29 fevereiro 2024

AARON BUSHNELL - Autoimolação de militar contra massacre em Gaza mostra 'mudança profunda na consciência dos Estados Unidos'

Em todo o mundo, enfatiza-se a bravura e sacrifício do soldado estadunidense que protestou contra o genocídio em Gaza

Aaron Bushnell, soldado estadunidense da ativa que se autoimolou em protesto contra a cumplicidade dos Estados Unidos com o genocídio em Gaza. - Reprodução

Peoples Dispatch*

No domingo, 25 de fevereiro, Aaron Bushnell se tornou o primeiro soldado estadunidense da ativa a usar a autoimolação para protestar contra as ações da força militar que integrava. “Vou fazer um ato extremo de protesto”, disse o jovem militar em um vídeo por ele mesmo gravado na parte externa da embaixada israelense em Washington, capital dos Estados Unidos.

“Mas comparado com o que o povo palestino tem vivido nas mãos de seus colonizadores, o que vou fazer não chega a ser um ato extremo. Isso é o que a nossa classe dirigente decidiu que será normal.” Em seguida, Bushnell ateou fogo em si mesmo. Ele morreu no hospital em decorrência das queimaduras.

Antes de concretizar seu ato final de protesto, Bushnell – que trabalhou no departamento de TI da Força Aérea dos Estados Unidos – fez um post no Facebook no qual se lê “Muitos de nós se perguntam ‘o que eu faria se estivesse vivo durante a escravidão? Ou a época das leis Jim Crow [que segregavam afro-americanos no sul dos EUA]? Ou durante o apartheid? O que eu faria se o meu país estivesse cometendo um genocídio? A resposta é: você está vivendo esta época neste exato momento.”

Organizações estadunidenses anti-imperialistas e de solidariedade à Palestina fizeram várias declarações em homenagem a Bushnell.

Brian Brecker, diretor executivo da Coalizão ANSWER (acrônimo em inglês para Aja Agora Para Dar Fim às Guerras e Acabar com o Racismo, em tradução livre) escreveu em declaração oficial lançada na manhã de 26 de fevereiro que “este foi um ato de martírio de um militar estadunidense indignado com as ações de um governo que fala em seu nome”.

A declaração continua: “O ato de Aaron Bushnell é reflexo, indicador e marcador de uma profunda mudança de consciência nos Estados Unidos. A narrativa anteriormente dominante que apoiava o apartheid do governo israelense está mudando drasticamente para uma baseada na verdade: os palestinos têm sido vítimas da expropriação, limpeza étnica, violências de todos os tipos e, agora, uma onda de matança genocida em Gaza. As pessoas nos Estados Unidos e em todo o mundo estão horrorizadas e mobilizadas em diferentes frentes para demonstrar apoio à Palestina.”

O Movimento da Juventude Palestina também publicou nota destacando a mensagem enviada pelo protesto de Bushnell. “Ao fazer o mais extremo sacrifício que um ser humano pode fazer em apoio a uma causa moral – abdicar de sua própria vida –, Aaron enviou uma mensagem em nome dos povos dos EUA e do mundo: que as pessoas conscientes em todo o planeta se recusarão, até o último suspiro, a serem coniventes com o genocídio em curso contra o povo palestino”, afirmou o movimento.

A declaração conclui com “permitam que as palavras de Aaron e seu último ato brilhe intensamente em suas mentes. Deixe-o nos impulsionar e nos mover na continuação da luta por uma Palestina livre agora e até o momento da libertação.”

O veterano da guerra do Iraque Mike Prysner escreveu um tributo a Bushnell comentando sobre a crise de consciência que muitos militares estadunidenses enfrentam por fazerem parte de uma “instituição de matanças”. Nas palavras de Prysner, “O tormento da barbárie israelense tem sido uma provação para todos aqueles com consciência. Por meses, todos nós temos cambaleado em meio à raiva e desesperança... Para Bushnell, isso também significava ter que vestir o uniforme da instituição que carrega as armas, oferece assistência tática e estratégica ao genocídio, bem como leva a cabo a matança, com a realização de ataques aéreos no Iêmen, Iraque e Síria contra pessoas contra quem não temos motivos ou o direito de matar.”

