30 outubro 2023

Há exatamente um ano, Lula livrava o Brasil de Bolsonaro; você lembra onde estava?

A contagem dos votos era estreita, palmo a palmo; à medida em que chegavam as urnas das regiões mais pobres, uma virada emocionada dava o recado de uma nação dividida

  Lula em campanha em BH no segundo turno de 2022. Ricardo Stuckert

Por Julinho Bittencourt*

Foram quatro anos de pesadelos. De desespero. No auge da ditadura era muito menino, mas lembro do medo nos olhos do meu pai. Nos anos entre 2018 e 2022 a sensação era outra. Um sujeito grosseiro, violento, machista, misógino, racista e totalmente despreparado havia sido eleito. Os generais do golpe não. Tomaram o poder à força. Este pequeno detalhe – se é que se pode chamar assim – nos tirava completamente a dignidade. Uma parte grande do povo brasileiro, incluindo aí parentes, ex-amigos e vizinhos haviam escolhido para ser seu presidente aquele monstro que enaltecia torturadores.

A partir de então, o país caiu nas trevas. Havia, ao menos, uma qualidade naquele ser desprezível que não podia ser negada. Ele não havia mentido. Tudo o que prometera, parecia mesmo querer cumprir. Seu gesto característico da arminha começava a fazer todo o sentido. Seu signo era mesmo o da morte. Os que ele e sua polícia não pudessem matar, ele e seu governo deixariam morrer.

E foi assim, como todos bem lembram, durante toda a pandemia do coronavírus, estranha e terrível coincidência que veio bem a calhar para um governo de morte. Perdemos milhões de amigos, vizinhos e parentes. Muitos dos que não morreram em decorrência da covid-19, sucumbiram à destruição, ao desmonte de vários programas de proteção social. Foram quatro anos de pavor, angústia e miséria, pra dizer o mínimo.

Nunca mais aquele sujeito poderia ou deveria ser eleito. Não?

O dia

Chegamos ao dia 30 de outubro de 2022 após um primeiro turno acirrado. O sujeito estava lá novamente, em condições de disputa. Em algumas regiões do país, a bandeira nacional, transformada em símbolo do nacionalismo de extrema-direita, era desfraldado em inúmeras janelas. A cadela permanecia no cio, continuava à solta.

No começo da noite, a contagem dos votos era estreita, palmo a palmo, com uma leve vantagem para o dito cujo. Já mais para o final, à medida em que chegavam as urnas dos rincões e das regiões mais pobres, uma virada emocionada dava o recado de uma nação dividida. Por uma margem estreita, quase tênue, aquele ser abjeto perdia seu cargo e, pouco antes de cair no ostracismo, no lixo da história, ainda tentaria dar uma ou outra rasteira na democracia, mas isso é assunto para outra vez.

Assim que foi proclamado o resultado, eu e minhas filhas entre berros e choros convulsivos comemorávamos na janela, diante de uma vizinhança indignada que nos xingava mais uma vez. Assim como a noite do segundo turno de quatro anos antes, aquela também nunca mais será esquecida. Eu estava em casa naquele 30 de outubro, de mãos dadas com uma maioria tênue de brasileiros. Todos nós sabíamos muito bem que os próximos dias não seriam fáceis, como não têm sido. Mas estávamos juntos.

Eu lembro bem onde estava naquele 30 de outubro, que é o mesmo lugar onde estou agora, sorrindo para o futuro.

E você, caro leitor, lembra onde estava? E sabe onde está agora?

*Via Revista Fórum

26 outubro 2023

O suicídio de uma nação e o extermínio de um povo

Yitzhak Rabin, Bill Clinton e Yasser Arafat em Oslo, em 1993 (Foto: Library of Congress)

Por Vladimir Safatle*

Existe um filme de Luis Buñuel que se chama “O anjo exterminador”. Nele, vemos um grupo de burgueses que vai para uma espécie de salão de recepção e simplesmente não consegue mais sair. Não há nenhum impedimento físico, nenhuma restrição, a não ser aquela vinda de suas próprias vontades. Quando tentam sair eles subitamente param, perdem a força de vontade e permanecem paralisados. A impotência vai até o desespero, cenas de violência e degradação aparecem, até que, da mesma forma como foi natural entrarem no salão, eles saem.

Existe um sintoma fundamental na ordem geopolítica mundial. Trata-se do conflito palestino. Ele é como o filme de Buñuel: diante dele todos param e preferem nada fazer, até que explode algo terrível, como os ataques perpetrados pelo Hamas semana passada, e seguem-se ações que têm, no fundo, um só objetivo, a saber, continuar a não fazer nada de real, continuar a não procurar abrir caminho algum para resolver o conflito. A reação consiste apenas em mobilizar porta-aviões, exército, discursos de força, catástrofes humanitárias para esconder o dado elementar: a comunidade internacional não está disposta a resolver problema algum na Palestina. 

Façamos um exercício elementar de projeção. O que acontecerá depois das ditas “ações militares” israelense em Gaza? O Hamas será destruído? Mas o que significa exatamente “destruição” aqui? Ao contrário, não foi exatamente assim que o Hamas cresceu, a saber, depois das ações inaceitáveis de punição coletiva e de indiferença internacional? E mesmo se os líderes do Hamas forem mortos, não aparecerão outros grupos alimentados pela espiral cada vez mais brutal de violência? Seria importante partir do dado histórico de que todas as tentativas de aniquilar militarmente o Hamas só aumentaram sua força, pois tais ações militares criaram o quadro narrativo ideal para que ele aparecesse, aos olhos de grande parte dos palestinos, como representante legítimo da resistência à ocupação. Quer dizer, só há uma maneira de vencer o Hamas e esta maneira não passa pela vitória militar, seja lá o que isso possa significar.

