora. No dia 6 de dezembro, a governadora teria efetuado o pagamento de R$ 550 mil a Eduardo Laranja, montante integrado pelos valores obtidos com a venda do Passat ao futuro secretário-geral do Governo.

O procurado de Justiça afirmou que irá instaurar procedimento para iniciar a investigação sobre os fatos denunciados pela bancada petista. Diferente do processo em andamento no Tribunal de Contas do Estado, o Ministério Público irá analisar a questão sob o prisma da Lei da Improbidade Administrativa. O TCE verifica os aspectos contábeis da transação e a evolução patrimonial do agentes públicos envolvidos. (Por Olga Arnt, do sítio PTSul)

* Charge de Eugênio Neves

17 agosto 2008

Eleições 2008 - Porto Alegre

















Nas fotos, flagrantes da reunião realizada em 14/08 no Café Applause (Shopping Olaria) por integrantes do Movimento Mídia Livre com a candidata da Frente Popular à prefeitura de Porto Alegre, deputada Maria do Rosário (vide postagem abaixo).

Acima, Neltair Rebés Abreu (o chargista 'Santiago') e este blogueiro, com a candidata da FP.

16 agosto 2008

Tortura Nunca Mais






Sobre a história, a impunidade e a responsabilidade dos torturadores

* Por Flávio Koutzii

Há divergências jurídicas.
Há avaliação sobre as motivações e cálculos políticos.
Há os que apenas julgam da conveniência de tocar no assunto.
Há sempre o jogral dos analistas de oportunidade.
(Nunca é hora para eles)
Mas para os que não esqueceram:
Há um grito suspenso no ar.
Há uma dor infinita.
Há um tabu indecente.
Há um seqüestro invisível.
(A honra das Forças Armadas de hoje, reduzida a escudo silencioso, da responsabilidade não assumida das Forças Armadas de ontem no golpe)
É claro que os torturadores têm que ser responsabilizados.
É certo que a anistia não é igual à amnésia.
É evidente que a história não aceita ficar sem sentido,nem com censura, nem com cortes, como um filme proibido.
É certo que não há a mais remota possibilidade de igualar quem lutou contra a ditadura
com quem prendeu, torturou e matou pela ditadura.
É certo que esta história tem começo, meio e fim:
e o começo é o golpe de estado,
a derrubada de um governo legal,
a censura aos jornais,
o fechamento dos partidos,
a suspensão do estado de direito,
a perseguição implacável.
As Forças Armadas é quem deram o golpe (junto com seus aliados civis).
Aqui, a ordem dos fatores altera o produto e o significado.
Eles, a ditadura, nós, a resistência.
Então quem fica ofendido somos nós!
Nós - "os elementos" - cidadãos na nossa opinião, democratas,
porque lutamos para restaurá-la.
Espantados, com a covardia
dos que não assumem suas responsabilidades
Deram ou não o golpe?
Perseguiram ou não?
Torturaram ou não?
Então, por favor!!!
É inaceitável que as Forças Armadas de hoje fiquem reféns
de um passado ditatorial indefensável.
Na verdade, no Brasil, além dos "desaparecidos", há uma grande desaparecida:
A VERDADE HISTÓRICA
História, entendida como reconhecimento dos fatos,
a totalidade das circunstâncias.
A História em tempo real.
A História com muita luz e pouca sombra.
A História para e do povo brasileiro,
de todos os brasileiros: civis e militares.
Tudo, não para o maniqueísmo simplório,
mas para respeitar a dignidade e a tragédia
de um grande período da história recente do Brasil
dos vinte longos anos de chumbo.
Lamentavelmente as Forças Armadas propõem
a esquizofrenia como situação permanente.
Não assumem sua responsabilidade.
Desrespeitam o Poder Executivo (legitimado pelo voto).
Atuam como contra-poder.
Logo defendem o que foram.
Logo são hoje o que foram ontem.
Mas isto, não é bem assim.
Isto é uma memória doente.
Verdade amputada.
Simulação inaceitável.
Queremos que os jovens soldados e os jovens oficiais
sejam livrados destes grilhões enferrujados.
E se devolvam para este Brasil.
Impressionante de presente
Futuroso
E haverá que defendê-lo de muitas maneiras:
suas possibilidades,
seu petróleo,
sua Amazônia,
suas fronteiras,
sua economia
e acima de tudo:
sua gente brasileira,
seu futuro,
seu orgulho,
sua história.