Prysner enfatizou que “Bushnell viu a verdade nua e crua: ele era um cúmplice disso tudo. A verdade o matou. Os chefes do Pentágono o mataram. Joe Biden e o Congresso dos EUA mataram Aaron Bushnell”.

Contudo, Prysner também recordou o papel historicamente crucial dos soldados e veteranos na oposição organizada a guerras e exortou esse grupo de estadunidenses a se manifestar, por meio da recusa em participar dessas ações, contra a cumplicidade de seu país no genocídio perpetrado por Israel.

A campanha No Tech for Apartheid (Nenhuma tecnologia para o apartheid, em tradução livre), organizada por funcionários do Google e da Amazon contra os contratos destas empresas com o governo e forças armadas israelense, divulgou declaração ressaltando o papel dos trabalhadores do setor de tecnologia – caso do próprio Bushnell – na oposição ao genocídio.

“As forças armadas dos EUA destacam para Israel milhares de trabalhadores da área de tecnologia conforme as operações militares se tornam cada vez mais guiadas por inteligência artificial. Essas operações são também fortalecidas por empresas de tecnologia como a Amazon e o Google, que estão possibilitando aos militares israelenses realizar o primeiro genocídio do mundo impulsionado pelo uso de IA”. A campanha conclama os trabalhadores de tecnologia a se juntar ao movimento e recusar qualquer conivência com o genocídio.

Em várias cidades dos EUA, grupos pró-Palestina e antibélicos têm organizado vigílias em homenagem a Bushnell. Na cidade de Washington, a vigília foi realizada em frente à embaixada israelense onde ele se autoimolou.

Repercussão internacional

A relevância do protesto de Bushnell e o fato de que um soldado estadunidense da ativa executou tal ato extremo em manifestação contra o apoio dos Estados Unidos ao genocídio chocaram o mundo. As palavras “Washington”, “Aaron Bushnell” e “Free Palestine – a última coisa que disse – apareceram nos trending topics do X (antigo Twitter) em inúmeros países.

O ato de Bushnell foi intensamente compartilhado no Iêmen, país onde a população se mobiliza constantemente e participa de atos diretos de solidariedade a Gaza, a exemplo dos militantes do movimento Ansar Allah [também conhecidos como “houthis”], que têm bloqueado o Mar Vermelho para impedir a passagem de navios ligados a Israel. Em uma postagem feita pelo médico iemenita Ahmed Ali Alhareb na plataforma X, ele afirmou que Bushnell: “se negou a ser aniquilado e não fazer nada. Pelo contrário, ele tomou uma medida prática – a autoimolação – e deu sua alma para levar a mensagem de recusa [à cumplicidade com o genocídio] a todos os cantos do mundo. A partir de sua posição nas forças armadas dos EUA, Bushnell enviou sua mensagem às forças armadas árabes e muçulmanas, que permanecem caladas, de que o fogo do mundo é mais fácil do que aquele da outra vida. Não há justificativa para qualquer um que seja diante de Deus”.

O grupo de resistência palestino Frente Popular pela Libertação da Palestina, alinhado com a esquerda, publicou declaração após o protesto de Bushnell enfatizando que o ato “confirma o sentimento de raiva entre os estadunidenses em relação ao envolvimento oficial do país no genocídio sionista na Faixa de Gaza. Isso também indica que o status da causa palestina, especialmente nos círculos estadunidenses, está se entranhando mais profundamente na consciência global, além de revelar a verdade sobre a entidade sionista como uma arma colonial barata nas mãos do imperialismo selvagem.”

Muitos também traçaram conexão entre a morte do jovem soldado estadunidense com o assassinato de sua compatriota Rachel Corrie. Em 2003, ela morreu na cidade de Rafah, em Gaza, ao tentar parar uma escavadeira que demolia a casa de palestinos.

No começo da transmissão feita por Bushnell antes da autoimolação, suas primeiras palavras após se apresentar como soldado da ativa foram: “Eu não serei mais cúmplice em um genocídio”. Muitos nos Estados Unidos, incluindo os que têm ido às ruas em protesto pró-Palestina desde o dia 7 de outubro de 2023, chegaram à mesma conclusão.  