Permitam-me colocar claramente o que penso e que venho escrevendo há quase vinte anos na imprensa nacional: o Hamas não será destruído porque ele tem um sócio que precisa dele para sobreviver, e esse sócio é Benjamin Netanyahu. As ações feitas por Netanyahu e seu governo de extrema-direita, com o beneplácito de potências internacionais, só têm um efeito possível: fortalecer os sentimentos que alimentam o Hamas. Um pouco de sensatez e de análise histórica do conflito nos levaria rapidamente a essa conclusão. A solução está em outro lugar. E, bem, aqui escreve alguém (e isto é fácil de checar via internet) que nunca deixou de criticar o Hamas e seu projeto. Não tenho ilusão alguma a respeito do que são os interesses de grupos fundamentalistas religiosos. Falei em mais de uma vez que os palestinos têm dois problemas para resolver: um é a política colonial do Estado de Israel, o outro é o Hamas. Continuo pensando o mesmo. Mas, como no filme de Buñuel, a saída desertou da vontade de quem pode resolver o conflito, a saber, a comunidade internacional com seu sistema de pressão.

UM PROBLEMA EXTREMAMENTE COMPLEXO?

Durante anos fomos massacrados com a eterna ideia de que este era um conflito “extremamente complexo” ou de que suas causas deveriam ser procuradas em alguma espécie de “ódio milenar entre povos semitas” e coisas do gênero. No entanto, não há nada de complexo no conflito palestino. O direito internacional, representado pela ONU (diga-se de passagem, a mesma instituição que criou o Estado de Israel), reconhece à Palestina o estatuto jurídico de “território ocupado”, ocupação considerada totalmente ilegal pelas resoluções 242 e 338 há mais de cinquenta anos. Ou seja, Israel deve respeitar a lei internacional e devolver os territórios ocupados. Como se não bastasse, há os Acordos de Oslo, que definem um caminho claro para a paz e a resolução do conflito. Israel deve respeitar tais acordos internacionais, o que até agora não ocorreu. Inclusive, o atual primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, nunca escondeu sua recusa em aceitá-lo.

No entanto, os palestinos efetivamente se engajaram nessa via. Durante décadas, a Organização pela Libertação da Palestina (OLP) levou a cabo ações diretas, inclusive ataques a civis, e manteve um discurso claramente contrário à partilha que criaria dois Estados na Palestina histórica. E, no entanto, há mais de 30 anos, a OLP abriu mão das ações armadas, mostrando a disposição dos palestinos a uma solução negociada para o conflito. Há de se entender esse ponto: os palestinos que se engajaram em um processo pacífico de negociação foram traídos. Se os Acordos de Oslo fossem respeitados, não haveria Hamas. Qualquer solução começaria por mostrar aos palestinos que a via diplomática pode trazer resultados efetivos.

E aqui seria importante recuperar a verdadeira razão pela qual esse processo de paz fracassou. Ele fracassou porque o então primeiro-ministro de Israel, Itzak Rabin, foi assassinado, não por um membro do Hamas, não por um palestino, mas por um colono judeu. Enquanto Rabin e o então líder da OLP, Yasser Arafat, tentavam colocar em prática o plano, colonos afrontavam o exército israelense em processos de desocupação de assentamentos, rabinos ultraconservadores faziam discursos incendiários contra o governo e víamos na televisão campanhas publicitárias feitas por organizações judaicas fundamentalistas que conclamavam os judeus do mundo, com armas em punho, a impedirem a entrega de terras aos palestinos. O final deste processo foi o assassinato de Rabin.

Desde então o processo de paz acabou. Pois havia um problema de difícil resolução, esse sim um problema extremamente complexo. Há uma ambiguidade maior no cerne da concepção israelense de nação. Por um lado, ela é assentada na criação de um Estado moderno e laico onde haveria espaço inclusive para os árabes (embora em número controlado). Mas, de outro lado, a concepção israelense de nação é assombrada por fantasmas religiosos e comunitaristas no interior dos quais um messianismo redentor se mistura perigosamente com a tentativa de criar vínculos orgânicos entre nação, Estado e povo. O resultado é o paradoxo gritante de um Estado que se pretende moderno e tem um bizantino Ministério das Questões Religiosas, com suas cortes rabínicas, seu Departamento de banhos rituais e sua Divisão de assuntos sobre enterros. Na verdade, um espectro ronda o Estado de Israel: o espectro do teológico-político.

Do lado de Israel, ficou claro que o avanço do processo de paz só seria possível por meio de uma confrontação com este núcleo teológico-político que sempre serviu de alimento para uma parte de seu imaginário como nação. No entanto, isso seria simplesmente a morte da direita israelense com seu comunitarismo indisfarçável e seus partidos religiosos. Para ela, continuar o processo de paz seria levar o país a uma guerra civil. Tratava-se então de adiar o processo de paz ad infinitum. E a melhor maneira para isso era alimentando a popularidade de um grupo fundamentalista islâmico. Foi assim que a direita israelense e o Hamas cresceram juntos a partir do final do governo Rabin. Um precisa do outro para existir.

Por isso, não há outra forma de descrever o que o governo Netanyahu faz agora a não ser como um experimento suicida. Pois ele acredita que a única coisa capaz de unificar o país é a guerra. Mas para funcionar, essa guerra deve ser infinita, sem fim, criando uma situação de exceção permanente. Uma sociedade fraturada como a israelense encontra na guerra um ponto forçado de união. Através da guerra permanente, toda voz contestadora é constrangida, a crítica dura ao apartheid de fato, à política tipicamente colonial do Estado israelense para com os palestinos é associada, de forma desonesta, ao antissemitismo. O que não significa ignorar expressões de antissemitismo real que aparecem em situações de guerra e que devem ser combatidas.

Eu insistiria que estamos diante de um experimento suicida porque guerras dessa natureza não podem ser vencidas, elas servem apenas para militarizar a sociedade em todos seus poros (como denunciou de forma precisa a socióloga israelense Eva Illouz no caso de sua sociedade), destruindo sua substancialidade. A única possibilidade de realmente vencer a guerra seria através do puro, simples e impensável extermínio de fato dos palestinos. Pois eles simplesmente nunca aceitarão serem tratados como um povo inexistente ou que deve ser deslocado completamente para o leste do Rio Jordão. Tentar aprofundar nessa via significará colocar o mundo inteiro em risco, levar as populações dos países árabes à ebulição, com o aumento generalizado da insegurança mundial. Há uma ilusão colonial típica que está sendo mais uma vez atualizada aqui. Terra e liberdade são elementos completamente conjugados. Os povos sabem que não há autonomia sem autoctonia. Não há comunidade humana que aceite seu próprio desterro de maneira passiva.