* Flavio Koutzii é Sociólogo e assessor especial do TJ. Exilado pelo golpe militar, ex-preso político na Argentina, ex-deputado estadual (PT/RS); foi chefe da Casa Civil no Governo Olívio Dutra, da Frente Popular.

Eleições 2008: Porto Alegre















Integrantes do Movimento Mídia Livre manifestam apoio à Frente Popular

Representantes de rádios comunitárias, blogueiros e artistas gráficos estiveram reunidos na tarde de ontem com a candidata da Frente Popular Maria do Rosário. Foi entregue uma carta salientando a importância da mídia alternativa no processo de democratização da comunicação, uma vez que, através dos variados meios de comunicação, circula informação de qualidade e credibilidade, caracterizada, principalmente, pela regionalidade de seus conteúdos. Os representantes da mídia alternativa também propõe, nessa carta, sugestões para uma política de comunicação à futura prefeita de Porto Alegre, que dê conta da participação direta da comunidade porto-alegrense na comunicação, crie uma política de fomento voltado à mídia alternativa e proponha a educação para a leitura crítica da mídia nas escolas municipais.
Estiveram presentes no Café Apllause, no Shopping Olaria (Cidade Baixa): Claudia Cardoso, Júlio Garcia, Josué Franco Lopes, Neltair Rebbés Abreu (Santiago), Luciano Kayser Vargas (Kayser), Silvio Nogueira, Rodrigo Oliveira, Gerson Júnior dos Santos Guterres e Renato Martinhos de Oliveira.

À seguir, a íntegra da Carta entregue à candidata a prefeita de Porto Alegre pela Frente Popular:

"Prezada companheira Maria do Rosário e

Prezado companheiro Marcelo Danéris:

Há muitos anos que os movimentos sociais se articulam para ações que visem à democratização das comunicações no Brasil. Para ficarmos mais próximos, nos anos 80, por ocasião da Constituinte, tal articulação fez surgir o Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação e, bem recente, a realização do I Fórum de Mídia Livre, ocorrido em 14 e 15 de junho de 2008 na Escola de Comunicação da UFRJ. As lutas pela legalização das rádios comunitárias e a preservação dos jornais de bairro (em Porto Alegre) também se inserem no conjunto de reações ao modelo comercial de radiodifusão e jornalismo impresso privilegiado por anos a fios nos variados governos federais pós-anos 30.
Tal privilégio criou uma distorção no acesso às concessões públicas de rádio e televisão e no tamanho das empresas de comunicação neste país. Assim, 9 famílias concentram tudo o que se ouve, lê e vê em matéria de informação e entretenimento. Formaram-se grandes monopólios de comunicação em nível nacional e regional, a ponto de uma mesma empresa deter concessão de rádio e TV, possuir jornal e revista, portal de Internet, editora, gravadora, entre outros tipos de empreendimentos, tudo á margem da lei (Art. 220, CF 88). Junte-se a isso, a enorme quantidade de mandatos legislativos que detêm concessão pública de rádio e TV, circunstância proibida por lei e também solenemente ignorada pelo Executivo, Legislativo e Judiciário.
Mas como sempre há brechas e contradições no sistema, as resistências ao modelo de comunicação privilegiado se faz presente nas mobilizações citadas acima. É quando parte da população compreende que aquilo que lhe é apresentado como pauta, programação e conteúdo não condiz com a realidade factual, muito menos com o que se espera da responsabilidade social das empresas de comunicação. E as iniciativas para dizer a sua palavra e manifestar o seu pensamento ganham formatos variados, de acordo com as possibilidades de cada grupo social ou indivíduo: nos atos públicos de denúncia dessa mídia monopolista, golpista e conservadora, como fizemos recentemente em várias capitais estaduais, inclusive aqui no RS, em Porto Alegre, frente à sede do Grupo RBS; seja através de jornais de bairro, zines, revistas, rádios comunitárias, rádio-web, páginas na Internet, blogues, boletins, etc. Neste quesito de criar a própria mídia, cabe destacar a importância da Internet, suas potencialidades de trabalho em rede e suas diversas ferramentas comunicacionais. Além disso, o custo cada vez mais baixo dos aparelhos eletro-eletrônicos e áudios-visuais expandiram o leque das formas de comunicação de tais grupos e/ou indivíduos.
Paradoxalmente, partidos, políticos e governantes das esferas municipal, estadual e federal, inclusive do nosso partido, constantemente prejudicados por esta mídia corporativa, reprodutora do pensamento único dominante, visceralmente ligada aos interesses do capital, não tomam (com raríssimas exceções) nenhuma iniciativa em relação a sequer pensar numa política de comunicação conseqüente que:

1) Crie mecanismos legais – Conferência Municipal de Comunicação, Conselho Municipal de Comunicação - para pôr fim ao oligopólio da comunicação, através de um novo marco regulatório debatido pelos movimentos sociais, governos e empresas de comunicação, bem como a exigência de conselhos de comunicação nas 3 esferas governamentais;

2) Aproprie-se dos meios de comunicação como forma de exercer uma comunicação cidadã, bem como crie políticas públicas de fomento à entrada de novos agentes, apostando na pluralidade de informação e programação, através dos diferentes meios e suportes comunicacionais;

3) Crie políticas públicas de educação para leitura crítica da mídia, se considerarmos que vivemos na Era da Informação – como bem apontam inúmeros acadêmicos nas áreas da comunicação e da política.

É nesse sentido que nós, integrantes do Movimento Mídia Livre, vimos trazer aos companheiros Maria do Rosário e Marcelo Danéris, candidatos da Frente Popular, que nos representarão (e que terão nosso apoio militante nas próximas eleições municipais e que, quiçá, estarão à frente do Poder Executivo Municipal nos próximos quatro anos, resgatando para a cidadania porto-alegrense a transparência, a inversão de prioridades e a democracia participativa efetiva) esta Carta contendo não só nosso apoio, como também nossas preocupações e demandas, no sentido que seja dada à devida prioridade a este assunto tão importante, estratégico e atual.
Entendemos que, numa administração progressista, democrática, solidária e resistente, como apostamos que será a nossa a partir do ano vindouro, que seguramente não será refém do pensamento único dominante, precisará compreender a dimensão política que é a comunicação, ainda mais no momento histórico em que vivemos. Deverá apoiar as iniciativas de comunicação, principalmente via Mídia Livre, que surgem voluntariamente dentro dos movimentos sociais como reação à mídia corporativa/capitalista e, ao mesmo tempo, abraçará as reivindicações acima citadas, já que existe o entendimento de que esta é a atual luta política da esquerda. Esta Mídia Livre que já ocupa papel destacado, principalmente através da rede de blogues de combate, na Internet, que tem denunciado sem tréguas a crise ética, a truculência e a corrupção escancarada que inscrustrou-se no governo estadual, que continua blindado pela mídia conservadora, mesmo quando ela tenta dissimular essa sustentação.
Por fim, reiteramos que sem comunicação, ou ao se permitir a perpetuação do modelo comercial de comunicação existente, não há o espaço para o contraditório, para jornalismo dedicado à sua real função de informar, para programação que respeite os direitos humanos, condições mínimas que permitem a formação de opinião pública cidadã.

Saudações!

Porto Alegre, 14 de agosto de 2008".

Assinam (por ordem alfabética):

Adeli Sell
Cláudia Cardoso
Eugênio de Faria Neves
Hélio Sassen Paz
Josué Franco Lopes
Júlio Garcia
Luciano Kayser Vargas (Kayser)
Marco Weissheimer
Marius Segundo
Neltair Rebbés Abreu (Santiago)
Pedrinho Guareschi
Rodney Jr.

* Aparecem na foto, da esquerda para a direita: Sylvio Nogueira, Cláudia Cardoso, Maria do Rosário, Júlio Garcia, Neltair Rebés Abreu (Santiago), Luciano Kayser Vargas (Kayser) e Josué Franco Lopes.