*Via: Brasil de Fato -  https://www.brasildefato.com.br/

26 fevereiro 2024

Ministros do STF consideram que Bolsonaro está se sentindo emparedado e existem motivos para condená-lo

O fato de Bolsonaro não ter atacado o STF no ato da Avenida Paulista não muda nada

Jair Bolsonaro e presídio federal de segurança máxima (Foto: Reuters | Agência Brasil )

247* - Alguns ministros do Supremo Tribunal Federal falaram-se no começo da noite deste domingo (25), após o ato de Jair Bolsonaro na Avenida Paulista, em São Paulo, e chegaram à conclusão de que o ex-ocupante do Palácio do Planalto está se sentindo emparedado. 

A informação é do jornalista Guilherme Amado, no Metrópoles. Esta é uma das conclusões dos magistrados sobre o ato de Bolsonaro ter feito um discurso sem ataques diretos à Suprema Corte.

Esses integrantes do STF entendem que a prova para condenar Bolsonaro não é mais teórica, de uma suposta influência intelectual sobre todo o esquema para o golpe, mas é uma prova material.

Sobre a terceirização dos ataques ao STF por meio do pastor Silas Malafaia, os ministros veem o fato como uma estratégia limitada.  Se Malafaia usar dinheiro de sua igreja ou de associações privadas para financiar os atos, será envolvido, consideram os ministros.55


Os integrantes da Corte, analisaram também a baixa adesão de políticos ao ato. Isto ocorreu - relata o jornalista - porque muitos têm complicações eleitorais no Tribunal Superior Eleitoral e temem o efeito que isso teria sobre seus casos.

Na visão da maioria dos ministros do STF, nada mudou. Há elementos para condenar Bolsonaro. 

*Fonte: Brasil247

24 fevereiro 2024

A guerra do fascismo em Netanyahu, compaixão de Lula em Faulkner

 

Em setembro, Netanyahu exibiu na ONU o mapa do Oriente Médio sem os territórios palestinos. Foto: Reprodução

Por Tarso Genro (*)

Roberto Bolaño publicou um estranho livro (“A literatura nazista na América”, Cia. das Letras 2019), que não é “sobre” literatura (é “pura” literatura), não versa sobre nazismo (é bem mais complexo que isso), não trata somente de tipos literários – naquele sentido do típico de Lukács –, mas de situações análogas ao conservadorismo e ao nazifascismo, com escritores imaginários e títulos inventados. O livro é, de certa forma, uma metáfora dos nossos tempos de fascismo, manipulação ideológica e de cansaço da democracia liberal, provocado pelo domínio das redes com os monstros que ressurgem no fim das utopias.

Eis alguns de Bolaño: Luz Mendiluce, que “afundada no desespero tem aventuras com personagens portenhos da pior espécie”, publica um corajoso poema “Com Hitler fui feliz”; o escritor brasileiro (inventado) Amado Couto, que escrevia contos “que nenhuma editora aceitava, depois foi trabalhar nos esquadrões da morte”;  a incrível poetisa Daniela Montecristo, que descreve um IV Reich feminino com sede em Buenos Aires e campos de treinamento na Patagônia, que desfilam inverossímeis, mas críveis, quando desperta na nossa memória.

Quando a realidade é dura demais os sonhos fenecem, as utopias cansam. As paisagens se tornam só molduras de recuperação da História que não se revela. A realidade – dura demais – é um tormento que ora se torna uma reportagem insensata do espírito, ora uma obra de arte pendente de uma cumplicidade do leitor com o autor. Estes, às vezes, não se conectam, pois compõem um elo idêntico ao que viceja entre um comprador atônito pelos preços e um vendedor desesperado por uma saída na sua vida sem rumo.

Certa vez um amigo aleatório me disse que o fascismo, no plano da pura subjetividade, era o tormento que conjugava bilhões de irritações que paulatinamente corroíam o espírito humano e instalavam uma espécie de antivírus, que imunizava as pessoas, tanto para receberem, como para darem solidariedade e empatia. Milei e Netanyahu, propagadores desse antivírus, são neoliberais, populistas e violentos, dotados de um ódio extremo ao Humanismo das Luzes.