Pode-se dizer que o conflito palestino é mais complexo que uma situação colonial clássica, porque há uma contestação sobre quem tem direito à autoctonia. No entanto, o direito internacional, mais uma vez vale a pena lembrar, é claro: a autoctonia dos palestinos na Cisjordânia, na Faixa de Gaza e em Jerusalém Oriental não tem nenhuma possibilidade de ser contestada e a comunidade internacional tem a obrigação de defendê-la e pressionar para sua efetivação imediata.

No entanto, não me escapa o fato de que o mundo caminha para uma situação na qual só se governa através da generalização de situações de crise. Uma verdadeira vontade de resolução do conflito passaria por uma intervenção da ONU e o uso de força militar internacional como elemento mediador, mas sequer um comunicado conjunto o Conselho de Segurança é capaz de aprovar. A tentativa do governo brasileiro foi louvável, embora serviu apenas para mostrar o fim de fato da ONU. Desde a invasão norte-americana no Iraque, feita sem acordo da ONU, a única instituição capaz de mediar conflitos bélicos deixou de existir. Cada vez mais, entramos na era do medo como afeto político central. Estados procuram, na verdade, perpetuar as ditas ameaças terroristas como forma de consolidar uma política de contínua vigilância, de intervenção policial extensa e de bloqueio de contestações efetivas. Isto é um fenômeno mundial de mudança de paradigma de governo que vem sendo denunciado há pelo menos duas décadas de forma sistemática por todos os lados. Com esse conflito e seus desdobramentos, ele poderá ainda ser mais aprofundado.

*Vladimir Safatle é escritor e professor titular do Departamento de Filosofia da USP. - Fonte: Revista Cult

25 outubro 2023

Vinte e cinco anos esta manhã

No dia 25 de outubro de 1998 uma poderosa resistência popular se erguia no RS, com a eleição de Olívio Dutra. Chegou a hora de fazermos de novo.

     Olívio Dutra e Miguel Rossetto foram eleitos em 1998 (Arquivo)

Por Miguel Rossetto (*)

A manhã do dia 25 de outubro de 1998 nasceu ansiosa e tensa. Ao final daquele dia, o Rio Grande teria escolhido entre dois caminhos radicalmente diferentes. Vivíamos o apogeu do consenso de Washington, do neoliberalismo e do fim da história de Fukuyama. No Brasil, FHC anunciava o fim da era Vargas com privatizações selvagens, reformas constitucionais, retirada de direitos trabalhistas e um câmbio artificialmente rebaixado que quebrou a indústria e colocou a agricultura de joelhos. Era a momento do liberalismo triunfante que varria países de norte a sul e nada parecia capaz de detê-lo. Aqui no Rio Grande do Sul tínhamos o mais aplicado aluno da escola de Washington. Antônio Britto tinha realizado um governo devastador: vendeu estatais como a CEEE e a CRT, apoiou a Lei Kandir que até hoje quebra o estado, privatizou serviços públicos, espalhou pedágios, e fez um desastroso acordo da dívida que triplicou o endividamento gaúcho. Nunca mais o Rio Grande se recuperou destes golpes.

Se hoje temos claro este desastre, na época tudo era diferente. A Zero Hora estampou na capa: ”Acabou a dívida gaúcha”. A Lei Kandir era apresentada como a solução para o campo gaúcho, as privatizações prometiam uma modernidade espetacular feita de estradas boas, energia barata e serviços acessíveis a todos. Esta forma de engodo tinha conquistado corações e mentes em todos os países do mundo, por que não daria certo no RS?

Pois na improvável aldeia gaulesa do Sul do Brasil uma poderosa resistência popular se erguia contra este modelo de sociedade sem serviços públicos, sem solidariedade, sem inclusão. Uma enorme mobilização de movimentos sociais, sindicatos, partidos políticos de esquerda, sob a liderança de Olívio Dutra, tinha sido capaz de impedir sua vitória no primeiro turno. Apesar do poder econômico, apesar da maior frente eleitoral já constituída pela direita, apesar do apoio maciço e militante da mídia, apesar das pesquisas que apontavam a vitória fácil de Britto já no primeiro turno, apesar de tudo, os tínhamos detido. Agora era o momento do desempate.

Naquela manhã de 25 de outubro recordávamos toda nossa trajetória. Os dias frios e chuvosos em que percorremos cada canto do estado reunindo dezenas de pessoas em cada local. Os dias da primavera… as dezenas se tornaram centenas e nos davam a certeza de que, debaixo da superfície triunfante do neoliberalismo, a cidadania gaúcha se movia. Os milhares de militantes que aproveitavam cada final de semana para, pacientemente, fazer caravanas no interior nas áreas mais resistentes. Até que chegamos aos dias da reta final e as cidades se vestiram de vermelho. Pessoas faziam suas compras nos supermercados com as bandeiras vermelhas com a naturalidade de quem desfila com um chimarrão. As bandeiras de pano nas janelas em todos os bairros contrastavam com as bandeiras de plástico nos carros de luxo dos bairros ricos. Os comícios que reuniam dezenas de milhares e eram muito mais que comícios, eram celebrações. Naquela manhã, toda esta lembrança nos dava a certeza de que o Rio Grande estava pronto para a mudança. Olívio foi eleito governador do RS, numa virada histórica!

Foi aquela energia que contagiou e alimentou cada dia da Administração Popular. O sentido de urgência e compromisso nos fez administrar um estado quebrado (o líder da oposição dizia que não pagaríamos o salário do funcionalismo já no terceiro mês) sem vender um parafuso do serviço público, sem atrasar salários e com investimentos recordes. Foi com esta energia que mobilizamos o estado inteiro no maior orçamento participativo que o mundo assistiu. Foi assim que criamos o Família Cidadã, referência para o Bolsa Família; o seguro agrícola, base para o seguro agrícola nacional; criamos a UERGS, agora sucateada por Leite; criamos a Sulgás, privatizada por eles; o Programa Primeiro Emprego para nossa juventude; a Municipalização Solidária da saúde; os investimentos na CEEE que afastaram o risco de apagão no estado; o investimento em centenas de quilômetros de estrada sem instalar um só pedágio; a interiorização da cultura, levando a todo o estado programas antes concentrados em Porto Alegre. Tudo isto fazendo que o estado crescesse mais que o Brasil. Foram anos intensos e fecundos. Anos que mostraram que o estado pode, sim, ser governado para as maiorias com justiça e eficiência. Tamanho foi o impacto que o Rio Grande foi escolhido para ser a sede do Fórum Social Mundial, principal fórum do planeta para discutir as alternativas para um novo mundo.