Basta lembrar – por exemplo – que Milei é contra a educação pública gratuita e que não se importa de não só semear a pobreza e a ignorância, mas também de matar as pessoas de fome, para salvar o “mercado” e o “ajuste”. Basta lembrar também que Netanyahu afirmou com todas as letras que “Hitler não pretendia matar os judeus” e também se comprometeu de fazer (e faz) uma chacina em Gaza e que – compromisso cumprido – vai ser lembrada por muitas gerações.

Além disso, Netanyahu usou, demagogicamente, o Museu do Holocausto para tentar exercer o monopólio da dor de todo um povo, num gesto especial de provocação extremista, visando encobrir – na atenção da imprensa mundial – os crimes de guerra que vem cometendo contra a comunidade Palestina em Gaza. E mais: o fez querendo dizer que Lula não se importava com a barbárie do Holocausto. Mentiroso, fascista e manipulador.

Alega a chancelaria israelense que as expressões usadas por Lula para se referir ao Holocausto ofenderam a sensibilidade judaica no mundo inteiro, o que pode ser verdade, mas como as palavras podem ser interpretadas por dentro das dores adquiridas na História de quem disse – como Netanyhau – que Hitler “não queria matar os judeus”, deveria ser mais comedido para respeitar o luto coletivo de Gaza e as dores do seu próprio povo.

Os assassinatos da ação terrorista de 7 de outubro contra Israel seriam – para a direita israelense – a motivação dos assassinatos em massa na Faixa de Gaza, mas o que pretende a violência desmedida do Estado de Israel é a legitimação da expansão colonial-imperial, que se sucedeu – processualmente – após os Acordos de Oslo “sob os olhos do Ocidente”.

A tese de Enzo Traverso em “Las nuevas caras de la derecha” (Clave Intelectual, “Siglo Veinteuno”- pg. 33) sustenta que classificar alguém como “populista” diz mais a respeito a quem utiliza o conceito do que aquele que é imputado como tal. É que a palavra se tornou uma “casca vazia”, mais propriamente uma gigantesca “máscara” de manipulação política e de exercício de dominação mental.

A categoria política populismo, diz Traverso, passou a ser uma arma de combate político que é apontada para estigmatizar adversários. Dizer que alguém é populista é o mesmo que dizer que esta pessoa não pode desvendar o conceito que está por trás do massacre social do neoliberalismo. Já foram classificados como populistas Nicolas Sarkozy, Lula, Bernie Sanders, Hugo Chavez, os Kirchner, Trump, Matteo Salvini, Melanchón, Evo Morales e Bolsonaro, o que no fundo – prossegue Traverso –  indica que, mais além da “elasticidade e ambiguidade”, o conceito que é usado sem nenhum critério deve ser atentado – em especial – para o sentido do seu uso.

Já é muito evidente que quem usa a “ofensa” contida na palavra “populismo” pretende, preliminarmente, dizer o seguinte, independentemente de quem for o adverso: estou longe da social-democracia, acho o Estado Social uma besteira e o humanismo democrático – que pode verter, ou não, por dentro de uma política populista – não pode ser respeitado como “política pública”. O anátema do populismo funciona então como um esconderijo de quem não quer ou não sabe que ele já se tornou uma barreira oportunista da ignorância.

Observemos como os comentaristas neoliberais da grande imprensa fazem este jogo, que requer, ao mesmo tempo aproximação e distanciamento de figuras de centro como Lula, e toleram – muitos deles – também Bolsonaro como um ex-Chefe de Estado que errou, mas quis o bem do país. Observem que eles não aceitam chamar Netanyahu de criminoso de guerra ou de “assassino em série”, ou de populista sanguinário operando na política internacional do globalismo militarizado.

Mas existe uma máscara elementar da razão para o mercado, que está na base deste comportamento atrabiliário dos que usam o populismo por dentro do rastro do ódio do fascismo militante. Huxley afirmava que “a máscara é a essência” como “casca vazia”, como desinformação ou como atestado de preguiça mental que dispensa fundamentação: quem usa a palavra populismo contra outrem – pensam os seus usuários – apenas defende a modernidade e a “liberdade” e quem sofre  “acusação”, está excluído de ser ouvido sobre o futuro.

Uso a palavra populismo, neste texto, para emitir juízos sobre quem – para atacar adversários ou inimigos – manipula palavras, recursos e situações históricas, para conquistar de forma irracional as mentes do seu povo, visando exercer o poder pela guerra em nome da falsificação da nação.

O uso das palavras ou a sua supressão, num debate de grande envergadura moral e política, como na recente polêmica sobre as palavras de Lula sobre os crimes de guerra que estão sendo cometidos pelo governo de Israel – em nome de seu Estado – não fez em nenhum momento que Netanyahu fosse apontado como um perigoso assassino em série, nem como um Chefe de Estado populista que preza a guerra, não a paz.

Faulkner estava vivendo em Nova Orleans quando conheceu Sherwood Anderson (1876-1871), que foi trabalhador braçal – militar que entrou em guerra –, funcionário de editoras e depois de agências de publicidade, que se tornou um dos grandes mestres do conto americano. Romancista e poeta, foi paradigma de toda uma geração de escritores que se projetaram na literatura americana do século XX.

Nas ruas em longas caminhadas, o escritor “maduro” que era Anderson, sem o saber conversava com quem seria uma figura exponencial da literatura mundial e que iria se tornar um escritor mais imponente do que Anderson: este escrevia duramente pela manhã para depois conversar, caminhar e beber, com o então obscuro William Faulkner. As caminhadas um dia cessaram, o que gerou um episódio magno do acaso e da ironia, já contado como paródia do nascimento de um romancista.

Um dia Sherwood passa pela residência de Faulkner – que se ausentara há alguns dias dos passeios conjuntos – para perguntar por que ele, Faulkner, desaparecera, quando ouviu dele uma resposta inesperada: “Estou escrevendo um livro”.

“Meu Deus!” – disse Sherwood Anderson e foi embora. A Sra. Anderson alguns dias depois encontra Faulkner na rua e lhe dá um recado, sobre o dito livro (“Soldier’s Pay”) – em produção: “Ele disse que se não tiver que ler o manuscrito dirá ao seu editor para aceitá-lo”. “Feito!”, disse o futuro Prêmio Nobel de Literatura, que assim se assumiu como escritor profissional. Vida e imaginação.

“A vida desprovida de imaginação não oferece histórias para contar” (…), sem ela os tempos difíceis não encontram as palavras capazes de despertá-los do passado sonolento”, escreve Maria Rita Kehl, apresentando um belo livro de contos e memórias de Flávio Aguiar (“Crônicas do Mundo ao Revés” – Boitempo -2011). Num dos melhores momentos da obra, o personagem, como se fosse o autor, conversa com um vendedor em Abidjan, na Costa do Marfim, que quer lhe vender algo. Surpresa.

Não se trata, como parecia, de uma ampola de vidro e um caco de espelho, mas do que residia na intimidade destes objetos: uma história de amor e de destino, que acompanhava o “caco” e a “ampola” que se instalariam no canal da memória do escritor, prometendo um pequeno vínculo com a História.

Nestes fragmentos da História não estão os vírus do fascismo, nem o fim da imaginação. Não são fragmentos, como as falas de Netanyahu, que geram os ódios às utopias e desatam as tormentas do mal. Estas não estão no livro de Bolaño ou nas conversas simples entre William Faulkner e Sherwood Anderson. Não estão no fim da História, mas no tecido do seu recomeço permanente, que vai mais além das armas e dos ritos assassinos do poder dos que – viciados em guerras e mentiras – querem normalizar as vidas interrompidas.

Como disse Faulkner, quando recebeu o Prêmio Nobel em 10 de novembro de 1950: “Considero que o homem não só haverá de resistir, mas também de prevalecer. E é imortal não por ser o único entre os animais que está dotado de uma voz inextinguível, mas pelo fato de possuir uma alma, um espírito capaz de compaixão sacrifício e resistência”. Neste momento é onde está Lula contra a guerra de extermínio e pela compaixão de Faulkner.

(*) Tarso Genro foi governador do Estado do Rio Grande do Sul, prefeito de Porto Alegre, ministro da Justiça, ministro da Educação e ministro das Relações Institucionais do Brasil.