Hoje, passados vinte e cinco anos, olhamos para nosso estado com dor e apreensão. Tudo aqui é destruição. Serviços públicos, finanças, futuro: tudo é escombro, nada é criação.

As semelhanças entre aquela manhã e esta são assombrosas. Leite prometeu não vender estatais como Britto. As vendeu. Leite, como Britto, fez um acordo da dívida desastroso. Leite, como Britto, devasta os serviços públicos. Leite, como Britto, sacrifica os servidores públicos e desorganiza a gestão do estado. Não havia futuro com Britto. Não há futuro com leite.

Mas a esperança é uma planta teimosa e resistente. Já renasceu no Brasil depois das trevas de um governo genocida. Vai renascer no RS. Relembrar estes fatos de 25 anos atrás faz bem aos nossos sentimentos por nos reencontrarmos com tamanha vitalidade, mas faz ainda melhor à nossa esperança ao lembrar que tudo era quase impossível e ainda assim fizemos. Chegou a hora de fazermos de novo.

(*) Deputado estadual (PT-RS) e vice-governador de Olívio Dutra

**Fonte: Sul21

23 outubro 2023

ESQUERDA NA FRENTE - Eleições na Argentina: peronista Sergio Massa chega em primeiro e disputa segundo turno contra a extrema direita de Milei

Primeiro turno da disputa presidencial foi marcado pela tranquilidade e baixo comparecimento de eleitores


O candidato Sergio Massa, da coalizão União pela Pátria, chegou em primeiro lugar no primeiro turno das eleições presidenciais argentinas. Com 94,18% das urnas apuradas, o candidato peronista tem 36,43% dos votos.

Ele disputará o segundo turno contra o candidato da extrema-direita Javier Milei, da coligação A Liberdade Avança, com 30,12% dos votos. A candidata macrista Patrícia Bulrich, da coligação Juntos pela Mudança, chegou em terceiro, com 23,85%.

Os eleitores argentinos voltam às urnas em novembro para decidir se querem ter um segundo mandato peronista consecutivo ou se vão partir para uma diretriz ultraliberal e anti-establishment de extrema direita. (...)

*CLIQUE AQUI para continuar lendo (via BrasildeFato)

18 outubro 2023

HORROR ABSOLUTO - VÍDEO: Médicos de hospital explodido em Gaza dão coletiva em meio a pilha de corpos*

Imagem chocante é o retrato do inferno vivido por palestinos após ofensiva de Israel. Cena macabra repercute em todo o planeta e mundo árabe protesta fortemente.

Médicos de Gaza em meio aos corpos de vítimas do bombardeio ao hospital local. Twitter/Reprodução

Uma cena macabra e desesperadora circula o mundo na noite desta terça-feira (17). Médicos do Hospital Al-Ahli, de Gaza, que foi explodido após ser atingido por um foguete disparado pelas IDF (Forças de Defesa de Israel, na sigla em inglês), deram uma entrevista coletiva em meio às pilhas de corpos amontoados após a ação desumana ocorrida no local, que custou a vida de pelo menos 500 pessoas. [Informações atualizadas dão conta de que o número de mortos palestinos no hospital já superam 800 pessoas]. (...)  *CLIQUE AQUI para ler na íntegra (via Revista Fórum).

16 outubro 2023

Resolução do Partido dos Trabalhadores sobre a situação na Palestina e Israel

Leia a íntegra da resolução aprovada nesta segunda-feira (16) pelo Diretório Nacional do Partido dos Trabalhadores


Resolução sobre a situação na Palestina e Israel

O Diretório Nacional do Partido dos Trabalhadores, reunido no dia 16 de outubro de 2023, aprovou a seguinte resolução sobre a situação na Palestina e Israel:

O PT apoia, desde os anos 1980, a luta do povo palestino por sua soberania nacional, bem como a Resolução da ONU pela constituição de dois Estados Nacionais, o Estado da Palestina e o Estado de Israel, garantindo o direito à autodeterminação, soberania, autonomia e condições de desenvolvimento, com economia viável para a Palestina, buscando a convivência pacífica entre os dois povos;

O PT historicamente mantém relações partidárias unicamente com a Organização para a Libertação da Palestina (OLP), assim como com a Autoridade Nacional Palestina sediada em Ramallah;

O PT condena, desde sua fundação, todo e qualquer ato de violência contra civis, venham de onde vierem. Por isso, condenamos os ataques inaceitáveis, assassinatos e sequestro de civis, cometidos tanto pelo Hamas quanto pelo Estado de Israel, que realiza, neste exato momento, um genocídio contra a população de Gaza, por meio de um conjunto de crimes de guerra;

O PT parabeniza os esforços empreendidos pelo Governo brasileiro, sob a condução do Presidente Lula, voltados à repatriação rápida de brasileiros na região do conflito e pelo acesso à ajuda humanitária na região da Faixa de Gaza, com a retirada dos bloqueios impostos por Israel que impactam diretamente a população civil, além do pronto restabelecimento do fornecimento de água, energia elétrica, alimentos, medicamentos e combustíveis na região, bem como a defesa da imediata libertação dos reféns civis israelenses.

O PT manifesta apoio à atuação do Brasil, inclusive no Conselho de Segurança da ONU, em linha com a tradição diplomática brasileira, em prol de um cessar-fogo imediato e pelo cumprimento das resoluções da ONU, especialmente as que garantem a existência do Estado da Palestina e uma relação pacífica com Israel;

O PT alerta contra os riscos de uma escalada do conflito. O mundo não precisa de mais guerras. O mundo precisa de paz;

O PT convoca sua militância a participar das atividades em defesa da paz, em defesa da solução dos dois Estados (Palestina e Israel) e em defesa dos direitos do povo palestino a uma vida pacífica e com soberania nacional.

Diretório Nacional do Partido dos Trabalhadores

Brasília, 16 de outubro de 2023

*Via PT Nacional


15 outubro 2023

A aposta da esperança na reunião de amanhã do CS da ONU

Vidas estão sendo perdidas a cada minuto. O colapso humanitário se aproxima de Gaza


Reunião do Conselho de Segurança da ONU sobre a Ucrânia (Foto: REUTERS/Carlo Allegri)

Por Tereza Cruvinel*

Enquanto as bombas de Israel caem sobre Gaza, matando civis, mulheres e crianças (sem eludir o fato de que o Hamas também fez isso), a diplomacia tenta sair da inércia e abrir alguma fresta de esperança. Em sinal da importância que o governo brasileiro está conferindo à reunião de amanhã do Conselho de Segurança da ONU, chamada pelo Brasil,  o próprio chanceler Mauro Vieira irá presidi-la, e para isso deve estar neste momento voando da Ásia para Nova York. Ordinariamente, a presidência brasileira seria exercida pelo embaixador junto à ONU, Sergio Danesi.

Este é um momento desafiante para as nações e para seus líderes e o Brasil, com Lula, está se posicionando corretamente e com a presteza que o drama exige. Vidas estão sendo perdidas a cada minuto.  O colapso humanitário se aproxima de Gaza.  

Pesa a favor do Brasil o fato de estar ocupando a presidência temporária do Conselho de Segurança mas também o posicionamento de seu presidente e a ação de sua diplomacia.  O secretário-geral da ONU acolheu imediatamente o apelo que Lula fez ontem às nações, pela obtenção de uma trégua que permita a liberação das crianças israelenses feitas reféns, e das crianças palestinas que estão sob o fogo em Gaza, sem água, sem comida, alguns já sem os pais.  Na reunião de hoje  a proposta encampará também a ideia de criação do corredor humanitário via  Egito. 

Não será fácil a obtenção de um consenso no colegiado em que os cinco membros permanentes (EUA, Rússia, China, Reino Unido e França) têm poder de veto. Mas a diplomacia é um bordado minucioso, feito ponto a ponto, com a linha e as cortes certas, na hora exata. O Brasil é experiente com as agulhas diplomáticas.

O êxito no Conselho dependerá de alianças, e Lula está buscando dialogar com governantes de outros países membros. E tem a seu lado, para isso, alguém como Celso Amorim, com seu vasto trânsito e conhecimento com os que ocupam posições no mundo.

Mas é certo que tudo dependerá muito dos Estados Unidos, e neste sentido Lula pode se valer da boa relação com Biden, que internamente não está em condições de adotar posições que o apresentem como insensível, por mais forte que sejam os laços do poder americano com Israel. O Secretário de Estado Anthony Blinken amanheceu nesta quinta-feira em Tel Aviv,  fez a esperada demonização retórica do Hamas mas chamou a atenção para a situação dos civis que estão morrendo em Gaza. Este ponto mereceu atenção dos observadores globais.

O corredor humanitário dependerá da anuência do Egito, e para isso pode contar muito a pressão de uma decisão do Conselho de Segurança.  Não será fácil mas dali é que pode sair alguma coisa na linha do que disse Lula: alguma humanidade na insanidade da guerra.

O governo, a diplomacia, a FAB e o ministério da Defesa estão fazendo um trabalho louvável. A retirada dos brasileiros de Israel está sendo exitosa e deixando para trás países mais ricos e importantes. Já os que estão em Gaza não sairão antes da reunião de amanhã, mas as equipes brasileiras já estão com tudo pronto, ônibus alugados e listas e contatos conferidos. Tudo depende de que o Egito concorde e de que Israel não bombardeie aquela única passagem para fora de Israel. Se eventualmente o corredor humanitário for conseguido, por lá sairão os de outras nacionalidades, que também estão sofrendo o inferno em Gaza. Inclusive europeus e americanos, que por isso mesmo também tem interesse na proposta. 

*Via Brasil247

11 outubro 2023

MAIOR JORNAL DE ISRAEL CULPA BENJAMIN NETANYAHU PELA VIOLÊNCIA, NÃO HAMAS*

Os jornais brasileiros são mais pró-Israel do que a própria imprensa israelense. Seu apoio aos crimes de guerra contra a Palestina estimula mais atrocidades.

Para a maioria da imprensa brasileira, as únicas vítimas que merecem ter sua humanidade totalmente reconhecida são as de Israel. Foto: Hashem Zimmo/Thenews2/Folhapress

A MÍDIA BRASILEIRA, AO QUE PARECE, É MAIS RADICAL em seu apoio ao governo de ultradireita de Israel do que até mesmo a imprensa israelense. E quando se trata de Israel e da Palestina, a opinião internacional é muito influente. Sem esse apoio, Israel seria forçado a reconsiderar seus planos de transformar Gaza em uma “ilha deserta” – como o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu ameaçou no sábado – com o bombardeio contínuo de áreas civis que já matou centenas de pessoas, incluindo pelo menos 140 crianças e o massacre de famílias inteiras

Atualmente, Israel cortou o acesso de 2 milhões de civis em Gaza a alimentos, água, luz e suprimentos médicos. Esses são atos graves de terrorismo e crimes de guerra, mas a crítica mais séria às atrocidades descaradas de Israel que você ouvirá de qualquer grande veículo da mídia corporativa será, como O Globo comentou em seu editorial, “uma lástima”.

“O terrorismo deve ser sempre rechaçado”, declarou o jornal. Exceto, pelo visto, quando o terrorista é o opressor colonial que tem todo o poder para acabar com sua ocupação ilegal e racista, mas se recusa a fazê-lo.

Temos visto, desde sábado, como a mídia brasileira repete incansavelmente a propaganda israelense e ignora as vozes ponderadas e as preocupações legítimas dos palestinos. E também como é surda às vozes razoáveis dentro do establishment israelense que vêm alertando há décadas – e com cada vez mais frequência e intensidade nos últimos meses – que as políticas belicosas do governo são a principal causa da insegurança em Israel. Ou seja: a maior ameaça é, na verdade, interna.