**Fonte: Sul21

‘MORAES ESTÁ DANDO CORDA PARA BOLSONARO SE ENFORCAR’

 


Coluna Crítica & Autocrítica - nº 227

Por Júlio Garcia*

Pois parece que a vida do inominável (e de sua troupe golpista/fascista) está ficando  a cada dia mais complicada. Tudo indica que sua a “Hora H” está chegando – e, diferentemente do que ocorreu durante seu desgoverno, agora dentro das regras da Constituição, do Estado Democrático de Direito e do Devido Processo Legal. Sobre isso, escreveu o jornalista Alex Solnik, um dos articulistas do conceituado site Brasil 247 (artigo que também compartilhei em algumas das Redes Sociais que integro):

“Bolsonaro convoca apoiadores para um ato de desagravo a ele! Em São Paulo, num domingo, na avenida Paulista!

Todos sabem que aos domingos a Paulista é fechada ao trânsito e uma multidão de pedestres usa a mais famosa avenida da cidade para ver shows, comprar lembranças, vacinar-se, etc.

Ou seja: sempre tem uma multidão na Paulista aos domingos. Aí o cara vai dizer que essa multidão veio para vê-lo?

Ele avisou aos aliados para não levar faixas e nem cartazes. Porque sabe que esse ato é uma faca de dois gumes: tanto pode mostrar apoio a um ex-presidente que tentou um golpe de estado quanto produzir mais provas contra ele. E também contra seus apoiadores, sejam políticos ou anônimos.

Bolsonaro é tóxico; quem ficar perto dele corre risco. Quem seguiu suas ordens hoje está preso ou ainda será.

Moraes tem experiência em lidar com organizações criminosas, como essa que tentou virar a mesa e impedir a posse do presidente eleito.

Os mais afoitos, aqueles que defendem a democracia mas na hora H preferem soluções autoritárias, poderão ver nessa convocação de Bolsonaro alguma dose de leniência de Moraes, “está deixando Bolsonaro fazer o que ele quer”.

Eu acho que ele está deixando Bolsonaro fazer o que quer entre muitas aspas.

Dependendo de seu comportamento (e de seus fãs), ele poderá sofrer medidas cautelares mais duras do que a proibição de se comunicar com os demais investigados até o julgamento e a condenação final da qual ninguém, em sã consciência, duvida nem considera injusta.

Moraes está dando corda para Bolsonaro se enforcar.”

-Vamos acompanhando...

...

**Júlio César Schmitt Garcia é Advogado, Pós-Graduado em Direito do Estado, Consultor, ecologista, dirigente político (um dos fundadores do PT e da CUT), 'poeta bissexto', articulista e midioativista. - Coluna originalmente publicada no Jornal A Folha (do qual é Colunista, que circula em Santiago/RS e Região) em 23/02/2024.

*Via Blog O Boqueirão Online

Mansinho ou Valentão?

 

*Via Brasil de Fato

22 fevereiro 2024

Encontro entre Lula e Blinken desnudou o viralatismo da imprensa brasileira

Os sorrisos do encontro representaram uma humilhação histórica para os que querem um Brasil pequeno e submisso

Lula, Anthony Blinken e Celso Amorim (Foto: Foto: Ricardo Stuckert / PR)

Por Leonardo Attuch*

A imprensa corporativa brasileira não faz oposição ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Ela se opõe, na verdade, à ideia de Brasil soberano que Lula encarna. É este pressuposto que explica a histeria recente em torno das declarações do presidente, durante uma entrevista na Etiópia, sobre o genocídio em curso contra o povo palestino, uma verdade insofismável. Foi por julgar que a fala de Lula iria de encontro aos interesses internacionais que esta mesma imprensa supõe representar, que seus editorialistas e colunistas mergulharam de corpo e alma na mais recente campanha midiática contra o presidente Lula.

Entretanto, para azar dos "vira-latas", com a ressalva de que os cães não merecem comparação com essa gente, a estrela de Lula segue brilhando de forma intensa e o presidente se encontrou, nesta quarta-feira, com o chefe do Departamento de Estado, Anthony Blinken. As fotos do encontro, em que ambos aparecem sorridentes, representam uma humilhação histórica para a imprensa brasileira. As imagens falam por si e, obviamente, Blinken respeitou a posição do Brasil sobre a Palestina, não fez cobranças, nem exigiu qualquer tipo de retratação em relação a Israel, como vinha sendo cobrado pelos porta-vozes locais da diplomacia da vassalagem. A despeito disso, como a mídia brasileira jamais se retrata, o que Globo, Folha, Estadão, Valor e Metrópoles destacam hoje, em suas manchetes, é a declaração do porta-voz do Departamento de Estado, Matthew Miller, sobre uma divergência dos Estados Unidos em relação à posição do Brasil. Ok, Brasil e Estados Unidos podem divergir e não há nada de transcendental nisso. Lula vê um genocídio e Joe Biden ou não enxerga ou não pode assumi-lo, uma vez que a guerra de Israel é financiada pelo governo estadunidense.