Seria difícil para a maioria dos brasileiros entender por que isso faz sentido, já que a imprensa por aqui também deixa de cobrir as injustiças diárias e horríveis, assim como os atos de terrorismo de estado cometidos por Israel. A câmera só grava quando os palestinos dizem “basta” e respondem aos ataques sangrentos e cotidianos.

“O desastre que se abateu sobre Israel”, escreve o Haaretz, “é de clara responsabilidade de uma pessoa: Benjamin Netanyahu”. O jornal continua, dizendo que Netanyahu “foi um completo fracasso na identificação dos perigos a que estava conscientemente conduzindo Israel ao estabelecer um governo de anexação e expropriação, ao nomear Bezalel Smotrich e Itamar Ben-Gvir“, dois extremistas que são colonos ilegais na Cisjordânia, “para cargos essenciais, e ao adotar, ao mesmo tempo, uma política externa que ignorava abertamente a existência e os direitos dos palestinos”. 

Ben-Gvir, o ministro da Segurança Nacional, é tão extremista que foi condenado em um tribunal israelense por apoiar o terrorismo e incitar o racismo contra os palestinos. Antes de entrar para o governo, ele protestou com cartazes que diziam “Fora árabes”, “Ou nós ou eles” e “Há uma solução: expulsar o inimigo árabe”. 

O Haaretz cita as políticas de “limpeza étnica” do governo de Netanyahu, “uma expansão maciça de assentamentos [ilegais]” em terras palestinas roubadas, provocações na mesquita sagrada de Al-Aqsa em Jerusalém e “conversas abertas sobre uma ‘segunda Nakba’ em sua coalizão de governo”. Nakba, que significa “a catástrofe”, é o termo palestino para designar a onda de limpeza étnica, estupros, assassinatos e pilhagens perpetrada por grupos paramilitares terroristas israelenses em 1948, após a declaração do estado de Israel. Mais de 750 mil palestinos foram expulsos e 15 mil foram assassinados. 

Na segunda-feira, o Haaretz publicou provas que demonstram perfeitamente que Netanyahu — e a maioria dos israelenses que o elegeu — não quer paz. Na realidade, ele fortalece o Hamas para justificar sua agressão beligerante como “antiterrorismo”. Em uma reunião privada em 2019, Netanyahu disse aos congressistas de seu partido, Likud, que “qualquer pessoa que queira impedir o estabelecimento de um estado palestino tem de apoiar o fortalecimento do Hamas e a transferência de dinheiro para o Hamas. Isso faz parte da nossa estratégia”.

Esse extremismo da parte de Israel é a causa do surto de violência, não o “islamismo”, o antissemitismo ou o ódio irracional. Os israelenses minimamente razoáveis veem isso claramente. Porém, qualquer um que tenha a coragem de dizer o óbvio no Brasil será criticado como apologista do terrorismo, apoiador do Hamas ou antissemita.

Para a maioria da imprensa brasileira, que apaga todo o contexto em que se deu o ataque contra Israel, o único condenável é o Hamas, e as únicas vítimas que merecem ter sua humanidade totalmente reconhecida são os israelenses. Pois, como o comentarista Guga Chacra disse em um momento de honestidade chocante na GloboNews, “O que o Hamas fez é diferente. O Hamas matou pessoas”. Entendeu?

A pergunta que você deve fazer a si mesmo é: por que a imprensa brasileira opta por apoiar uma ocupação racista, violenta e colonial liderada por descendentes de europeus brancos com uma visão de mundo cada vez mais abertamente genocida? Não esqueça das palavras assustadoramente claras do ministro de Defesa Yoav Gallant na segunda-feira: “Estamos lutando contra animais humanos e agimos de acordo com isso”, disse ele. “Não haverá eletricidade, comida, combustível, tudo está fechado” em Gaza. 

Opressão é pop, me parece. Deve ser por isso que, para os donos da grande mídia brasileira, ficar do lado de Israel não foi uma escolha muito difícil. (...)

*Continue lendo o artigo assinado pelo jornalista Andrew Fishman, do  Intercept Brasil, clicando AQUI.

08 outubro 2023

TENSÃO NO ORIENTE MÉDIO- Chamar ataque do Hamas a Israel de terrorismo é "completamente inapropriado", diz especialista

Em entrevista à Fórum, professor Reginaldo Nasser analisa operação militar do grupo islâmico-palestino em território israelense e alerta: "Resposta de Israel será violenta e pesadíssima"


Cartaz do Hamas em cidade palestina. /Foto: Wikimedia Commons

A tensão no Oriente Médio escalou neste sábado (6), quando o grupo político islâmico-palestino Hamas lançou um ataque surpresa e sem precedentes contra Israel. O comandante militar do movimento armado, Muhammad Al-Deif, convocou um "levante geral" contra Estado israelense, declarando que "esta é a hora de usar armas".

Denominada "Tempestade Al-Aqsa", em referência a uma mesquita cujo acesso foi bloqueado por Israel, a investida é uma reação dos palestinos à opressão a que são submetidos pelos israelenses em meio à subtração de seu território. O Hamas exige libertação de seus presos políticos, o fim do cerco a Gaza e da ocupação. 

"O povo palestino e sua resistência estão a levar a cabo uma operação para defender o povo, a terra e os locais sagrados", diz nota divulgada pelo grupo. 

O Hamas afirma ter disparado 5 mil mísseis e foguetes em cidades israelenses e entrou no país com centenas de homens armados via terra, água e ar, o que gerou uma resposta imediata das Forças de Defesa de Israel (IDF), que mobilizaram soldados e declararam "alerta de estado de guerra". Os confrontos já deixaram ao menos 532 mortos entre os dois lados do conflito, além de milhares de feridos. 

O conflito entre Israel e Palestina é uma saga de décadas. Sua forma moderna tem raízes em 1947, quando as Nações Unidas apresentaram uma proposta de criação de dois Estados, um judeu e outro árabe, na Palestina, que estava sob o mandato britânico na época. Em 1948, Israel foi oficialmente reconhecido como uma nação independente. No entanto, a história subsequente viu a gradual subtração de território palestino por ocupações israelenses ao longo dos anos, alimentando um ciclo de tensões e confrontos armados contínuos na região.

Para entender melhor os desdobramentos e implicações desta nova escalada do confronto, a reportagem da Fórum conversou com Reginaldo Nasser, professor de Relações Internacionais da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e autor de "Novas perspectivas sobre os conflitos internacionais" (Unesp).

"Este ataque foi uma surpresa, visto que o Hamas normalmente lançava ações militares mais restritas, como o lançamento de mísseis. No entanto, desta vez, eles pegaram as forças israelenses de surpresa", afirma o professor ao se referir às infiltrações de homens armados do Hamas em território israelense que um dia já pertenceu aos palestinos.

Nasser também aponta para movimentos políticos que antecederam a escalada da tensão entre Palestina e Israel. (...)

CLIQUE AQUI para continuar lendo a matéria assinada pelo jornalista Ivan Longo  (via Revista Fórum)

04 outubro 2023

Quando a boa notícia não é notícia



Por Ângela Carrato*

O Brasil tem a menor taxa de desemprego dos últimos sete anos.

O programa Minha Casa Minha Vida passa a ser de graça para quem recebe Bolsa Família e Benefício de Prestação Continuada (BPC).

Foi instituído o Concurso Nacional Unificado para a seleção de funcionários públicos federais.

Pela importância dessas três informações na vida da maioria dos brasileiros era para terem recebido destaque no noticiário dos jornais, das emissoras de TV e de rádio nos últimos dias, quando foram anunciadas.

Mas aconteceu o oposto. Estiveram ausentes ou mereceram apenas pequenos registros nos principais veículos da mídia corporativa brasileira.

Uma explicação para este comportamento é a de que a mídia não gosta de dar boas notícias, porque apenas situações extremas e trágicas chamam a atenção do público, vendem jornais (incluindo os em suporte digital) e garantem audiência às emissoras de rádio e de TV.

O problema desta explicação é que ela não é só simplista. É equivocada.

O que define a importância de uma notícia, além de sua raridade e originalidade, é a sua relevância. Para um país que enfrentou nos últimos sete anos as maiores taxas de desemprego de sua história, era para essa informação merecer todo o destaque.

Some-se a isso que, também pela primeira vez na história, os mais pobres ficarão isentos de pagar a prestação da tão sonhada casa própria e milhares de brasileiros que aguardam ansiosamente por um concurso público não vão precisar se inscrever em dezenas de seleções.

Como acontece com o Enem, a seleção será unificada, com o candidato indicando suas áreas prioritárias.

Quantos brasileiros e brasileiras já sabem disso?

Ao não dar essas notícias, a mídia corporativa passa recibo de que não gostou delas, porque elas deixam claro que o terceiro governo Lula vai bem, cumprindo seus compromissos de campanha e, sobretudo, inovando quando se trata de gestão.

A mídia corporativa também não gostou destas notícias, porque fez de tudo para impedir o retorno de Lula ao poder e continua tentando fazer de tudo para dificultar o seu governo.

A mídia corporativa brasileira não gosta de governos progressistas e desde sempre os combateu.

A observação das capas dos três principais jornais brasileiros do último sábado (30/9) deixa claro que nenhuma das manchetes publicadas é mais atual ou importante do que o Brasil ter a menor taxa de desemprego desde 2015, quando a campanha contra Dilma Rousseff beirou o clímax.

No ano seguinte, ela seria derrubada por um golpe parlamentar, jurídico e midiático.

“Dino diz que não volta à política se for escolhido para o STF”, a manchete de O Globo, não passa de mera especulação em torno da escolha do futuro integrante do STF.

A mídia corporativa brasileira tem tentado pressionar o presidente Lula para que escolha para a vaga aberta com a aposentadoria da ministra Rosa Weber uma mulher ou um negro.

Lula já disse que esses não são os critérios que utilizará, uma vez que a escolha é prerrogativa sua, com o nome do atual ministro da Justiça, Flávio Dino, tido como um dos mais cotados para o cargo.

A pressão por uma escolha “identitária” explicita a tentativa de jogar Lula contra parcela expressiva de quem o elegeu.

“Americanas em crise, fraudes e ICMS derrubam arrecadação”, aponta Receita, manchete de O Estado de S. Paulo, não envolve qualquer novidade. É a chamada “notícia fria”, que só deve ser publicada quando não há assunto relevante para aquela edição.

Não era o caso, na medida em que a menor taxa de desemprego desde 2015 é informação “quente” e de enorme relevância. Apesar disso, o jornal a escondeu numa chamada com menos destaque: “Desemprego cai e massa salarial no país cresce R$ 15 bilhões”.

Detalhe: a presença do termo fraude nesta manchete tem ainda objetivo extra: remeter o leitor à corrupção que a mídia mentirosamente sempre atribuiu aos governos progressistas.

Essa notícia não seria mais fidedigna se a manchete fosse: “Taxa de desemprego é a menor em sete anos”? Por que o Estado de S. Paulo não disse isso de forma direta?

A explicação é que a mídia não quer dar o braço a torcer em relação ao sucesso desses nove meses do terceiro governo Lula, logo ela que apoia a política de juros altos do Banco Central e sempre cerrou fileiras com a pauta neoliberal dos governos golpistas Michel Temer e Jair Bolsonaro.

Em meados de 2021, por exemplo, a taxa de desemprego chegou a 14,1%, e a mídia fez vistas grossas, como se nada estivesse acontecendo. E estava.

Em momento algum Bolsonaro e seu ministro da Economia, Paulo Guedes, foram criticados. Tudo o que dizia Guedes era indiscutível.

No entanto, o desemprego levava fome, desespero e morte a milhares de famílias. Mesmo assim, a mídia jamais questionou os nefastos efeitos da pauta neoliberal por ela defendida, que inclui ainda a privatização de empresas públicas, vendidas a preço de banana.

Pauta que Lula, aos poucos, vai retirando de cena, substituindo-a por uma política voltada para o crescimento, o desenvolvimento, o pleno emprego e a soberania.

Já a Folha de S. Paulo, na ação de vender até a própria capa para informe publicitário, teve o desplante de publicar como manchete fantasia a promoção de uma marca de detergente.