O encontro entre Lula e Blinken, no entanto, deve ser lido a partir das declarações do próprio chefe do Departamento de Estado. "O Brasil é um parceiro fundamental em muitas questões, incluindo o combate à crise climática e a promoção dos direitos humanos e trabalhistas. À medida que nos aproximamos dos 200 anos de relações EUA-Brasil, nossos laços estão mais fortes do que nunca", disse ele.

Neste ano eleitoral nos Estados Unidos, em que Biden pode ser derrotado por Donald Trump justamente pelo horror das imagens que vêm de Gaza, assim como pelo cansaço com a guerra da Ucrânia, Lula oferece a ele uma agenda positiva. Em vez de bombas e destruição, a preservação da Amazônia, a transição energética, a valorização do trabalho, a inclusão social e a promoção dos direitos humanos. Com Lula, o Brasil deixa de ser vassalo, e se consolida como potência da paz – o que, no contexto atual, é mais útil para os Estados Unidos do que a subserviência defendida pelos grupos midiáticos do século passado.

Nesta mesma quarta-feira em que Lula e Blinken se encontraram, o chanceler Mauro Vieira afirmou na reunião do G20 que o Brasil não aceita que os conflitos internacionais sejam resolvidos pela força. "O Brasil não aceita um mundo em que as diferenças são resolvidas pelo uso da força militar. Uma parcela muito significativa do mundo fez uma opção pela paz e não aceita ser envolvida em conflitos impulsionados por nações estrangeiras. O Brasil rejeita a busca de hegemonias, antigas ou novas. Não é do nosso interesse viver em um mundo fraturado", disse ele.

O mundo precisa de paz. O mundo precisa do Brasil. O mundo precisa de Lula.

*Jornalista, editor-responsável pelo site Brasil247 (fonte desta postagem).

21 fevereiro 2024

J J GARCIA - ADVOGADOS ASSOCIADOS

 


*Nosso novo endereço: Rua Marçal Rodrigues Fortes, 651 - Esquina com a Rua Desidério Finamor - Bairro Alto da Boa Vista - Santiago/RS

Globo manipula opinião pública para defender sionismo e condenar Lula

 


Por César Fonseca (*) – Jornal Brasil Popular/DF

A desproporção descabida e absurda entre os ataques das poderosas forças armadas de Israel, apoiadas pelos Estados Unidos, e as da Palestina, carentes de estrutura de defesa, ancoradas, apenas, em resistência desarmada, já representa em si ou não a um holocausto? Ou a um genocídio? Ou às duas coisas, dadas similaridades entre ambas?

Prá começar, segundo tanto o Google como a Wikipédia, Holocausto foi o genocídio ou assassinato em massa de cerca de seis milhões de judeus durante a segunda guerra mundial, “maior genocídio do século 20”.

Nesse sentido, não está destituída de razão a declaração do presidente Lula que considera genocídio a matança patrocinada pelo governo de Israel, do primeiro-ministro Netanyahu, semelhante à que patrocinou Hitler contra os judeus.

Lula não destacou a palavra Holocausto, que ficou implícita nas manchetes dos jornais nesta terça feira, mas virou logo, logo verdade absoluta nos comentários dos repórteres da Globonews; porém, os comentaristas não ressaltaram a relação de identidade entre Genocídio e Holocausto, como se falando em um, imediatamente, indentifica-se o outro.

Genocídio é Holocausto e Holocausto é genocídio pelo entendimento comum dos povos que consideram desumano ambos em sua essencialidade prática brutal anticivilizacional.

Lula, então, teria carregado a mão ao não diferenciar Holocausto de Genocídio, enquanto estaria ficado bem se tivesse apenas apreciado criticamente o Genocídio sem relacioná-lo à matança de Hitler, conhecida como Holocausto, termo que, na verdade, não utilizou? (...)

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