Obviamente que em momento algum é mencionado que a tal marca, com promoções milionárias, tenta se recuperar do boicote aos seus produtos por parte de consumidoras indignadas por ela ter sido uma das grandes doadoras de recursos para a campanha de Bolsonaro à reeleição.

Atitudes assim – e essa não é a primeira vez que a Folha substitui sua capa por informe publicitário – têm uma única vantagem: não escondem o que realmente interessa à família Frias.

Aliás, quando parece que não há mais por onde a Folha possa piorar, ela quebra o próprio recorde. Nesta segunda-feira (2/10), uma de suas manchetes assumiu abertamente a defesa de Bolsonaro e dos golpistas: “Métodos da Lava Jato são usados contra bolsonarismo”.

Os menos atentos correm o risco de caírem em mais essa armadilha.

Diante de manchetes tão sem importância ou nitidamente contra o Brasil e a democracia, a única explicação que encontro para a mídia corporativa brasileira não noticiar que o país voltou a crescer e que o emprego se recupera a olhos vistos é o golpismo de sempre.

Para uma mídia que esteve na linha de frente da deposição de Dilma, que foi parceira da Operação Lava Jato ao levar para a prisão, sem provas, Lula em 2018, além de ter passado pano para os quatro anos de desgoverno de Bolsonaro, a pior coisa que pode acontecer é o governo Lula dar certo.

Já existem estudos acadêmicos mostrando como manchetes e notícias da mídia corporativa foram decisivas para jogar a população contra o governo Dilma.

Sou coautora de um desses estudos intitulado “Jornal Nacional, um projeto de poder. A narrativa que legitimou a desconstrução da democracia brasileira” (2021).

Nele explicamos, em detalhes, como as manchetes do principal telejornal brasileiro eram cuidadosamente elaboradas com o objetivo de corroer a imagem do PT e de seus principais líderes junto à opinião pública.

As estratégias adotadas naquela época não diferem do que se vê agora: as ações positivas do governo não são noticiadas, informações negativas são agigantadas, tenta-se o tempo todo atritar o governante com os demais Poderes e com a maioria da população.

No caso de Dilma, havia ainda o preconceito extra pelo fato de ela ser mulher num país cujos traços do patriarcalismo e do machismo são evidentes.

O interessante deste estudo é que através da análise das manchetes e de como foram levadas ao ar as próprias notícias, chegamos aos mesmos resultados que só agora veem a público por outros caminhos.

Estou me referindo aos vazamentos de diálogos obtidos pela Operação Spoofing, aos quais a revista eletrônica Consultor Jurídico teve acesso.

Nesses vazamentos, os lavajatistas, em 26 de novembro de 2018, demonstravam não só intimidade com a imprensa, como também comemoram o fornecimento exclusivo de informações para o Jornal Nacional, que tratam como parceiro.

Certos de que suas ações não seriam descobertas, a procuradora Laura Tesler, por exemplo, chegou a escrever que além do “JN ser uma ótima”, para divulgar o que lhes era conveniente, era importante “dar uma provocada” nos jornalistas Josias de Souza e Míriam Leitão, “para descerem a lenha” em Lula.

Além de ter prendido Lula sem qualquer prova de crime, esses diálogos deixam patente que a Lava Jato queria mantê-lo na cadeia. E a mídia corporativa brasileira, Globo à frente, foi parceira em ambos os casos.

A parcialidade do então juiz Sergio Moro associada às ilegalidades cometidas pela Operação Lava Jato levaram não só à soltura de Lula, como deixaram nítido que ele foi alvo de perseguição por parte da classe dominante brasileira, se valendo da Justiça, com apoio dos Estados Unidos.

Lula e Dilma incomodavam ao defenderem os interesses da maioria da população, além de lutarem por um país desenvolvido e soberano.

Não se pode esquecer que um dos objetivos do golpe de 2016 foi entregar o controle do então recém-descoberto pré-sal aos interesses estrangeiros.

Não se pode perder de vista, também, que estamos diante da descoberta de outro pré-sal, possivelmente até maior do que o anterior e que já desperta muita cobiça.

Como Lula é respeitado em todo o mundo, além de político dos mais hábeis e gestor tarimbadíssimo, ele conseguiu o que seus inimigos julgavam impossível: voltou ao poder pelo voto popular e até agora tem levado a melhor.

Tanto que os índices de aprovação de seu terceiro mandato não param de crescer. O que certamente tem irritado muito aos “barões da mídia”.

Por isso, nesses primeiros dias em que Lula estará se recuperando da cirurgia que fez no quadril, os ataques ao seu governo podem ganhar mais intensidade.

O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, queridinho da mídia, na véspera da cirurgia do presidente, deixou claro que não está satisfeito com os dois ministérios que obteve. Quer também a direção da Caixa Econômica Federal.

Como Lula já anunciou que não pretende promover mudanças na CEF, ele tentou, sem sucesso, paralisar as votações na Casa. Possivelmente Lira fará tudo para tentar ampliar o seu espaço durante o período em que Lula ficará em recuperação, despachando apenas virtualmente.

Também o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, que parecia menos propenso a criar problema para o governo, mudou de ideia. Ao colocar em votação o Marco Temporal, que já havia sido derrotado uma semana antes pelo STF, abriu uma disputa entre poderes que só interessa ao agronegócio, aos grileiros de terras indígenas e, claro, aos militares golpistas de sempre.

Basta lembrar que Bolsonaro não fez outra coisa durante o seu governo do que desgastar as instituições, tentando abrir espaço para o retorno dos militares ao poder.

Daí o cuidado que as pessoas precisam ter ao se informar.

A mídia corporativa tem lado e esse lado não é o que interessa à maioria dos brasileiros.

Esse lado fica nítido, quando informação relevante é substituída por especulação, defesa dissimilada de golpista e até por anúncio de detergente.

Vale tudo para esconder as notícias boas e dar destaque apenas ao que interessa aos “barões” que se acham donos do poder.

Que falta faz a democratização da mídia no Brasil!

*Ângela Carrato é jornalista e professora do Departamento de Comunicação Social da UFMG.

-Fonte: Viomundo